terça-feira, 29 de novembro de 2016

Leite integral emagrece




Crianças que bebem leite integral são mais magras, e tem mais vitamina D 


Título original: Kids who drink whole-fat milk slimmer than those who drink low-fat

AFP Relax News

Uma nova pesquisa canadense descobriu que as crianças que bebem leite integral são mais magros do que aqueles que bebem as versões com baixo teor de gordura: semi-desnatado ou desnatado.

O estudo, publicado esta semana no American Journal of Clinical Nutrition, também descobriu que crianças que consomem leite integral têm níveis de vitamina D mais elevados.

Realizado por uma equipe do Hospital St. Michael em Toronto, os pesquisadores analisaram 2.745 crianças de dois a seis anos.

A equipe pesquisou os pais sobre o consumo de leite, medida de altura e o peso das crianças para calcular o Índice de Massa Corporal (IMC), e recolheram amostras de sangue para avaliar os níveis de vitamina D.

Dos inquiridos, 49 por cento beberam leite integral (com um teor de gordura 3,25 %), 35 por cento beberam leite com teor de 2,0 %, e 12 por cento beberam leite com 1,0 % e 4 por cento beberam leite desnatado. Menos de um por cento das crianças beberam alguma combinação dos quatro tipos de leite.

Os pesquisadores descobriram que as crianças que bebiam leite integral tinham um escore de Índice de Massa Corporal 0,72 unidades menores do que aqueles que beberam leite com 1 ou 2 por cento, comparável à diferença entre ter um peso saudável ou estar acima do peso, como comentou o autor principal do estudo Dr. Jonathon Maguire.

Além disso, as crianças que bebiam uma xícara de leite integral por dia tinham níveis de vitamina D mais elevados, comparáveis ​​aos que beberam cerca de três xícaras de leite a um por cento.

A equipe sugeriu que os níveis mais elevados de vitamina D pode ser explicado por essa vitamina ser solúvel em gordura. Como ela se dissolve em gordura, em vez de água, o leite com maior teor de gordura contém, logicamente, mais vitamina D.

Também poderia haver uma relação inversa entre a gordura corporal e reservas de vitamina D, com um aumento da gordura corporal das crianças, os seus níveis de vitamina D diminuem.

Embora a pesquisa não examine o porquê de existir uma ligação entre o leite integral e menores escores no IMC, o Dr. Maguire sugeriu que devido ao seu maior teor de gordura, as crianças que bebiam leite integral sentiam-se mais saciadas do que aqueles que beberam a mesma quantidade com leite com reduzido teor de gordura ou desnatado. As crianças que não se sentiam saciadas poderiam ter mais probabilidade de lanchar outros alimentos, que possivelmente são menos saudáveis ​​ou mais elevados em calorias, e no final ter um consumo global de calorias maior do que aqueles que bebem leite integral.

As diretrizes atuais de Saúde do Canadá, National Institutes of Health e da Academia Americana de Pediatria vai contra as conclusões do estudo, recomendando duas porções de leite com baixo teor de gordura (um por cento ou dois por cento), para crianças com idade superior a dois anos para reduzir o risco de infância obesidade, mas o Dr. Maguire comenta que a nova pesquisa indica a necessidade de averiguar novamente essas orientações nutricionais existentes.

A obesidade infantil triplicou na América do Norte nos últimos 30 anos, enquanto o consumo de leite integral diminuiu pela metade durante o mesmo período.





LINK do original Aqui

Fotos desses links:
Superior
Inferior

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

A importância de certos exames de rotina



ALGUNS EXAMES DE ROTINA SÃO MUITO ÚTEIS


Estamos no final de mais um ano, e como nos anteriores, os sucessivos meses de outubro e novembro, foram utilizados como âncoras para exposição de programas de cuidado com a saúde em ambos os gêneros, a partir de dois tipos de enfermidades que naturalmente suscitam mais preocupações com a média da população adulta.
Mas não pode ser esquecido que, as doenças que mais levam ao óbito no Brasil ainda são as enfermidades cardiovasculares.
Geralmente muitos de nós ficamos preocupados com idas ao médico, especialmente nessa época do ano, para a realização de alguns procedimentos, que chamamos de check-up, e que pode constar de vários conjuntos de análise.
Apesar de poderem parecer meras rotinas, porém se bem encaminhados, esses exames podem ser, de fato. ser muito úteis.
No conjunto de eventos cardiovasculares, muitas pesquisas apontam para uma engrenagem de perturbações metabólicas e endócrinas, que efetivamente podem ser percebidas por exames e auxiliar o profissional de saúde a estimular o paciente a mudar alguns hábitos de estilo de vida e isso repercutir positivamente no futuro.
As doenças cardiovasculares têm uma variedade de marcadores, assim como outros problemas clínicos podem isoladamente ser necessários ter intervenção. No ano passado uma ampla revisão publicada no jornal Diabesity (LINK) mostrou uma teia de enfermidades correlacionadas com um item em comum: altas taxas de insulina. Mostrava também as bases biológicas e fisiopatológicas para isso. O artigo do blog mostra um resumo dessa análise AQUI.
Na prática podemos então através de exames de rotina diagnosticar o momento biológico do paciente com exames relativamente simples como análises de sangue, ecografia e eventualmente outros exames de imagem ou de produção de gráficos.
Ter foco em manifestações primárias para questões que podem ser muito graves é uma conduta simples. Sem dúvida o diagnóstico precoce será de extremo valor, e isso precisa ser levado em conta considerando que a maioria das pessoas está sujeita a hábitos complicados como fazer refeições fora de casa, não ter boas noites de sono, muitas vezes serem sedentárias, e submetidas a todo o tipo de estresse. As novas frentes de pesquisa cada vez dão mais apoio para que se invista em "comportamentos terapêuticos", e essa ênfase tem o objetivo de oferecer uma oportunidade real de se enfrentar enfermidades muito comuns como diabetes, hipertensão e problemas psicoemocionais com mudanças alimentares, atividades físicas e técnicas respiratórias entre outras abordagens e assim evitar medicamentos e sofridas complicações.
Publiquei nesse artigo AQUI que um pesquisador, Joseph Kraft, há décadas via a possibilidade de se diagnosticar a diabetes tipo II com muitos anos de antecedência. Num outro artigo AQUI, vimos outro pesquisador falar sobre como devemos analisar os níveis de triglicerídeos e de colesterol HDL. Já publiquei mais de uma artigo sobre a gordura no fígado, como nesse artigo AQUI, algo extremamente comum e que a maioria das pessoas não imagina que tem, que pode ser descoberto numa simples ecografia, podendo prevenir complicações muito graves.
Ir ao médico e fazer certos exames é uma providência simples. E pode ser um caminho para evitar problemas que certamente não seriam necessários ser enfrentados!


quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Os médicos devem dar orientações em nutrição





DEVEMOS ENCORAJAR OS MÉDICOS A FORNECEREM ORIENTAÇÕES EM NUTRIÇÃO
Mais de 1 milhão de Australianos foram diagnosticados com diabetes tipo 2.

