ALZHEIMER - A DIABETES TIPO III
Nessa segunda parte, o artigo trata especificamente de algumas questões sobre como a insulina e a glicose tem papel primordial na estruturação das características primárias da evolução da Doença de Alzheimer
O papel da insulina na patologia
Há muito tempo se acreditou que a captação de glicose no
cérebro era totalmente independente da insulina, uma vez que os transportadores
comuns de glicose cerebral - GLUT1 e GLUT3 - não são sensíveis à insulina. No
entanto, reconhece-se agora que existem receptores de insulina e
transportadores de glicose sensíveis à insulina (GLUT4) na barreira
hemato-encefálica (BHE) e em determinadas células do cérebro. Eles são
particularmente abundantes nas regiões envolvidas na memória e aprendizado.39,40
A entrada de insulina no cérebro é um mecanismo saturável;
chega a um ponto em que o aumento dos níveis de insulina periférica já não
eleva os níveis no sistema nervoso central (SNC). A entrada de glicose para o
cérebro também pode ser percebida como saturável. Os transportadores GLUT1 no BHE
estão saturados por concentrações fisiológicas normais da glucose.41
Portanto, aumentar a captação de glicose pelo cérebro exigiria uma regulação aumentada
dos receptores de insulina ou dos transportadores GLUT4. Mas quando os receptores
estão comprometidos, isso pode equivaler a uma hipoglicemia funcional no
cérebro, o que explicaria a taxa de diminuição do metabolismo da glicose
cerebral o que é uma das características definidoras da DA. Por outro lado, se
uma quantidade fisiologicamente normal da glicose está entrando no fluido
intersticial do cérebro, mas havendo uma falta de insulina, isto pode resultar
no aumento da glicação observada em cérebros com DA. A presença de glicose, com
uma incapacidade de sua metabolização pode ser o responsável por ambos: uma redução do CMRglu
e aumento da formação de AGEs.
Uma característica notável da doença de Alzheimer é a
combinação intrigante de hiperinsulinismo (demasiado) na periferia e hipoinsulinismo
(insuficiente) no SNC. Os doentes com DA apresentam maior concentração de
insulina no plasma, mas menores no liquido cérebro espinhal do que controles saudáveis.40
Claramente, então, a menor concentração
de insulina no cérebro não é um resultado da redução dos níveis circulantes no
sangue. De alguma maneira - em parte devido aos efeitos de ßA, ou mais provavelmente
como consequência de um consumo excessivo a longo prazo de carboidratos
refinados - o cérebro torna-se resistente à insulina.
A insulina desempenha um papel definitivo na função cognitiva.
No entanto, como acontece com a maioria dos mecanismos biológicos, o contexto
deve ser levado em conta: a administração aguda de insulina melhora o
desempenho em testes de memória e cognição, mas os níveis cronicamente elevados
de insulina têm um efeito oposto.4,42,43 Isto é semelhante o patologia da diabetes tipo
2, em que as doses normais, agudas de insulina ajudam a regular a absorção de
glucose, mas os níveis cronicamente elevados levam a resistência à insulina,
hiperglicemia, a inflamação subjacente e dano vascular. Níveis cronicamente
elevados de insulina na periferia, ao que parece, deprimem a sensibilidade à
insulina na BHE e, por conseguinte, a utilização de glucose no cérebro. Na
ausência de uma fonte alternativa de combustível, as células cerebrais morrem
de fome. O combustível metabólico está no interior do corpo, mas as células do
cérebro não são capazes de obter energia a partir dele. Os paralelos com
diabetes tipo 2 são impressionantes, tornando o termo "diabetes tipo
3" apropriado.
Para os não-portadores ApoE4, a diabetes por si só é um
fator de risco significativo para DA.17 A combinação de diabetes e portadores
de um alelo ApoE4 aumenta o risco cinco vezes mais que nos não-diabéticos, e não
portadores de E4.16,17,19 O melhor controle glicêmico tem sido
correlacionada a um melhor desempenho cognitivo em diabéticos tipo 2. Além
disso, esses mesmos indivíduos tinham melhor desempenho em testes de memória
rapidamente após uma dose aguda de 50 g de carboidratos de fácil digestão, mas isso
foi seguido por uma redução no desempenho depois de um período de espera
prolongado, refletindo as observações acima mencionadas de níveis de insulina
agudo versus cronicamente elevados e utilização de glicose.44 A
questão, então, é se a diabetes tem um papel causal no DA. As pesquisas não
suportam isso, como nem todos os pacientes com DA são diabético, e nem todos os
diabéticos desenvolvem DA. Devido à esmagadora evidência de que o desarranjo na
sinalização da insulina e glicose são os fatores mais fortes na DA, parece mais
provável que a diabetes tipo 2 e DA são manifestações diferentes das mesmas
causas subjacentes: na diabetes tipo 2, os músculos e os órgãos periféricos são
afetados; na DA dano está localizada no cérebro.
