sábado, 25 de janeiro de 2020

Óleos vegetais podem estar relacionados ao câncer de pele




Há algum tempo tem sido percebido um aumento na incidência do câncer de pele e alguns aspectos tem sido considerados como prováveis promotores. Tem sido pensado que algum tipo de variável no ambiente interno corporal esteja eventualmente relacionado à alimentação. E o possível culpado pode ser o óleo vegetal rico em ômega-6. Se fizermos uma busca na internet, esse assunto aparece há muitos anos. Um provável modelo diz respeito a possibilidade da exposição à radiação ultra violeta ter capacidade carcinogênica sobre tecidos vulnerabilizados pelo padrão inflamatório promovido por uma cascata de eventos associados ao metabolismo do ácido araquidônico e prostaglandinas pró-inflamatórias. Essa rota bioquímica do ômega-6 está relacionada a quadros clínicos como: arteriosclerose, asma, artrite, doenças vasculares, trombose, processos imuno-inflamatórios e proliferação de tumores. Dessa forma uma maneira de se previnir o câncer de pele pode ser a retirada de nossas dietas dos produtos à base de ácidos graxos poliinsaturados tipo ômega-6, que são basicamente os óleos vegetais industrializados e incontáveis produtos alimentares de prateleira de supermercados. A disponibilidade para o consumo desses óleos na natureza é muito limitado, e sua necessidade para a boa nutrição humana é mínima. Mas como se transformaram num dos mais importantes ingredientes da indústria alimentícia, o acesso à composição dos tecidos humanos por essas substâncias nas quantidades atuais em décadas recentes é algo que nunca aconteceu desde o surgimento dos primeiros humanos na Terra. E aparentemente essa mudança não trouxe qualquer vantagem para nossa saúde.

O artigo  a seguir foi publicado em revista especializada, a Dermatology Times.     



A ingestão de óleo vegetal está associada ao risco de câncer de pele

A associação entre a ingestão de certos tipos de gordura na dieta e o desenvolvimento de certos tipos de câncer, incluindo colo retal, mama e próstata, está bem estabelecida. Os resultados de um estudo recente 1   que investigou a associação entre a ingestão de gordura na dieta e o desenvolvimento de câncer de pele foram variados, mas se constatou que a ingestão de gordura poliinsaturada, especialmente a ômega-6, é razoável e consistentemente associada ao risco de câncer de pele .

“Como houve poucos estudos epidemiológicos sobre ingestão de gordura e câncer de pele, nossas descobertas sobre tipos específicos de ingestão de gordura e câncer de pele precisam ser replicadas em outras populações antes de aconselharmos os pacientes com base em sua ingestão de gordura. Até obtermos mais dados de outras populações, as pessoas devem seguir diretrizes de prevenção bem estabelecidas para o câncer de pele, como reduzir a exposição ao sol”, disse Eunyoung Cho, MD, departamento de dermatologia da Faculdade de Medicina Warren Alpert da Brown University, Providence, em Rhode Island, nos EUA.
No estudo prospectivo, o Dr. Cho e outros pesquisadores investigaram a associação potencial entre a ingestão de gordura na dieta e o risco de câncer de pele, incluindo melanoma maligno cutâneo, carcinoma epidermoide (CEC) e carcinoma basocelular (CBC) avaliando os dados combinados dos estudos - Estudo de Saúde dos Enfermeiros (NHS 1984-2012) e do Estudo de Acompanhamento dos Profissionais de Saúde (HPFS 1986-2012), dois estudos prospectivos em que as informações alimentares sobre o consumo de total e tipos de gordura, incluindo saturada, monoinsaturada, poliinsaturada tipo ômega -6 e ômega-3, e colesterol foram avaliados regularmente e registrados aproximadamente a cada 4 anos. Os casos das incidências foram identificados por auto declaração.
Um total de 794 casos de melanoma, 2.223 de câncer epidermóide e 17.556 de câncer basocelular e outro total de 736 casos de melanoma, 1.756 de epidermoide e 13.092 casos basocelular foram encontrados, respectivamente nos estudos do NHS e HPFS. Nenhuma associação entre a ingestão total de gordura e o risco de câncer de pele foi identificada nos dois estudos prospectivos. Os dados mostraram que o risco de desenvolver o câncer epidermóide e basocelular estava associado a uma maior ingestão de gorduras poliinsaturadas. Embora os riscos dos três tipos de câncer de pele tenham sido associados a uma maior ingestão de gordura ômega-6, a ingestão de gordura ômega-3 na dieta está associada ao risco do basocelular, mas não ao epidermoide ou melanoma. Nenhuma outra gordura foi associada ao risco de melanoma.
Curiosamente, a maior ingestão de colesterol e gordura monoinsaturada foi associada a menor risco seja do câncer basocelular ou epidermóide. Essas associações no geral também foram verificadas em mulheres e homens e junto a outros fatores de risco para câncer de pele.
Estudos em animais 2,3 demonstraram efeitos de promoção de tumor da gordura ômega-6 na carcinogênese induzida pelos raios ultra violetas. Segundo o Dr. Cho, um mecanismo biológico teórico é que a ingestão de gordura ômega-6 pode aumentar os níveis pró-inflamatórios e imunossupressores da enzima PGE sintetase (prostaglandina E sintetase) tipo 2, que estão associados a padrões agressivos de crescimento de câncer de pele não melanoma.
“Nosso estudo sugere um efeito potencial da dieta no desenvolvimento do câncer de pele, que precisa ser mais explorado em outras populações. Evitar a exposição ao sol ainda é a melhor estratégia para prevenir o câncer de pele”, afirmou Cho.

