domingo, 11 de dezembro de 2016

Os cereais e a saúde mental - parte I



Estou publicando nesse final de ano a tradução de um longo artigo que examina as relações entre o consumo de cereais, especialmente o trigo e sua influência na saúde mental. A publicação foi dividida em duas partes. Se trata de um artigo do jornal Frontiers in Human Neuroscience, de março de 2016. Quem já leu o livro "Barriga de Trigo" vai encontrar conteúdos conhecidos, mas há uma especial abordagem em cima da saúde da parede intestinal e suas relações com o microbioma. As referências estarão publicadas ao final da segunda parte. Um tema palpitante trazido ao público de uma forma relativamente simples, tendo em vista a complexidade dos aspectos biológicos envolvidos. Sem dúvida um dos artigos mais importantes desse site em 2016!

O PÃO E OUTROS AGENTES ALIMENTARES NAS DOENÇAS MENTAIS

Autores: Paola Bressan e Peter Kramer
Departamento de Psicologia Geral, Universidade de Pádua, Itália

Talvez pelo fato da gastroenterologia, imunologia, toxicologia, nutrição e das ciências agrícolas estarem fora da sua competência e responsabilidade, os psicólogos e psiquiatras geralmente não conseguem perceber o impacto que os alimentos podem ter nas condições de seus pacientes. Aqui tentamos ajudar a corrigir esta situação revisando, em linguagem simples e direta, como grãos de cereais – as fontes alimentares mais abundantes do mundo - podem afetar o comportamento humano e a saúde mental. Apresentamos as implicações para as ciências psicológicas das descobertas de que, para todos nós, o pão (1) torna o intestino mais permeável e pode assim favorecer a migração de partículas alimentares para sítios onde elas não são esperadas, levando o sistema imunológico a atacar ambos, essas partículas e as substâncias relevantes para o cérebro que se assemelham a elas, e (2) liberar compostos semelhantes aos opióides, capazes de causar distúrbios mentais se alcançarem o cérebro. Uma dieta sem grãos, embora difícil de manter (especialmente para aqueles que mais precisam), poderia melhorar a saúde mental de muitos e ser uma cura completa para outros.

INTRODUÇÃO

'Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia (...) mas livra-nos do mal' '
-Mateus 6:11, 13

Há cerca de 12.000 anos atrás, quando a última era do gelo chegou ao fim, a rápida mudança do clima dizimou nossas fontes tradicionais de comida, especialmente as grande caças. Possivelmente em resposta para isso, no crescente fértil do Oriente Médio (aproximadamente as áreas que compõem o Levante e os vales do Tigre e do Eufrates) começamos a praticar a agricultura e a domesticação de animais. No período de alguns milhares de anos ambos tinham iniciado independentemente em pelo menos, quatro continentes diferentes (Murphy, 2007), estabilizando e aumentando a nossa disponibilidade de comida de tal forma que a população humana explodiu. Contudo, a revolução agrícola não só aumentou a disponibilidade de alimentos, mas também mudou radicalmente a sua natureza: produtos de grãos de cereais, os quais estávamos largamente desacostumados, rapidamente tomaram o centro das atenções. Este artigo ilustra a surpreendente relevância dessa mudança da dieta para os neurocientistas, psicólogos e psiquiatras.

Que a associação entre seres humanos e grãos valeu a pena para ambos está além de discussão. Cada parceiro ajudou o outro a reproduzir, multiplicar e, finalmente, conquistar cada palmo da Terra. Cada parceiro co-evoluiu com o outro, adaptando-se a ele. Por exemplo, o trigo tornou-se progressivamente mais curto em resposta à nossa preferência por colheitas mais fáceis e menos vulneráveis ao vento. Ao mesmo tempo, nossos rostos, mandíbulas e dentes progressivamente tornaram-se menores em resposta à textura macia do pão (Larsen, 1995). Assim domesticamos grãos, e os grãos em resposta nos domesticou (Murphy, 2007).

No entanto, a revolução agrícola pode ter causado problemas. Estamos dizendo que, na medida que as dietas à base de grãos substituíram as dietas dos caçadores-coletores, a expectativa de vida e a estatura diminuíram. A mortalidade infantil, as doenças infecciosas, os distúrbios minerais ósseos e a frequência da cárie dentária aumentaram (Cohen, 1987). 

Alguns desses problemas nunca foram totalmente superados. Por exemplo, apesar de um aumento gradual na estatura que começou há 4.000 anos, quando as dietas se tornaram mais variadas novamente, em média ainda estamos cerca de 3 cm mais curtos do que os nossos antepassados pré-agricultura (Murphy, 2007). A co-evolução entre seres humanos e grãos trouxe mudanças genéticas em ambas as partes, mas não tornaram o grão a comida mais adequada para nós do que aquela que consumíamos originalmente.

Uma das primeiras sugestões de que essas circunstâncias tiveram implicações para as ciências psicológicas foi a observação de que, em vários países, as taxas de internação por esquizofrenia durante a Segunda Guerra Mundial caíram em proporção direta à escassez do trigo. Nos Estados Unidos, onde, durante esse mesmo período o consumo de trigo aumentou em vez de diminuir, tais taxas se elevaram (Dohan, 1966a, b). Nas ilhas do Pacífico Sul com um consumo tradicionalmente baixo de trigo, a esquizofrenia aumentou dramaticamente (aproximadamente, de 1 em 30.000 para 1 em 100) quando os produtos de grãos ocidentais foram introduzidos (Dohan et al., 1984).

Atualmente existem provas substanciais de que, dependendo dos genes transportados por mais de um terço de nós e de fatores aparentemente irrelevantes como uma infecção viral anterior, comer pão pode afetar nosso corpo e cérebro. Este artigo revisa as evidências para um amplo leque de leitores em linguagem direta e não-técnica. Nas próximas três seções se apresentam as implicações para a ciência da realidade de que o pão (1) aumenta a permeabilidade do intestino e provavelmente da barreira hemato-encefálica em todos os humanos, (2) desencadeia uma reação imune naqueles de nós que são geneticamente predispostos, e (3) quebra-se, durante a digestão, em fragmentos com atividade opióide. A seção final discute se uma mudança na dieta poderia possivelmente curar pacientes com doença mental.

GRAMAS, GRÃOS E VENENOS

Os grãos são as sementes das gramíneas. As gramíneas podem ou não ter evoluído ao deixar suas sementes serem comidas (Janzen, 1984), mas certamente não o fariam se deixassem ser digeridas em pedaços que fossem incapazes de transmitir os genes dessa planta. As gramas não podem se defender, fugindo ou lutando, e não têm espinhos, não carregam nenhuma casca dura protetora em torno de suas sementes; como a maioria das plantas, no entanto, elas produzem toxinas. Tais plantas criaram um grande variedade de venenos - mais de 50.000 compostos defensivos foram encontrados até agora (Kennedy e Wightman, 2011) - para dissuadir, prejudicar ou matar as criaturas que se alimentam delas. 