Título original:

We Should Be Encouraging Doctors To Give Nutritional Advice

More than 1 million Aussies have been diagnosed with Type 2 diabetes.


Original post de 22/11/2016

As últimas semanas têm sido interessantes para a medicina na Austrália.
Segunda-feira 14 de novembro foi o Dia Mundial da Diabetes, que foi marcado pelo lançamento de um relatório da Diabetes na Austrália. O relatório afirma que há agora mais de um milhão de australianos diagnosticados com diabetes tipo 2. O número total de australianos com diabetes pode ser de até 1,7 milhões de pessoas, uma vez que o número de australianos atualmente com diabetes tipo II não diagnosticada, "silenciosa", é desconhecido.
Além disso, o número de pessoas com pré-diabetes e com alto risco de desenvolver diabetes de tipo 2 também é desconhecido, mas estima-se que cerca de 2 milhões. As complicações da diabetes são um grande problema de saúde com 4.400 amputações de dedos, pés ou pernas e 3.500 pessoas com diabetes que necessitam de diálise renal apenas nos últimos 12 meses.
Nós vimos o lançamento de um relatório encomendado pelo Conselho Médico que mostrou que os médicos, juntamente com enfermeiros e farmacêuticos, são as profissões mais confiáveis na Austrália. O relatório afirma que existe 90 por cento de confiança nos médicos e enfermeiros pela comunidade e 85 por cento nos farmacêuticos (e 7 por cento de confiança nos políticos!).
O terceiro, item médico de interesse relacionado foi a revelação de que um cirurgião ortopédico da Tasmânia foi proibido pela Australian Health Practitioner Regulation Authority (AHPRA) de dar conselhos de nutrição para seus pacientes. Dr. Gary Fettke tem preocupação sobre o aumento do número de amputações que ele verificou serem necessárias executar como resultado de complicações de diabetes, o que levou à conclusão de que no momento em que estes pacientes o procuravam já era tarde demais.

Dr Fettke adotou uma abordagem preventiva ao discutir em princípios amplos benefícios de saúde na redução de açúcar e alimentos processados ​​com seus pacientes para obter um melhor controle de seus níveis de glicose no sangue. Ele foi o co-fundador do Nutrição para a Vida em 2014 para fornecer uma equipe de profissionais de saúde para pacientes diabéticos serem aconselhados sobre questões de estilo de vida, em particular sobre dieta.
Os espectadores do Channel Seven, do Sunday Night Program  terá visto uma recente série onde o Dr. Fettke e o chef Pete Evans orientaram um ex-jogador de críquete da Tasmânia -Tony Benneworth, que tinha desenvolvido diabetes tipo 2, para uma dieta pobre em açúcar e carboidratos processados. Os resultados foram muito impressionantes, com dramática perda de peso (15 kg) e uma reversão total de diabetes tipo 2 de Tony, incluindo a retirada de todos os medicamentos para diabetes, sob a supervisão de seu médico de família, e com apoio nutricional individualizado da equipe em Nutrição para a Vida incluindo Accredited Practising Dietitians  e um educador para diabetes.
De acordo com o Dr. Fettke, sua experiência na AHPRA começou em 2014, com uma notificação anônima por um nutricionista de um hospital por conta de encorajar as pessoas a reduzir a sua ingestão de açúcar. Uma outra notificação de 2016 ainda, mais uma vez por uma nutricionista anônima, incluiu uma queixa de "inapropriadamente reverter diabetes tipo 2 em um paciente".
Segundo a esposa do Dr. Fettke, a orientação em nutrição foi considerada pela AHPRA estar "fora do âmbito da prática" de um cirurgião ortopédico, embora a maioria dos pacientes do Dr. Fettke tenham problemas de articulações relacionados com sobrepeso e / ou diabetes associada.
Dr Fettke aconselha os pacientes a limitar a sua ingestão de açúcar adicionado aos níveis recomendados tanto pela Organização Mundial de Saúde (OMS) ou pela própria CSIRO (Organização de Pesquisa da Comunidade Científica e Industrial, da Austrália). A OMS recomenda que não mais do que 10 por cento e, idealmente, não mais do que 5 por cento da ingestão diária de energia deve vir de açúcares livres. Isso é o equivalente de 12 ou idealmente seis colheres de chá de açúcar adicionado por dia. O consumo médio por australianos é de cerca de 14 colheres de chá por dia contudo os adolescentes estão consumindo consideravelmente mais. A investigação científica tem demonstrado uma associação entre a ingestão de açúcar e as modernas epidemias cotidianas de (problemas de) saúde seja obesidade, diabetes tipo 2 e doença cardiovascular.
Após uma investigação de dois anos, AHPRA informou ao Dr Fettke recentemente que ele "não foi devidamente treinado ou educado em medicina para estar fornecendo conselhos ou recomendações sobre este tema como um médico". Esta 'cautela' que a AHPRA proferiu sugere que ele também está impedido de participar em quaisquer projetos de investigação em 'nutrição' para melhorar os resultados de saúde de seus pacientes. O Dr Fettke foi informado de que não existe o direito de recurso contra a decisão, apesar de um comunicado de imprensa posterior da AHPRA sugerir que um recurso para o Supremo Tribunal seja possível (embora proibitivamente caro).
Também não está claro pela decisão do AHPRA quais os médicos que estão autorizados a dar conselhos de nutrição e quais não são. Todos os médicos recebem uma quantidade igual de formação em nutrição (reconhecidamente muito pouco) durante a sua formação acadêmica. Um contigente de profissionais, como o Dr. Fettke, acabou posteriormente indo explorar a ciência por trás da nutrição de forma mais completa.
O campo da nutrição está passando por um momento muito interessante com algumas crenças de longa data sendo amplamente contestadas. Além disso, existem inúmeros "gurus" não qualificados dando conselhos sobre o que se deve e não se deve comer. Certamente é preferível ter um doutor dando aconselhamento nutricional em vez de indivíduos não qualificados, muitos dos quais têm um produto ou programa para vender.
Eu realmente ouvi Dr Fettke falar em conferências sobre o tema da nutrição e fiquei extremamente impressionado com a profundidade de seu conhecimento científico e sua paixão para fazer a diferença para seus pacientes.
Certamente devemos ser encorajadores, e não desencorajar os médicos a estarem dando conselhos de estilo de vida em uma tentativa de reduzir o número rapidamente crescente de australianos que sofrem de obesidade e diabetes tipo 2. A decisão do AHPRA precisa ser urgentemente revista.
_____________ 
Dr Peter Brukner é professor de Medicina do Esporte em La Trobe University e organizador da campanha SugarByHalf.

