terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

A neutralidade combalida - pesquisas, financiamentos e interesses, o que nós (não) sabemos? (parte II)





FORÇAS DESPROPORCIONAIS - QUANDO A PESQUISA E SUA DIVULGAÇÃO COMPARTILHAM REFORÇOS DESIGUAIS

O artigo a seguir foi publicado também no ano passado e trouxe um outro aspecto pouco divulgado no campo dos estudos e recomendações na área do controle de peso e estímulo à atividade física. A interferência de capital a favor de certas tendências de pesquisas e orientações para a saúde. Em artigo anterior publicado nesse blog (LINK), parece bastante improvável que a situação de sobrepeso e saúde sejam plausíveis ao mesmo tempo. E motivos para endossar esse ponto de vista, de acordo com as evidências das pesquisas continuamente divulgadas, estão muito bem consolidados. Apesar disso, há uma dissidência que procura enfraquecer essa forma de lidar com os riscos para a saúde que o sobrepeso fortemente parece promover. O viés desse ponto de vista é que sócios ocultos, dispostos a altos investimentos, podem interferir nos resultados e promoções dessas pesquisas. É o que veremos a seguir.

O paradoxo da obesidade: porque a Coca-Cola está promovendo a teoria de que ficar obeso não prejudica sua saúde

Título original: “The obesity paradox: Why Coke is promoting a theory that being fat won’t hurt your health”

Autor: Julia Belluz

Ao longo dos últimos anos, uma ideia pouco convencional foi ganhando força na literatura científica: a de que talvez, a nossa busca pela magreza seja um grande e gordo desperdício de tempo.

Essa ideia é conhecida como o "paradoxo da obesidade", e ela é baseada em alguns estudos que classificam pessoas com excesso de peso, ou mesmo moderadamente obesas, parecendo ter melhores resultados de saúde e mortalidade do que comparadas com indivíduos normais ou magros. Essa pesquisa sugere que esses quilos extras podem ter efeitos protetores sobre a saúde, especialmente quando se trata de certas doenças crônicas como a diabetes, doenças renais e pressão arterial elevada.

Essa teoria tem sido controversa; criticada por especialistas que apontam que os estudos sobre o fenômeno tendem a usar instantâneos de peso das pessoas em um ponto no tempo, em vez de levar em conta os seus históricos de saúde completos. Isto significa, por exemplo, que alguém que acabou de perder dezenas de quilos depois de uma vida de obesidade seria classificada como tendo um peso "normal", o que perverte os resultados da pesquisa. Os críticos do paradoxo da obesidade também dizem que qualquer benefício de carregar gordura extra é pequeno em comparação com os danos bem documentados.
Ainda assim, apesar do fato de que a ciência do "paradoxo da obesidade" seja muito incerta, ela tem um influente campeão: a Coca-Cola. O maior fabricante mundial de bebidas açucaradas tem promovido o paradoxo investindo somas vultuosas com os seus proponentes através de palestras e honorários de consultoria, e financiamento de pesquisadores que suportam essa ideia.

Esta não é a primeira vez que a Coca-Cola entra nos debates sobre obesidade. Em agosto, uma investigação do New York Times descobriu que a empresa tinha, discretamente, realizado financiamento de organizações e pesquisadores que imputam à obesidade o pouco exercício físico, em vez dos excessos de calorias que poderia levar as pessoas a olhar com desconfiança para os refrigerantes. Grande parte do dinheiro da Coca-Cola passou por uma organização sem fins lucrativos chamada de Rede Global de Balanço Energético (Global Energy Balance Network, GEBN), que até recentemente não tinha divulgado seus vínculos com a Coca-Cola.

Em setembro, seguindo essa história, a Coca-Cola publicou uma lista de investigadores e profissionais de saúde para quem tivera pago US $ 2,1 milhões ao longo dos últimos cinco anos. A empresa disse que essas pessoas regularmente "colaboram e consultam" com a empresa. A Coca-Cola também publicou uma lista de instituições de pesquisa e organizações que receberam US $ 118.600.000 para investigação científica, bem como para apoiar parcerias de saúde e bem-estar.

Foram Incluídas nestas listas os principais pesquisadores do “paradoxo da obesidade” nos Estados Unidos.

Os pesquisadores sustentaram que o financiamento não influenciou seus trabalhos científicos. Mas outros cientistas temem que a influência da Coca-Cola seja capaz de afetar quais os lados deste debate que vão vingar.

