Probióticos para uma nutrição otimizada: eficácia e diretrizes
Os estudos sobre os efeitos da flora intestinal ganharam um grande impulso no ano passado.
A primeira vez que li algo sério sobre o tema, era um tanto inovador - a ideia GAPS da médica e
pesquisadora Natasha C Mcbride. Seria uma associação entre sintomas de autismo e flora intestinal.LINK
Isto data de 30 anos. Se no início isso parecia algo demasiadamente especulativo, hoje é bem mais aceito. Esse site LINK reune artigos atualizados sobre o tema. Já existe pelo menos um instituto de estudo específico sobre essa questão o Instituto Americano de Microbioma LINK.
Esse artigo é um pouco mais antigo e foi publicado no prestigiado jornal da American Society for Nutrition. Embora já lide com potenciais produtos comerciais com probióticos, fornece informações básicas sobre o tema. Creio que vale a pena ser lido. Muitos alimentos tradicionais baseados na FERMENTAÇÃO tem a finalidade de promover benefícios na flora intestinal. Considerando sua importância é de suma importância conhecer sua lógica, uma vez que muitas pessoas que aderem a dietas low carb e paleo percebem uma mudança no seu hábito intestinal. O consumo de alimentos tradicionais, fermentados pode ser uma fundamental estratégia de equilíbrio da função do intestino.
Esse artigo fornece informação básica sobre o tema.
Autores:
Gordon S.
Howarth,3,4* Ross N. Butler,4,5 Seppo Salminen,6
Glenn R. Gibson,7 and Sharon M. Donovan8
A manipulação da microbiota entérica (flora intestinal) com
o objetivo de melhorar a saúde do intestino não é uma estratégia nova. Isto tem
sido tentado através da utilização de antibióticos desde os anos 1940. No
entanto, apesar da identificação do primeiro probiótico datar de 1917, os
progressos na aplicação terapêutica com probióticos (bactérias promotoras da
saúde) foram ficando enfraquecidos na consciência e demanda do consumidor. De
fato, apenas nos últimos 5-10 anos os cientistas começaram a compreender os
mecanismos de ação probiótica e sua aplicabilidade associada a condições
específicas das enfermidades. Isso abriu espaço para debate sobre as
implicações regulatórias para os probióticos e a posterior comercialização de
alegações (= publicidade, NT) específicas para saúde, influenciado por
indicações de fatores provenientes de certos probióticos que podem ser
terapeuticamente úteis. Quatro palestrantes discutiram o desenvolvimento
específico de novos probióticos e fatores probióticos, as mais recentes técnicas
para avaliar a sua eficácia, o crescente leque de condições de aplicabilidade para
os probióticos, e as mudanças subjacentes associados nas exigências
regulamentares.
Na primeira apresentação, o Dr. Gordon Howarth sumarizou os
mecanismos conhecidos da ação probiótica descrita, até o momento atual, que
incluem a inibição competitiva da ligação epitelial, a modulação do sistema
imune das mucosas, modulação da cinética dos enterócitos (apoptose e proliferação),
produção de bacteriocina, e melhoria da função de barreira da mucosa (1). No
entanto, a maioria, se não todos os probióticos exercem várias combinações destes
mecanismos de ação e é altamente improvável que um único probiótico exerça um
único mecanismo de ação. No entanto, muitas vezes, um mecanismo de ação irá
predominar. Por exemplo, a capacidade de Escherichia
coli Nissle 1917 de manter a função da barreira epitelial foi bem
documentada, ao passo que muitos bifidobactérias e lactobacilos são capazes de
estimular respostas imunes nas mucosas.
A chave para os estudos pré-clínicos de eficácia reside no
alinhamento dos componentes específicos da patogênese de uma determinada condição
com os mecanismos de ação conhecidos ao probiótico candidato. Atualmente, tanto
in vitro como in vivo (modelo animal) estratégias estão sendo utilizadas para
rastrear as dezenas de milhares de probióticos candidatos para eficácia terapêutica.
