quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Estudo mostra mais relacoes entre stress e bacterias intestinais



O ESTRESSE E AS BACTÉRIAS INTESTINAIS

Como o estresse crônico afeta negativamente o funcionamento do intestino? 

Pesquisas mostram novas evidências.


No último dia 23/01/24 a revista Nature publicou mais um artigo sobre esse tema, a relação do sistema nervosos central/estresse/microbioma dos intestinos (conjunto de bactérias que habitam naturalmente o aparelho digestivo).

O artigo inicia, como o conhecimento de que, há muito tempo, o estresse mental tem sido associado a problemas gastrointestinais, como a síndrome do intestino irritável (SII). Nessa direção, pesquisadores descobriram informações mais detalhadas sobre como o estresse pode prejudicar o funcionamento dos intestinos, desencadeando uma série de reações bioquímicas que alteram o microbioma.

O estudo, publicado nessa data, na revista Cell Metabolism, é interessante, segundo Christoph Thaiss, microbiologista e neurocientista da Universidade da Pensilvânia, na Filadélfia, pois explica como o cérebro – anatomicamente distante do trato gastrointestinal – ainda pode exercer influência sobre ele.

Existem reações metabólicas que não são desejáveis. As repercussões dessas reações podem ser exemplificadas por enfermidades como a Síndrome do Intestino Irritável (SII), que leva a dores abdominais e diarreia (aflige 10% da população!), ou a Doença Inflamatória Intestinal (DII), que causa inflamação nos intestinos e desencadeia sintomas semelhantes, (aflige até dez milhões de pessoas no mundo). O objetivo do pesquisador de metabolismo, Xiao Zheng, coautor do estudo e membro da Universidade Farmacêutica da China em Nanjing, era compreender os eventos celulares que desencadeiam essas condições.

Nessa investigação, os pesquisadores usaram ratos que foram ao estresse crônico durante duas semanas e observaram os efeitos, comparados a outros animais que não foram submetidos a tal situação. Foi verificado uma redução nos níveis de células protetoras dos intestinos no primeiro grupo. O processo é consequência de uma disfunção no metabolismo das células-tronco intestinais, que normalmente se diferenciam nessas células protetoras.

O âmago dessa pesquisa foi procurar por uma razão para esse processor se estabelecer. Assim os pesquisadores desse estudo foram examinar o microbioma daqueles ratos. Já existe conhecimento de que a ativação do sistema autônomo (simpático) típico das reações de luta/fuga do estresse transformam o microbioma (como diz esse estudo aqui). Algumas bactérias do gênero Lactobacillus, que ocorrem naturalmente no intestino e proliferam sob condições estressantes, produzem uma substância química chamada indol-3-acetato (IAA). Os investigadores descobriram que um nível elevado de IAA, desencadeado pelo stress, impedia que as células tronco intestinais do rato se tornassem células protetoras.

 

Apesar de ter sido realizado em ratos, este estudo apresenta evidências que sugerem que as conclusões podem ser aplicáveis a seres humanos. A equipe de pesquisa descobriu níveis elevados de bactérias Lactobacillus e IAA nas fezes de indivíduos com depressão, em comparação com indivíduos sem depressão. "Quando estamos sob estresse, nosso microbioma intestinal também sofre estresse", apontou Zheng.

Os pesquisadores também encontraram um possível remédio, pelo menos para os roedores. Ao administrar um suplemento chamado α-cetoglutarato em ratos estressados, o metabolismo das células-tronco em seus intestinos foi ativado. Porém, Thaiss ressalta a necessidade de mais pesquisas para entender os efeitos a longo prazo desse suplemento e se ele é capaz de reduzir os sintomas de disfunção intestinal.

 No final desse artigo, fica claro que estamos em frente àquilo que os autores definiram como: uma peça do quebra-cabeça. Isso precisa ficar bem claro, uma vez que sabidamente o estresse desencadeia múltiplas alterações bioquímicas no organismo inteiro. Então o processo de afetação no intestino deve ter mais eventos. Um estudo anterior já mostrou uma via separada de estimulo à células imunitárias intestinais (link aqui). E não se pode precisar se há relação entre o que foi descoberto aqui com esse achado anterior.

O autor também sublinha que o estudo do IAA aborda efeitos posteriores (da resposta de estresse no intestino), sendo planejado investigar efeitos prévios desse processo e, naturalmente investigar a segurança/eficácia do α-cetoglutarato.

Não podemos esquecer que há muito caminho de pesquisa a trazer mais esclarecimentos, mas resta pouco dúvida sobre a atenção que precisamos dar aos cuidados sobre o microbioma intestinal para termos saúde física e mental


O artigo original da NATURE está aqui

Imagem original AQUI

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