"O problema aqui é que não há evidência convincente de que o paradoxo da obesidade seja um achado biológico real em tudo, mas apenas uma ciência desleixada", disse Andrew Stokes, um professor da Universidade de Boston, que estuda o paradoxo da obesidade, mas não recebe financiamento da indústria. É claro, os críticos do paradoxo não têm o apoio de Coca-Cola por trás deles. Então, Stokes disse: "para as evidências que se opõe a ela não é dado um peso adequado."

O "paradoxo da obesidade" tem sido fortemente criticado por outros pesquisadores

O "paradoxo da obesidade" começou a surgir há mais de uma década. Em um dos primeiros estudos, publicado em 2003, os pesquisadores ficaram intrigados com o fato de que pacientes mais pesados ​​que sofriam de insuficiência cardíaca pareciam ter melhores resultados em saúde do quando comparados àqueles mais magros. A partir daí uma teoria nasceu. Talvez ter peso extra pode ser bom para você!

Mas Stokes, juntamente com outros pesquisadores, têm encontrado uma grande falha nos estudos sobre o paradoxo da obesidade: eles só examinam o peso das pessoas em um momento do tempo. Isto é como investigar alguém que tenha fumado durante toda a sua vida, mas tivesse abandonado o cigarro na semana passada, e em seguida, classificá-lo como um "não-fumante" sem incluir quaisquer dados sobre seus hábitos de longo prazo. Isso, diz Stokes, pode dar um viés tendencioso aos resultados desses estudos.

"O paradoxo desaparece," Stokes diz em sua pesquisa, "quando analisamos históricos de peso corporal e separamos as pessoas que perderam peso das de categoria normal de peso, e ainda restringimos essa mostra a pessoas que nunca fumaram - não só o paradoxo desaparece, como também descobrimos que o sobrepeso e a obesidade tornam-se muito significativos em relação ao risco de morte ".

Em outras palavras, se você classificar os dados corretamente, a evidência é clara: a obesidade tem todos os tipos de efeitos negativos à saúde. Não há nenhum paradoxo aqui.

Pode haver outras causas da relação em forma de J no gráfico entre obesidade e mortalidade, mostrando um aumento do risco de morte entre pessoas mais pesadas e mais magras também. Frank Sacks, um pesquisador na Harvard School of Public Health, disse que isso poderia ser explicado pelo fato de que os homens e as mulheres magras têm "outras co-morbidades, outros problemas, e maus hábitos."

Muitos fumantes se enquadram nessa categoria, por exemplo, e têm havido estudos entre os idosos e, mais uma vez, em pacientes com insuficiência cardíaca que mostram que as pessoas realmente magras podem sofrer determinados problemas de saúde. “Só que eles perderam peso porque estão doentes", diz Sacks. "A perda de peso é o resultado da doença." Em outras palavras, sim, eles estão mais emagrecidos, sim, eles têm uma taxa de morbidade mais elevada, mas não é em função do seu baixo peso que eles têm maior risco de morte - é por sua doença.

Outra pesquisa recente aparece para derrubar o paradoxo. No ano passado, Stokes publicou um estudo que examina mais de 10 anos de dados sobre adultos americanos entre as idades de 50 e 84, acompanhando a longo prazo as histórias de peso desses indivíduos. Isto tornou possível colocar as pessoas que estavam com "peso normal" em dois grupos distintos: os que haviam mantido um peso normal ao longo das suas vidas, e aqueles que estavam com peso normal no momento do estudo, mas tinham experimentado uma redução de peso.

Stokes descobriu que as pessoas que sempre mantiveram um peso normal tinham um risco extremamente baixo de morte, mas que o outro grupo que estava com o peso normal - mas que antes eram obesas - tinham uma taxa de mortalidade muito mais alta. Depois de redefinir a categoria de peso normal para incluir apenas os indivíduos de peso estável, ele encontrou associações mais fortes entre excesso de peso e mortalidade.

Em outro estudo recentemente publicado na revista Obesity, Stokes e um colega da Universidade da Pensilvânia examinaram dados de mais de 30.000 participantes do Inquérito Nacional de Saúde e Nutrição (National Health and Nutrition Examination Survey) entre 1988 e 2011, e encontrou a mesma coisa: Quando controlado por história de peso (e, separadamente, tabagismo), o paradoxo da obesidade se desfazia.

