Gorduras alimentares e saúde:
Recomendações dietéticas no
contexto da evidencia científica
Glen D Lawrence, do departamento de Química e Bioquímica da Long Island University, NY, publicou uma
interessante revisão sobre as gorduras na alimentação para a revista Advances
in Nutrition, da Sociedade Americana para Nutrição, em maio de 2013.

Bem, o autor faz uma ampla revisão baseada nos mais novos
conhecimentos de fisiologia dos lipídios e do conhecimento atual sobre os
mecanismos envolvidos com a formação da aterosclerose, com ênfase na doença
cardiovascular. O artigo tem mais 130 referencias, e está repleto de termos
técnicos, com nomes de personagens que provavelmente a maioria das pessoas,
mesmo na área médico-nutricional, desconhecem.
Começa lembrando que o tema do colesterol como aspecto
central das preocupações com a doença cardíaca se alicerça basicamente a partir
da Pesquisa de Framingham (meados da década de 1950). Mas foi somente nos anos
90 que o mecanismo de regulação do colesterol e das lipoproteínas foi
elucidado, quando veio à público, por exemplo, a questão do tamanho das partículas
de colesterol, como um aspecto que estava associado a doença cardiovascular. O
autor cita que as partículas LDL (habitualmente chamada, de forma simplística, de colesterol ruim), pequenas e densas estão geralmente associadas
a um aumento de triglicerídeos, obesidade abdominal, resistência à insulina e
outros distúrbios metabólicos (chamamos de Síndrome Metabólica) que levam a
disfunções na camada interna das artérias (endotélio) e suscetibilidade à
trombose. Essa pequenas partículas LDL estão mais susceptíveis ao processo que
chamamos de peroxidação lipídica, um fator para a doença arterial.
O autor cita vários aspectos da questão inflamatória
associados a doença cardiovascular. Por exemplo: existe uma enzima chamada PON1,
cuja inibição está relacionada à doença cardíaca, mas enquanto as gorduras
saturadas não tem ação sobre essa enzima, os ácidos graxos mono e
poliinsaturados parecem INIBIR sua ação enzimática.
O ácido linoleico (conhecido como ômega-6) faz as partículas
LDL ficarem mais susceptíveis à peroxidação. Com isso ocorre subsequente
depósito de LDL oxidado nas células chamadas de macrófagos que ficam na camada
íntima das artérias. Um processo severo de peroxidação de gorduras ativa a
transformação de um tipo de glóbulo branco circulante – os monócitos – para a
forma de macrófagos que se transformariam nas Foam Cells (ou Células Espumosas, células que armazenam lipídeos) O
processo de peroxidação também sinaliza para que a camada íntima das artérias
encapsular essas células, envolvendo-as com matriz proteica extracelular, e
eventualmente promovendo a calcificação. Uma grande abundância de ácido graxos
poliinsaturados, em relação com monoinsaturados e saturados poderia provocar a
aterogênese.
Agora o mais interessante: como os ácidos graxos saturados
(gordura saturada) NÃO são suscetíveis à peroxidação lipídica eles NÃO estão
envolvidos com todos os mecanismos ligados a formação da placa característica
da aterosclerose. Isso traz à tona como a questão de como os ácidos graxos
poliinstaurados pareceriam reduzir o risco de doença cardíaca, uma vez que
muitos estudos NÃO têm demonstrado esse efeito.
(A peroxidação é uma reação química onde radicais livres - moléculas de oxigênio reativas - são incorporados na estrutura de uma gordura que compõe a membrana celular, levando a perda de sua estrutura).
(A peroxidação é uma reação química onde radicais livres - moléculas de oxigênio reativas - são incorporados na estrutura de uma gordura que compõe a membrana celular, levando a perda de sua estrutura).
O estresse oxidativo e peroxidação de lipídios são aspectos
reconhecidos na promoção de doença cardíaca, câncer e outras doenças crônicas.
O cozimento em alta temperaturas também pode oxidar carboidratos o que produz
uma gama de produtos tóxicos de oxidação que promovem stress oxidativo,
portanto diabete tipo II e doença cardiovascular. Os ácidos graxos
poliinsaturados também sofrem de peroxidação pelo calor do cozimento. Dessa forma, os métodos de preparação e cozimento usados para alimentos
que tradicionalmente são classificados com alimentos com gordura saturada podem
produzir substâncias que promovem doenças a
partir dos carboidratos e dos poliinsaturados presentes nesses
alimentos.
A alimentação humana tende a favor de alimentos com gordura
e açúcar. De acordo com Lawrence, isso complica a correlação entre gordura
saturada e doença. Os carboidratos mais simples facilmente sofrem oxidação,
sendo que a frutose se oxida muito mais rápido que a glicose. Os produtos
resultantes da oxidação incluem glioxal, metilglioxal (*), e formaldeído. O
metilglioxal promove disfunção na camada interna das artérias, e está associado
a hipertensão e aterosclerose em humanos. O formaldeído e o metilglioxal estão
implicados na lesão no endotélio, estresse oxidativo e doença vascular
(angiopatia).
O metilglioxal, (a forma aldeído do ácido pirúvico) é uma
produto envolvido com a formação dos mal falados AGEs – produtos
finais da glicação avançada. Quase sempre que falamos em glicação falamos da ação de carboidratos simples. A formação de AGEs é marcante em doenças como a diabetes, onde as taxas continuadamente altas de glicose no sangue estão implicadas nas complicações típicas da diabetes tardia com dano vascular: doença renal, problemas na retina, neuropatias etc..
Bem essa é primeira parte da súmula desse artigo. Está
indexado no PubMed/Medline: basta procurar por Dietary fats and health: dietary recommendations in the context of
scientific evidence.
Nenhum comentário:
Postar um comentário