O cristal branco errado: não é o sal, mas o açúcar o agente etiológico da hipertensão e de doenças cardio-metabólicas.
O artigo a seguir saiu no jornal Openheart, e foi divulgado
pelo portal médico Medscape (o mais importante da literatura de pesquisa dos
EUA). O título é bem provocativo: O cristal branco errado: não o sal mas o
açúcar é o agente etiológico da pressão alta e da doença cardio-metabólica.
Embora possa ser encontrado muita bibliografia discutindo o real papel do sal
na pressão alta, e também sobre o papel da insulina (portanto dos carboidratos)
na etiologia dessa enfermidade, esse estudo é um dos que merece mais atenção em
sua divulgação, pois pareceu ser mais respeitado pelos seus dados e por
advertir diretamente as entidades oficiais a reverem postura para os cuidados
dietéticos amplos para a população geral, dizendo que o controle de açúcar
(carboidratos, frutose etc.), - o que valida, por exemplo as propostas do
pesquisador em frutose Robert Lustig, - é o mais correto e que deve ser posto em prática, e que a
preocupação com o sal além de não eficiente, pode ser até contra produtiva, o
que se alinha a posição mais antropológica sobre o papel do sal na alimentação
humana. Isso, sem dúvida, fornece mais base teórica que justifique uma
alimentação low carb/paleo, como uma postura alimentar mais promissora para a
manutenção da saúde humana. (Sobre o sal e a pressão alta já publiquei no BLOG AQUI)
RESUMO
A doença cardiovascular é a
principal causa de mortalidade prematura no mundo desenvolvido, e hipertensão é
o seu fator de risco mais importante.
Controlar a hipertensão é um dos
principais focos das iniciativas públicas de saúde e as abordagens dietéticas
têm historicamente se focado no sódio. Embora o potencial benefício dessas
estratégias de redução de sódio sejam discutíveis, um fato sobre o qual há
pouco debate é que as principais fontes de sódio na dieta são os alimentos
processados industrialmente. Acontece que esses alimentos processados também
são geralmente ricos na adição de açúcar, cujo consumo pode ser mais forte e
diretamente associado à hipertensão e ao risco cárdio-metabólico. Estudos de
evidências epidemiológicas e ensaios experimentais em animais e seres humanos
sugerem que essa adição de açúcares, principalmente de frutose, pode aumentar a
pressão arterial e a variabilidade da pressão arterial, aumentando a frequência
cardíaca e a demanda de oxigênio do miocárdio, e contribuir para a inflamação,
a resistência à insulina e disfunção metabólica mais ampla. Assim, enquanto não
há nenhuma argumento de que as recomendações para reduzir consumo de alimentos
processados sejam altamente apropriadas e difundidas, o raciocínio desta revisão é de que o benefícios de tais
recomendações tenha pouco a ver com o sódio - minimamente relacionada com a
pressão arterial e talvez, de fato, inversamente relacionado com o risco cardiovascular
- e mais a ver com os carboidratos altamente refinados. É hora dos comitês de
diretrizes mudarem o foco para longe do sal e dar maior atenção ao provável
aditivo alimentar com mais consequências: o açúcar.
Uma redução na ingestão dos
açúcares adicionados, particularmente da frutose e, especificamente, nas
quantidades e no contexto dos alimentos processados industrialmente, ajudaria
não só reduzir as taxas de hipertensão, mas também pode ajudar no alcance de
problemas mais amplos, relacionados com
as doenças cárdio-metabólicas.