Essas criaturas, por sua vez, desenvolveram um arsenal de contramedidas, incluindo mecanismos para detectar (por exemplo, receptores de gosto amargo) e se desintoxicar de tais venenos tanto quanto possível (Hagen et al., 2009).

Compreensivelmente, as proteínas de autodefesa são especialmente concentradas na fração mais preciosa das plantas - as sementes.

Ironicamente, dos três genomas separados que o trigo moderno contém da fertilização cruzada espontânea de três diferentes espécies selvagens (por exemplo, Murphy, 2007), o genoma responsável pelo pão de melhor qualidade está associado às (espécies) mais tóxicas (Kucek et al., 2015). Estas são capazes, pelo menos em roedores, de atravessar o intestino e a barreira sangue-cérebro (Broadwell et al., 1988) e interferir, entre outros (Pusztai et al., 1993), na ação do fator de crescimento dos nervos (Hashimoto e Hagino, 1989). Na massa, muitas destas proteínas, embora altamente resistentes à digestão, são perdidas na água salgada durante a cozedura, por isso não a tornam (indigesta) no prato final (Mamone et al., 2015). No entanto, elas ainda podem ser encontradas na cerveja e no cuscuz pré-cozido (Flodrová et al., 2015) e podem ser inaladas a partir da farinha crua (Walusiak et al., 2004).

As sementes também são equipadas com proteínas destinadas a serem um “alimento pronto” para a futura muda. O kit de proteínas de armazenagem na cevada, centeio e, em particular, no trigo, o glúten (''cola '' em latim), acabou por ter um valor especial para nós. À medida que a massa do pão é amassada, o glúten forma uma rede elástica que aprisiona os gases produzidos pela levedura durante a fermentação; isto permite que a massa cresça e se expanda durante o cozimento. O sucesso espetacular do trigo relativamente à cevada e ao centeio é principalmente pela facilidade com que um pão leve, poroso, e ótimo para mastigar pode ser obtido a partir da sua farinha.

Infelizmente, o glúten provou ser tóxico para uma proporção tal de pessoas, e que, nas últimas décadas, têm sido constantemente aumentada (Rubio-Tapia et al., 2009). De fato, as variedades de trigo que contêm o tipo mais prejudicial de glúten tornaram-se as mais comuns (Van den Broeck et al., 2010). Isto é particularmente preocupante dado que o glúten não é apenas naturalmente presente no pão, no bolo, na massa, na pizza e na cerveja, mas também é - pela sua propriedade de ligação e espessamento - adicionado também a variedade de outros produtos. Uma pesquisa em supermercados australianos encontrou o glúten em quase 2.000 alimentos diferentes, variando dos molhos para carnes processadas a mais de 100 não-alimentos, desde analgésicos até xampus (Atchison et al., 2010).

No entanto, o glúten desencadeia algum tipo de ação logo que aparece no intestino - não apenas em algumas pessoas sensíveis, mas em todos nós.

BURACOS NO INTESTINO

Um estudo post-mortem de 82 pacientes com esquizofrenia encontrou taxas de inflamação do estômago, intestino delgado e do intestino grosso, tão impressionantes como respectivamente 50%, 88% e 92% (Buscaino, 1953; citado em Buscaino, 1978). A associação entre patologias gastrointestinais e transtornos psiquiátricos já havia sido notado há pelo menos 2.000 anos atrás e tem sido confirmada repetidamente (para uma breve revisão ver Severance et al., 2015).

Um intestino doentio pode expor nosso corpo à bactérias nocivas, toxinas e frações de alimentos não digeridos. Em cada um de nós, uma parede intestinal cuja superfície poderia pavimentar um apartamento inteiro (Helander e Fändriks, 2014) enfrenta o desafio de prevenir que isso aconteça, ao mesmo tempo que permite que a água e nutrientes atravessem.

Este feito é realizado através de uma sofisticada barreira, com abertura e fechamento das junções entre as células da parede sendo ajustadas de forma flexível (Bischoff et al., 2014). Fora isso, essa arquitetura poderia servir como uma linha de defesa de emergência contra micróbios patogênicos (Fasano et al., 1997). A parte do intestino que segue imediatamente o estômago, o intestino delgado, é de fato mantido praticamente estéril - as bactérias são removidas  pelos movimentos peristálticos do intestino antes que elas possam se multiplicar (Dixon, 1960). Qualquer presença anormal de micróbios desencadeia a liberação da proteína zonulina, que amplia as junções entre as células para que a água possa infiltrar-se e liberar as bactérias através de amplos movimentos do intestino (El Asmar et al., 2002).

Produzir diarreia é apenas um trabalho excepcional entre os muitos, menos visíveis diariamente que é creditada à zonulina executar. Importante, a regulação da permeabilidade intestinal concede ou veta a passagem de grandes moléculas e células imunes.

Por razões ainda obscuras, no entanto, às vezes esse mecanismo permite que componentes alimentares parcialmente não digeridos que fujam do intestino e (a) alcancem a camada interna da parede intestinal, que hospeda uma grande parte do sistema imunológico, e (b) a corrente sanguínea. Estas substâncias não são esperadas aí e podem desencadear uma reação imunológica mal direcionada (para uma leitura desses detalhes, ver Fasano, 2009). A permeabilidade anormal do intestino é de fato associada com uma ampla gama de distúrbios imunológicos relacionados, e em alguns estudos em animais tem sido demonstrado como precedente, sugerindo a causalidade (por exemplo, Meddings et al., 1999).

Estas doenças incluem artrite, asma, diabetes tipo 1 e esclerose múltipla (Fasano, 2012). Vale ressaltar que o estresse psicológico piora a permeabilidade do tubo digestivo. Falar em público faz isso, com efeitos transitórios (Vanuytsel et al., 2014), e a privação materna precoce também, com efeito de longa duração (demonstrado em ratos: Barreau Et al., 2004). Curiosamente, o estresse psicológico também piora a inflamação intestinal (para uma breve revisão, ver Daulatzai, 2015), agrava as doenças relacionadas com a imunidade (Dhabhar, 2009), e prediz o aparecimento e a gravidade dos transtornos mentais (Kendler Et al., 1999; Carr et al., 2013). Algumas especiarias comuns (Jensen-Jarolim et al., 1998) e componentes alimentares (por exemplo, Bischoff et al., 2014) também modulam a permeabilidade intestinal, aumentando-a (como a frutose, amplamente utilizada para adoçar bebidas comerciais) ou diminuindo-a (como a quercetina flavonóide, encontrada em cebolas e chás). Provavelmente porque é confundido com uma molécula microbiana (Fasano et al., 2015), o glúten estimula a libertação de zonulina e, portanto, apresenta-se de forma proeminente no grupo anterior (Hollon et al., 2015).

A ingestão de um inibidor da zonulina impede que o glúten aumente a permeabilidade intestinal e uma dieta isenta de glúten reduz tanto os níveis de zonulina quanto a permeabilidade intestinal (Fasano, 2011). Em todos nós, a zonulina aumenta a permeabilidade não só da parede intestinal, mas também de outras barreiras não menos interessantes - notadamente a barreira sangue-cérebro (barreira hematoencefálica). Uma toxina que imita a zonulina está atualmente sendo estudada pela sua capacidade de melhorar a entrega ao cérebro de agentes anticancerosos (Karyekar et al., 2003).