Publicado por Ilya Petrou. M.D.
Em 07 de Fevereiro de 2019
As referências estão no artigo original
O texto pode ser acessado nesse LINK

Observação: existem vários estudos que discutem a importância da exposição à luz solar sobre incidência do melanoma. Vários estudiosos validam essa relação com o câncer epidermóide e basocelular, mas contestam com o melanoma, de acordo com uma série de critérios, incluindo o fato dessa enfermidade aparecer em sítios corporais com pouca ou nenhuma exposição solar. Para mais informações pode se acessar esses artigos AQUI, AQUI ou AQUI entre outros.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Estudos mostram que o óleo de soja pode afetar o cérebro


O óleo mais consumido na América causa alterações genéticas no cérebro
Óleo de soja associado a alterações metabólicas e neurológicas em camundongos
17/01/2020
UNIVERSIDADE DA CALIFÓRNIA - RIVERSIDE
Nova pesquisa da UC Riverside mostra que o óleo de soja não apenas leva à obesidade e ao diabetes, mas também pode afetar condições neurológicas como autismo, doença de Alzheimer, ansiedade e depressão.
Usado para fritar os fast-foods, adicionado a alimentos embalados (produtos alimentos industrializados, congelados, pré-prontos etc.) e alimentado à pecuária (de animais confinados), o óleo de soja é de longe o óleo de emprego como comestível mais amplamente produzido e consumido nos EUA, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA. E com toda a probabilidade, não é saudável para os seres humanos.
GORDURAS E ÓLEOS COMESTÍVEIS CONSUMIDOS NOS EUA, 2017/18

Certamente não é bom para ratos. O novo estudo, publicado este mês na revista Endocrinology, comparou ratos alimentados com três dietas diferentes com alto teor de gordura: óleo de soja, óleo de soja modificado (para ter baixo teor de ácido linoleico) e óleo de coco.
A mesma equipe de pesquisa da UCR descobriu em 2015 que o óleo de soja induz obesidade, diabetes, resistência à insulina e fígado gorduroso em ratos. Então, em um estudo de 2017, o mesmo grupo aprendeu que, se o óleo de soja for projetado com um teor reduzido de ácido linoleico (ômega-6), induzirá menos obesidade e resistência à insulina.
No entanto, no estudo divulgado este mês, os pesquisadores não encontraram nenhuma diferença entre os efeitos do óleo de soja com esta modificação e sem modificado no cérebro. Especificamente, os cientistas descobriram efeitos pronunciados do óleo no hipotálamo, onde ocorrem vários processos críticos.
"O hipotálamo regula o peso corporal através do seu metabolismo, mantém a temperatura corporal, é fundamental para a reprodução e o crescimento físico, bem como sua resposta ao estresse", disse Margarita Curras-Collazo, professora associada de neurociência da UCR e principal autora do estudo.
A equipe determinou que vários genes em ratos alimentados com óleo de soja não estavam funcionando corretamente. Um desses genes produz o hormônio do "amor", a ocitocina. Em camundongos alimentados com óleo de soja, os níveis de ocitocina no hipotálamo caíram.
A equipe de pesquisa descobriu cerca de 100 outros genes também afetados pela dieta com óleo de soja. Eles acreditam que essa descoberta pode ter ramificações não apenas para o metabolismo energético, mas também para a função cerebral adequada e doenças como o autismo ou a doença de Parkinson. No entanto, é importante observar que não há provas de que o óleo cause essas doenças.
Além disso, a equipe observa que as descobertas se aplicam apenas ao óleo de soja - não a outros produtos de soja ou outros óleos vegetais.
(...)
Sumário do artigo científico publicado na Revista Endocrinology:

Abstrato


O consumo de óleo de soja aumentou muito nos últimos meio século e está ligado à obesidade e diabetes. Para testar a hipótese de que a dieta com óleo de soja altera a expressão do gene hipotalâmico em conjunto com o fenótipo metabólico, realizamos análises de RNA-seq usando ratos machos alimentados com dietas isocalóricas e com alto teor de gordura, à base de óleo de soja convencional (rico em ácido linoléico, LA, ω−6) óleo de soja modificado, com baixo teor de LA (Plenish) e óleo de coco (rico em gordura saturada, sem LA). As duas dietas com óleo de soja tiveram efeitos semelhantes, embora não idênticos, no transcriptoma hipotalâmico, enquanto a dieta com óleo de coco teve um efeito desprezível em comparação com uma dieta com baixo teor de gordura. Os genes desregulados foram associados à inflamação, sinalização neuroendócrina, neuroquímica e da insulinaOxt (oxitocina *) foi o único gene com relevância metabólica, inflamatória e neurológica aumentada por ambas as dietas com óleo de soja em comparação com as duas dietas controle. A imunorreatividade da ocitocina nos núcleos supraóptico e paraventricular do hipotálamo foi reduzida, enquanto a oxitocina plasmática e a Oxt hipotalâmico aumentaram Esses efeitos centrais e periféricos das dietas com óleo de soja foram correlacionados com a intolerância à glicose, mas não com o peso corporal. Não foram observadas alterações na Oxt hipotalâmico e na oxitocina plasmática na dieta com óleo de coco enriquecido em estigmasterol, um fitoesterol encontrado no óleo de soja. Postulamos que nem o estigmasterol nem o LA são responsáveis ​​pelos efeitos das dietas com óleo de soja sobre a ocitocina e que os níveis do mRNA da Oxt podem estar associados ao estado diabético. Dada sua presença onipresente na dieta americana, esses efeitos observados do óleo de soja na expressão gênica do hipotálamo podem ter importantes consequências para a saúde pública.
(O artigo tem continuação, veja no link a íntegra do texto)
 Acesse o artigo original AQUI

Site EUREKALERT

(*) Nota de tradução: ocitocina ou oxitocina ou pitocina são sinônimos, no texto Oxt é sua abreviatura.



domingo, 19 de janeiro de 2020

O vício por doces pode ser real




Sem dúvida, muitos de nós acreditamos que o açúcar, e por extensão os alimentos ricos em glicose (carboidratos), produzem uma situação fisiológica de adição, vício, dependência química, ou no mínimo psíquica. Há vários estudos que tentam demonstrar modelos de como esse processo ocorre. Seja como for tem que introduzir alterações na química delicada do cérebro. O estudo a seguir foi desenhado para registrar essas alterações, se elas efetivamente ocorrem. E elas realmente são mensuráveis. Essa pesquisa foi realizada na Dinamarca, e sua publicação está disponível na íntegra no link ao final do texto. Essa reportagem foi traduzida do site EurekaAlert, de 14 de janeiro de 2020. 