Introdução:
A doença cardiovascular (DCV) é a
causa número um de morte prematura no mundo desenvolvido, a hipertensão 1-3
e é o seu mais importante fator 4 de risco. A hipertensão foi
apontada como um fator primário ou contribuinte para mais de 348.000 mortes nos
EUA em 2009 5 com custos para a nação que excedem 50.000 milhões de dólares
anualmente. 6 Controlar a hipertensão é um grande foco das
iniciativas de saúde pública e as abordagens dietéticas para tratar a hipertensão,
historicamente tem se focado no sódio. No entanto, os benefícios potenciais de
redução de sódio são discutíveis.7-9 Reduzir a ingestão de sódio
pode diminuir as medidas da pressão arterial em algumas pessoas singulares, mas
reduções médias de pressão arterial não ultrapassam 4,8 mmHg para a sistólica (a
mais alta) e 2,5 mmHg para a diastólica - sendo generoso (apenas considerando
os limites de confiança superiores e considerando apenas as pessoas com
hipertensão) 10 e não é claro se haveria um benefício prático para a
saúde a partir de tais reduções. De fato, há alguma evidência sugerindo que a
redução da ingestão de sódio pode levar a piores resultados para saúde, como a
mortalidade cardiovascular e por qualquer causa em pacientes com diabetes, 11 e hospitalizações e mortalidade aumentada
para pacientes com insuficiência cardíaca congestiva.12-15 Mais
importante ainda, os dados mais recentes, abrangendo mais de 100 000 pacientes
indica que o consumo de sódio entre 3 e 6 g / dia está associado a um menor
risco de morte e eventos cardiovasculares em comparação com qualquer nível
maior ou menor de ingestão. 16 17 Assim, as diretrizes que
aconselham a restrição da ingestão de sódio inferior a 3 g / dia pode ser
prejudicial (may cause harm).
Estratégias para reduzir a
ingestão de sódio na dieta têm o foco (implicitamente, se não explicitamente)
na redução do consumo de alimentos processados: as principais fontes de sódio
no diet.18 Por exemplo, a Food and Drug Administration (FDA)anunciou
recentemente que está elaborando orientações pedindo para que a indústria de
alimentos reduzam voluntariamente os níveis de sódio.19
No entanto, a média de ingestão
de sódio em populações ocidentais é de aproximadamente 3,5-4 g / dia.20
Cinco décadas de dados indicam que a ingestão de sódio não mudou a partir deste
nível através de diversas populações e hábitos alimentares, apesar dos esforços
da redução de sódio em toda a população e mudanças no suprimento alimentar.21
22 Tal estabilidade no consumo sugere controle fisiológico ajustado, o
que se, realmente esse for o caso, pode significar que a redução dos níveis de
sódio no abastecimento alimentar pode ter consequências inesperadas. Uma vez
que os alimentos processados são a principal fonte de sódio na dieta, 18, se
esses alimentos se tornarem menos salgados, poderia haver um aumento
compensatório no seu consumo para obtenção do sódio para as demandas da
fisiologia.
Coincidentemente, os alimentos
processados desponta como as principais fontes, não apenas de sódio, mas também carboidratos altamente
refinados, ou seja, vários açúcares e os amidos simples que eles dão origem
através da digestão. Provas convincentes da ciência elementar, estudos
populacionais, e os ensaios clínicos implicam os açúcares, e em particular a
frutose (um monossacarídeo), como aqueles que desempenham um papel importante
no desenvolvimento da hipertensão. Além disso, as evidências sugerem que os
açúcares em geral, e a FRUTOSE em particular, pode contribuir para o risco
cardiovascular global através de uma variedade de mecanismos. Diminuir os
níveis de sódio nos alimentos processados poderia levar a um aumento do consumo
de açúcares e amidos e, assim, aumentar a hipertensão e a doença cárdio-metabólica
em geral (figura 1).
CIÊNCIA BASICA: sacarose, frutose, hipertensão arterial e risco
cardiovascular
Sacarose, ou açúcar de mesa, é um
dissacarídeo constituído por dois monossacarídeos: glicose e frutose. A
sacarose é um ingrediente comum em alimentos processados industrialmente, mas
não tão comum como outro adoçante: o xarope de milho (HFCS – ou Xarope de milho
de alto teor de frutose). Considerando que a sacarose tem igualdade de partes em
frutose e glicose, e o HFCS tem mais frutose (geralmente 55%) do que a glicose
(os restantes 45%), esse último é o adoçante mais utilizado nos alimentos
processados, particularmente em bebidas de fruta e sodas.24
Ratos alimentado com sacarose tem
estimulado o sistema nervoso simpático (SNS), 25 o que leva a um
aumento na frequência cardíaco, 26 da secreção de renina, a retenção
renal de sódio e resist6encia vascular.27 Todos estes efeitos
interagem para elevar a pressão do sangue e, de fato, os ratos alimentados com
sacarose aumentam a sua pressão arterial. 28-33 A sacarose na
alimentação também induz outras alterações, tais como resistência à insulina,
como parte de um disfunção metabólica mais ampla. 28-33 Além disso, o consumo de açúcar ou HFCS pode
levar a um aumento na pressão sanguínea através outros mecanismos, tais como hiperleptinemia,
um aumento em metilglioxal, e uma redução de ATP (figura 2) .23 A figura
2 descreve os possíveis mecanismos através dos quais pode a frutose contribuir
para a hipertensão.