ERROS DO SISTEMA IMUNOLÓGICO

Depois de aumentar a permeabilidade intestinal e com a sua ajuda, o glúten pode causar problemas se acontecer de atravessar a camada externa do intestino e se tornar o alvo da vigilância imunológica. As duas próximas subseções exploram as consequências desse encontro em nosso corpo e no nosso cérebro.

As muitas formas de sensibilidade ao trigo

Algumas pessoas são abertamente alérgicas ao trigo (daqui em diante, "trigo" cobre todos os grãos contendo glúten). De minutos para horas depois da exposição, estes indivíduos desenvolvem sintomas como erupções cutâneas, dores de cabeça, diarreia ou falta de ar – um exemplo é a asma do padeiro. Essa alergia ao trigo (Inomata, 2009) envolve a parte do nosso sistema imunológico que responde rapidamente contra parasitas, fungos e micro-organismos. Em alguns de nós, contudo, o glúten desencadeia reações mediadas imunologicamente quando os sintomas se desenvolvem gradualmente, semanas ou anos após sua introdução na dieta.

Em cerca de 1 pessoa em cada 100, esta hipersensibilidade é expressa como doença celíaca, definida como uma reação imune crônica contra seu próprio intestino delgado. Ao longo do tempo, essa reação na parede intestinal (que normalmente é coberta por milhões de protuberâncias semelhantes a dedos), reduz sua superfície e, portanto, a capacidade de absorver nutrientes importantes para o corpo e o cérebro.
Se o glúten não for retirado durante a infância, o crescimento de alguns ossos cranianos também são alterados. Como resultado, mais de 80% dos celíacos adultos têm proporções faciais incomuns (Zanchi et al., 2013). Muito típico é uma testa relativamente alta cerca de um terço da face em relação à testa de pessoas saudáveis (Ver, respectivamente, Finizio et al., 2005 e Zanchi et al., 2013).

A maioria das pessoas com doença celíaca não sabe o que elas têm. Em uma amostra de mais de 5.000 estudantes italianos, por exemplo, a proporção de diagnosticados para casos não diagnosticados foi de 1 a 6 (Catassi et al., 1995). Nos idosos, a doença celíaca muitas vezes também não é reconhecida, Com um atraso médio de 17 anos desde o início dos sintomas até o diagnóstico (Gasbarrini et al., 2001). De forma alarmante, os marcadores no sangue da doença quadruplicaram nos Estados Unidos nos últimos 50 anos (Rubio-Tapia et al., 2009) e dobraram na Finlândia nos últimos 20 anos (Lohi et al., 2007). Medições foram tomadas todas de uma vez em amostras de sangue colhidas e congeladas por décadas, daí a recente onda da doença não pode ser devida a uma melhor detecção ou a critérios de diagnóstico mais indulgentes. Os marcadores também aumentam dentro do mesmo grupo de indivíduos ao longo do tempo, mostrando que uma resposta imune ao glúten pode surgir de repente na idade adulta(Catassi et al., 2010).

Algumas pessoas ficam melhores sob uma dieta sem glúten e pioram quando enfrentam o mesmo glúten (mesmo sob condições sob duplo-cego, randomizadas, controladas por placebo: Biesiekierski et al., 2011), embora não satisfazem os critérios de alergia ao trigo ou à doença celíaca. Esta sensibilidade de glúten não celíaca é diagnosticada por exclusão, pois atualmente não há testes laboratoriais para tal. A permeabilidade intestinal dessas pessoas é normal, ao contrário dos celíacos -, mas o glúten faz com que ela aumente tanto quanto nos celíacos (Hollon et al., 2015). Os sintomas surgem horas a dias após a exposição ao glúten e são em grande parte extra intestinais; eles incluem dor de cabeça e eczema, mas também fadiga e “mente embaçada' (Sapone et al., 2012). Outros indivíduos relatam serem sensíveis ao glúten, mas na verdade sofrem de inchaço e dor abdominal pelos carboidratos do trigo (Biesiekierski et al., 2013).

Muitos estudos sobre a sensibilidade ao glúten não celíaca não tem controlado para a presença destes carboidratos; eles também podem ser encontrados em vários vegetais, no entanto, e se seus efeitos podem ir além do mero desconforto intestinal é discutível (veja pontos de vista antagônicos, em Fasano et al., 2015; De Giorgio et al.,2016).
Mais de 95% dos celíacos carregam uma variante específica de um gene que é responsável pela regulação do sistema imunológico, e cerca de 5% carregam uma outra (Diosdado et al., 2005). Crucialmente, ambos os genes que estão implicados na capacidade do sistema imunológico distinguir “o eu” do “não-eu”. Esses genes também estão presentes entre 30% e 40% da população em geral, e entretanto nem todos desenvolvem doença celíaca; mesmo gêmeos monozigóticos sob a mesma dieta podem ser discordantes para isso (Greco et al., 2002). Outros fatores devem, portanto, estar envolvidos - possivelmente, gatilhos ambientais comuns. Estes têm sido demonstrados variarem em um bebê (Malnick et al., 1998) por contrair um vírus ou um parasita.
Em um estudo, por exemplo, quase 90% dos celíacos, contra 17% dos controles, mostraram evidência de infecção prévia com adenovírus (Kagnoff et ai., 1987). Uma vez que uma proteína codificada por este vírus é estruturalmente semelhante ao glúten, é plausível que em indivíduos predispostos, a reação inicial ao vírus pode estender para glúten e, em seguida, para algumas proteínas em nosso próprio intestino que se assemelham a ambos - um processo chamado mimetismo molecular (ver Kasarda, 1997).

TRIGO E A MENTE

Infelizmente, o glúten se assemelha a algumas substâncias relevantes para o cérebro também. In vitro, os anticorpos contra o glúten removidos do sangue humano atacam proteínas cerebelares e componentes da bainha de mielina que isola os nervos (Vojdani et al., 2014). Elas também atacam uma enzima envolvida na produção de GABA – nosso neurotransmissor inibidor primário, cuja desregulação é implicada tanto na ansiedade quanto na depressão. No sangue de doadores, anticorpos contra o trigo ou leite e anticorpos contra estas substâncias relevantes para o cérebro tem tido simultaneamente elevações, consistente com a presença de uma reação cruzada (Vojdani et al., 2014). A maioria de nós escapamos disso apenas porque nosso intestino e as barreiras sangue-cérebro estão intactas – e apenas enquanto permanecerem assim. Anticorpos contra o cérebro, desencadeados pelo glúten, podem causar graves disfunções neurológicas seja ou não em um celíaco (Hadjivassiliou et al., 2010).
Anticorpos similares também foram encontrados no sangue de um subgrupo de pacientes com esquizofrenia; alguns deles carregavam no sangue, marcadores de doença celíaca, mas outros não (Cascella et al., 2013).
Se o trigo pode afetar o cérebro, não deve ser surpresa que possa também afetar a saúde mental (para uma revisão, veja Jackson Et al., 2012a). Estudos epidemiológicos excepcionalmente amplos,
envolvendo muitos milhares de pacientes, descobriram que a doença celíaca está associada a um risco aumentado de depressão (Ludvigsson et al., 2007b) e psicose (Ludvigsson et al., 2007a). Entre os indivíduos com parede intestinal normal, que carregam marcadores de sangue da doença celíaca existe três vezes mais probabilidade de desenvolverem autismo no futuro, e cinco vezes mais propensos a já terem sido diagnosticados assim (Ludvigsson et al., 2013).

