COMO OS ÓLEOS VEGETAIS ESTÃO ROUBANDO NOSSO FUTURO
Esta é uma série de artigos do australiano David Gillespie, um pesquisador da área de saúde e alimentação, que já publicou um livro sobre esses tems. Essa série me interessou de sobremaneira pois o título dos artigos me remete ao livro memorável "Nosso futuro roubado", um marco na publicação de temas sobre a poluição ambiental, pois foi o pioneiro em apontar para a questão de produtos utilizados na produção de plásticos como agentes mimetizadores da ação hormonal com interferência na expressão de aspectos ligados a sexualidade nas espécies animais, incluindo o homem. Aqui o autor fala de um outro fator interferente perfeitamente plausível: os óleos vegetais. É uma série de quatro artigos, sendo que os demais serão publicados nos próximos dias.
Parte UM - A fertilidade masculina
está em queda livre
Cerca de um em cada seis casais australianos atendem à definição da
Organização Mundial de Saúde da infertilidade (incapazes de conceber após 12
meses com relações sexuais desprotegidas). E em cerca de metade dos casos, é
porque o macho é infértil. Este é o primeiro de uma série de artigos examinando
como óleos de sementes afetam nossos órgãos reprodutivos (e as potenciais
consequências desastrosas para os nossos filhos).
A contagem de esperma é uma maneira antiquada, mas ainda altamente
confiável para medir a capacidade de um homem de produzir crianças. Qualquer valor
acima de 100 milhões de espermatozoides por ml é considerado um prêmio “vintage”
e qualquer valor abaixo de 15 milhões significa que o homem tenha pouca
probabilidade para se reproduzir. O único problema é que os homens com sêmen de
“alta octanagem” estão ficando cada vez mais difíceis de serem encontrados.
Em 1992, pesquisadores da Universidade de Copenhague publicaram um
estudo sobre as tendências da qualidade do esperma ao longo da metade do século
anterior. Depois de analisarem 61 ensaios, os cientistas chegaram à chocante conclusão
que a média de contagem de esperma diminuiu pela metade em apenas 50 anos (de
113 milhões em 1940 para 66 milhões em 1990).
Uma análise ainda mais abrangente de quase 27.000 homens franceses
publicado em 2005 confirmou essa contínua tendência. Nesse estudo contagens
médias de esperma caíram de 74 milhões em 1989 para 50 milhões em 2005 (a taxa
de 1,9% ao ano). Se essa taxa de declínio continuar, não haverá homens
franceses capazes de gerar bebês ao redor de 2.072.
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Contagem de esperma em franceses (1989-2004) |
Os bancos de esperma em Israel estão relatando que há uma queda
alarmante na qualidade do esperma entre os habitantes judeus. Esses bancos que já
teriam rejeitado cerca de um terço dos candidatos na década de 1990 (por causa
da baixa contagem de espermatozoides) estão agora lidando com índices de 80 a
90%. Com uma taxa de medida de declínio na contagem de espermatozoides com aproximadamente
o dobro de qualquer outro país ocidental, os especialistas estão prevendo que
em 2030, a média das contagens de esperma dos israelenses cairá para um nível
em que a reprodução se torne praticamente impossível.
Existem tantas teorias sobre por que isso está acontecendo tanto quanto
de cientistas que pesquisam o problema. Talvez seja o aumento dos níveis de
estrogênio na dieta, talvez seja a exposição a agrotóxicos ou talvez seja o uso
de BPA (bisfenol-A) nos plásticos. Mas apenas uma apresentou provas
convincentes de causalidade – o consumo de gordura ômega-6 alimentar. E que a
evidência vai muito mais além do que perceber que Israel é o maior consumidor
de gorduras omega-6 do mundo.
A gordura ômega-6 é a gordura dominante dos “óleos vegetais” utilizados
em todos os alimentos processados. Estes óleos não são feitos a partir de plantas.
Ao contrário, eles vêm das sementes (como canola - ou colza, soja, girassol,
cártamo, farelo de arroz e uva).
Ao contrário de outros tipos de gordura, os seres humanos não podem produzir
ácidos graxos ômega-6. Precisamos deles para fazer funcionar corretamente o
nosso sistema imunológico e (assim como ômega-3) devemos obtê-lo a partir das
plantas que comemos. Felizmente, não precisamos de muito e somos mais do que
capazes de conseguir tudo o que precisamos de produtos alimentares não processados.
Desafortunadamente (muito desafortunadamente), os óleos ômega-6 obtidos
de semente são a gordura de escolha para a indústria de alimentos processados
(porque eles são muito mais baratos do que as gorduras de animais e frutas
exóticas como azeitonas, abacates e cocos), assim o consumo ocidental de
gorduras ômega-6 pelo menos triplicou no último século. E, como consequência, a
proporção de gorduras ômega-6 para ômega-3 gorduras subiu de cerca de 3: 1 para
26: 1.
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Disponibilidade de óleos polinsaturados |
Sabemos há algum tempo que, em animais experimentais, o elevado consumo
de gordura ômega-6 reduz a contagem de espermatozoides e significativamente
prejudica a qualidade daqueles remanescentes. Mas um estudo de 2009 em seres
humanos levou a pesquisa um passo adiante.
Nesse estudo, 82 homens inférteis foram comparados com 78 homens (comprovadamente)
férteis. Foram elaborados detalhados perfis da composição de ácidos graxos do
sémen de cada homem. Os resultados foram inequívocos. Os homens inférteis tinham
uma proporção significativamente mais elevada de ômega-6 para ômega-3 (15 / 1
versus 6 / 1 em homens férteis). E crítico, quanto mais elevado o ômega-6, mais
baixa é a contagem de esperma. A quantidade e a proporção de ômega-6 também
afetavam dramática e negativamente as outras duas principais mensurações da
qualidade dos espermatozoides, a motilidade (capacidade de se mover) e a morfologia
(forma).
É provável que a razão para a destruição das células do esperma
refere-se à oxidação aumentada causada pelo consumo excessivo de gorduras ômega-6.
Infelizmente, este tipo de dano por oxidação conduz à ampla destruição de DNA o
que pode resultar em câncer. Esse efeito direto sobre as taxas de câncer de
testículo é o tema da próxima parte desta série.
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