O açúcar muda a química do seu cérebro
UNIVERSIDADE DE AARHUS
A ideia do vício em comida é um tópico muito controverso entre os cientistas. Pesquisadores da Universidade de Aarhus se aprofundaram neste tópico e examinaram o que acontece no cérebro dos porcos quando bebem água com açúcar. A conclusão é clara: o açúcar influencia o circuito de recompensa do cérebro de maneiras semelhantes às observadas quando são consumidos medicamentos viciantes. Os resultados foram publicados na revista Scientific Reports.
Qualquer um que tenha procurado desesperadamente em seus armários de cozinha um pedaço de chocolate esquecido sabe que o desejo por comida saborosa pode ser difícil de controlar. Mas isso é realmente um vício?
"Não há dúvida de que o açúcar tem vários efeitos fisiológicos, e há muitas razões pelas quais ele não é saudável. Mas eu tenho dúvidas sobre os efeitos que o açúcar tem no cérebro e no comportamento. Eu esperava poder matar um mito..." diz Michael Winterdahl, professor associado do Departamento de Clínica Médica da Universidade de Aarhus e um dos principais autores do trabalho.
A publicação é baseada em experimentos realizados com sete porcos que receberam dois litros de água açucarada diariamente durante um período de 12 dias. Para mapear as consequências da ingestão de açúcar, os pesquisadores realizaram exames de imagem do cérebro dos porcos no início do experimento, após o primeiro dia e após o 12º dia de açúcar.
"Passados apenas 12 dias de ingestão de açúcar, pudemos ver grandes mudanças nos sistemas da dopamina e de opioides do cérebro. De fato, o sistema opióide, que é a parte da química do cérebro associada ao bem-estar e ao prazer, já estava ativado. após a primeira ingestão", diz Winterdahl.
Quando experimentamos algo significativo, o cérebro nos recompensa com uma sensação de prazer, felicidade e bem-estar. Isso pode acontecer como resultado de estímulos naturais, como sexo ou socialização, ou do aprendizado de algo novo. Os estímulos "naturais" e "artificiais", como produzidos pelas drogas, ativam o sistema de recompensas do cérebro, onde são liberados neurotransmissores como a dopamina e os opióides, explica Winterdahl.
Vamos atras do prazer
"Se o açúcar pode mudar o sistema de recompensa do cérebro após apenas doze dias, como vimos no caso dos porcos, você pode imaginar que estímulos naturais, como aprendizado ou interação social, são empurrados para segundo plano e substituídos pelo açúcar e/ou outros 'estímulos artificiais'. Estamos todos procurando o ímpeto da dopamina, e se algo nos der um estímulo melhor ou maior, é isso que vamos escolher", explica o pesquisador.
Ao examinar se uma substância como o açúcar é viciante, normalmente se estuda os efeitos no cérebro dos roedores. Naturalmente, seria ideal se os estudos pudessem ser feitos em humanos, mas os seres humanos são difíceis de controlar e os níveis de dopamina podem ser modulados por vários fatores diferentes. Eles são influenciados pelo que comemos, se curtimos um jogo em nossos smartphones ou se entramos em um novo relacionamento romântico no meio da pesquisa, com um potencial de grande variação nos dados (que poderiam interferir nos resultados além do açúcar da dieta, NT). O porco é uma boa alternativa porque seu cérebro é mais complexo que o de um roedor e “gira” como humano, sendo grande o suficiente para criar imagens de estruturas cerebrais profundas quando se utiliza scanners de cérebro humano. O atual estudo em mini-porcos introduziu uma configuração bem controlada, com a única variável sendo a ausência ou presença de açúcar na dieta.
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Informações adicionais:
  • O estudo envolveu imagens do cérebro de porco antes e depois da ingestão de açúcar.
  • Parceiros envolvidos no estudo: Michael Winterdahl, Ove Noer, Dariusz Orlowski, Anna C. Schacht, Steen Jakobsen, Aage KO Alstrup, Albert Gjedde e Anne M. Landau.
  • O estudo foi financiado por uma doação da AUFF a Anne Landau.
  • O artigo científico foi publicado no Scientific Reports e está disponível gratuitamente on-line: doi: https: / / doi. org / 10. 1038 / s41598-019-53430-9
Contato
Professor Associado Michael Winterdahl
Universidade de Aarhus, Departamento de Medicina Clínica
Celular: (+45) 2517 8111
michael.winterdahl@clin.au.dk
Link do artigo original AQUI