Agora, definitivamente, isto não vai desmascarar o paradoxo da obesidade. Mais evidências poderiam surgir mais tarde. "Não podemos descartar que pode haver vantagens para a saúde associada com o excesso de peso e obesidade", diz Stokes, que só recebe financiamento do National Institutes of Health. "Mas os nossos dados sugerem que os benefícios são pequenos em comparação com os danos associados com o excesso de peso ou obesidade."

Ainda assim, o paradoxo da obesidade tem seus defensores – isso inclui a Coca-Cola

Carl Lavie
Há alguns pesquisadores que continuam a perseguir a ideia de que o peso extra pode ter alguns efeitos benéficos à saúde. O cardiologista de New Orleans Carl Lavie é sem dúvida a voz mais proeminente no debate sobre paradoxo da obesidade, tendo popularizado a ideia em seu livro de 2014:  The Obesity Paradox: When Thinner Means Sicker and Heavier Means Healthier. (O paradoxo da obesidade: quando ser mais magro quer dizer mais doente e mais gordo quer dizer mais saudável). Ele escreveu os trabalhos que são considerados mais influentes sobre o paradoxo da obesidade, e apareceu em inúmeros artigos de notícias populares exaltando a ideia.

A principal mensagem de Lavie é que teríamos exagerado a importância da epidemia de obesidade, como ele mesmo disse concisamente em um vídeo promovendo seu livro, "Body fat is not always the devil."(O sobrepeso não é sempre o culpado)

Lavie, no entanto, admite que seus críticos oferecem algo a ser considerado - e apela por novas pesquisas na área. "Stokes está certo quando diz que a maioria dos estudos não leva em conta a perda de peso não intencional antes da participação no estudo, o que estaria associado a um prognóstico ruim," ele me disse por e-mail. "Ainda há um trabalho substancial necessário para explicar o paradoxo da obesidade e, atualmente, exceto para aqueles em subnutrição que geralmente têm um pior prognóstico, não estou recomendando a qualquer pessoa para aumentar o peso, embora possa ser de valor para quem estiver melhorando sua aptidão física e força muscular."

Enquanto muitos pesquisadores continuam céticos de suas ideias, a Coca-Cola parece estar a seu lado. A empresa pagou para o trabalho de consultoria de Lavie, bem como viagens e honorários para palestras sobre o paradoxo da obesidade. Também financiou para ele webinars sobre o assunto. E mesmo que Lavie mencione a sua relação com a Coca-Cola em seus trabalhos científicos, essa divulgação não aparece no seu site - paradoxo da obesidade - nem é mencionada em muitos artigos de notícias em que ele é citado.

Lavie não está sozinho. Outros importantes pesquisadores (pró) "paradoxo da obesidade" nos EUA - como cientistas do exercício Steven Blair e Timothy Church - têm relações científicas com a Coca Cola, recebendo irrestritos milhões de dólares em bolsas de estudo e de pesquisa.

Blair foi um dos principais focos da investigação da Times, já que ele é o vice-presidente da GEBN. Church, por sua vez, está ligado ao laboratório de pesquisa Pennington da Universidade Estadual de Louisiana, o centro que recebeu o maior financiamento de pesquisa da Coca ao longo dos últimos cinco anos (US $ 6,7 milhões). Ele tem sido autor dos estudos financiados pela Coca-Cola publicados por esse centro, sugerindo que os exercícios – e não os alimentos e bebidas açucaradas - são os maiores contribuintes para a obesidade. (Este ponto de vista, também não é compartilhado por muitos pesquisadores de saúde e obesidade. Há provas contundentes que sugerem que o exercício tem apenas um pequeno impacto sobre o peso quando comparado com a ingestão de calorias.)

Em um e-mail de outubro de 2015, Lavie disse ao entrevistador (dessa reportagem) que a Coca-Cola não teve influência na sua agenda de pesquisa. Que ele chegou a sua opinião sobre o paradoxo da obesidade independentemente do gigante dos refrigerantes, e ele disse, que a Coca-Cola não tem financiado diretamente sua pesquisa sobre o paradoxo da obesidade, mas somente as palestras relacionadas e o trabalho de consultoria. Lavie também diz que há dinheiro de outras fontes para pesquisa além da Coca-Cola, "de modo que a Coca-Cola não tem controle sobre a condução dos estudos ou seus dados."

Ainda assim, o fato de que a Coca-Cola financia sua opinião significa que seus pontos de vista podem ganhar uma audiência maior. O financiamento também levanta questões sobre quais pesquisadores são escolhidos para apoio pela Coca-Cola e porquê são apoiados, e se a indústria secretamente influencia a direção de sua pesquisa.