A frutose pura induz resultados
semelhantes àqueles da ingestão da sacarose, tanto em roedores28 34 e 35
quanto em humanos.36-42 Embora o consumo elevado de frutose isoladamente
ou sacarose possam levar à resistência à insulina, 43-46 é a frutose
que tem sido implicada como o açúcar responsável em reduzir a sensibilidade do
tecido adiposo para a insulina.47 A insulina estimula o SNS (sistema nervoso simpático) 26 48-50
e a hiperinsulinemia pode conduzir a hipertensão, com o grau de resistência à
insulina em tecidos periféricos correlacionados diretamente com a severidade da
hipertensão.51 52 A redução da resistência à insulina pode levar a
uma redução da pressão arterial, 48 e a hiperinsulinemia parece estar mais relacionada com a frutose do que
glucose.53
Figura 2
A relação entre frutose e insulina
Normalmente assume-se que a a frutose não estimula a insulina.
Não de forma direta como a glicose. mas temos que observar o metabolismo como um amplo evento,
![]() |
Karo é o xarope de milho |
Vide excelente texto publicado em Nutrition e Metabolism sobre esse tema (artigo em PDF disponível AQUI! A frutose chegou a ser opção de açúcar para diabetes (algo já abandonado) justamente pois não seria um estímulo direto à insulina. Nos idos dos anos 60 esse carboidrato simples, principalmente, aquela que vem do milho, fonte barata em termos econômicos ganhou popularidade e ampla penetração nos alimentos processados americanos e mesmo como substituto de fins terapêuticos. Os resultados atuais mostraram que isso foi uma péssima escolha, e muitos assumem que o xarope de milho de alto teor de frutose (HFCS) está relacionado com a onda de obesidade e outras perturbações metabólicas nos Estados Unidos.
Estudos Populacionais: frutose e outros açúcares e a saúde cárdio-metabólica
A resistência à insulina é visto
em cerca de 25% da população em geral e até 80% dos indivíduos com hipertensão
"essencial".54 Em comparação
aos não-diabéticos, os diabéticos têm uma maior prevalência de hipertensão.55
56 Esta desproporção é independente do peso, sugerindo que a resistência
à insulina, e não a obesidade por si só, o que aumenta o risco de hipertensão.
De fato, aproximadamente 50% dos pacientes hipertensos têm hiperinsulinemia em comparação
com apenas 10% de pacientes normotensos. 57 Além disso, os pacientes
hipertensos tem diminuição da sensibilidade à insulina, aumento da insulina
basal e uma diminuição da taxa de eliminação de glucose após um teste de
tolerância à glicose por via intravenosa quando comparado com normotensos,
mesmo após o ajuste de outros fatores de risco.58 Uma dieta rica em
açúcar foi reconhecida como causa de deterioração da tolerância à glicose, 59
e existem correlações positivas entre o açúcar consumido 20 anos antes e a diabetes.60
A análise econométrica recente
mostrou que um aumento na disponibilidade de açúcar é direta e
independentemente associada - com um aumento na prevalência da diabetes.61
Na verdade, um aumento na disponibilidade de açúcar de 150 quilocalorias /
pessoa / dia foi verificado estar associado significativamente com um aumento
da prevalência de diabetes (1,1%, p <0,001). Este risco foi 11 vezes maior
em comparação com um aumento de 150 quilocalorias / pessoa aumento / dia na
disponibilidade total de calorias, apoiando a noção de que o açúcar pode ser
distinto entre as (demais fontes de) calorias no seu prejuízo potencial para a
saúde metabólica.
