O ESTRESSE E AS BACTÉRIAS INTESTINAIS
Como o estresse crônico afeta negativamente o funcionamento do intestino?
Pesquisas mostram novas evidências.
No último dia 23/01/24 a revista Nature publicou mais um
artigo sobre esse tema, a relação do sistema nervosos central/estresse/microbioma
dos intestinos (conjunto de bactérias que habitam naturalmente o aparelho digestivo).
O artigo inicia, como o conhecimento de que, há muito tempo, o estresse mental tem sido associado
a problemas gastrointestinais, como a síndrome do intestino irritável (SII). Nessa
direção, pesquisadores descobriram informações mais detalhadas sobre como o
estresse pode prejudicar o funcionamento dos intestinos, desencadeando uma
série de reações bioquímicas que alteram o microbioma.
O estudo, publicado nessa data, na revista Cell
Metabolism, é interessante, segundo Christoph Thaiss, microbiologista e
neurocientista da Universidade da Pensilvânia, na Filadélfia, pois explica como
o cérebro – anatomicamente distante do trato gastrointestinal – ainda pode
exercer influência sobre ele.
Existem reações metabólicas que não
são desejáveis. As repercussões dessas reações podem ser exemplificadas por
enfermidades como a Síndrome do Intestino Irritável (SII), que leva a
dores abdominais e diarreia (aflige 10% da população!), ou a Doença
Inflamatória Intestinal (DII), que causa inflamação nos intestinos e
desencadeia sintomas semelhantes, (aflige até dez milhões de pessoas no mundo).
O objetivo do pesquisador de metabolismo, Xiao Zheng, coautor do estudo e
membro da Universidade Farmacêutica da China em Nanjing, era compreender os
eventos celulares que desencadeiam essas condições.
Nessa investigação, os pesquisadores usaram ratos
que foram ao estresse crônico durante duas semanas e observaram os efeitos, comparados
a outros animais que não foram submetidos a tal situação. Foi verificado uma
redução nos níveis de células protetoras dos intestinos no primeiro grupo. O
processo é consequência de uma disfunção no metabolismo das células-tronco
intestinais, que normalmente se diferenciam nessas células protetoras.
O âmago dessa pesquisa foi procurar
por uma razão para esse processor se estabelecer. Assim os pesquisadores desse
estudo foram examinar o microbioma daqueles ratos. Já existe conhecimento de
que a ativação do sistema autônomo (simpático) típico das reações de luta/fuga
do estresse transformam o microbioma (como
diz esse estudo aqui). Algumas bactérias do gênero Lactobacillus, que
ocorrem naturalmente no intestino e proliferam sob condições estressantes,
produzem uma substância química chamada indol-3-acetato (IAA). Os
investigadores descobriram que um nível elevado de IAA, desencadeado pelo
stress, impedia que as células tronco intestinais do rato se tornassem células
protetoras.
Apesar de ter sido realizado em ratos,
este estudo apresenta evidências que sugerem que as conclusões podem ser
aplicáveis a seres humanos. A equipe de pesquisa descobriu níveis elevados de
bactérias Lactobacillus e IAA nas fezes de indivíduos com depressão, em
comparação com indivíduos sem depressão. "Quando estamos sob estresse,
nosso microbioma intestinal também sofre estresse", apontou Zheng.
Os pesquisadores também encontraram um possível
remédio, pelo menos para os roedores. Ao administrar um suplemento chamado α-cetoglutarato em ratos estressados, o metabolismo das células-tronco
em seus intestinos foi ativado. Porém, Thaiss ressalta a
necessidade de mais pesquisas para entender os efeitos a longo prazo desse
suplemento e se ele é capaz de reduzir os sintomas de disfunção
intestinal.
O autor também sublinha que o estudo do IAA aborda efeitos posteriores (da resposta de estresse no intestino), sendo planejado investigar efeitos prévios desse processo e, naturalmente investigar a segurança/eficácia do α-cetoglutarato.
Não podemos esquecer que há muito caminho de pesquisa
a trazer mais esclarecimentos, mas resta pouco dúvida sobre a atenção que
precisamos dar aos cuidados sobre o microbioma intestinal para termos saúde
física e mental
O artigo original da NATURE está aqui
Imagem original AQUI
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