Os anticorpos contra o glúten foram encontrados muito mais frequentemente em pacientes com esquizofrenia e autismo do que na população ou em controles, um resultado que foi replicado repetidamente (Jackson et al., 2012a). Alguns números são impressionantes, como uma presença relatada de anticorpos contra glúten em 87% das crianças autistas não medicadas versus 1% de crianças normais (Cade Et al., 2000).

Tendências microbianas

O principal gene que predispõe à doença celíaca também modifica a composição dos micróbios no intestino; um achado notável, porque sabemos agora que esses micróbios (coletivamente conhecidos como microbioma - ou microbiota - intestinal) são diretamente capazes de moldar nosso comportamento (Dinan et al., 2015, Kramer e Bressan, 2015). Portadores e não-portadores do gene produzem fezes com significativas diferenças nas bactérias já em 1 mês de idade (Olivares et al., 2015). Entre outras coisas, os portadores hospedam mais clostrídios; clostridia” tendem a ser sobre-representados nos intestinos de crianças com autismo (Louis, 2012), e é sugestivo associar esses achados à evidência epidemiológica, discutida anteriormente, de um maior risco de autismo em celíacos.
Os micróbios intestinais parecem desempenhar um papel possivelmente de quando (e possivelmente se) os portadores desenvolverão a doença celíaca. Uma vez que a maturação do nosso sistema imunológico é co-impulsionada pela nossa comunidade microbiana (Kranich et al., 2011), é crucial que esta última se desenvolva normalmente - o que poderia ser posto em risco alimentando bebês com alimentos inadequados e/ou em um momento inadequado. O microbioma amadurece enormemente nos primeiros 12 meses de vida, portanto, pode ser importante evitar glúten durante este período (Fasano, 2009). De fato, um estudo duplo-cego sobre portadores jovens do gene celíaco comparou a relevância da introdução precoce (6 meses de idade) versus tardia (12 meses) do glúten em suas dietas. A introdução precoce provocou prontamente a perda de tolerância ao glúten e desencadeou o desenvolvimento da auto-imunidade, sem dúvida pela mudança na composição da microbiota ainda imatura (Sellitto et al., 2012). De fato, quer ou não que os ratinhos transgênicos com o gene celíaco expressem a doença tem sido recentemente demonstrado inteiramente determinado por seus intestinos. Comer glúten começa a doença celíaca nos camundongos que haviam estado sem micróbios intestinais, ou cuja microbiota incluía patógenos ou foram perturbados por antibióticos logo após o nascimento - mas não nos ratos cujo microbioma era saudável (Galipeau et al., 2015).

Alterações na microbiota intestinal devido a uma exposição súbita e maciça de produtos de trigo também têm sido hipotetizado mediar a bem conhecida relação entre o status de imigrante e a esquizofrenia (Severance et al., 2014). Isso pode ser, por exemplo, o caso de pessoas que se deslocam para a Europa a partir da África Subsaariana, onde os grãos não incluem trigo e são tradicionalmente decompostos através de fermentação antes de sere comidos. Dessa forma é, portanto, totalmente possível que o pão possa ser prejudicial à saúde mental não só diretamente, através de algumas das proteínas que contém; mas como também indiretamente, através de seus efeitos sobre os nossos micróbios intestinais. A relação causal entre comer pão e abrigar certos micróbios poderia realmente ir para ambos os dois modos, como sugerido em recentes evidências de que nosso desejo por determinados alimentos pode ser por causa das bactérias intestinais que se alimentam deles. O pão é no final decomposto até glicose, e muitos micróbios prosperam com a glicose. Quando não chega em quantia suficiente, os micróbios podem ser capazes de manipular seu hospedeiro, induzindo mau humor e outras sensações - aliviadas apenas ao se comer o material certo (Alcock et al., 2014).


CONTINUA NA PARTE II AQUI
LINK DO ORIGINAL AQUI

REFERÊNCIAS NA SEGUNDA PARTE

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Diretrizes em nutrição: entre a ciência e o fiasco




O mais importante de defender um conjunto de entendimentos que podem ser francamente falaciosos, e mesmo perigosos para a população é não dar o braço a torcer nem sob tortura e se fazer parecer sério, com a pompa de estar na mídia ou mesmo usar métodos intimidatórios... mas um dia essas técnicas inevitavelmente sucumbem! Isso não vai ser diferente com as diretrizes nutricionais americanas, baseadas nos velhos conceitos emergentes nos anos 50 do capitalismo alimentar, da industrialização dos gêneros alimentícios e da transformação da comida em produtos de consumo, derivados de commodities, que transfiguraram, destruíram e poluíram o ambiente natural. Temos informação de qualidade que poderá proteger as pessoas dos crescentes fracassos em saúde que esse modelo tem promovido. Mas esse seriado de suspense e trapaças ainda está nos capítulos iniciais. 

DE QUE FORMA UMA ENTIDADE COMO A CSPI CORROMPE A CIÊNCIA, A NUTRIÇÃO E AS DIRETRIZES DIETÉTICAS DOS ESTADOS UNIDOS

Título do artigo original:
do Conselho Americano para Ciência e Saúde

How CSPI Undermines Science, Nutrition, and U.S. Dietary Guidelines


As diretrizes dietéticas dos EUA nasceram de boas intenções. Elas foram criadas para tornar os americanos mais saudáveis.
As orientações, no entanto, não foram inscritas em tábuas de pedra e entregues para a humanidade. Em vez disso, eles são o resultado de um processo burocrático e, como tal, são suscetíveis a conclusões duvidosas e influências negativas por grupos ativistas.
Nina Teicholz
Em 2015, a jornalista Nina Teicholz realizou um inquérito, publicado no BMJ, que criticou as diretrizes dietéticas por serem baseadas em "padrões científicos fracos" e "vulneráveis a polarização interna, bem como às agendas (conjunto de interesses) externas".
Por exemplo, as diretrizes recomendam contra a gordura saturada, que geralmente é creditada ser causa de doenças cardiovasculares. Mas esta noção amplamente disseminada é baseada em informações desatualizadas; os melhores e mais recentes estudos não mostram nenhuma correlação. No entanto, a Comissão que ofereceu as orientações dietéticas, ignorou.
A srª.  Teicholz alega que a Comissão está inclinado para promover dietas com restrições á carne, e à base de plantas que são em grande parte não suportadas por evidências científicas. O Comitê dietético parece escolher seletivamente a pesquisa que mais gosta e ignorar as demais. Isso está longe de ser uma receita baseada em evidências. Na verdade, Sra. Teicholz escreve:

"As omissões parecem sugerir uma sub-reptícia relutância da Comissão de considerar no relatório as evidências que contradigam os últimos 35 anos de aconselhamento nutricional." 