Em comparação com os pacientes que
consomem menos de 10% de suas calorias dos açúcares adicionados, aqueles que
consumiram entre 10,0-24,9% de suas calorias a partir de açúcares adicionados,
têm um risco aumentado em 30% da mortalidade por CVD.62 Aqueles que
consomem 25% ou mais calorias provenientes da adição de açúcares têm quase um
risco três vezes maior.62 Dados do National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES 2003-2006)
indica que a ingestão média de frutose é
de 83.1g / dia.63 De forma preocupante, é referido que a ingestão de
> 74 g / dia de frutose é, de forma independente, associada com 26%, 30% e
77% maiores riscos para um a pressão arterial > 135/85 mm Hg, 140/90 e
160/100, respectivamente.36 Consumir bebidas adoçadas com açúcar tem
sido diretamente associada ao aumento da pressão arterial em um estudo de quase
2.700 pessoas de 10 populações dos EUA / Reino Unido, independente do peso
corporal e altura.64
Em uma revisão sistemática de 12
estudos de coorte (transversal e prospectivo), abrangendo mais de 400 000
participantes, a ingestão de bebidas adoçadas foi significativamente associada
com o aumento da pressão arterial e aumento da incidência de hipertensão.65
Os autores concluíram que, "a ingestão de > 360 ml de bebida adoçada
com açúcar por dia pode aumentar o risco de ter hipertensão em, pelo menos, 6%,
e pode aumentar a média da pressão arterial sistólica num mínimo de 1,8 mm Hg num
período de 18 meses. "Essas bebidas podem conter substancialmente mais
frutose do que se pensava, 66 67 e o consumo de bebidas adoçadas teve
demonstrado aumentar o risco não apenas de hipertensão, mas da doença
coronariana, acidente vascular cerebral e outras doenças cárdio-metabólicas,
incluindo a obesidade e a diabetes.68-74 Ao redor do mundo, o
consumo desse tipo de bebida tem sido implicada em 180 000 mortes / ano.75
Ensaios clínicos: Modificando a ingestão de açúcar e os resultados nas
doenças cárdio vasculares (e eventos relacionados)
Alguns indivíduos apresentam um
aumento da pressão arterial após apenas algumas semanas com uma dieta rica em
sacarose (definido como 33% do consumo calórico total por sacarose).76
De fato, uma meta-análise de ensaios clínicos randomizados mostrou que a maior
ingestão de açúcar significativamente aumenta a pressão arterial sistólica (6,9
mm Hg, p <0,0001) e diastólica (5,6 mm Hg, p = 0,0005) versus menor uma ingestão
de açúcar em ensaios de oito semanas ou mais de duração.77 Além
disso, quando os estudos que receberam financiamento da indústria do açúcar
foram excluídos da análise, a magnitude da elevação da pressão sanguínea foi
ainda mais pronunciada (7,6 milímetros Hg sistólica, 6,1 milímetros Hg, diastólica,
em média). A maior ingestão de açúcar também aumentou significativamente os triglicerídeos,
o colesterol total e a lipoproteína de baixa densidade, independente dos
efeitos sobre o peso corporal e quando pareados por calorias (o que sugere que
os açúcares podem promover dislipidemia através de mecanismos independentes das
calorias adicionais que fornecem) 77 No entanto, os dados
experimentais mostraram que os pacientes consumindo 28% da sua energia a partir
de sacarose (aproximadamente 152 g de sacarose por dia, principalmente de
bebidas) por apenas 10 semanas tem um aumento significativo no peso corporal
(1,6 kg), bem como aumentos na massa de gordura (1,3 kg), além de aumentos na
pressão sanguínea (3,8 milímetros de Hg, na sistólica e 4,1 milímetros Hg na diastólica).78
Quanto aos diferentes efeitos de diferentes açúcares (por exemplo, sacarose [glicose
+ frutose] vs frutose sozinha, em particular), um estudo analisou as respostas
de pressão arterial para várias soluções de açúcar em 20 homens saudáveis
normotensos.79 A ingestão da solução de sacarose aumentou
significativamente a pressão arterial sistólica em 9 mm Hg. O aumento na
pressão sanguínea sistólica resultante da solução apenas de frutose (4 mm Hg)
não foi estatisticamente significativa, no entanto, a resposta mais baixa pode
ter sido devido a pobre absorção de frutose quando não acompanhada pela glicose.80
No entanto, a frutose teve o maior efeito antinatriuréticos (retenção de sódio
pelos rins), 80 sugerindo um mínimo papel da retenção de sódio como
um mecanismo de resposta da pressão arterial à ingestão do açúcar adicionado.
