Uma outra perspectiva sobre o consumo de cereais
Nesse
verão estive lendo alguns livros, mas um em especial oferece reflexões
interessantes.
Muitas
pessoas dizem com confiança que se alimentam naturalmente com sua provisão
habitual de arroz, trigo milho etc.
Mas
isso pode estar muito longe da verdade.
Tom
Standage em seu interessante “Uma história comestível da humanidade”
começa seu livro com um visão intrigante sobre a agricultura.
Conceitualmente
uma planta natural é aquela que existe independentemente da existência do
homem. Mas isso não é o caso desses cereais.
Standage
relata que a seleção que o homem fez dessas plantas, em particular no início da
atividade agrícola, transformou as variedades menos aptas a existirem na vida
silvestre como os exemplares que viriam a ser dominantes, atualmente, no horizonte da paisagem monótona dos campos
agrários. Como se tivéssemos selecionados anomalias inviáveis desses seres, e
uma vez que o homem deixasse de existir, imediatamente elas sucumbiriam.
Ele
explica detalhadamente esse cenário aparentemente fantástico para cada um
desses grãos, em locais muito distantes do planeta. Eis uma parte de sua
argumentação:
“Como o milho, o trigo e o arroz são
cereais, e a diferença fundamental entre suas formas silvestres e cultivadas é
que as variedades domesticadas são “inquebráveis”. Os grãos estão presos a um
eixo central conhecido como raque. À medida que os grãos silvestres amadurecem,
a raque torna-se frágil, de modo que se quebra, se despedaça ao ser tocada ou
soprada pelo vento, espalhando os grãos como sementes. Isso faz sentido da
perspectiva da planta, já que assegura que os grãos só se espalhem depois de
maduros, mas é muito inconveniente do ponto de vista de seres humanos que
desejam colhê-los.”
Assim
a ação humana mudou o curso da natureza e favoreceu que as versões menos aptas
fossem parte da base alimentar do homem neolítico.
A
agricultura modifica enormemente a relação de forças na Terra, e cria uma
situação particularmente inovadora: após mais de um milhão de anos os primatas
humanos vão ter uma nova noção de relação como a natureza: a posse da Terra e o
gerenciamento de alimentos como instrumento de poder. Emergem as sociedades
hierarquizadas, onde porções do meio ambiente vão ter donos, e indivíduos
iguais em fisiologia vão ter obrigações entre si que não existiam
anteriormente. Os primeiros passos para magníficas modificações ambientais,
guerras e opressões de todo o tipo, começam com a singela escolha de grãos
alimentares. O homem ganha um papel inédito e potencialmente perverso com seus
semelhantes, para com todos os demais seres vivos e o próprio planeta.
Standage
argumenta que se a agricultura fosse alvo na atualidade, de um plebiscito, com
todo o conhecimento que temos sobre suas apocalípticas consequências, o mais
provável é que jamais seria aceita como forma de interagir com a natureza.
Agora
já é tarde demais...
De qualquer forma é difícil afirmar entusiasticamente que quem come cereais como algo realmente natural, esteja realmente comendo naturalmente.
“Uma história comestível da
humanidade.” - Autor: Tom Standage. Zahar
editora (disponível em ebook)
Sugestão de leitura:
O pior engano da humanidade - é um artigo do site umaoutravisao que versa sobre a mesma perspectiva.
Li o link acima sobre o advento da agricultura, achei fantástico, adorei seu blog, as informações são sensacionais!!!
ResponderExcluirMuito agradecido pelo contato. Alguns dos posts desse blog (e do site umaoutravisao) são frutos de colaboração dos leitores! Grato mais uma vez.
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