A srª. Teicholz não é a única pessoa a criticar fortemente as diretrizes dietéticas dos EUA. Em um artigo condenatório para RealClearScience, o pesquisador de obesidade Edward Archer concluiu que as orientações são uma "fraude" baseada em "uma vasta coleção de anedotas quase sem fundamento".
Como reagiram a ativistas de comida a estas críticas? Como de costume, ao invés de responderem às críticas com dados robustos, simplesmente tentam desconsiderá-los. O inapto denominado Centro para Ciência ao Interesse Público (CSPI) advogou para a retração do relatório da srª. Teicholz. Embora houvesse alguns erros factuais que o BMJ posteriormente corrigiu, a revista respondeu, "peritos independentes não encontraram nenhum motivo para a retração." Indo mais longe, o BMJ endossou os resultados e as conclusões do artigo do Sr. ª Teicholz.
Problema resolvido, certo? Errado. Esse CSPI disparou um comunicado à imprensa afirmando que BMJ teria "mancha[do] sua reputação."
Quanta insanidade! Uma revista biomédica não retrata um artigo simplesmente porque um grupo de ativistas chateados vociferaram. O BMJ é uma respeitável revista que publicou um artigo que submeteu a revisão por pares. Em resposta às críticas, a revista examinou o artigo uma segunda vez. Assim, depois de duas análises independente de ponto a ponto, assim o jornal concluiu que o artigo detinha seus próprios méritos.
Ao invés de aceitar essas conclusões  baseadas em evidências, a CSPI se rebaixa. Em vez de aplaudir os esforços do BMJ, essa CSPI está minando a revisão por pares. E em vez de recair em rigorosa e delongada investigação que realmente iria servir ao interesse público, a CSPI ironicamente abraça informações obsoletas. 
Talvez essa CSPI - que quer rótulos de "risco de cãncer" ao bacon - esconda essas agendas"exteriores" tem aquele BMJ avisou.

LINK do artigo original AQUI

NÃO DEIXE DE LER:



artigo do

American Council on Science and Health

 

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Neurotransmissores ligados ao desejo de doces e a obesidade




Dopamina, Obesidade e Idade parecem influenciar a preferência por desejo de doces

Título do original:

Dopamine, Obesity and Age Appear to Influence Preference For Sweet Foods



Resumo: Pesquisadores acreditam que pode ter identificado uma nova anomalia na relação entre dopamina e resposta ao alimento entre aqueles com obesidade.

Fonte: neurosciencenews.com


Uma nova descoberta das pesquisas pode revelar uma disfunção nos cérebros dos indivíduos com obesidade.

Quando os jovens atingem a idade adulta, suas preferências para alimentos doces tipicamente declinam. Mas para as pessoas com obesidade, uma nova pesquisa sugere que esse "drop-off" (declínio) pode não ser tão íngreme e que o sistema de recompensa do cérebro funciona de forma diferente nas pessoas obesas em relação às pessoas mais magras, o que pode desempenhar um papel neste fenômeno.

Os novos resultados foram publicados on-line em 15 de junho de 2016 na revista Diabetes .

"Acreditamos que pode ter sido identificado uma nova anomalia na relação entre a resposta de recompensa à alimentação e a dopamina no cérebro de indivíduos com obesidade", disse o primeiro autor do estudo, M. Yanina Pepino, PhD, professor assistente de medicina. "Em geral, as pessoas crescem e gostam menos de coisas doces na medida que elas se movem da adolescência até a idade adulta. Além disso, à medida que envelhecem, temos menos receptores de dopamina em uma estrutura do cérebro, denominada de striatum, que é crítica para o sistema de recompensa. Descobrimos que tanto a idade mais jovem quanto menos receptores de dopamina estão associados a uma maior preferência por doces nas pessoas com peso normal. No entanto, em pessoas com obesidade, isso não era o objeto em nosso estudo ".

Os pesquisadores estudaram 20 indivíduos com peso saudável e comparou-os com 24 pessoas consideradas obesas, cada uma das quais tinha  um índice de massa corporal de 30 ou superior. Os voluntários do estudo estavam entre 20 a 40 anos.

Os participantes receberam bebidas contendo diferentes níveis de açúcar para determinar os graus de doçura preferenciais de cada indivíduo. Os pesquisadores então realizavam tomografia por emissão de pósitrons (PET) para identificar receptores de dopamina ligados a recompensas no cérebro de cada pessoa. A dopamina é o principal químico no cérebro que nos faz sentir bem. Os exames PET revelaram que embora tenha havido uma relação entre os receptores de dopamina, preferência por coisas doces e idade, em pessoas magras, esse padrão não era verdadeiro no cérebro de pessoas obesas.

"Nós encontramos disparidades de preferência por doces entre os indivíduos, e encontramos também variações individuais em receptores de dopamina - algumas pessoas têm níveis altos e alguns baixos - mas quando nós olhamos como essas coisas andam juntas, a tendência geral nas pessoas de peso normal foi que, ter menos receptores de dopamina estava associado com uma maior preferência por doces", disse a co-investigadora Tamara Hershey, PhD, professora de psiquiatria, da neurologia e radiologia.

 

A relação entre as suas idades, preferências por doçuras e receptores de dopamina não seguiu o padrão observado em pessoas que pesavam menos.

 Mas isso não era verdade nos obesos. A relação entre as suas idades, preferências pelos doces e receptores de dopamina não seguiu o padrão observado em pessoas que pesavam menos.

Pepino e Hershey explicam que é possível que a resistência à insulina ou alguma outra alteração metabólica relacionada com a obesidade pode contribuir para a ausência dessas associações no grupo obeso. Embora nenhum dos participantes obesos do estudo tinham diabetes, alguns tinham maiores concentrações de glicose e de insulina no sangue, e alguns estavam se tornado resistente à insulina. Os pesquisadores acreditam que esses fatores podem ter alterado a resposta do cérebro para produtos doces.

"Há uma relação entre resistência à insulina e sistema de recompensa do cérebro, de modo que pode ter algo a ver com o que vimos em indivíduos obesos", disse Hershey. "O que está claro é que a gordura corporal extra pode exercer efeitos não só na forma de metabolizar o alimento, mas como nosso cérebro percebe recompensas quando comemos esses alimentos, especialmente quando é algo doce."