Outro estudo mostrou uma resposta hipertensiva mais pronunciada quando se bebe uma
bebida adoçada com HFCS (frutose + glicose) versus uma bebida adoçada com
sacarose em indivíduos saudáveis (15/9 mm Hg vs 12/9 mm Hg) e ambas as bebidas
aumentam a frequência cardíaca em 9 bpm (batimentos por minuto).81
Outros estudos sugeriram que a
frutose pode ser isoladamente prejudicial para o sistema cardiovascular. Em um
estudo cross-over randomizado em adultos jovens saudáveis (21-33 anos de
idade), a ingestão de uma solução de frutose (60 g) aumentou a pressão arterial
sistólica (6,2 ± 0,8 mm Hg).82 Um aumento semelhante na pressão
arterial não foi visto com a ingestão de uma solução de glicose, mas ambas as
bebidas claramente elevam a frequência cardíaca e a ejeção cardíaca.82
Os autores concluíram que a frutose, mas não a glicose, pode causar elevação da
pressão arterial, aumentar o débito cardíaco sem uma vasodilatação periférica
compensatória; considerando que tanto a glicose e frutose aumentam a pressão
arterial e a variabilidade da demanda de oxigênio do miocárdio. O aumento
acentuado da pressão arterial sistólica e da variabilidade da pressão arterial
com a frutose é preocupante, uma vez que estes são fatores de risco
independentes para complicações macrovasculares e microvasculares na diabetes tipo
2.83 Além disso, a variabilidade da pressão arterial está associada
a um risco aumentado de AVC (acidente vascular cerebral) 84 e o
desenvolvimento de hipertensão e danos em órgãos-alvo, mesmo sem mudanças na
pressão arterial média.85
A frutose pode causar outros
danos cárdio-metabólicos também. Em um estudo randomizado de 74 homens adultos,
uma dieta de alto teor de frutose por apenas duas semanas, não só aumentou
significativamente as medições do MAPA (controle ambulatorial por 24 da pressão
arterial) (+7/5 mm Hg, p <0,004 e p = 0,007, respectivamente) e aumento da
taxa de pulso de 8 % (4 bpm), como também aumentou os triglicérides, a insulina
de jejum e índice de avaliação do modelo homeostático (uma medida da
resistência à insulina e função das células-β, conhecida pela sigla HOMA, NT).86
Além disso, a frutose reduziu os níveis de lipoproteína de alta densidade (HDL)
e dobrou a prevalência da síndrome metabólica, com 25-33% dos pacientes
desenvolvendo essa condiçÃo.86 Reduzindo a ingestão de frutose (de
59 para 12 g / dia) foi mostrado reduzir a pressão arterial, os níveis de
insulina em jejum e a inflamação em pacientes com doença renal crônica. 87
Uma advertência dietética crítica
Importante sublinhar, que é
provável que apenas a frutose e outros açúcares (por exemplo, como os
encontrados em alimentos processados e bebidas adoçadas) como “aditivos” é que podem
ser um problema. Alimentos que naturalmente contém açúcares, incluindo a
frutose, parecem ser benignos no seu contexto biológico habitual (isto é, no
contexto do acompanhamento de água, fibra, e outros carboidratos, ou mesmo
gorduras e proteínas como em muitos alimentos de origem vegetal). De fato, em
um estudo, a mudança de uma dieta ocidental, para uma dieta que contenha cerca
de 20 porções de fruta inteiras significativamente diminui a pressão arterial
sistólica, apesar da ingestão de frutose de aproximadamente 200 g.88
Além disso, um estudo randomizado com 131 pacientes com duas dietas com baixa
‘adição de frutose’ (uma dieta baixa em frutose com <20 g / dia, e uma dieta
de frutose moderada com 50-70 g / dia, incluindo fontes naturais, como frutas)
mostraram melhoras comparáveis da linha de base na pressão sanguínea, lipídios,
glicemia, resistência à insulina, ácido úrico, ICAM-1 (molécula-1 de adesão
intercelular solúvel) e escores de qualidade de vida.89
