Tudo causa câncer? Novo estudo mostra que muitos acreditam em desinformação
Muitas pessoas são incapazes de diferenciar entre causas reais e as não comprovadas do câncer, de acordo com um novo estudo realizado por pesquisadores na Espanha.
A pesquisa publicada no The British Medical Journal também descobriu que as pessoas que não foram vacinadas contra a Covid-19 ou acreditavam em várias teorias da conspiração eram menos propensas a identificar causas genuínas e cientificamente comprovadas de câncer.
Os pesquisadores perguntaram a quase 1.500 pessoas on-line sobre o que causa câncer, avaliando suas crenças em causas baseadas em evidências de câncer, como tabagismo, excesso de exposição desprotegida à luz solar e excesso de peso (sobrepeso/obesidade) e causas míticas de câncer sem evidências científicas que as suportem, como comer alimentos no micro-ondas ou geneticamente modificados.
A pesquisa identificou que a conscientização das causas reais do câncer era maior do que a consciência das causas míticas do câncer. Quase todos os entrevistados sabiam que fumar causa câncer (97,4%), com a maioria das pessoas também sabendo que o excesso de peso aumenta a chance de desenvolver câncer (71,4%). A conscientização sobre as ligações da má alimentação com o câncer foi muito menor, com menos de um quarto dos entrevistados identificando que frutas e vegetais insuficientes na dieta também estão ligados a um risco aumentado de câncer.
No geral, metade dos entrevistados pensou que os adoçantes artificiais eram uma causa de câncer e outros 38,4% dos entrevistados disseram que os alimentos geneticamente modificados eram uma causa de câncer, apesar de nenhuma evidência científica apoiar isso.
O estudo também se aprofundou sobre se as pessoas que não foram vacinadas, preferiram a medicina não convencional ou acreditavam em conspirações eram mais propensas a estar preocupados para causas reais ou míticas do câncer.
Das 1.494 pessoas que preencheram a pesquisa, 209 relataram que não haviam sido vacinadas contra a Covid-19, 112 expressaram preferência pela medicina não convencional. Outras 62 pessoas acreditavam que a Terra era plana, ou que lagartos metamorfos (reptilianos) existem na Terra, coletivamente denominados como "conspiracionistas" no artigo. Outros 15 entrevistados responderam que não estavam vacinados contra a Covid-19 e preferiam medicina não convencional e eram conspiracionistas.
Os entrevistados do estudo que não foram vacinados, preferiram a medicina não convencional ou acreditavam em conspirações foram menos capazes de identificar causas reais e míticas de câncer. Por exemplo, pessoas não vacinadas e conspiracionistas identificaram em média 54,5% das causas reais de câncer como verdadeiras, com aqueles que preferem a medicina não convencional pontuando de forma semelhante. As pessoas vacinadas e aqueles que não acreditavam em conspirações e os entrevistados que expressaram preferência pela medicina convencional em relação às não convencionais foram capazes de identificar corretamente 63,6% das causas reais de câncer.
As pessoas não vacinadas só foram capazes de identificar 25% das causas míticas do câncer como falsas, com os crentes de uma teoria da conspiração identificando apenas 16,7%. Aqueles vacinados contra a Covid-19 e aqueles que não acreditavam em conspirações foram capazes de identificar 41,7% das causas míticas do câncer como sendo desinformação.
Metade dos participantes, independentemente do status de vacinação, crenças conspiratórias ou preferência pela medicina não convencional, concordou com a afirmação "parece que tudo causa câncer", com os pesquisadores concluindo que seu artigo "destaca a dificuldade que a sociedade encontra em diferenciar as causas reais do câncer de causas míticas devido a informações em massa (verídicas ou não)".
Os pesquisadores mencionam que uma limitação de seu estudo foi que ele foi realizado anonimamente on-line, o que pode ter afetado os dados coletados.
Os autores também concluem: "Isso sugere uma conexão direta entre a desinformação digital e as consequentes decisões de saúde potencialmente errôneas, que podem representar uma fração adicional evitável do câncer". Eles sugerem que "melhorar os algoritmos de classificação on-line, construir confiança e usar campanhas eficazes de comunicação em saúde e marketing social podem ser maneiras possíveis de enfrentar essa complexa ameaça à saúde pública".
LINK do artigo original AQUI
Publicado na Forbes em 22/12/2022
Imagem pixabay LINK
Obs.:
No texto original medicina não convencional é chamada de medicina alternativa. No entanto a ideia é o uso de alternativas à medicina convencional no que diz respeito ao emprego de tratamentos realizados por médicos convencionais com abordagens sem base em evidências, como o uso de cloroquina/ivermectina para covid, indicado por profissionais que não seriam identificados como profissionais de medicina "alternativa" pela população.
Nenhum comentário:
Postar um comentário