domingo, 19 de janeiro de 2020

O vício por doces pode ser real




Sem dúvida, muitos de nós acreditamos que o açúcar, e por extensão os alimentos ricos em glicose (carboidratos), produzem uma situação fisiológica de adição, vício, dependência química, ou no mínimo psíquica. Há vários estudos que tentam demonstrar modelos de como esse processo ocorre. Seja como for tem que introduzir alterações na química delicada do cérebro. O estudo a seguir foi desenhado para registrar essas alterações, se elas efetivamente ocorrem. E elas realmente são mensuráveis. Essa pesquisa foi realizada na Dinamarca, e sua publicação está disponível na íntegra no link ao final do texto. Essa reportagem foi traduzida do site EurekaAlert, de 14 de janeiro de 2020. 

O açúcar muda a química do seu cérebro
UNIVERSIDADE DE AARHUS
A ideia do vício em comida é um tópico muito controverso entre os cientistas. Pesquisadores da Universidade de Aarhus se aprofundaram neste tópico e examinaram o que acontece no cérebro dos porcos quando bebem água com açúcar. A conclusão é clara: o açúcar influencia o circuito de recompensa do cérebro de maneiras semelhantes às observadas quando são consumidos medicamentos viciantes. Os resultados foram publicados na revista Scientific Reports.
Qualquer um que tenha procurado desesperadamente em seus armários de cozinha um pedaço de chocolate esquecido sabe que o desejo por comida saborosa pode ser difícil de controlar. Mas isso é realmente um vício?
"Não há dúvida de que o açúcar tem vários efeitos fisiológicos, e há muitas razões pelas quais ele não é saudável. Mas eu tenho dúvidas sobre os efeitos que o açúcar tem no cérebro e no comportamento. Eu esperava poder matar um mito..." diz Michael Winterdahl, professor associado do Departamento de Clínica Médica da Universidade de Aarhus e um dos principais autores do trabalho.
A publicação é baseada em experimentos realizados com sete porcos que receberam dois litros de água açucarada diariamente durante um período de 12 dias. Para mapear as consequências da ingestão de açúcar, os pesquisadores realizaram exames de imagem do cérebro dos porcos no início do experimento, após o primeiro dia e após o 12º dia de açúcar.
"Passados apenas 12 dias de ingestão de açúcar, pudemos ver grandes mudanças nos sistemas da dopamina e de opioides do cérebro. De fato, o sistema opióide, que é a parte da química do cérebro associada ao bem-estar e ao prazer, já estava ativado. após a primeira ingestão", diz Winterdahl.
Quando experimentamos algo significativo, o cérebro nos recompensa com uma sensação de prazer, felicidade e bem-estar. Isso pode acontecer como resultado de estímulos naturais, como sexo ou socialização, ou do aprendizado de algo novo. Os estímulos "naturais" e "artificiais", como produzidos pelas drogas, ativam o sistema de recompensas do cérebro, onde são liberados neurotransmissores como a dopamina e os opióides, explica Winterdahl.
Vamos atras do prazer
"Se o açúcar pode mudar o sistema de recompensa do cérebro após apenas doze dias, como vimos no caso dos porcos, você pode imaginar que estímulos naturais, como aprendizado ou interação social, são empurrados para segundo plano e substituídos pelo açúcar e/ou outros 'estímulos artificiais'. Estamos todos procurando o ímpeto da dopamina, e se algo nos der um estímulo melhor ou maior, é isso que vamos escolher", explica o pesquisador.
Ao examinar se uma substância como o açúcar é viciante, normalmente se estuda os efeitos no cérebro dos roedores. Naturalmente, seria ideal se os estudos pudessem ser feitos em humanos, mas os seres humanos são difíceis de controlar e os níveis de dopamina podem ser modulados por vários fatores diferentes. Eles são influenciados pelo que comemos, se curtimos um jogo em nossos smartphones ou se entramos em um novo relacionamento romântico no meio da pesquisa, com um potencial de grande variação nos dados (que poderiam interferir nos resultados além do açúcar da dieta, NT). O porco é uma boa alternativa porque seu cérebro é mais complexo que o de um roedor e “gira” como humano, sendo grande o suficiente para criar imagens de estruturas cerebrais profundas quando se utiliza scanners de cérebro humano. O atual estudo em mini-porcos introduziu uma configuração bem controlada, com a única variável sendo a ausência ou presença de açúcar na dieta.
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Informações adicionais:
  • O estudo envolveu imagens do cérebro de porco antes e depois da ingestão de açúcar.
  • Parceiros envolvidos no estudo: Michael Winterdahl, Ove Noer, Dariusz Orlowski, Anna C. Schacht, Steen Jakobsen, Aage KO Alstrup, Albert Gjedde e Anne M. Landau.
  • O estudo foi financiado por uma doação da AUFF a Anne Landau.
  • O artigo científico foi publicado no Scientific Reports e está disponível gratuitamente on-line: doi: https: / / doi. org / 10. 1038 / s41598-019-53430-9
Contato
Professor Associado Michael Winterdahl
Universidade de Aarhus, Departamento de Medicina Clínica
Celular: (+45) 2517 8111
michael.winterdahl@clin.au.dk
Link do artigo original AQUI

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