Talvez o maior desafio para os pesquisadores durante a próxima década será o
desenvolvimento de sistemas de ensaio mais robustos para prever a eficácia do probiótico
in vivo. A pesquisa do Dr. Howarth suporta a mucosite (inflamação de mucosas do
tubo digestivo) induzida por quimioterapia como um sistema de modelo útil,
porque sua patogênese foi bem descrita, incorporando aspectos de redução da
função de barreira, produção de radicais de oxigênio, diminuição da proliferação
dos enterócitos, aumento da apoptose, e, no caso da mucosite induzida pelo
metotrexato – a reduzida biodisponibilidade de folato. Consequentemente, os
candidatos probióticos capazes de combater os aspectos específicos destas
funcionalidades patogênicas podem ser pré-selecionados para as investigações
pré-clínicos (e, posteriormente, clínicas). Por exemplo, o probiótico produtor
de ácido fólico, Streptococcus
thermophilus TH-4, tem demonstrado eficácia contra a mucosite induzida pelo
metotrexato numa configuração pré-clínica enquanto o probiótico produtor de
tiol, Lactobacillus fermentum BR11,
foi demonstrado capaz de reduzir os
indicadores de inflamação aguda do intestino.
Paradoxalmente, o recente sucesso terapêutico da preparação probiótica
conhecida como VSL # 3 (uma combinação de 4 espécies de lactobacilos, 3
espécies de bifidobacteria, e mais o Streptococcus thermophilus) poderia efetivamente
inibir o desenvolvimento específico de novos probióticos. O VSL # 3 já entrou na
medicina dominante, apresentando propriedades terapêuticas superiores a regimes
de tratamento convencionais para a terapêutica de certas variantes de doença
inflamatória do intestino. No entanto, em alguns casos, o seu sucesso provocou
uma abordagem bastante aleatória para o desenvolvimento de composições
probióticas que podem não ser necessariamente capazes de combater as
características específicas de um determinado tipo de doença. Na verdade, essa
abordagem tem o potencial de identificar os probióticos capazes de exacerbar
certas desordens. Por exemplo, o Lactobacillus
rhamnosus GG, probiótico amplamente disponível, tem sido demonstrado
aumentar a gravidade da AINE-enteropatia (causada por anti-inflamatórios não
esteroides, como o diclofenaco, NT) na situação experimental.
Cada vez mais, fatores liberados a partir de bactérias
probióticas estão sendo descritos por seu potencial em duplicar muitos dos
mecanismos manifestados por sua paternidade bacteriana. De fato, em estudos in
vitro, predominantemente, sobrenadantes probióticos acelulares foram demonstrados
aumentar a resistência epitelial, estimular respostas imunes nas mucosas, e
diminuir a apoptose enterócita (2). Além disso, as proteínas específicas responsáveis
por efeitos fisiológicos estão começando a ser identificados. Para este fim, um
número crescente de bacteriocinas que têm sido descritas serem capazes de
diminuir a viabilidade de agentes patogênicos, tais como a uropatogênicas E. coli e a Listeria monocytogenes. Embora um pouco atrasado em comparação com
o desenvolvimento terapêutico e aplicação dos antibióticos, as linhas gerais do
desenvolvimento pré-clínico estratégico de novos probióticos através de sua
aplicação clínica está se tornando mais bem definidas. Talvez o próximo desafio
seja a identificação de biomarcadores capazes de identificar de forma não
invasiva a eficácia probiótico in vivo.
Em seguida, o Dr. Ross Butler revisou como os biomarcadores
não-invasivos podem ser usados para avaliar a função do intestino. A mucosa
gastrointestinal pode ser estressada por uma variedade de fatores ambientais
que vão desde agentes fisiológicos, psicológicos e ambientais, dietéticos, e
relacionados com medicamentos, para uma série de doenças, distúrbios e
síndromes. Atualmente, existem alguns biomarcadores funcionais disponíveis para
avaliar função intestinal, em especial por meios não-invasivos. Por exemplo,
permeabilidade do intestino delgado pode ser determinada na urina ou no sangue,
utilizando uma estimativa das proporções lactulose: ramnose ou lactulose:manitol,
medidas em um tempo designado após ingestão de quantidades conhecidas destes
açúcares. Isto essencialmente provê uma mensuração da perda de permeabilidade da
junção apertada (tight junction) entre
as células epiteliais. Isso também dá uma indicação indireta da redução de uma
área de superfície, implicando danos à mucosa. Mais recentemente, o laboratório
do Dr. Butler desenvolveu um teste de respiração para quantificar a extensão de
danos no intestino delgado,
utilizando a enzima da borda em escova - a sacarase
- como uma enzima informativa (3). Isso fornece um indicador do estado de
saúde, grau de dano, e, portanto, a função absortiva da vilosidade do intestino
delgado.