Foto é da própria reportagem do Huffington Post


quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Questionamentos de ética na saúde para a população



Título original:

FORÇAR PACIENTES A USAR INSULINA É UM ESCÂNDALO MÉDICO


Pushing diabetics to take insulin is a medical scam: Fiona Godlee 



Publicado em 20/11/2016

Fiona Godlee
Fiona Godlee , a primeira mulher editor do BMJ (originalmente chamado de British Medical Journal), não é uma "torre de marfim" acadêmica (não faz pesquisas inúteis). É uma cruzada pela ética médica, Godlee é conhecida por explodir governos que são negligentes, inquerindo gigantes farmacêuticas globais, como a Roche e GlaxoSmithKline por supostamente esconder dados de pesquisas, falando sem medo contra a corrupção na ciência, e defendendo a causa dos cuidados de saúde centrada no paciente. Na Índia ao participar da Premiação BMJ do Sul da Ásia de 2016, Godlee fala para o Economic Times sobre uma ampla gama de questões, desde a poluição do ar à corrupção na medicina e o trabalho que o BMJ faz no país.
Trechos editados: 

Qual é a sensação de respirar o ar mais poluído na Índia?
(Risos) Eu amo este país. É um maravilhoso lugar e estou voltando aqui depois de dois anos. O ar agora parece muito melhor do que eu li e vi algum tempo atrás. Há que olhar para o lado positivo das coisas: a poluição do ar está de volta à preocupação das pessoas. Você tem que fazer o público ficar ciente e os governos responsáveis para nos afastar da queima de combustível fóssil.

Você recentemente disse em relatórios que a maioria das pessoas com diabetes na Índia são em grande parte dependentes de insulina de fabricação estrangeira, o que é caro ... 
Há certas coisas que não estão indo bem. Para colocar os doentes sob prescrição de insulina existe um grande esforço por parte da indústria e dos médicos, que por sua vez, são influenciados pela indústria. 
Ao invés de abordar questões de estilo de vida, partir direto à insulina não é a opção certa. Isso é uma grande preocupação porque a insulina tem seus efeitos colaterais e é muito cara na Índia. Eu acho que é uma farsa médica, um golpe da indústria.
Os pacientes pensam que esta é a melhor droga para eles, e eles precisam pagar por isso ou então eles iriam morrer, e um grande grupo de pessoas são vulneráveis a isso.  Eu acho que nós precisamos falar com energia contra a pressão de se colocar as pessoas sob a prescrição da insulina.
Com a diabetes se tornando uma epidemia na Índia, precisamos examinar as causas e colocar dinheiro aí em vez de colocar as pessoas sob uso de insulina.

Existe um paralelo em termos do aumento de nascimentos por cesariana na Índia em vez de parto normal?
Nascimentos por cesariana são um problema global, e não apenas na Índia. É mais conveniente para o médico, que também recebe mais, e as pessoas são encorajadas a pensar que é mais seguro. Em alguns casos, pode ser verdade, mas não em todos os casos. Não é um procedimento livre de risco: anestesia, cirurgia, custos médicos, longo tempo de recuperação e ainda mais dificuldade em ter filhos subsequentes. É uma questão global.

Qual a sua opinião sobre a corrupção na medicina?
Novamente, é um fenômeno global, e não apenas limita-se à Índia.
Há corrupção na medicina mundial. Mas se você tem um sistema onde os médicos são mais bem pagos para fazer mais, então você vai acabar com um sistema que parece recompensar esse tipo de comportamento.
Se assim for, então, vai ficando muito mais provável de que os médicos tendam a empurrar para mais cirurgias, para mais exames ... recompensas incentivam mais esse tipo de comportamento.
E, no lado consumidor também está em falta na Índia ... isso pode ser o caso. O ativismo do consumidor é um enorme benefício potencial se puder ser utilizado de uma maneira ampla.
Precisamos educar as pessoas que "mais" não é melhor, mais remédio pode ser pior. Eles precisam
fazer perguntas, obter uma segunda opinião, perguntar sobre os benefícios do tratamento.
A mesma coisa pode ser feito em relação a poluição do ar. A consciência tem que ser criada. Perguntas difíceis precisam ser feitas. É preciso haver uma mudança cultural, onde os médicos e os pacientes sejam mais parecidos como  parceiros.

Você veio pela primeira vez para a Índia no início de 1990. Em termos de ecossistema médica, o que mudou na Índia desde então?
A maior mudança é do cuidado terciário e é excepcional, que ainda deixa o resto do mundo envergonhado. Muitos países do mundo ficariam surpresos ao ver o tipo de experiência que os médicos têm aqui. A segunda grande mudança é o cuidado em alto volume e de alta qualidade médica, o que é novamente surpreendente.

E o que não foi capaz de mudar?
Falta de cuidados primários de qualidade é a maior preocupação. Com dinheiro e energia gastos na assistência médica terciária se exige intervenção política forte para criar infra-estruturas de cuidados de saúde primários. Você precisa dar incentivos aos jovens médicos e enfermeiros para trabalhar no sistema de cuidados de saúde primários. A pressão sob quais os médicos trabalham também não mudou.

Qualquer outra tendência médica que você tem notado na Índia?
A repartição da relação médico-paciente é preocupante. Há relatos onde os médicos foram abusados e agredidos. Está acontecendo na China também. Há uma expectativa irrealista dos medicamentos e dos médicos.
Mas há outras questões também. Estamos com super promoção em termos de oferta de tratamento. Depois, há questões sobre doentes tomarem empréstimos para atender às despesas médicas. Há relatos de pessoas que vendem bens e ficando à falência. Estas são decisões terríveis que as pessoas têm de fazer.

O controle de preços dos medicamentos pode tornar os cuidados de saúde mais acessíveis?
O governo da Índia tem vindo a fazer alguma coisa para ter controle de preço para tratamentos medicamentosos. Essa é uma questão que percorre o mundo, onde os medicamentos são extremamente caros. As empresas farmacêuticas, por seu lado, dizem que elas têm que recuperar os custos de pesquisa e desenvolvimento. Uma vez que o markup é enorme, precisamos incentivar as empresas farmacêuticas a se comportar de uma maneira diferente. O problema dos preços dos medicamentos é mais aparente na Índia, porque as pessoas estão pagando para si mesmos.


