sábado, 25 de fevereiro de 2017

A obesidade chega ao ártico - graças aos carboidratos

Ártico: o volume de carboidratos consumidos aumentou significativamente.
Os habitantes substituem sua comida tradicional por esses carbos. (Imagem: Sergey Anisimov)

MUDANDO PARA A OBESIDADE - CARBOIDRATOS PARA NÔMADES DO ÁRTICO

Os primeiros casos de obesidade nos povos do Ártico: o macarrão substituindo a dieta tradicional

Por Olga Gertcyk
20 de fevereiro de 2017
(Artigo do Siberian Times)

O declínio no consumo de carne de veado e peixe fresco de rios, juntamente com a redução nas distâncias cobertas nas rotas nômades de pastagem é a introdução à uma moderna maldição.

Alterações sutis no estilo de vida tradicional dos grupos étnicos nativos na região Yamalo-Nenets trouxeram os primeiros casos de obesidade. Até recentemente, a obesidade não existia nestes grupos populacionais, mas os cientistas dizem que tem havido uma marcante mudança.

Alexey Titovsky, diretor regional de ciência e inovação, disse: "Nunca antes tinha acontecido de que os pequenos povos indígenas locais do norte sofressem de obesidade. É um absurdo problema moderno. Agora, até mesmo uma predisposição à obesidade está sendo notada. "

Fontes naturais de alimentação no polo norte
Alimentação tradicional (Imagem Andrey Lobanov)

Mudanças tem feito com que a ingestão de carne de veado e de peixe de rio sejam cortadas pela metade, disse ele. "Nos últimos anos, a dieta mudou consideravelmente, e as pessoas que vivem na tundra começaram a comer os produtos reconhecidos como quimicamente processados."

Com as mudanças o consumo de veado e peixes de rio foram cortados pela metade. (Imagem Andrey Lobanov)

O pesquisador Dr. Andrey Lobanov diz que os pastores nômades hoje em dia muitas vezes compram macarrão instantâneo para aldeias em suas rotas de pastagem e isso levou a "drásticas mudanças nas rações das pessoas que vivem na tundra".

"Este alimento é fácil de transportar, fácil de fazer", disse ele, ao mesmo tempo em que os grupos nômades - dos grupos étnicos Nenets e Khanty - adicionaram açúcar, doces, massas e pães às suas dietas.

"O problema é que os carboidratos não contêm os micro elementos necessários, que ajudam a sobreviver em condições árticas", disse ele. "A dieta sazonal também mudou - os períodos em que eles não comem comida tradicional e a substitui por carboidratos se tornaram mais longos".


Rotas de migração
As rotas também são mais circulares agora, em torno de assentamentos e também instalações de exploração de petróleo e gás, dos quais a península de Yamal tem vastas reservas. (Imagem: Andrey Lobanov)

Ele disse: "Os indígenas podem digerir carboidratos e açúcar em particular. Podem digerir talvez até mesmo melhor do que os europeus e isso causa o problema. O volume de carboidratos consumidos aumenta significativamente. Eles substituem sua comida tradicional com eles.

Além disso, a sensibilidade do paladar à sacarose aumenta com o tempo. Quanto mais uma pessoa come açúcar, mais ele ou ela precisa sentir seu gosto. Assim, o consumo de açúcar cresce exponencialmente.

A distância entre as pastagens dos pastores nômades e suas renas foi reduzida para metade nos últimos 25 anos, disse ele. As rotas também são mais circulares agora, em torno de assentamentos e também instalações de exploração de petróleo e gás, dos quais a península de Yamal tem vastas reservas.

Mas tem havido uma "revolução silenciosa que é quase despercebida", e que está contribuindo para a chegada da obesidade no Ártico.

Família Nenets: "A dieta sazonal também mudou - os períodos em que eles não comem alimentos tradicionais e os substituí por carboidratos se tornaram mais longos".  Imagem:   Andrey Lobanov

"Em 2014, a maioria das famílias obteve seus rendimentos com a venda de carne de veado e peixe", disse ele. "Agora, a principal renda vem da venda de galhadas de renas. A taxa de câmbio mudou, e a demanda aumentou nos países do sudeste. É por isso que a rentabilidade do negócio de chifres aumentou várias vezes. "

Como resultado, a "logística" ou base econômica do pastoreio nômade mudou.