LINK DO ARTIGO ORIGINAL

Repensando o tratamento hormonal para menopausa





REPENSANDO O EMPREGO DE HORMÔNIOS PARA REDUZIR OS SINTOMAS DE MENOPAUSA

Título do original:

Rethinking the Use of Hormones to Ease Menopause Symptoms

Publicado no New York Times

Desde o grande estudo governamental chamado WHI - Women's Health Initiative (Iniciativa de Saúde da Mulher) que encontrou um número de riscos associados com os hormônios da menopausa, milhões de mulheres que estão próximas ou em plena menopausa foram deixadas às ondas de calor e outros sintomas por conta própria. Mas agora, uma nova pesquisa sugere que os benefícios do tratamento com hormônios de curto prazo para controlar os sintomas perturbadores da qualidade de vida da menopausa superam os riscos - desde que o tratamento seja iniciado perto ou no início da menopausa.

Há também grande quantidade de produtos agora disponíveis e diferentes maneiras de usá-los que melhoram a segurança de reposição hormonal. E há ainda um aplicativo para ajudar as mulheres e seus médicos explorar várias opções e escolher o tratamento mais adequado.

Para as mulheres sem histórico de câncer, coágulos sanguíneos ou doença cardíaca, a maioria das sociedades médicas profissionais preocupados com a saúde das mulheres recomendam tratamento para os sintomas da menopausa, por até cinco anos utilizando terapia que combina estrogênio e progesterona e ainda por mais tempo para aquelas que empregam estrogênio sozinho.

Todos os dias, cerca de 6.000 mulheres nos Estados Unidos - mais de dois milhões de mulheres por ano - entram na menopausa. Em uma idade média de 51 anos, elas param de ter seus períodos de fluxo porque os seus ovários não produzem mais estrogênio suficiente para estimular o crescimento do revestimento uterino que é liberado a cada ciclo menstrual.

Durante meses antes e até uma década ou mais após a menopausa começa, muitas mulheres têm sintomas que podem diminuir seriamente a qualidade de suas vidas ao corromper sua produtividade, sono, humor e capacidade de desfrutar de relações sexuais.

O sintoma mais comum - fogachos - pode deixar algumas mulheres pingando de suor por minutos a uma hora, várias vezes por dia e especialmente durante a noite. A secura vaginal e a atrofia pode resultar em acentuado desconforto sexual, dor e sangramento com o exercício, infecções vaginais e urinárias e incontinência relacionadas à menopausa.

Até o início dos anos 2000, muitas mulheres com sintomas de menopausa usavam a terapia de reposição hormonal - TRH - para combatê-los. Mesmo algumas mulheres que não tinham sintomas perturbadores usavam a TRH porque estudos observacionais indicavam que reduziam o risco de doenças cardiovasculares, e livros e artigos populares sugeriam que adiaria sinais de envelhecimento.

Em seguida, em 2002, os resultados do maior ensaio clínico randomizado de reposição hormonal, a Iniciativa de Saúde da Mulher (WHI), criou uma espécie de pânico na menopausa, o que levou milhões de mulheres de meia-idade  a parar ou não começar a tratamentos hormonais e os médicos não os prescreviam.

O estudo constatou que, entre as mulheres tratadas com hormônios, houve um aumento do risco de ataques cardíacos, derrames, coágulos de sangue e, o mais assustador de tudos os problemas para muitas mulheres, um risco ligeiramente maior de câncer de mama entre aquelas randomizadas que usavam o modelo líder de TRH - a associação de estrogênios equinos conjugados (Premarin) e uma progestina sintética, medroxiprogesterona, (Provera) recomendado para mulheres que ainda tinham o útero. (Aquelas sem útero, que foram randomizados para tomar estrógenos conjugados sozinho, não tiveram aumento no câncer de mama, na verdade, elas tiveram uma ligeira diminuição do risco.)

A combinação hormonal protegia contra fraturas de quadril e reduziu o risco de câncer colorretal, mas para a esmagadora maioria das mulheres na menopausa, os riscos de TRH pareciam - na superfície - superar os benefícios.

Dra JoAnn E Manson
No entanto, de acordo com Drª. JoAnn E. Manson, uma endocrinologista e uma das principais pesquisadoras para o WHI, "Os resultados do WHI foram seriamente mal compreendidos e mal interpretados", e milhões de mulheres para quem os benefícios compensam claramente os riscos term seus tratamentos desnecessariamente negados. "O pêndulo oscilou longe demais", disse ela.

O estudo WHI, na verdade, não tinha nada a ver com os sintomas da menopausa. A maioria dos 27,347 mulheres que entraram no estudo já estavam em seus anos 60 e 70, já com uma década ou mais passada da menopausa. Pelo contrário, o estudo foi desenhado para determinar se a TRH poderia, na verdade, reduzir o risco de doenças cardíacas, a principal causa de morte de mulheres americanas. Entre essas mulheres mais velhas, que não se encontrou tal efeito.

Nos anos após os resultados do WHI, muitas novas análises e estudos levaram especialistas a repensar a noção de se evitar a reposição hormonal, especialmente para as mulheres dentro de poucos anos da menopausa cuja história pessoal e da família não as colocava em risco elevado para câncer de mama.

Dr. Howard N. Hodis
Especialistas como a Drª. Manson, o professor de medicina na Harvard Medical School e do Hospital Brigham & Women, sustentam que os resultados do estudo WHI não são relevantes para o uso mais comum de TRH para as mulheres nos seus 50 anos e para aquelas que experimentam precocemente a menopausa como um resultado de tratamentos médicos.

Dr. Howard N. Hodis, um cardiologista preventivo na Universidade do Sul da Califórnia, disse que gasto de um bilhão de dólares do estudo WHI fez "um grande erro" ao iniciar os hormônios em mulheres mais velhas, quando o dano cardiovascular já poderia ter ocorrido. "A proteção cardiovascular encontrada em estudos observacionais envolviam mulheres que eram mais jovens e quando faziam TRH logo aos primeiros anos da menopausa", disse ele.

Em um estudo randomizado controlado dinamarquês com 1.006 mulheres entrando na menopausa, entre as que receberam hormônios por 10 anos, "houve uma redução na doença cardiovascular e câncer de mama - um benefício claro com o risco nominal", disse Dr. Hodis. Estes benefícios persistiram após 16 anos de follow-up, de acordo com o estudo, que foi publicado em 2012.

Dr. Hodis é especialmente perturbado com a relutância em prescrever estrógenos para mulheres na menopausa que tiveram uma histerectomia e não precisam de progesterona para prevenir o câncer endometrial.

Em uma análise em 2013 no American Journal of Public Health , o Dr. Philip M. Sarrel e seus co-autores calcularam que, com base nas taxas de mortalidade reduzidas entre mulheres que tomam estrogênio isolado no estudo WHI, ao evitar a reposição hormonal se resultou em mortes prematuras de 18.601 a 91.610 mulheres na década após o lançamento do estudo.

Drª. Manson está angustiada sobre o grande número de mulheres - cerca de um terço das pessoas agora em reposição hormonal - que estão confiando em produtos "customizados" (sem acompanhamento médico) que não foram revisados ​em segurança e eficácia pela Food and Drug Administration. Eles são vendidos sem nenhuma advertência em um folheto informativo e poderia conter contaminantes e dosagens inconsistentes, disse ela.