(Observação: O Brasil produzia em 1961 cerca de 6.8 milhões de toneladas de frutas, e 33 milhões de toneladas em 2000 *, a população cresceu um pouco mais que o dobro no período, enquanto a produção aumentou 5x. É possível que a disponibilidade de frutas também possa interferir no acesso à frutose, além dos óbvios alimentos processados amplamente disponíveis atualmente, por isso a preocupação do dr Lustig com o consumo de certas frutas em pacientes com distúrbios metabólicos - a tabela de frutose em frutas já está nesse BLOG AQUI)
(Observação: O Brasil produzia em 1961 cerca de 6.8 milhões de toneladas de frutas, e 33 milhões de toneladas em 2000 *, a população cresceu um pouco mais que o dobro no período, enquanto a produção aumentou 5x. É possível que a disponibilidade de frutas também possa interferir no acesso à frutose, além dos óbvios alimentos processados amplamente disponíveis atualmente, por isso a preocupação do dr Lustig com o consumo de certas frutas em pacientes com distúrbios metabólicos - a tabela de frutose em frutas já está nesse BLOG AQUI)
Os atuais níveis de consumo de açúcar e as
diretrizes alimentares
Aproximadamente 300 anos atrás,
os humanos tinham o consumo de apenas alguns quilos de açúcar por ano.90
Estimativas mais recentes sugerem a ingestão da população de qualquer local dos
EUA entre 35-70 quilos de açúcar por
ano, 91 92 com 13% consumindo pelo menos 25% da sua ingestão
calórica total com açúcar adicionado.63 Esse nível de consumo
equivale a um consumo médio aproximado de açúcares de 24-47 colheres de chá
(cerca de 100-200 g) por dia, com uma média diária de consumo de frutose 83,1
g. 63 A tabela 1 (itens alimentares do mercado norte americano,
por exemplo uma garrafa de 600 ml de Coca-cola tem 65 g de açúcar) sugere
como pode ser possível tal grande ingestão, mostrando alguns itens alimentares
populares e as taxas de açúcar associadas a porções de consumo.93 Em
um estudo com mais de 1000 adolescentes americanos (com idade entre 14-18), a
ingestão média diária de açúcares adicionados foi de 389 g para os meninos e
276 g para as meninas, ou até 52% da ingestão do valor calórico total.90
O nível de ingestão implícito de frutose adicionada sob tais números (pelo
menos 138 gramas diárias) é chocante, especialmente considerando que não há
exigência fisiológica para adição de açúcar, ou particularmente de frutose, na
dieta, portanto os potenciais danos da ingestão claramente superam qualquer
benefício potencial.94
A American Heart Association (AHA) não faz recomendações específicas
sobre a frutose, mas recomenda não mais do que seis colheres de chá de açúcar
por dia para as mulheres, e não mais de nove colheres de chá de açúcar por dia
para os homens.95 A OMS (Organização Mundial da Saúde) também não
faz recomendações especiais sobre a frutose, mas recomenda que os açúcares
adicionados não devem ser mais do que 10% de toda a nossa ingestão calórica
diária, com uma proposta para reduzir esse nível ainda mais (para 5% ou menos)
para saúde ideal.96 Em colheres de chá, a OMS aconselha não mais de
6-12 colheres de chá - por dia (com base em uma dieta de 2000 calorias por
dia). Mesmo nos níveis mais elevados de tolerância, isto é apenas um pouco mais
do que a quantidade de açúcar de uma única lata de Coca-Cola (cerca de 40 g de
açúcar / 10 colher de chá). Preocupante é que uma garrafa de um litro de Coca-Cola
(com 400 calorias) pode ser adequado para beber de acordo com as liberais
recomendações do Institute of Medicine
(IOM), que permitem que uma ingestão de açúcares adicionados alcancem até 25% das
calorias totais diárias.97 Tal permissão é um problema. A adição de
açúcar neste nível pode aumentar o risco de morte por doença cárdio vascular quase
três vezes.62