Dietas cetogênicas e câncer - parte II




DIETA CETOGÊNICA E CÂNCER

(Parte dois) A primeira parte está AQUI
Essa é a segunda parte do artigo sobre dieta cetogênica. Sem dúvida é bastante técnico. Mas irá ser muito útil a vários interessados

Mecanismo proposto de ação da dieta cetogênica no câncer


Metabolismo mitocondrial e câncer
A maioria das terapias contra o câncer são projetadas para as diferenças metabólicas e fisiológicas existentes entre as células do câncer e as normais. Comparado com as células normais, as células cancerosas têm um aumento do metabolismo da glicose, bem como alterações no metabolismo oxidativo mitocondrial que se acredita ser o resultado do estresse oxidativo metabólico crônico [3,4,45] (Figura 2). As mitocôndrias estão envolvidas na regulação da produção de energia celular através do processo de fosforilação oxidativa onde a atividade da cadeia de transporte de elétrons (CTE, também chamada de cadeia respiratória) é usada na geração de ATP celular [46]. Na CTE mitocondrial, os elétrons são transferidos através dos complexos I-IV, resultando na geração de um gradiente de prótons trans-membrana que é acoplado à produção de ATP através da ATP sintase (complexo V).
Estudos têm demonstrado maior prevalência de mutações do DNA mitocondrial, bem como alterações na expressão de proteínas mitocondriais de codificação nuclear em muitos cânceres humanos [47,48,41], incluindo cabeça e pescoço [50], próstata [51], ovário [52], e câncer de fígado [53]. Dados anteriores sugerem que a susceptibilidade do DNA mitocondrial a mutações deve-se em grande parte ao aumento dos níveis de ROS (espécies reativas de oxigênio) nesta organela [6], [49], [54], [55], [56] e [57]. Além disso, estudos recentes demonstraram que as células cancerosas de mama e do cólon demonstram níveis de estado estacionário significativamente aumentados de ROS em relação ao cólon normal e às células da mama [3]. Essas diferenças foram ainda mais acentuadas na presença de bloqueadores de CTE mitocondriais, sugerindo que a disfunção da CTE mitocondrial como a principal fonte de produção elevada de ROS em células cancerosas. Em geral, há literatura substancial indicando que há um aumento significativo no O2 • - e H2O2 intracelular nas mitocôndrias das células cancerígenas em relação às células normais e que isso poderia representar um alvo para o aprimoramento da terapia do câncer [5], [7], [9] , [10], [11], [12], [13], [14], [16] e [17].


Figura 2
Comparação do metabolismo normal de células e células tumorais em uma dieta americana (normal diet) e uma dieta cetogênica. Relativamente às células normais, tem sido formulado hipóteses de que as células tumorais terem aumentado as mutações do DNA mitocondrial, bem como alterações na expressão de proteínas mitocondriais codificadas nucleares, resultando num aumento da produção de espécies reativas de oxigênio (ROS) durante a respiração mitocondrial. Aumento de ROS das células tumorais aumenta a dependência das células tumorais do metabolismo da glicose, resultando na geração de NADPH e piruvato através do desvio da pentose fosfato e piruvato a partir da glicólise. O NADPH e o piruvato reduzem os hidroperóxidos. As dietas cetogênicas diminuem a capacidade das células tumorais de produzir NADPH porque, na maioria dos tecidos, o metabolismo de gordura é incapaz de sofrer a gluconeogênese para formar glicose-6-fosfato (G-6-P) necessário para entrar no shunt de pentose fosfato. Assim, dietas cetogênicas devem aumentar ainda mais o stress oxidativo em células tumorais relativamente às células normais, limitando a regeneração de NADPH.

Dependência da glicose das células cancerosas
A glicólise faz o intermédio entre a degradação enzimática da glicose em piruvato, que na presença de oxigênio é convertido em acetil-CoA e entra no Ciclo de Ácido Cítrico nas mitocôndrias. Na ausência de oxigénio, o piruvato é convertido alternativamente em lactato. As células normais ligam a produção de piruvato à respiração mitocondrial para gerar eficientemente ATP através de fosforilação oxidativa e normalmente demonstram baixos níveis de glicólise, bem como a produção de lactato. Em contraste com as células normais, as células cancerosas demonstram um aumento do consumo de glicose, mesmo na presença de oxigênio [1], o que foi sugerido ocorrer por causa da respiração mitocondrial defeituosa que requer glicólise aumentada como resposta compensatória.
Numerosos estudos com animais nos últimos 60 anos não só confirmaram a observação do aumento do consumo de glicose em células cancerosas, como também demonstraram a importância da glicose para a sobrevivência e metástase do tumor. O fluxo de substratos que produzem energia através de carcinomas de cólon em pacientes demonstrou que a captação líquida de glicose e liberação de lactato por tumores malignos excede as taxas de câmbio periféricas não malignas em 30 e 43 vezes, respectivamente, enquanto não existiam diferenças significativas entre tumor e tecido periférico quanto aos ácidos graxos ou cetonas. O FDG PET demonstra conclusivamente que a maioria dos carcinomas humanos tem uma demanda aumentada de glicose quando comparada ao tecido normal circundante [58].
Além da glicólise aeróbia anormal, as células cancerosas têm aumentado a atividade da via pentose fosfato [3], [59]. A via de pentose fosfato oxida glicose para produzir duas moléculas de nicotinamida adenina dinucleotídica fosfato (NADPH) e ribose-5-fosfato. A NADPH atua como um cofator para o sistema de glutationa / glutationa peroxidase, bem como o sistema de tioredoxina / tioredoxina peroxidase [60]. Estes sistemas tiol são responsáveis ​​pela desintoxicação do H2O2 e peróxidos orgânicos, mantendo assim o equilíbrio redox pela prevenção e reparação de danos oxidativos.
Sabe-se que o metabolismo da glicose desempenha um papel importante na desintoxicação de peróxidos tanto pela formação de piruvato (que capta peróxidos diretamente através de uma reação de desacetilação) como pela regeneração do cofator redox NADPH. Estudos anteriores mostraram que a privação de glicose seletivamente causa estresse oxidativo e toxicidade em células cancerosas humanas em relação às células normais, que é revertida após a adição de superóxido e varredores (scavenger) de peróxido [2,3]. Além disso, muitos estudos in vitro e in vivo têm investigado com sucesso o uso de inibidores glicolíticos para causar toxicidade seletiva de células cancerígenas através de um mecanismo envolvendo estresse oxidativo metabólico [3], [7], [61], [62], [63], [64] e [65].