"Há pouca ou nenhuma razão para se buscar produtos customizados", disse ela. "As mulheres hoje têm muitas opções. Uma grande variedade de doses, da reduzida à tradicional e de maneiras de usá-los" Além de comprimidos, existem patches, géis e sprays aplicados sobre a pele. Sintomas vaginais e sintomas urinários podem ser tratados com inserções vaginais contendo pequenas quantidades de estrogênio, que não entram na corrente sanguínea e, portanto, são seguros para as mulheres que tiveram câncer de mama.

Para ajudar as mulheres e seus médicos a avaliar opções de TRH e selecionar o melhor tratamento para as mulheres com 45 e mais velhas com os sintomas da menopausa, o North American Menopause Society tem desenvolvido um aplicativo móvel, "MenoPro", para os dispositivos iPhone / iPad e Android.

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sábado, 3 de dezembro de 2016

Ficando monótono: gordura saturada é saudável




GORDURA SATURADA PODE SER BOA PARA VOCÊ

Título original:
Saturated fat could be good for you

Um estudo norueguês desafia a tradicional ideai de que a gordura saturada não é saudável
THE UNIVERSITY OF BERGEN

Publicado em 02/12/2016
Um novo estudo de intervenção alimentar norueguês (FATFUNC), realizado por investigadores no Centro KG Jebsen de Pesquisa para a Diabetes da Universidade de Bergen, levanta questões sobre a validade de uma hipótese dietética que tem sido dominante por mais de meio século: que a gordura alimentar e em especial a gordura saturada não é saudável para a maioria das pessoas.
Os pesquisadores descobriram efeitos para a saúde notavelmente semelhantes entre dietas à base de (alimentos) com pouco processamento com carboidratos ou gorduras. No estudo controlado randomizado, 38 homens com obesidade abdominal seguiram um padrão dietético elevado em hidratos de carbono ou gorduras, das quais cerca de metade era saturada. A massa de gordura na região abdominal, fígado e coração foi medida com análises precisas, juntamente com um número de fatores de risco para doença cardiovascular.
Dr. Ottar Nygård
"A elevada ingestão de gordura total e saturada não aumentou o risco calculado de doenças cardiovasculares", diz o professor e cardiologista Ottar Nygård, que contribuiu para o estudo.
"Os participantes na dieta com teor muito alto de gordura também tiveram melhorias substanciais em vários fatores importantes de risco cárdio-metabólico, como o armazenamento de gordura ectópica, pressão arterial, lipídios do sangue (triglicerídeos), insulina e glicose no sangue."
Alimentos de alta qualidade são mais saudáveis
Ambos os grupos receberam fontes semelhantes de energia, proteínas, ácidos graxos poli-insaturados, os tipos de alimentos foram os mesmos e variaram principalmente na quantidade, e a ingestão de açúcar adicionado foi minimizada.
Vivian Veum
"Nós aqui examinamos os efeitos da total e gordura saturada no contexto de uma dieta saudável rica em alimentos frescos, pouco processados, nutritivos, incluindo boas quantidades de legumes e arroz em vez de produtos à base de farinha", diz a candidata a PhD, Vivian Veum.
"As fontes de gordura também eram de pouco processamento, principalmente manteiga, nata e óleos prensados ​​a frio."
O consumo total de energia estava dentro da faixa normal. Mesmo os participantes que aumentaram sua ingestão de energia durante o estudo mostraram reduções substanciais nas reservas de gordura e risco de doença.
"Nossas descobertas indicam que o princípio fundamental de uma dieta saudável não é a quantidade de gordura ou carboidratos, mas a qualidade dos alimentos que comemos", diz o candidato a PhD Johnny Laupsa-Borge.
A gordura saturada aumenta o colesterol "bom"
As gorduras saturadas têm sido pensadas como promotoras de doenças cardiovasculares, aumentando o "mau" colesterol - LDL - no sangue. Mas mesmo com uma ingestão de gordura mais elevada no estudo FATFUNC em comparação com a maioria dos estudos semelhantes, os autores não encontraram aumento significativo nos níveis de colesterol LDL.
Em vez disso, o colesterol "bom" aumentou apenas com a dieta com teor muito alto de gordura.
"Estes resultados indicam que a maioria das pessoas saudáveis, provavelmente toleram bem uma alta ingestão de gordura saturada, desde que a qualidade da gordura seja boa e a ingestão total de energia não seja muito elevada. Isso pode ser até promotor de saúde", diz Ottar Nygård.
"Estudos futuros deverão examinar quais as pessoas ou os pacientes podem precisar limitar a sua ingestão de gordura saturada", aponta o professor assistente Simon Nitter Dankel, que conduziu o estudo juntamente com o diretor das clínicas laboratoriais, professor Gunnar Mellgren, do Haukeland University Hospital, em Bergen, Noruega.
"Mas os supostos riscos de saúde de comer gorduras de boa qualidade têm sido muito exagerados. Pode ser mais importante para a saúde pública incentivar reduções de produtos processados à base de farinha, gorduras altamente processadas ​​e alimentos com adição de açúcar", diz ele.
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Fatos: O FATFUNC-estudo
  • O estudo é chamado (FATFUNC) e foi realizada por investigadores no Centro KG Jebsen para a Investigação da Diabetes, Departamento de Ciência Clínica na Universidade de Bergen.
  • No estudo controlado randomizado, 38 homens com obesidade abdominal seguiram um padrão alimentar com alto teor tanto de carboidratos (53% do total de energia, de acordo com as recomendações oficiais típicos) ou de gorduras (71% do total de energia, dos quais cerca de metade foi saturada).
  • A massa de gordura na região abdominal, fígado e coração foi medida com análises precisas (tomografia computadorizada, CT), juntamente com um número de fatores de risco para doença cardiovascular.



sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Redefinir a alimentação - uma politica de saúde e sustentabilidade





Esquecer as calorias e focar nos nutrientes, esse é o caminho

A nutrição é um problema de política global de alimentação que todo mundo vê mas não se discute apropriadamente

Título do original:

'Diet is global food policy's elephant in the room'


A política global de alimentação precisa trocar o foco da quantidade de calorias para as pessoas e se focar em alimentar as pessoas com dietas saudáveis, dizem os especialistas.
Eles afirmam que as dietas espúrias foram responsáveis ​​por mais problemas na saúde global do que sexo, drogas, álcool e tabaco combinados.
Enquanto quase 800 milhões de pessoas passam fome, dizem dois bilhões de pessoas estão com sobrepeso ou obesos.

Essas discussões foram publicados na revista Nature .