Há evidências sugestivas de que a Coca-Cola tem a capacidade de influenciar a ciência nesta área. Em uma das maiores análises, até hoje realizada, sobre os dados da ciência das bebidas açucaradas, os pesquisadores descobriram que os estudos que relatam um conflito financeiro de interesse eram muito mais propensos a concluir que os efeitos do refrigerante no ganho de peso e obesidade não eram claros. Por outro lado, estudos que não tiveram nenhum conflito relatado apontam que os refrigerantes são um fator de risco potencial.

"Uma vez que a Coca-Cola tem um interesse bem estabelecido na promoção da atividade física como a melhor maneira de prevenir a obesidade - não o que você vai comer ou beber - é compreensível que a empresa iria financiar um pesquisador que compartilha essa opinião", disse Marion Nestle, professor da Universidade de nova York, que estudou a influência da Coca-Cola em seu mais recente livro, “Soda Politics” (A Política do Refrigerante).

"Não é que os investigadores financiados pela indústria são comprados", acrescentou. "É que a influência do financiamento da indústria alimentar é inconsciente, não intencional, e não reconhecido."


Publicado pela Vox Science and Health
Em outubro de 2015

Tradução revisada por Marília Portella de Andrade 

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

A neutralidade combalida - pesquisas, financiamentos e interesses, o que nós (não) sabemos?




O artigo a seguir faz parte de um conjunto de artigos que tem vindo a público sobre a ligação de empresas que vendem produtos controversos (para dizer o mínimo) na repercussão sobre a saúde das pessoas. Um artigo bem extenso e que vale a pena ser lido do The Guardian está nesse link (sobre o consumo de refrigerantes no México e as relações do governo com executivos dessas empresas), em inglês. Várias questões vem a tona: a imparcialidade científica, a existência do "capitalismo científico", e a sofismação nas propostas tidas como pertinentes (ou mesmo inquestionáveis), tipo fazer atividade física é bom ou fundamental. Para perder peso já temos fortes indícios de que não seja mesmo. Mas será que só fomos enganados nesse ponto? 


Cientista top em obesidade da Coca-Cola se afasta em meio a alegações de pesquisas imprecisas

Artigo de Anahad O'Connor

Um cientista top da Coca-Cola está deixando o cargo depois das revelações de que a gigante de bebidas iniciou uma estratégia de financiamento de investigações científicas que minimizam o papel dos produtos Coca-Cola na disseminação da obesidade.
Rhona Applebaum
Rhona Applebaum S., diretora de ciência e saúde da Coca-Cola, ajudou a orquestrar a criação de um grupo sem fins lucrativos conhecida como a Rede Global de Balanço de Energia (Global Energy Balance Network – GEBN - site: https://gebn.org/). Os membros do grupo eram cientistas universitários que incentivam o público a se concentrar no exercício e em se preocupar menos sobre como as calorias dos alimentos e bebidas contribuem para a obesidade.
A Coca-Cola gastou 1.5 milhões de dólares no ano passado para apoiar o grupo, incluindo uma doação de mais de 700 mil dólares para a Faculdade de Medicina da Universidade do Colorado, onde o presidente do grupo sem fins lucrativos, James Hill, um proeminente pesquisador de obesidade, é um professor.
Os laços financeiros da Coca-Cola para o grupo foram relatados pela primeira vez em um artigo no The New York Times em agosto (2015), o que levou a crítica de que a gigante dos refrigerantes estava tentando influenciar a investigação científica sobre bebidas açucaradas.
A universidade devolveu o dinheiro para Coca-Cola deste mês depois de especialistas em saúde pública levantaram preocupações.

"Equilibrar o debate”

Applebaum, uma cientista de alimentos com um PhD em microbiologia, tinha sido diretora científica e chefe regulamentar da Coca-Cola desde 2004. Nesse papel, ela ajudou a liderar os esforços da empresa para trabalhar com cientistas como uma forma de conter as críticas sobre bebidas açucaradas.
Em uma conferência da indústria de alimentos em 2012, Applebaum deu uma palestra descrevendo a estratégia de "cultivar relacionamentos" com os principais cientistas como uma forma de "equilibrar o debate" sobre os refrigerantes da Coca-Cola.
Um porta-voz da Coca-Cola disse em 24/11/15, que Applebaum, 61 anos, tinha tomado a decisão de se aposentar em outubro e que sua aposentadoria "foi aceita e a transição está em andamento." A empresa se recusou a um pedido de entrevista com Applebaum.
A Coca-Cola disse que enquanto ela ofereceu apoio financeiro para a GEBN, a empresa não tinha influência sobre o grupo ou sobre a investigação científica que produziu.
Mas novos relatórios mostram Applebaum e outros executivos da Coca-Cola ajudaram a escolher os líderes do grupo, criar sua declaração de missão e projetar seu site, e essas descobertas foram relatados pela primeira vez em novembro de 2015 pela Associated Press.
A Associated Press (AP) também publicou uma série de e-mails entre Hill, da Universidade do Colorado e executivos de Coca-Cola que revelavam a estratégia inicial da GEBN.