Dietas cetogênicas aumentam o estresse oxidativo das células cancerosas
As dietas cetogênicas podem atuar como uma terapia adjuvante para o câncer por dois mecanismos diferentes onde ambos aumentam o stress oxidativo dentro das células cancerosas. O metabolismo lipídico limita a disponibilidade de glicose para a glicólise restringindo a formação de piruvato e  de glicose-6-fosfato que pode entrar na via de fosfato de pentose formando NADPH necessário para a redução de hidroperóxidos (Figura 2). Além disso, o metabolismo lipídico força as células a derivar sua energia do metabolismo mitocondrial. Uma vez que se acredita que as células cancerosas têm CTEs mitocondriais disfuncionais resultando em um aumento de uma redução de elétrons de O2 levando à produção de ROS, as células cancerosas serão preditas para experimentar seletivamente stress estresse oxidativo, em relação às células normais, quando o metabolismo da glicose é restrito no caso de alimentação por dietas cetogênicas (Fig. 2). Semelhante ao metabolismo de gordura, a produção de energia derivada de proteínas, tal como na glutaminólise, força as células a derivar a sua energia a partir do metabolismo mitocondrial e espera-se que aumente o estresse oxidativo das células de câncer. No entanto, muitos aminoácidos entram no Ciclo do Ácido Cítrico através de alfa-ceto-glutarato que podem sofrer gluconeogênese permitindo a produção de NADPH. Assim, o metabolismo proteico pode não levar aos mesmos níveis de aumento do estresse oxidativo das células tumorais como pelo metabolismo das gorduras.
A evidência de que as dietas cetogênicas aumentam o estresse oxidativo das células cancerosas está presente clinicamente e em modelos animais. Os humanos diabéticos hipercetóticos têm um nível mais elevado de peroxidação lipídica nos glóbulos vermelhos e uma diminuição significativa na glutationa celular em relação aos controles diabéticos cetônicos normais [66]. Jain et ai. também encontraram índices elevados de peroxidação lipídica em células endoteliais humanas cultivadas tratadas com acetoacetato [66]. Acetoacetato também foi reconhecido em esgotar a glutationa celular e aumentar peróxidos intracelulares em hepatócitos de rato primários [67]. A exposição crônica ao β-hidroxibutirato mostrou aumentar a produção de ROS em cardiomiócitos [68]. A combinação de uma dieta cetogênica com oxigenoterapia hiperbárica reduziu a taxa de crescimento tumoral, aumentou o tempo médio de sobrevivência e aumentou o beta-hidroxibutirato em comparação com os controles em um modelo de câncer metastático de camundongo. Assim, combinar uma dieta cetogênica com oxigênio hiperbárico pode aumentar ainda mais o stress oxidativo dentro das células tumorais. Além disso, animais com xeno-enxertos de câncer de pulmão alimentados com dieta cetogênica e tratados com quimioterapia e radiação aumentaram a proteína modificada 4-hidroxi-2-nonenal (4HNE) em relação aos tumores tratados com quimioterapia e radioterapia isoladamente. 4HNE é um produto de peroxidação lipídica que danifica proteínas através da formação de adutos (produto da adição direta de duas ou mais moléculas diferentes, resultando em um único produto de reação contendo todos os átomos de todos os componentes iniciais e esse resultado é considerado uma espécie molecular distinta) e é, portanto, tanto um marcador de danos lipídicos e de proteínas durante o estresse oxidativo.

UM CARDÁPIO COM MENU CETOGÊNICO


Conclusões
Apesar dos recentes avanços na quimio-radiação, o prognóstico de muitos pacientes com câncer continua pobre e os tratamentos mais atuais são limitados por eventos adversos graves. Portanto, há uma grande necessidade de abordagens complementares que tenham limitada toxicidade para o paciente e ao mesmo tempo um aumento seletivo das respostas terapêuticas ao câncer versus tecidos normais. As dietas cetogênicas poderiam representar uma manipulação alimentar que seriam rapidamente implementadas no objetivo de explorar as diferenças metabólicas oxidativas inerentes células cancerosas e células normais para melhorar os resultados terapêuticos através do aumento seletivo do stress oxidativo nas células cancerosas.

Embora o mecanismo pelo qual as dietas cetogênicas demonstram efeitos anticancerígenos quando combinados com radio-quimioterapias padrão não tenham sido totalmente elucidados, os resultados pré-clínicos demonstraram a segurança e a eficácia potencial da utilização de dietas cetogênicas em combinação com radio-quimioterapia para melhorar as respostas em modelos de câncer em murinos (ratos). Esses estudos pré-clínicos têm proporcionado o estímulo de estender o uso de dietas cetogênicas em ensaios clínicos de fase I que estão atualmente em curso.

LINK DO ORIGINAL COM REFERÊNCIAS AQUI

Independentes, mas nem tanto





Kellogg's Pagou "Experts Independentes" para promover seus cereais

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Artigo de: 
  •  em 21 de novembro de 2016
  •  


    Você pode se lembrar do "Kellog's Breakfast Council" (Conselho de Café da Manhã da Kellog's) composta por especialistas em nutrição trabalhando independente com a empresa para lhe trazer opções de cereais saudáveis. Os contratos dos especialistas expiraram em maio de 2016 e o ​​grupo deixou de estar ativo. Mas, como se verifica, esses especialistas independentes não eram tão independentes assim.

    A Kellogg pagou aos peritos conselheiros uma média de US $ 13.000 por ano, de acordo com e-mails e contratos obtidos pela Associated Press. O pagamento era para o especialista se engajar em "divulgar influências em nutrição" e abster-se de oferecer seus serviços para produtos que eram "competitivos ou negativos para os cereais".

    Essa divulgação geralmente significava uma de duas coisas: os especialistas alegariam que a Kellogg era sua marca favorita nas mídias sociais, ou eles iriam expor o cereal durante as aparições públicas. O porta-voz da Kellogg's, Kris Charles, disse à Fortune em uma declaração que a associação dos especialistas com a empresa foi divulgada em aparições públicas.

    Além disso, a conexão dos especialistas com a empresa pode ter afetado alguns de seus trabalhos publicados. Por exemplo, um especialista independente foi envolvido na publicação de um artigo acadêmico no Jornal da Academia de Nutrição e Dietética (Journal of the Academy of Nutrition and Dieteticsque definiu um "café da manhã de qualidade." A Kellogg's teve a oportunidade de editar o artigo e até pediu que o autor removesse uma sugestão sobre a limitação do açúcar adicionado (algo que a indústria do açúcar também foi acusada de fazer com a investigação de doenças cardíacas).

    O artigo fazia parte de um suplemento patrocinado pela Kellogg's. A empresa disse à Fortune que seu envolvimento teria sido "muito claro" para quem o ler. Esse mesmo artigo foi revisado por pares e, dada a sua conexão com Kellogg's, um editor sugeriu a remoção de algumas dos segmentos centrados nos cereais da discussão. E de acordo com um e-mail obtido pela Associated Press, a Kellogg's estava planejando usar esse texto em seus comentários ao governo federal sobre diretrizes dietéticas.

