quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Insulina não trata diabete tipo II


Afinal de contas de contas o que é diabete tipo II? Tecnicamente não a síndrome de resistência à insulina? Para haver resistência não tem que haver uma imensa resposta insulínica porém com pouca eficiência? Não é essa razão pela qual o o corpo força o pâncreas a cada vez produzir mais insulina, pois sempre fica "muita glicose no sangue"? Mas a insulina não é dependente da entrada de glicose a partir de fontes de carboidratos da alimentação? 
Bem, nos últimos dias fiz o atendimento de um senhor com o biotipo típico da síndrome metabólica (abdômen com muito mais do que 100 cm, gordura no fígado etc), e com diagnóstico de diabete tipo II. Pelo insucesso dos remédios habituais lhe foi sugerido insulina. E ele parecia piorar e ficar mais obeso. Para poder levá-lo a ter consciência de que NÃO precisava tomar insulina fizemos o teste insulínico e ela disparou a mais de 300 no sangue e não baixou. Estava na sua frente: ele tinha um monte de insulina - então: porque tomar mais?  Naturalmente lhe foi indicado um tratamento que atinge a causa do problema: restrição de carboidratos. Vamos aguardar a evolução. De qualquer forma, e o texto a seguir nos dá a garantia: não há evidência científica que valide o uso de insulina em diabéticos tipo II, muito  menos que produza qualquer vantagem!

A eficácia e a segurança da insulina no diabetes tipo 2: meta-análise de ensaios clínicos randomizados.



Erpeldinger S, et al. BMC Endocr Disord. 2016.
Publicado em 08/julho/2016

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SUMÁRIO:

INTRODUÇÃO: É essencial antecipar e delimitar o custo social, econômico e sanitário do diabetes tipo 2 (DM2), que está em progressão constante em todo o mundo. Quando os objetivos dos níveis de glicose no sangue não são alcançados com uma intervenção dietética e no estilo de vida, a insulina tem sido recomendada mesmo se o paciente já esteja ou não, tomando medicamentos hipoglicemiantes. No entanto, a relação risco/benefício da insulina permanece controverso. Nosso objetivo foi determinar a eficácia e a segurança da insulina versus hipoglicemiantes ou dieta / placebo em resultados clinicamente relevantes.

MÉTODOS: Uma revisão sistemática da literatura (Pubmed, Embase, Cochrane Library), incluindo todos os ensaios clínicos randomizados (RCT) que analisam a insulina vs. hipoglicemiantes ou dieta / placebo, publicados entre 1950 e 2013, foi realizada. Foram incluídos todos os ensaios clínicos randomizados efeitos sobre a mortalidade por todas as causas, mortalidade cardiovascular, a morte por câncer, morbidade cardiovascular, complicações microvasculares e hipoglicemia em adultos ≥ 18 anos com diabetes tipo 2. Dois autores avaliaram independentemente a elegibilidade dos estudos e extraíram os dados. A validade interna dos estudos foi analisada de acordo com a ferramenta de Risco de Viés Cochrane (Cochrane Risk of Bias tool). As razões de risco (RR) com intervalos de confiança de 95% (IC 95%) foram calculados, usando o modelo de efeito fixo na primeira abordagem. O I² (qui quadrado) estatístico avaliou a heterogeneidade (heterogeneidade na meta-análise refere-se à variação nos resultados alcançados entre os estudos). Em caso de heterogeneidade estatística, foram realizadas análises de sensibilidade e subgrupo, em seguida, um modelo de efeito aleatório. O limite alfa foi de 0,05. Os resultados principais foram todas as causas de mortalidade e mortalidade cardiovascular. Os desfechos secundários foram eventos cardiovasculares não fatais, episódios de hipoglicemia, a morte por câncer e complicações macro ou microvasculares.

RESULTADOS: Vinte ensaios clínicos foram incluídos a partir dos 1632 estudos inicialmente identificados. 18 599 pacientes foram analisados: a insulina não teve eficiência versus hipoglicemiantes em todas as causas de mortalidade RR = 0,99 (IC 95% = 0,92-1,06) e na mortalidade cardiovascular RR = 0,99 (IC 95% = 0,90-1,09), nem versus dieta / placebo RR = 0,92 (IC 95% = 0,80-1,07) e RR = 0,95 (IC 95% 0,77-1,18), respectivamente. Nenhum efeito foi encontrado em desfechos secundários também. No entanto, a hipoglicemia grave foi mais freqüente com a insulina em comparação com hipoglicemiantes RR = 1,70 (IC 95% = 1,51-1,91).

CONCLUSÕES: Não há nenhuma evidência significativa de eficácia a longo prazo da insulina em qualquer resultado clínico em diabetes tipo 2. No entanto, há uma tendência para efeitos adversos clinicamente prejudiciais, tais como o ganho de peso e hipoglicemia. O único benefício poderia estar limitado na redução da hiperglicemia a curto prazo. Isso precisará ser confirmado com outros estudos.


LINK do original: AQUI

4 comentários:

  1. Quando descobri a diabetes, depois de passar pelo endócrino, foi sugerido que se não baixasse com remédios e exercício teria que iniciar com insulina. Fiz exatamente as mesmas perguntas do início do texto, porém, usando a minha lógica e não o conhecimento científico. Resposta do médico: "Você tem que seguir a minha recomendação e não a sua lógica".

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    1. Olá Renato! Pois é... o que mais falar sobre isso? Mas creio que essa nova informação pode daqui a um tempo reformar esse tipo de indicação.

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  2. Na diabetes tipo 2 só é recomendável usar insulina desde que o pâncreas não a fabrique mais. Ou seja, quando o diabético se torna tipo 1. Tentar INJETAR INSULINA com insulina circulante é um contrassenso, preguiça do médico, muito estranho ficar usando o paciente como cobaia. Entendo, no entanto, que os médicos tenham reservas quanto a mudança dos hábitos alimentares, geralmente não dá certo, as pessoas em sua maioria não conseguem se adaptar a uma dieta diferente, o pessoal é viciado em doce e carboidrato, sabotam a cetose continuamente, melhor usar medicação pesada neles. Conheço gente que está engordando de propósito para chegar a um peso que autorize uma cirurgia bariátrica, tamanha é a incapacidade de mudar sua dieta. Outra come doces escondido, mesmo sendo diabética insulina-dependente, é triste.
    A dúvida que tenho quanto a este tema é a seguinte: se o diabético tipo 2 tem resistência a insulina, ele terá que injetar insulina de uma forma maior desde que seu pâncreas não fabrique mais este hormônio? É possível ter resistência a insulina sendo diabético tipo 1? Se isto for possível, então o que ocasionou a resistência foi o excesso de insulina que ele injetou? Ou seja, o que provoca realmente a resistência é o excesso de insulina no sangue? Digo isto porque não conheço se isto é um consenso entre os médicos, se for fica bastante claro que não se justifica receitar insulina injetável para quem tem fabricação deste hormônio, abraços - fernando marques.

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    1. Olá Fernando! Obrigado pelas suas considerações. Estou estudando esse curioso e paradoxal tema da resistência à insulina para pacientes DM I que a utilizam como terapêutica. De fato uma grande parcela de diabéticos (como os não diabéticos) são aparentemente adictos ao consumo de carboidratos e tem grande dificuldade de superar. Abraço

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