Uma vez que a vilosidade é a principal unidade de absorção de
macro e micro-nutrientes no intestino delgado, o
seu grau de comprometimento funcional representa uma útil biomarcador que
pode ser facilmente aplicado a estudos de intervenção probióticas em desordens
tais como diarreia infecciosa. Este biomarcador demonstrou uma correlação entre
a redução da absorção de zinco e o grau de lesão intestinal na doença celíaca e
enteropatia ambiental. Verificou-se ainda serem úteis para revelar a ausência da
eficácia de um probiótico para a diarreia infecciosa em lactentes australianos
indígenas. Recomenda-se que os biomarcadores do estado funcional da função de
barreira no intestino delgado ser incorporados em estudos de intervenção-probióticas.
Isso permitirá a estratificação de populações com uma enteropatia preexistente
e a implementação de biomarcadores objetivos para avaliar a resposta às intervenções
baseadas em probióticos.
O potencial de determinados probióticos de regularem
negativamente respostas imunes sugere aplicações para probióticos para situações
além de doenças gastrointestinais. O desenvolvimento da doença atópica é frequentemente
associada com a prematuridade, o tipo de parto, e história familiar de doenças
alérgicas. O próximo orador, Dr. Seppo Salminen, revisou vários estudos que
demonstram a capacidade de probióticos específicos de evitar moléstias alérgicas,
principalmente nos casos com envolvimento alimentar precoce. Entretanto, resultados
conflitantes foram relatados, com vários fatores de imprecisão, incluindo as
propriedades mecânicas deum determinado probiótico sob investigação, propriedades
de cepas específicas, e modelos de estudo e meta-análise de dados adequados
(4).
Inúmeros desequilíbrios da microbiota intestinal têm sido
associados ao desenvolvimento da doença atópica. A microbiota intestinal da mãe
e do leite (da amamentação) pode revelar detalhadas informações sobre a
interação entre a microbiota e a criança nas doenças alérgicas. A microbiota
intestinal é transferida da mãe para o filho e a microbiota do leite materno
continua essa interação, modulando desenvolvimento da microbiota na criança e,
assim, influenciando a saúde da mesma (5). A eficácia dos probióticos na prevenção
da doença atópica é influenciada por propriedades específicas de cepas (strain-específic),
reveladas por estudos genômicos, juntamente com o impacto da produção em
propriedades probióticas e matrizes de alimentos como veículos de entrega.
Os padrões do estudo, também são conhecidos por afetar a
eficácia dos probióticos. Estudos focados na intervenção perinatal têm geralmente
sido mais bem sucedidos. Na verdade, a incorporação de aconselhamento nutricional
em tais estudos tem se demonstrado influenciar beneficamente os resultados. A
exposição à probióticos específicos precocemente tem um impacto (positivo) para
a mãe e o bebê, e fatores como a duração da lactação também pode ter influência
tardia na saúde. Muitas meta-análises e revisões abrangentes têm sido relatadas,
mas poucos se houver alguma, levam em consideração as propriedades cepa-específicas
dos probióticos e o impacto dos processos de manufatura ou matrizes de
alimentos. Estudos de intervenção humanos bem desenhados são uma alternativa
superior à meta-análises para melhor identificar as cepas probióticas eficazes,
combinações de cepas probióticas, ou fatores probióticos derivados capazes de
prevenir o desenvolvimento de condições atópicas. Além disso, uma alimentação
saudável e equilibrada também deve ser
recomendada para mulheres grávidas com potencial do aconselhamento nutricional
para ajudar a atingir as metas de saúde para a mãe e para o bebê.