"Você tem mais chance de vender chifres a bom preço se estiverem recém cortados", disse ele. "Ou seja, a família precisa se aproximar de um assentamento, ou estrada, ou posto de troca, para entregar os chifres a uma instalação de secagem ou congelamento o mais rápido possível", disse ele.

Conseguir o melhor preço para o veado também mudou as rotas dos pastores, minimizando seus seculares padrões nômades.

As mudanças viram o consumo do veado e dos peixes do rio cortados pela metade. (Fotos: Sergey Anisimov, Yamalo-Nenetsk Escritório do Governador)

"Eles também tentam estar mais perto de depósitos de petróleo e gás, porque lá eles podem vender a caça todo o ano", disse ele. "Os trabalhadores de turnos sempre comprarão carne de veado fresca - e por um bom preço".

"Quanto mais próximo você está de um assentamento, mais baratos são os produtos que você compra, porque a gasolina é muito cara e o preço dos produtos aumenta com a distância."

"Acontece que agora é muito lucrativo para os povos indígenas ficarem mais próximos dos assentamentos, e seu bem-estar familiar aumenta consideravelmente. Eles também querem usar os benefícios da civilização - para ir às lojas, têm boa conexão móvel, resolver alguns problemas com os funcionários rapidamente. São razões puramente econômicas.

Existem também mudanças na forma de como essas pessoas tem vivido, o que inclui a época soviética.

"Ao mesmo tempo, o ecossistema da tundra não pode suportar tal carga. Isso muda. Problemas com o sobrepastoreio apareceram. E suas rotas mudam drasticamente.

Resultado do sobrepastoreio
"Ao mesmo tempo, o ecossistema da tundra não pode suportar tal carga. Isso muda. Apareceram problemas de sobrepastoreio. (Imagem:  Andrey Lobanov)

Aqui o clima é um fator. "O clima em Yamal muda muito rapidamente, talvez mais rápido do que em outros lugares", disse ele. "Por exemplo, esses pastores de verão não passaram nem metade de sua rota habitual. Em vez disso, eles voltaram para seus pastos de inverno. Novas plantas, gramíneas apareceram, e as renas as comem em vez de musgo.

Isso tudo tem um impacto sobre a dieta dos nômades do Ártico, disse ele. "A mudança de rotas e clima leva ao fato de que a dieta também muda", disse ele. "O peixe sempre foi suficiente - talvez a maior parte da dieta indígena.

"Mas como eles não carregavam grandes estoques de comida, um aspecto prioritário era vir a estar no lugar certo no momento certo. Anteriormente, por exemplo, no final do século 19 e início do século 20, as rotas de pastagem eram enormes.

"Os povos indígenas viajariam do distrito de Tazovsky para Khanty-Mansiysk para a feira anual, e até mesmo às vezes para Tobolsk. E a rota funcionava como um relógio.

"Anteriormente, por exemplo, no final do século 19 e início do século 20, as rotas de pastagem eram enormes. Fotos:  Escritório do Governador Yamalo-Nenetsk,  Andrey Lobanov

Ele disse que "a falta de carne tradicional de veado e peixe na dieta é ruim não apenas só para os povos indígenas.

"Para qualquer população é melhor comer equilibradamente alimentos tradicionais, do que substituí-los com carboidratos e produtos de outras regiões. Pode ser mais significativo para o Ártico, porque as condições são duras e para se adaptar melhor ao clima, a comida tradicional é a melhor.

"Por exemplo - para evitar a congelação, é bom comer carne de veado. Se você quiser aumentar a resistência ao estresse do frio, deve comer a gordura de peixe, por exemplo, do peixe coregonus (broad whitefish). Se você quer prevenir a hipertensão e doenças respiratórias, você precisa de lúcio, ou burbot.

Ele disse que o povo Nenets - que são cerca de 45.000 - estão abertos a orientações sobre suas dietas. "Os locais estão muito interessados ​​em uma dieta equilibrada, eles vêem o problema e buscam conselhos."


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