![]() |
Ártico: o volume de carboidratos consumidos aumentou significativamente. Os habitantes substituem sua comida tradicional por esses carbos. (Imagem: Sergey Anisimov) |
MUDANDO PARA A OBESIDADE - CARBOIDRATOS PARA NÔMADES DO ÁRTICO
Os primeiros casos de obesidade nos povos do Ártico: o macarrão substituindo a dieta tradicional
Por Olga Gertcyk
20 de fevereiro de 2017
(Artigo do Siberian Times)
O declínio no consumo de carne de veado e peixe fresco de rios, juntamente com a redução nas distâncias cobertas nas rotas nômades de pastagem é a introdução à uma moderna maldição.
Alterações sutis no estilo de vida tradicional dos grupos étnicos nativos na região Yamalo-Nenets trouxeram os primeiros casos de obesidade. Até recentemente, a obesidade não existia nestes grupos populacionais, mas os cientistas dizem que tem havido uma marcante mudança.
Alexey Titovsky, diretor regional de ciência e inovação, disse: "Nunca antes tinha acontecido de que os pequenos povos indígenas locais do norte sofressem de obesidade. É um absurdo problema moderno. Agora, até mesmo uma predisposição à obesidade está sendo notada. "
![]() |
Alimentação tradicional (Imagem Andrey Lobanov) |
Mudanças tem feito com que a ingestão de carne de veado e de peixe de rio sejam cortadas pela metade, disse ele. "Nos últimos anos, a dieta mudou consideravelmente, e as pessoas que vivem na tundra começaram a comer os produtos reconhecidos como quimicamente processados."
![]() |
Com as mudanças o consumo de veado e peixes de rio foram cortados pela metade. (Imagem Andrey Lobanov) |
O pesquisador Dr. Andrey Lobanov diz que os pastores nômades hoje em dia muitas vezes compram macarrão instantâneo para aldeias em suas rotas de pastagem e isso levou a "drásticas mudanças nas rações das pessoas que vivem na tundra".
"Este alimento é fácil de transportar, fácil de fazer", disse ele, ao mesmo tempo em que os grupos nômades - dos grupos étnicos Nenets e Khanty - adicionaram açúcar, doces, massas e pães às suas dietas.
"O problema é que os carboidratos não contêm os micro elementos necessários, que ajudam a sobreviver em condições árticas", disse ele. "A dieta sazonal também mudou - os períodos em que eles não comem comida tradicional e a substitui por carboidratos se tornaram mais longos".
![]() |
Rotas de migração |
Ele disse: "Os indígenas podem digerir carboidratos e açúcar em particular. Podem digerir talvez até mesmo melhor do que os europeus e isso causa o problema. O volume de carboidratos consumidos aumenta significativamente. Eles substituem sua comida tradicional com eles.
Além disso, a sensibilidade do paladar à sacarose aumenta com o tempo. Quanto mais uma pessoa come açúcar, mais ele ou ela precisa sentir seu gosto. Assim, o consumo de açúcar cresce exponencialmente.
A distância entre as pastagens dos pastores nômades e suas renas foi reduzida para metade nos últimos 25 anos, disse ele. As rotas também são mais circulares agora, em torno de assentamentos e também instalações de exploração de petróleo e gás, dos quais a península de Yamal tem vastas reservas.
Mas tem havido uma "revolução silenciosa que é quase despercebida", e que está contribuindo para a chegada da obesidade no Ártico.
![]() |
Família Nenets: "A dieta sazonal também mudou - os períodos em que eles não comem alimentos tradicionais e os substituí por carboidratos se tornaram mais longos". Imagem: Andrey Lobanov
|
Como resultado, a "logística" ou base econômica do pastoreio nômade mudou.
"Você tem mais chance de vender chifres a bom preço se estiverem recém cortados", disse ele. "Ou seja, a família precisa se aproximar de um assentamento, ou estrada, ou posto de troca, para entregar os chifres a uma instalação de secagem ou congelamento o mais rápido possível", disse ele.
Conseguir o melhor preço para o veado também mudou as rotas dos pastores, minimizando seus seculares padrões nômades.
![]() |
As mudanças viram o consumo do veado e dos peixes do rio cortados pela metade. (Fotos: Sergey Anisimov, Yamalo-Nenetsk Escritório do Governador) |
"Eles também tentam estar mais perto de depósitos de petróleo e gás, porque lá eles podem vender a caça todo o ano", disse ele. "Os trabalhadores de turnos sempre comprarão carne de veado fresca - e por um bom preço".
"Quanto mais próximo você está de um assentamento, mais baratos são os produtos que você compra, porque a gasolina é muito cara e o preço dos produtos aumenta com a distância."
"Acontece que agora é muito lucrativo para os povos indígenas ficarem mais próximos dos assentamentos, e seu bem-estar familiar aumenta consideravelmente. Eles também querem usar os benefícios da civilização - para ir às lojas, têm boa conexão móvel, resolver alguns problemas com os funcionários rapidamente. São razões puramente econômicas.
Existem também mudanças na forma de como essas pessoas tem vivido, o que inclui a época soviética.
"Ao mesmo tempo, o ecossistema da tundra não pode suportar tal carga. Isso muda. Problemas com o sobrepastoreio apareceram. E suas rotas mudam drasticamente.
![]() |
Resultado do sobrepastoreio
"Ao mesmo tempo, o ecossistema da tundra não pode suportar tal carga. Isso muda. Apareceram problemas de sobrepastoreio. (Imagem: Andrey Lobanov)
|
Isso tudo tem um impacto sobre a dieta dos nômades do Ártico, disse ele. "A mudança de rotas e clima leva ao fato de que a dieta também muda", disse ele. "O peixe sempre foi suficiente - talvez a maior parte da dieta indígena.
"Mas como eles não carregavam grandes estoques de comida, um aspecto prioritário era vir a estar no lugar certo no momento certo. Anteriormente, por exemplo, no final do século 19 e início do século 20, as rotas de pastagem eram enormes.
"Os povos indígenas viajariam do distrito de Tazovsky para Khanty-Mansiysk para a feira anual, e até mesmo às vezes para Tobolsk. E a rota funcionava como um relógio.
![]() |
"Anteriormente, por exemplo, no final do século 19 e início do século 20, as rotas de pastagem eram enormes. Fotos: Escritório do Governador Yamalo-Nenetsk, Andrey Lobanov
|
"Para qualquer população é melhor comer equilibradamente alimentos tradicionais, do que substituí-los com carboidratos e produtos de outras regiões. Pode ser mais significativo para o Ártico, porque as condições são duras e para se adaptar melhor ao clima, a comida tradicional é a melhor.
"Por exemplo - para evitar a congelação, é bom comer carne de veado. Se você quiser aumentar a resistência ao estresse do frio, deve comer a gordura de peixe, por exemplo, do peixe coregonus (broad whitefish). Se você quer prevenir a hipertensão e doenças respiratórias, você precisa de lúcio, ou burbot.
Ele disse que o povo Nenets - que são cerca de 45.000 - estão abertos a orientações sobre suas dietas. "Os locais estão muito interessados em uma dieta equilibrada, eles vêem o problema e buscam conselhos."
Link do original: AQUI
Nenhum comentário:
Postar um comentário