O orador final, o Dr. Glenn Gibson, analisou as evidências
promissoras para a eficácia dos probióticos para a prevenção, tratamento e
gestão de uma série de distúrbios infecciosos e não infecciosos. Por exemplo,
na síndrome do intestino irritável, Bifidobacterium
infantis tem sido associado com normalização da razão basal das citocinas IL-10: IL-12. A formulação probiótica VSL # 3 foi avaliada em um estudo
com 34 pacientes ambulatoriais com colite ulcerativa com uma taxa observada de remissão / resposta de
77%. Além disso, uma meta-análise de pacientes com diarreia aguda mostraram que
os probióticos reduziu significativamente a diarreia associada à antibióticos
em 52%, diarreia dos viajantes em 8%, e diarreias agudas de diversas causas em
34%. No contexto da diarreia por Clostridium
dificile, 135 pacientes hopitalziados foram randomizada para receber uma
bebida probiótica contendo Lactobacillus casei DN-114 001 ou uma bebida placebo
duas vezes por dia. Apenas 12% dos pacientes no grupo probiótico desenvolveu diarreia
com o uso de antibióticos em comparação com 34% no grupo placebo. É importante
notar que nenhum dos pacientes no grupo probiótico tinham diarreia causada por
C. difficile em comparação com 17% dos doentes tratados com placebo. Cada vez
mais, as aplicações probióticos estão sendo estendidos para transtornos não gastrointestinais.
Por exemplo, foi relatado que algumas das dificuldades gastrointestinais nas
desordens do espectro autístico poderia ser melhorada pela ingestão de L.
plantarum (6).
Em resumo, com o surgimento de reivindicações especificas para
saúde com o emprego de probióticos específicos
e combinações de probióticos, diretrizes regulatórias precisarão ser
substancialmente modificadas, com implicações importantes para todos os médicos
e nutricionistas. Adicionalmente, a identificação de fatores específicos, terapeuticamente
benéficos de sobrenadantes probióticos livres de células sinaliza para
necessária a necessidades de um quadro de regulamentação que vai muito além da
atual classificação de "gêneros alimentícios".
Instituições
dos palestrantes:
3School of Animal and Veterinary
Sciences, University of Adelaide, Roseworthy, South Australia;
4Centre for Paediatric and Adolescent
Gastroenterology, Women’s and Children’s Hospital, North Adelaide, South
Australia;
5Sansom Institute for Heath Research,
University of South Australia, Adelaide, South Australia; 6Functional
Foods Forum, University of Turku, Turku, Finland;
7Department of Food and Nutritional
Sciences, University of Reading, Reading, UK; and
8Department of Food Science and
Human Nutrition, University of Illinois, Urbana, IL.
* Para quem correspondência deve ser endereçada. E-mail:
gordon.howarth@adelaide.edu.au.
720 A2012 Sociedade Americana de Nutrição. Adv. Nutr. 3:
720-722, 2012; doi: 10,3945 / an.112.002501.
Esse artigo diz respeito a apresentação feita no simpósio “Probiotics for Optimal Nutrition: from
Efficacy to Guidelines” realizado em
23 de abril de 2012 nas Sessões Científicas da Reunião Anual em Biologia
Experimental de 2012, San Diego, CA. O simpósio foi patrocinado pela American Society for Nutrrition e
generosamente apoiados por concessões educacionais irrestritas de Abbott
Nutrition (Columbus, OH), Bioprospectar Limited (Melbourne, Austrália), Danisco
EUA Inc. (Madison, WI), Danone
(Palaiseau Cedex, França), Kraft Foods, Inc. (Glenview, IL), e a Pfizer
Nutrition (Collegeville, PA).
Sobre financiamento de pesquisas por autor: GS Howarth
recebeu financiamento da pesquisa de BioProspect Limited e é apoiado por uma
bolsa de estudos de pesquisador sênior do Conselho Sul Australiano de Saúde e
pelo Instituto de Pesquisa Médica e Câncer da Austrália do Sul Senior Research.
RN Butler recebeu financiamento da pesquisa da BioProspect Limited e é apoiado
por uma bolsa de estudos do Conselho Sul Australiano de Saúde e Instituto de
Pesquisa Médica e Câncer da Austrália do Sul. S. Salminen recebeu fundos para
pesquisa da Mead Johnson e Danisco. GR Gibson é um membro dos conselhos
consultivos para Clasado e Ganeden.
Seu laboratório recebe financiamento de várias indústrias de probióticos e
prebióticos. No entanto, isto não teve qualquer influência para este artigo. SM
Donovan recebeu apoio à pesquisa e de consultoria da Abbott Nutrition e Pfizer
Nutrition.
Artigo
original:
ASN 2012
ANNUAL MEETING SYMPOSIUM SUMMARIES
Probiotics
for Optimal Nutrition: from Efficacy to Guidelines
Index:
2012
American Society for Nutrition. Adv. Nutr. 3: 720–722, 2012;
doi:10.3945/an.112.002501.
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