“Vendendo Água com Açúcar”
Antes da GEBN ser criada, a Universidade da Colina do Colorado tinha se proposto a publicar pesquisas que iriam ajudar a empresa a afastar as críticas sobre seus produtos, transferindo a culpa da obesidade para a inatividade física.
"Aqui é o meu conceito", escreveu Hill para os executivos da Coca-Cola sobre o estudo que ele estava propondo, de acordo com os e-mails. "Eu acho que poderia fornecer uma forte razão para que uma empresa que vende água com açúcar deva se concentrar na promoção da atividade física. Isso seria um estudo muito grande e caro, mas poderia ser uma virada de jogo. Precisamos que esse estudo venha a ser feito."
Em outros e-mails obtidos pela AP, Hill disse para executivos da Coca-Cola que ele queria trabalhar em nome da empresa para melhorar a sua reputação pública. Na época, a Coca-Cola e outras empresas de bebidas estavam engajados em uma batalha de relações públicas, com as vendas dos refrigerantes em declínio e cidades, em todo o país, propondo impostos sobre bebidas açucaradas, (uma vez) que elas foram ligadas à obesidade, diabetes e doenças cardíacas.
Hill escreveu aos executivos da empresa que era "não é justo" que a Coca-Cola estivesse sendo apontada como "o vilão nº 1 no mundo da obesidade."
Hill acrescentou: "Eu quero ajudar a sua empresa a evitar a imagem de ser um problema na vida das pessoas e voltar a ser uma empresa que traga coisas importantes e divertidas para elas."
Os e-mails também mostram que Muhtar Kent, presidente-executivo da Coca-Cola, queria alistar Hill para auxiliar na forma da mídia lidar sobre os refrigerantes.

Silenciando os críticos

Em um e-mail em 18 de Outubro (2015), Kent perguntou a Applebaum e a outros altos funcionários da Coca-Cola como ele poderia persuadir o host da CBS News, Charlie Rose, para convidar Hill em seu show. O "CBS This Morning" tinha acabado de transmitir um quadro sobre a quantidade de exercício necessária para queimar as calorias em uma porção de Coca-Cola. Applebaum respondeu a e-mail de Kent naquele dia com credenciais de Hill. Hill não apareceu no programa.
Na terça-feira, um porta-voz da Coca-Cola disse que Kent havia enviado o e-mail porque ele estava preocupado que aquele quadro de notícias "era impreciso."
Em um comunicado, Kent disse: "Tornou-se claro para nós que não havia um nível suficiente de transparência no que diz respeito ao envolvimento da empresa com a GERN. Claramente, nós temos mais trabalho a fazer para refletir os valores desta grande empresa em tudo o que fazemos ".
Hill recusou um pedido de comentário. Mas em uma entrevista em agosto, ele insistiu que a Coca-Cola não falou por ele ou sua organização. "Eles não estão comandando o show", disse ele. "Nós estamos produzindo o show."
Michael F. Jacobson, diretor executivo do Center for Science in the Public Interest
(Centro para a Ciência no Interesse Público), um grupo de defesa do consumidor, disse que era preocupante perceber "como uma grande corporação está usando um professor para propagar seus pontos de vista."

Marion Nestle, professora de nutrição, estudos sobre alimentação e saúde pública da Universidade de Nova York e autor de "Soda Politics", disse que, quando empresas de alimentos e bebidas pagam para a investigação, eles fazem isso para ajudar aos esforços de marketing e a "silenciar a crítica. "
A Global Energy Balance Network tem sido um desastre para as relações públicas para a Coca-Cola."


Link do artigo original: http://www.smh.com.au/business/cocacolas-top-obesity-scientist-departs-amid-murky-research-claims-20151125-gl7gvl.html

(Título do artigo original: Coca-Cola's top obesity scientist departs amid murky research claims)

Artigo original do Sidney Morning Herald, (Austrália), 25/11/2015