    A empresa tinha uma página em seu site dedicada a seus "especialistas independentes", mas Charles disse à Fortune que a empresa agora entende como o termo "independente" pode ser confuso. Nesse caso, a página da web foi removida e Charles disse que a empresa não usaria a palavra "independente" no futuro. Charles acrescentou, no entanto, que o nome "Kellogg's Breakfast Council" era para significar que era um grupo patrocinado.

    "O conselho foi uma mistura de especialistas a que foi pedido para fornecer com objetiva perspicácia acadêmica, mais perspectivas e opiniões externas que informassem as decisões de negócios", disse Charles. "Como aqueles que participam regularmente em conversas sobre a nutrição do café da manhã, foram incentivados também a compartilhar informações, materiais e ferramentas educacionais. A maioria dos materiais que compartilharam são esses os quais eles contribuíram ".

    Uma versão anterior desta história incorretamente afirmou que a Kellogg's pagou os especialistas para fazer aparições na televisão em nome da empresa. Além disso, foi emendado  esclarecer que o artigo acadêmico publicado na Revista da Academia de Nutrição e Dietética foi patrocinado pela Kellogg´s.

    Artigo original AQUI

    segunda-feira, 21 de novembro de 2016

    Dietas cetogênicas e câncer - parte I





    Estou publicando a tradução de uma parte de um artigo de revisão sobre o uso da dieta com extrema redução de carboidratos - a dieta cetogênica - e sua eventual utilidade na terapia do câncer. Nessa primeira parte é falado sobre a história e aplicações clínicas, algumas já bem utilizadas e outras em avançado estágio de testes.

    DIETAS CETOGÊNICAS COMO AUXILIAR NA TERAPIA CONTRA O CÂNCER: HISTÓRIA E POTENCIAL MECANISMO DE AÇÃO - parte I

    (Título original: Ketogenic diets as an adjuvant cancer therapy: History and potential mechanism)
     Autores: Bryan G. Allen, Sudershan K. Bhatia, Carryn M. Anderson, Julie M. Eichenberger-Gilmore, Zita A. Sibenaller, Kranti A. Mapuskar, Joshua D. Schoenfeld, John M. Buatti, Douglas R. Spitz, Melissa A. Fath

    Numerosos componentes dietéticos e suplementos foram avaliados como possíveis agentes de prevenção do câncer; no entanto, até recentemente, poucos estudos têm investigado a dieta como um possível adjuvante para o tratamento do câncer. Uma das mais proeminentes e universais alterações metabólicas vistas em células cancerosas é um aumento da taxa de metabolismo glicolítico, mesmo na presença de oxigênio [1]. Embora a absorção aumentada de glicose pelas células do tumor fosse pensada como suporte a proliferação aumentada de células cancerosas e de sua demanda energética, estudos recentes sugerem que esse maior metabolismo glicolítico tumoral pode representar uma resposta adaptativa para escapar do stress oxidativo metabólico causado pela alteração do metabolismo mitocondrial do oxigênio [2-4]. Estes dados suportam a hipótese de que as células cancerosas são dependentes do consumo de glicose aumentado para manter a homeostase redox devido ao incremento das reduções de um elétron do O2 para formar (O2•− ) (espécie reativa de oxigênio, também grafada como O2 - ) e H2O2 nas mitocôndrias. Essa divergência de metabolismo normal da célula tem suscitado um interesse crescente na segmentação do metabolismo de oxigênio mitocondrial como meio de sensibilizar seletivamente as células cancerosas à terapia [5-17]. A este respeito, as modificações dietéticas, tais como o alto teor de gordura, e a redução de carboidrato das dietas cetogênica, algo que melhora o metabolismo oxidativo mitocondrial enquanto limita o consumo de glicose, poderia representar uma abordagem eficaz segura, barata, e facilmente implementável para seletivamente aumentar o estresse metabólico em células cancerosas contra as células normais.

    O que é uma dieta cetogênica?
    Uma dieta cetogênica consiste de um alto teor de gordura, moderada ou reduzida ingestão de proteínas, e extrema redução de carboidratos, o que força o corpo a queimar gordura em vez de glicose para a síntese de adenosina trifosfato (ATP). Geralmente, a proporção por peso é de 3:1 ou 4:1 de gordura para carboidratos/proteínas, produzindo uma dieta que tem uma distribuição de energia de cerca de 8% de proteína, 2% de carboidratos e 90% de gordura. A fig. 1 apresenta a composição da dieta cetogênica clinicamente disponível a dieta 4:1 KetoCal© em comparação com outras dietas relacionadas. Quando um indivíduo ingere uma dieta cetogênica, o metabolismo das gorduras ocorre através da oxidação de ácidos graxos pelo fígado, produzindo os corpos cetônicos, incluindo o acetoacetato, β-hidroxibutirato e acetona. As cetonas são transportadas no sangue para os tecidos onde eles são convertidos em acetil-CoA, um substrato da primeira etapa do ciclo do ácido cítrico. O conteúdo de baixo carboidrato da dieta cetogênica pode provocar uma modesta redução da glicose no sangue e um maior controle glicêmico geral, resultando em níveis mais baixos de hemoglobina glicada A1C [18]. Este tratamento também pode estimular a gliconeogênese em seres humanos para compensar a queda nos níveis de glicose no sangue [19]. A adesão e a eficácia das dietas cetogênica podem ser monitorados pela medição no soro e na urina de β-hidroxibutirato [20].