DISCUSSÃO
Como a de muitas de outras situações neurodegenerativas complexas, a pesquisa em DA fica prejudicada pelo problema de identificar quais os primeiros passos que estão em um ciclo vicioso onde um distúrbio subjacente é perpetuado pelos próprios resultados da perturbação. As mudanças fisiológicas e bioquímicas observadas na DA apontam para um cérebro que está lutando para manter a sua viabilidade. Ele regula negativamente a absorção de glicose, otimiza mecanismos para utilizar combustíveis alternativos, e aumenta a produção de substâncias protetoras.
Muitos pesquisadores ver a acumulação de ßA como o fato
gerador da patologia. No entanto, uma visão mais integrada da sabedoria inata
do corpo humano sugere que ßA serve inicialmente com um papel protetor, assim
como a febre é um mecanismo de proteção, em vez de algo a ser suprimido sem qualquer
questionamento. No entanto, assim como uma febre muito alta pode criar os seus
próprios problemas, o aumento do número e densidade de placas de ßA em um
cérebro hiperglicêmico pode iniciar reações em cadeia da glicação e oxidação
que servem para exacerbar a disfunção mitocondrial, a diminuição da produção de
ATP, e declínio cognitivo.
É pouco provável que as placas de ßA são um fator causal
primário na DA, porque os efeitos de redução da absorção de glucose no cérebro
são observados muito antes das placas serem evidentes. As placas resultam mais
logicamente a partir da inibição funcional do IDE devido a hiperinsulinemia
periférica. Alguns pesquisadores de vanguarda têm sugerido que a resistência à
insulina no BHE é a maneira do cérebro forçar uma desaceleração no metabolismo
da glicose. Isso parece ilógico se a glicose é o combustível principal do
cérebro (assumindo que uma dieta rica em hidratos de carbono). Por que o
cérebro procura limitar a absorção de seu principal combustível? Vários
mecanismos estão em atividade, e todos eles indicam que o cérebro está
protegendo a sua própria sobrevivência enquanto tenta minimizar danos maiores.
Em primeiro lugar, altos níveis de glicose no fluido intersticial
do cérebro são glicantes. Proteínas e estruturas celulares glicadas têm suas funções
alteradas, aumento da vulnerabilidade a danos oxidativos, e uma degradação e
clearance reduzidas.6
Retardar a entrada de glicose para o cérebro iria atrasar esses processos e,
eventualmente, dar às defesas do corpo mais tempo para eliminar as AGEs.
Em segundo lugar, o metabolismo da glicose promovem uma
pesada carga de estresse oxidativo. O funcionamento do sistema de transporte de
elétrons mitocondriais (ETS) é a maior fonte de espécies reativas de oxigênio
(ROS) e radicais livres no organismo, e os neurônios são particularmente
suscetíveis ao estresse oxidativo devido a sua taxa metabólica que é mais alta
do que a de outras células cerebrais. 10 Além disso, as membranas
neuronais, são ricas em PUFAs de cadeia longa e colesterol, que são altamente
vulneráveis à oxidação. 22 Os AGEs têm demonstrado induzir a
peroxidação lipídica, de modo que a exposição dos frágeis PUFAs de membrana em
um ambiente hiperglicêmico pode ser consideradas tóxica. Em um órgão que é
potencialmente tão altamente danificado a uma vida com abuso alimentar e
ambiental, a redução do uso de um combustível cujo metabolismo cria ainda mais
danos pode ser visto como um último esforço para sobreviver.
Em terceiro lugar, o cérebro poderia estar redirecionando sua
maquinaria metabólica para utilização de outros combustíveis alternativos à
glicose, tais como ácidos graxos e corpos cetônicos, que produzem menos
estresse oxidativo e são, de fato, combustíveis mais eficientes.14,46,47
Uma maneira em que ßA assume um papel potencialmente útil é
que ele ativa a produção da proteína amilóide ligadora de álcool desidrogenase (ABAD), uma enzima capaz de metabolizar combustíveis
alternativos, como os corpos cetônicos e álcools.6 Outro papel
possivelmente protetor para o ßA é ser catalisador da produção de lactato
desidrogenase, que converte piruvato a lactato em condições anaeróbicas. 6
O lactato é produzido em células gliais e enviado para os neurônios, onde é
convertido a piruvato e enviado através do ciclo do ácido tricarboxílico (TCA)
para produzir ATP (ou seja energia! NT). Aumentar a produção de lactato compartimentalizado dentro do
cérebro pode ser a forma do cérebro em dificuldades de proporcionar um
substrato de combustível, quando o uso de glicose cerebral tenha sido
comprometida. Aqui, novamente, temos dois cenários em que a ßA parece estar preparando o cérebro para se
afastar da glicose.
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Na próxima parte como a dieta low carb pode ser prevenção e terapêutica e outras sugestões.
Muito bom saber! Estou acompanhando as leituras sobre DA também.
ResponderExcluirOlá Sonia! E já está publicada a III parte do artigo! Abraço!
ExcluirEu já li. Agora estou na segunda parte do livro sobre mitos do colesterol aqui no blog. Sempre seguindo as leituras. Boa tarde! Muito grata.
Excluirna barreira hemato-encefálica (BHE) e em determinadas células do cérebro. Eles são particularmente abundantes nas regiões envolvidas na memória e aprendizado.39,40 comodieta.com.br
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