Um dos especialistas, Lawrence Haddad, diretor executivo da Aliança Global para Melhor Nutrição (GAIN), disse que a necessidade de resolver o problema da fome mundial se mantém, mas as dietas medíocres são um problema muito maior.
"É aquela para o qual nós somos cegos", explicou o Sr. Haddad.
"Nós estimamos que uma em cada três pessoas tem uma dieta muito ruim", disse à BBC News.
"Isso está causando uma série de problemas de má nutrição e que têm consequências massivas para a saúde, bem como também implicações econômicas."
"Nós estamos dizendo para as pessoas, especialmente os responsáveis ​​políticos e financiadores de pesquisa, que agora precisamos nos afastar de um mundo que pensa em desnutrição como a fome, mas sim pensar nisso como fome e um dieta de má qualidade."
"Em vez de dar comida para o mundo, precisamos pensar em nutrir o mundo."
Sr. Haddad e seus colegas, incluindo o conselheiro científico chefe do ex-governo do Reino Unido, Prof Sir John Beddington, usaram a publicação na Nature para clonclamar para uma "urgente pesquisa interdisciplinar se fazendo necessária para apoiar uma ação política articulada".

Alimentando o Planeta

Em outro comentário publicado na Nature, a embaixadora da boa vontade da ONU, Pavan Sukhdev e outros autores destacam como os padrões de produção e consumo atuais não seriam sustentáveis.
Monocultura como trigo, arroz, milho ou soja - grandes problemas

"Os sistemas alimentares são nesse momento a fonte de 60% de perda de biodiversidade terrestre, 24% das emissões de gases com efeito estufa, 33% da degradação do solo e 61% do esgotamento dos estoques comerciais de peixe", eles escreveram.
"E a crescente homogeneização das fontes de alimentos em todo o mundo está diminuindo a diversidade genética em animais e plantas que é crucial para garantir as necessidades nutricionais humanas contra as mudanças climáticas e outras crises."
Eles acrescentam que o setor da agricultura foi um ator global significativo economicamente, empregando cerca de 1,3 bilhão de pessoas.
"A agricultura em pequena escala fornece subsistência, emprego e a maioria dos alimentos consumidos diretamente pelos residentes urbanos em todo o mundo em desenvolvimento", eles observaram.
Eles alertaram que as métricas atuais para a agricultura não levaram em conta os custos e benefícios do setor.
"A ênfase sobre os rendimentos ou lucros por hectare é tão redutora e disruptora sobre o seu produto interno bruto, com a sua indiferença para o capital social e natural", eles relataram.
"As métricas sobre os alimentos devem ser urgentemente revistas ou senão os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (SDGs em inglês) nunca serão alcançados."
Adotada em Setembro de 2015, os ODS da ONU substituiu as metas internacionais de desenvolvimento do milênio e inclui metas para acabar com a fome no mundo, e melhorar o bem-estar e a saúde da população global.

Estatísticas em alimentação

O sr. Haddad disse que a melhoria das "métricas dos alimentos" seria uma das primeiras coisas que ele examinaria para melhorar, a fim de mudar a política global de alimentos a uma trajetória sustentável.
"Os dados em alimentação são abomináveis", disse ele.
"Nós só temos um indício de que nossas dietas são tão terríveis por causa das consequências, porque há tanta desnutrição em micronutrientes, deficiência de calorias e obesidade.
"Temos alguns dados de dieta e eles não nos contam uma grande história."
Ele acrescentou: "Se os políticos estão realmente indo descobrir qual vai ser a primeira, segunda ou terceira coisa que eles vão ter que fazer, então eles vão precisar de alguns bons dados para realizar algum trabalho de diagnóstico."
Escrevendo na revista Nature, o Sr. Haddad e seus colegas disseram: "Os formuladores de políticas precisam urgentemente reconhecer que as dietas estão comprometendo a produtividade da economia e bem-estar como nunca antes. Os delegados para os próximos G20 e G7 em 2017 devem tomar a responsabilidade coletiva para consertar o nosso falho sistema de alimentação."



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terça-feira, 29 de novembro de 2016

Leite integral emagrece




Crianças que bebem leite integral são mais magras, e tem mais vitamina D 


Título original: Kids who drink whole-fat milk slimmer than those who drink low-fat

AFP Relax News

Uma nova pesquisa canadense descobriu que as crianças que bebem leite integral são mais magros do que aqueles que bebem as versões com baixo teor de gordura: semi-desnatado ou desnatado.

O estudo, publicado esta semana no American Journal of Clinical Nutrition, também descobriu que crianças que consomem leite integral têm níveis de vitamina D mais elevados.

Realizado por uma equipe do Hospital St. Michael em Toronto, os pesquisadores analisaram 2.745 crianças de dois a seis anos.

A equipe pesquisou os pais sobre o consumo de leite, medida de altura e o peso das crianças para calcular o Índice de Massa Corporal (IMC), e recolheram amostras de sangue para avaliar os níveis de vitamina D.

Dos inquiridos, 49 por cento beberam leite integral (com um teor de gordura 3,25 %), 35 por cento beberam leite com teor de 2,0 %, e 12 por cento beberam leite com 1,0 % e 4 por cento beberam leite desnatado. Menos de um por cento das crianças beberam alguma combinação dos quatro tipos de leite.

Os pesquisadores descobriram que as crianças que bebiam leite integral tinham um escore de Índice de Massa Corporal 0,72 unidades menores do que aqueles que beberam leite com 1 ou 2 por cento, comparável à diferença entre ter um peso saudável ou estar acima do peso, como comentou o autor principal do estudo Dr. Jonathon Maguire.

Além disso, as crianças que bebiam uma xícara de leite integral por dia tinham níveis de vitamina D mais elevados, comparáveis ​​aos que beberam cerca de três xícaras de leite a um por cento.

A equipe sugeriu que os níveis mais elevados de vitamina D pode ser explicado por essa vitamina ser solúvel em gordura. Como ela se dissolve em gordura, em vez de água, o leite com maior teor de gordura contém, logicamente, mais vitamina D.

Também poderia haver uma relação inversa entre a gordura corporal e reservas de vitamina D, com um aumento da gordura corporal das crianças, os seus níveis de vitamina D diminuem.

Embora a pesquisa não examine o porquê de existir uma ligação entre o leite integral e menores escores no IMC, o Dr. Maguire sugeriu que devido ao seu maior teor de gordura, as crianças que bebiam leite integral sentiam-se mais saciadas do que aqueles que beberam a mesma quantidade com leite com reduzido teor de gordura ou desnatado. As crianças que não se sentiam saciadas poderiam ter mais probabilidade de lanchar outros alimentos, que possivelmente são menos saudáveis ​​ou mais elevados em calorias, e no final ter um consumo global de calorias maior do que aqueles que bebem leite integral.

As diretrizes atuais de Saúde do Canadá, National Institutes of Health e da Academia Americana de Pediatria vai contra as conclusões do estudo, recomendando duas porções de leite com baixo teor de gordura (um por cento ou dois por cento), para crianças com idade superior a dois anos para reduzir o risco de infância obesidade, mas o Dr. Maguire comenta que a nova pesquisa indica a necessidade de averiguar novamente essas orientações nutricionais existentes.

A obesidade infantil triplicou na América do Norte nos últimos 30 anos, enquanto o consumo de leite integral diminuiu pela metade durante o mesmo período.





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