    Figura 1


    A descoberta da dieta cetogênica como uma terapia para enfermidades
    Desde Hipócrates, períodos prolongados de jejum foram registrados como uma ferramenta terapêutica para epilepsia [21]. No início do século XX a literatura médica apresenta vários relatos de caso, sugerindo que os pacientes com várias doenças, incluindo epilepsia, se beneficiam em jejuns curtos, de 2 a 3 semanas e estes estudos atribuíram o sucesso do jejum à desidratação, à cetose ou à acidose [21]. Em 1921, Dr. R.M. Wilder na clínica Mayo propôs uma dieta na qual derivaram-se a maior parte das calorias a partir da gordura, imitando as alterações bioquímicas do jejum para o tratamento da epilepsia. Ele cunhou o termo: dieta cetogênica para essa composição dietética [21]. Com o desenvolvimento de drogas anticonvulsivantes seguras e eficazes como a fenitoína e o valproato de sódio na década de 1950, o interesse na dieta cetogênica diminuiu, mas a terapia foi ainda utilizada em casos onde os sintomas da doença foram refratários a outras terapias medicamentosas. Com base em experiências clínicas, dietas cetogênicas começaram a ressurgir na década de 1990 como uma alternativa de primeira linha e aceitável em pacientes com epilepsia da infância que eram indiferentes às outras terapias com drogas anticonvulsivantes. Um recente estudo randomizado controlado da University College London mostraram um claro benefício da dieta cetogênica no controle de convulsões da infância. Na análise final dos 54 pacientes no grupo de dieta, 61% experimentaram reduções significativas nas convulsões em comparação com 8% dos pacientes no grupo controle [22]. Além disso, depois de consumir a dieta por cerca de 6 meses, não havia nenhuma evidência de efeitos adversos significativos na cognição da infância ou adaptação social [23]
    Aplicações clínicas da dieta cetogênica
    O crescente reconhecimento da segurança e da eficácia do uso de dietas cetogênicas no tratamento da epilepsia resultou na aplicação bem-sucedida desta intervenção dietética para outras doenças. É de uso mais notável e bem estudado a dieta cetogênica para o tratamento da obesidade, popularizada pelo Dr. Robert Atkins (ver fig. 1) (Livro: A Dieta Revolucionária do Dr. Atkins, 1972). A dieta Cetogênica também foi demonstrada sendo benéfica no tratamento de pacientes com defeitos do transportador de glicose e outros distúrbios inatos do metabolismo [24]. É relatado que a dieta se mostra promissora em retardar a progressão da esclerose amiotrófica lateral [25] e há um corpo crescente de evidências sugerindo que as dietas cetogênica podem ser benéficas em outras doenças neuro-degenerativas, incluindo a doença de Alzheimer e a doença de Parkinson [26]. Além disso, existem relatos de casos e pequenos estudos de caso, indicando melhora em pacientes com autismo [27], depressão [28] diabetes mellitus tipo 2 [18], e síndrome do ovário policístico [29].

    Dieta cetogênica na terapia do câncer
    Recentemente, dietas cetogênica têm sido estudadas como um adjuvante à terapia de câncer em modelos animais e relatos de casos humanos. Já em 1987, Tisdale et al. viu um tumor diminuir de peso e a caquexia melhorada em camundongos com de adenocarcinoma de cólon (técnica de enxerto externo, xenografts) se alimentando com uma dieta cetogênica [30]. Estudos adicionais têm mostrado que as dietas cetogênica reduzem o crescimento do tumor e aumentam a sobrevida em modelos animais de glioma maligno [31-33], de câncer de cólon[34], câncer gástrico [35] e câncer de próstata [36-38]. Além disso, dietas cetogênicas tem sido especuladas, com algumas evidências, de potenciar os efeitos da radiação em modelos de glioma maligno [39], bem como em modelos de câncer de pulmão de células não-pequenas [5]. O jejum, que induz a um estado de cetose, também foi demonstrado aumentar a capacidade de resposta à quimioterapia em modelos de terapia de câncer pré-clínico, bem como possivelmente atenuar alguns dos efeitos colaterais em tecido normais vistos na quimioterapia [40]. Ciclos de jejum também são relatados retardar o crescimento de tumores e sensibilizar uma gama de tipos de células de câncer com quimioterapia [40,41]. Alguns dos resultados clínicos incluem um relato de caso de dois pacientes pediátricos femininos, com tumor maligno de estágio avançado que demonstraram uma redução de 21,8% no SUV (valor de captação padronizado calculo pelo exame PET/CT) do tumor quando esses pacientes foram alimentados com uma dieta cetogênica, conforme determinado pela utilização de 2-deoxi-2 [18F] fluoro-D-glicose (FDG) utilizando a tomografia por emissão de pósitrons (PET) [42]. Um caso mais recente reportado mostra a melhoria em um paciente do sexo feminino de 65 anos de idade com glioblastoma multiforme tratada com restrição calórica dieta cetogênica juntamente com o tratamento padrão [43]. De forma importante, um estudo de qualidade de vida em pacientes com câncer avançado descobriu que uma dieta cetogênica não teve nenhum efeito adverso grave, e melhorou o funcionamento emocional e reduziu a insônia [44].

    (Na segunda parte uma proposta de como a dieta cetogênica atua no câncer)

    Para ver a segunda parte CLIQUE AQUI

    Artigo de REDOX BIOLOGY




    domingo, 20 de novembro de 2016

    Óleo de soja associado a obesidade e outras doenças metabólicas



    Estudo: Óleo de Soja promove a obesidade e danos hepáticos


    O artigo a seguir foi escrito pela Drª Catherine Shanahan (que tem o blog Dr. Cate) e que já publicou dois livros sobre saúde e alimentação com foco na linha low carb. 
    "Todo mundo está consumindo uma grande quantidade de óleo de soja, mesmo sem ter conhecimento disso" - 
    Frances Sladek
    Os grandes fabricantes de alimentos amam o óleo de soja. Eles o colocam em milhões de produtos, mas a maioria dos americanos não tem ideia do que eles estão comendo. Em 2011, um artigo revelou que o consumo de óleo de soja aumentou 1000 vezes ao longo do século passado, levando alguns a sugerir que esta mudança representa o maior e mais rápida mudança da dieta em toda a história humana e é especulado que possa desempenhar um papel especial na epidemia de obesidade.

    Calorias do óleo de Soja engordam mais que as calorias do óleo de Coco

    Quando uma professora da UC Riverside - Frances Sladek leu sobre o aumento dramático no consumo de óleo de soja, ela decidiu investigar se a soja poderia desempenhar um papel no aumento dramático na obesidade que temos visto ao longo do período desde que o consumo de óleo de soja aumentou astronomicamente.
    Para entender melhor como os impactos da soja obesidade, ela formulou quatro comidas especiais para os seus ratos de laboratório comerem. O mais interessante foi que essas quatro foram projetadas para imitar eficazmente a dieta consumida pela média dos americanos, composto por 40% de gordura (segundo a composição calórica) e com uma boa parte dessa gordura proveniente do óleo de soja, enquanto o carboidrato é proveniente, quer a partir de amido ou de frutose. Ela, então, alimentou com cada tipo de ração diferentes grupos de ratos durante vários meses, sendo coletados dados sobre como cada formulação afetou o desenvolvimento da obesidade.
    Os resultados do estudo foram publicados recentemente na influente revista PLoS (Public Library of Science), e o título já diz tudo: "O óleo de soja é mais obesogênico e diabetogênico do que o óleo de coco e frutose em ratos".
    Figura 1: Os animais alimentados com 3 tipos diferentes de fórmulas em pastilhas mas com o mesmo número de calorias com ganho de peso em taxas diferentes.

