É hora de acabar com
o mito da (relação) inatividade física com a obesidade: você não pode escapar
de uma dieta ruim
Um relatório recente da UK's Academy
of Medical Royal Colleges
(Academia das
Faculdades Reais de Medicina do Reino Unido)
descreveu como "a cura milagrosa" a realização de 30 minutos de
exercício moderado, cinco vezes por semana, sendo mais poderoso do que muitos
medicamentos administrados para prevenção e tratamento de doenças
crônicas. 1 A
atividade física regular reduz o risco de desenvolver doenças cardiovasculares,
diabetes tipo 2, demência e alguns tipos de câncer em pelo menos 30%. No entanto, a atividade física
não promove perda de peso.
Nos
últimos 30 anos, com o aumento da obesidade, houve pouca mudança nos níveis de
atividade física na população ocidental.2
Isso coloca a culpa pela expansão das nossas linhas de cintura diretamente no
tipo e quantidade de calorias consumidas. No entanto, a epidemia de
obesidade representa apenas a ponta de um iceberg muito maior, o das
consequências adversas para a saúde de uma dieta ruim. De acordo com o relatório
global do jornal The Lancet sobre os relatórios de
doenças, a dieta ruim atualmente gera mais doenças do que a inatividade
física, o álcool e o tabagismo juntos. Até 40%
das pessoas com um índice de massa corporal normal
abrigam anormalidades metabólicas tipicamente associadas à obesidade, que
incluem hipertensão, dislipidemia, doença hepática gordurosa não alcoólica (esteatose
ou gordura no fígado) e doença cardiovascular. 3 No
entanto, isso é pouco salientado por cientistas, médicos, redatores de mídia e
formuladores de políticas, apesar da extensa literatura científica sobre a
vulnerabilidade de todas as idades e de todos os pesos às doenças relacionadas
ao estilo de vida.
Em
vez disso, membros do público são afogados por uma mensagem inútil sobre a
manutenção de um "peso saudável" através da contagem de calorias, e
muitos ainda acreditam erroneamente que a obesidade é inteiramente devido à
falta de exercício. Essa falsa percepção está enraizada no mecanismo do
Marketing da Indústria Alimentar, que usa táticas assustadoramente semelhantes
às do tabaco. A indústria do tabaco conseguiu paralisar a intervenção do
governo por 50 anos, desde o momento que as primeiras ligações entre o
tabagismo e o câncer de pulmão foram publicadas. Esta sabotagem foi
conseguida usando um 'livro corporativo' de negação, dúvida e confusão do
público. 4
A
Coca Cola, que gastou US $ 3,3 bilhões em publicidade em 2013, envia uma
mensagem dizendo que "todas as calorias contam"; eles associam
seus produtos ao esporte, sugerindo que é bom consumir suas bebidas enquanto
você se exercita. No entanto, a ciência nos diz que isso é enganoso e
errado. É de onde vêm as calorias que é o crucial. As calorias de
açúcar promovem o armazenamento de gordura e a fome. As calorias a partir
das (boas) gorduras induzem plenitude ou "saciedade".
Uma
grande análise econométrica da disponibilidade mundial de açúcar, revelou que
para cada excesso de 150 calorias de açúcar, houve um aumento de 11 vezes na
prevalência de diabetes tipo 2, em comparação com as mesmas 150 calorias obtidas
de gordura ou proteína. E isso foi independente do peso e do nível
de atividade física do indivíduo; este estudo preenche os critérios de
causalidade de Bradford Hill. 5 Uma
revisão crítica publicada recentemente na nutrição concluiu que a restrição
dietética de carboidratos é a intervenção mais eficaz para reduzir todas as
características da síndrome metabólica e deve ser a primeira abordagem no
controle do diabetes, com benefícios ocorrendo mesmo sem perda de peso. 6
E quanto à carga de carboidratos para o exercício?
As
razões gêmeas para o carregamento de carboidratos são que o corpo tem uma
capacidade limitada de armazenar carboidratos e estes são essenciais para um
exercício mais intenso. No entanto, estudos recentes sugerem o
contrário. O trabalho de Volek e colegas 7 estabelece
que a adaptação crônica a uma dieta rica em gordura e pobre em carboidratos
induz a taxas muito altas de oxidação de gordura durante o exercício (até 1,5 g
/ min) – o suficiente para a maioria dos praticantes na maioria das formas de
exercício – sem a necessidade da suplementação de carboidratos. Assim, a
gordura, incluindo os corpos cetônicos, parece ser o combustível ideal para a
maioria dos exercícios - sendo abundante, e não é preciso de reposição ou
suplementação durante o exercício e pode alimentar as formas de exercício das
quais a maioria participa. 7 Se
uma dieta rica em carboidratos fosse apenas desnecessária para o exercício,
seria uma pequena ameaça à saúde pública, no entanto, no entanto há crescentes preocupações
de que os atletas resistentes à insulina estejam em risco de desenvolver
diabetes tipo 2 se continuarem ingerindo dietas muito ricas em carboidratos por
décadas uma vez que essas dietas pioram a resistência à insulina.
A legitimação da 'aura de saudável' de produtos
nutricionalmente deficientes deve terminar
As mensagens de saúde pública em
torno de dieta e exercício, e sua relação com as epidemias de diabetes tipo 2 e
obesidade, foram corrompidas por interesses travestidos. O endosso por
celebridades para bebidas açucaradas e a associação de junk food e esporte devem terminar. A legitimação da 'aura de
saúde' de produtos nutricionalmente deficientes é enganosa e não
científica. Esse marketing manipulador sabota as efetivas intervenções
governamentais, como a introdução de impostos sobre bebidas açucaradas ou a
proibição da propaganda de junk food. Esse
marketing aumenta o lucro comercial às custas da saúde da população. A
pirâmide de impacto na saúde dos Centros de Controle de Doenças (Centres of
Disease Control) é clara. Mudar o ambiente alimentar - de modo
que as escolhas dos indivíduos sobre o que comer como padrão dentro das opções
saudáveis - terá um impacto muito maior sobre a saúde da população do que
aconselhamento ou educação. A escolha saudável precisa se tornar a escolha
mais fácil. Clubes de saúde e academias, portanto, também precisam dar o
exemplo, removendo a venda de bebidas açucaradas e junk food das suas instalações.
Editorial do British Journal of Sports Medicine
Link do Original AQUI
Referências bibliográficas fornecidas no artigo original
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