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Tabela 1 1 oz = aproximadamente 30 ml (29,57) |
Outras orientações dietéticas não
se concentram no açúcar, mas no sal. Por exemplo, as Diretrizes de Manejo de Estilo de Vida para Reduzir o Risco Cardiovascular
da Associação Americana de Cardiologia
(AHA)/Colégio Americano de Cardiologia (ACC) de 2013 recomendam a redução
da ingestão de sódio para 2400 mg / dia com nova redução para 1500 mg / dia, a
fim de promover uma redução ótima da pressão.98 Tais restrições
alimentares podem não resultar em um benefício, pode produzir danos, e pode desviar
o foco dos demais cristais brancos de
maior preocupação.99 O açúcar pode ser muito mais significativamente
relacionado com a pressão arterial do que o sódio, como sugerido por uma maior
magnitude de efeito com sua manipulação dietética.10 77 Não há
menção no guia AHA / ACC de reduzir a ingestão de açúcares adicionados a um
determinado nível, e esta omissão é preocupante. Ainda assim, como as fontes
alimentares mais substanciais de sódio também são muitas vezes as fontes
alimentares mais substanciais dos açúcares adicionados (ou seja, alimentos
processados), conselhos para limitar o consumo de sódio poderiam
coincidentemente resultar em menor consumo de açúcar também. Por isso mesmo as
orientações alimentares potencialmente mal orientadas poderia fortuitamente
resultar em um benefício.
CONCLUSÃO
As dietas ricas em açúcar pode
contribuir substancialmente para a doença cardio-metabólica. Enquanto os açúcares
naturais na forma de alimentos integrais como as frutas não são preocupantes, há evidências epidemiológicas e
experimentais que sugerem que a adição
de açúcares (particularmente aqueles projetados para serem ricos em frutose)
são um problema e deve ser orientado de forma mais explícita, nas diretrizes
alimentares para apoiar a saúde cardio-metabólica e em geral.
A adição de açúcares,
provavelmente é de maior preocupação do que a de sódio na dieta para
hipertensão, e a frutose, em particular, pode isoladamente aumentar o risco
cardiovascular por incitar a disfunção metabólica e aumento da variabilidade da
pressão arterial, a demanda de oxigênio pelo miocárdio, a frequência cardíaca e
inflamação. Assim como a maioria do sódio na dieta não vem do saleiro, a
maioria do açúcar da dieta não vem do açucareiro; reduzindo o consumo de
açúcares adicionados, limitando os alimentos processados que os contenham, produzido
pelas corporações poderia ser um bom ponto de partida. Na verdade, reduzir o
consumo de alimentos processados seria compatível com as diretrizes já existentes
que equivocadamente se concentram em cristais brancos de menor importância
(sal).
As futuras orientações dietéticas
devem defender a substituição dos alimentos processados altamente refinados (ou
seja, aqueles provenientes das corporações) para alimentos naturais integrais
(isto é, aqueles que vêm de fontes vegetais reais) e ser mais explicitamente
restritiva na sua permissão para a adição de açúcares. A evidência é clara que
mesmo doses moderadas de açúcar adicionado por curtos períodos de tempo pode
causar danos substanciais. (O box 1- em inglês - fornece importantes resumos).
OBS.: Açúcar adicionado diz respeito a todo aditivo de alimentados processados, incluindo produtos mais triviais como yogurte adoçado, energéticos, etc.
Consumir esse tipo de alimento, obviamente, não cumpre os requisitos de comida de verdade, e deve ser evitado, ou consumido com grande cautela!
Uma interessante abordagem sobre a hipertensão pode ser vista AQUI:
Conheça um pouco mis sobre as ideias de Robert Lustig sobre a frutose AQUI
(*) Sobre a produção de frutas no Brasil LINK
Fonte:
http://openheart.bmj.com/content/1/1/e000167.full.pdf+html (com todas as referências bibliográficas)