    Acima o achado mais importante (figura 1) do estudo. Esse gráfico mostra os números do ganho de peso nos ratos comendo três fórmulas diferentes: 40% de calorias de gordura provenientes na maior parte do óleo de soja (linha laranja), 40% de calorias de gordura provenientes na maior parte do óleo de coco (linha azul) e uma ração standard para ratos rica em carboidrato e com cerca de 5% de gordura (linha cinza).
    É importante saber que todos os três ratos comeram a mesma quantidade de calorias totais, no entanto, a linha laranja mostra que os ratos que comeram a fórmula com óleo de soja (linha laranja) ganharam peso mais rápido do que aqueles na fórmula de coco (linha azul), e os ratinhos que comem ração padrão adquiriram menos do que ambos os grupos de alto teor de gordura.
    Antes de sair correndo e concluindo que dietas com baixo teor de gordura e ricas em carboidratos são a resposta mais uma vez, vamos lembrar que estes são ratos estão em uma gaiola sendo alimentados com pastilhas. Por razões que não são almejadas explicar nesse artigo, essa autora não acredita que dietas com baixo teor de gordura e ricas em carboidratos são a resposta para os seres humanos que comem alimento de verdade. (Capítulo 10 do meu iivro Deep Nutrition explica porque eu recomendo limitar o consumo de carboidratos).
    Para o propósito desse artigo o importante é a diferença entre as duas dietas diferentes com 40% de gordura, porque a maioria dos americanos comem cerca de 40% de calorias de gordura. O que se vê é que, em comparação com os ratinhos recebendo a sua gordura na maior parte do óleo de coco, os ratinhos que receberam a sua gordura principalmente a partir de óleo de soja adquiriram cerca de 25% mais de gordura, até ao final do estudo, embora ambos os grupos comessem o mesmo número de calorias. Em outras palavras, o óleo de soja engorda mais do que o óleo de coco.
    Em uma entrevista, os autores resumem: "Os ratos alimentados com a dieta de óleo de soja tornaram-se muito mais obesos, diabéticos e resistentes à insulina do que os ratos alimentados com a dieta de óleo de coco, apesar de terem uma similar ingestão alimentar."

    Óleo de Soja promove Superior de açúcar no sangue do que Frutose

    A frutose tem sido vilipendiada como um dos principais contribuintes para a epidemia não apenas da obesidade, mas também da diabetes. E enquanto o alto consumo de frutose é certamente um problema, um problema maior pode ser o alto consumo de soja.
    O grupo UC Riverside também realizou um teste chamado teste de tolerância à glicose. Este teste pode mostrar o quão bem ou mal podemos lidar com amidos e doces. O teste é realizado, fornecendo a indivíduos uma quantidade fixa de carboidratos e simplesmente medindo o quão alto fica a glicose no sangue desse sujeito depois. Quanto mais se eleva e se mantém elevada, mais esse indivíduo é resistente à insulina. A resistência à insulina está associada com um risco elevado de ataque cardíaco, derrame, câncer e muito mais, e pode levar à diabetes.
    Os resultados mostraram que os ratos que tinham sido engordadas pela ingestão de soja são muito mais intolerantes à glicose do que os ratos que tinham sido engordados pela ingestão de frutose.
    A linha laranja no gráfico A mostra que os ratos na dieta de óleo de soja eram mais intolerantes à glicose do que os ratos nas outras dietas. O Gráfico B mostra que eles também eram mais resistentes à insulina.

    Óleo de Soja é reconhecido como causador de danos ao fígado, e possivelmente esteatose (fígado gordo)

    O subtítulo do artigo é "papel potencial para o fígado", pois os autores foram surpreendidos com o que encontraram quando examinaram o fígado mais de perto.
    Em uma entrevista (link abaixo), os autores explicam "[Os ratos] também tiveram grandes gotículas lipídicas em seu fígado e balonismo, um sinal de lesão hepática." Isto seria esperado para eventualmente levar a esteatose hepática, uma condição que muitos pacientes com sobrepeso e diabéticos experimentam.
    Na verdade, os ratinhos que comem o óleo de soja, sem frutose tinham mais esteatose e resistência à insulina do que os ratinhos que comem o óleo de soja associado à frutose!
    Os ratos que comem óleo de soja sem frutose (linha laranja) têm piora no fígado gordo do que os ratos comendo óleo de soja com frutose (linha vermelha).

    Explicação bioquímica: Estresse Oxidativo
    Pessoalmente, eu tenho evitado o óleo de soja e outros óleos vegetais desde 2002, quando eu aprendi que a educação médica tinha me dado informações profundamente equivocadas sobre o tema das gorduras. O fato de que o óleo de soja tenha finalmente  “saído do armário” como obesogênico e tóxico para o fígado é gratificante, pois mostra - uma vez mais - que as previsões feitas com base em bioquímica são altamente precisas.
    Ao longo destas linhas, por causa da maneira que a soja seria processada pelo fígado, eu também tenho vindo a aconselhar a meus pacientes com fígado gordo a evitar soja e outros óleos vegetais. Quando o fazem, seus exames de laboratório melhoram.
    A bioquímica que prediz que o óleo de soja seria pouco saudável comparado com o de coco tem a ver com as reações que podem ocorrer quando os diferentes tipos de ácidos graxos nestes óleos são expostos ao oxigênio e ferro ou cobre (ou outro metal). A soja contém uma grande quantidade de ácidos graxos poli-insaturados (PUFAs). O óleo de coco contém uma grande quantidade de ácidos graxos saturados, e quase sem PUFAs. Os PUFAs reagem facilmente com o oxigênio. Os nomes para estas reações químicas são a oxidação lipídica e peroxidação lipídica. Na indústria, estas reações conduzem para o conteúdo reduzido de antioxidantes e vitaminas, bem como a produção de produtos residuais desses ácidos graxos poli-insaturados, os quais são muito tóxicos. No corpo, estas reações promovem o stress oxidativo.
    O stress oxidativo é um processo bioquímico que leva a uma resposta celular chamada de inflamação. A inflamação faz com que você armazene quilogramas mais rápido do que seria de se prever a partir simplesmente da contagem de calorias porque ela diz a seu corpo para fazer mais células de gordura. Quanto mais células de gordura que você tem, mais facilmente você armazena gordura e ganho de peso. Essencialmente, o estresse oxidativo faz uma lavagem cerebral para que o seu corpo faça crescer mais células de gordura, e o óleo vegetal é o estresse oxidativo engarrafado.
    Este processo de lavagem cerebral celular que altera a composição do corpo vai num longo caminho para explicar como determinados alimentos podem nos levar a ganhar peso além do seu conteúdo calórico. Eu escrevo sobre como isso funciona em um nível celular no meu livro Deep Nutrição, (capítulo 11, intitulado "Beyond calories”.)
    Ponto básico? Toda a gordura tem muitas calorias. Mas este estudo sugere que gorduras que promovem o estresse oxidativo nos fazem armazenar gordura mais rápido do que aqueles que não o promovem.


    Fontes:
    PLOS Artigo:  Óleo de soja é mais obesogênico e diabetogênico do que o óleo de coco e frutose em ratos: papel potencial para o fígado

    Escrito por DrCate em 15/11/2016