segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

A QUESTÃO DA PROTEÍNA DE SOJA - Uma história incompleta



PROTEÍNA DE SOJA
POR DENTRO DA GAIOLA

(tradução do capítulo 13 do livro The Whole Soy Story,
um livro expressamente sugerido pelo blog)
Cunhado da palavra grega "protos", proteína significa "primeiro" ou "de primordial importância". Precisamos proteína de alta qualidade em nossas dietas para o crescimento, reparação, funções imunológicas, formação de hormônios e de todos os processos metabólicos. Nós não podemos viver sem proteína.
Nossos corpos contêm mais de 50.000 tipos de proteínas, todas construídas a partir de blocos básicos de construção conhecidos como aminoácidos. Nove destes aminoácidos são considerados "essenciais" para os seres humanos, porque não podem ser  fabricados por conta própria e deve-se obtê-los através da dieta. Se os aminoácidos "essenciais" estão presentes em quantidades suficientes, pode-se construir os aminoácidos "não-essenciais". Mas, se um ou mais estão em falta, o corpo irá falhar de sintetizar muitas das enzimas, anticorpos e outras proteínas de que necessita.
Para a maioria de nós, a síntese de proteínas fica prejudicada não apenas quando os aminoácidos essenciais estão faltando, mas também quando seus suprimentos estão reduzidos. Nós também perdemos a capacidade de produzir quantidades suficientes durante períodos de infecção, problemas crônicos de saúde, agressão física ou mental, e na fase de rápido crescimento (bebês e crianças). Consequentemente, muitos cientistas respeitados acreditam que precisamos obter muitos mais aminoácidos do que os considerados essenciais de nossa alimentação, tanto que até outros oito aminoácidos devem ser considerados "condicionalmente essenciais". Esses incluem a arginina, glicina, prolina, glutamina, tirosina, serina, cisteína e taurina. 1,4
Tradicionalmente produtos de origem animal, como ovos, leite, peixe, aves e carnes têm sido valorizados como fontes das melhores proteínas. Eles contêm um "conjunto completo" de aminoácidos essenciais, e nas proporções desejadas. Em contraste, as proteínas de origem das plantas são "incompletas" porque elas são escassas em alguns dos aminoácidos essenciais. Os aminoácidos que estão em falta nesses alimentos são conhecidos como os "aminoácidos limitantes." Apenas a falta de um destes elementos basta para reduzir ou mesmo desligar o processo do organismo na fabricação das proteínas. Na soja e outros legumes, o aminoácido limitante é a metionina. Nos cereais, é a lisina. Assim, feijão e cereais são tradicionalmente consumidos juntos para maximizar a qualidade da proteína. Em decorrência disso no México, podemos ter tortillas de milho com feijão, no Oriente Médio grão de bico e pão pita, e na Ásia, a soja com arroz. Em todas as culturas, alimentos de origem animal, pelo menos em pequenas quantidades, são adicionados às combinações de grãos de leguminosas, para garantir um fornecimento total de aminoácidos. No Japão, isso significa que os cubinhos de tofu são quase sempre servidos em um caldo com peixe e arroz. 5
FEIJÃO SUPREMO?
Comparado a outros alimentos vegetais, a soja ganha uma alta classificação em termos de quantidade e qualidade de proteína. Entre 35 e 38 por cento da proteína de soja é comparado com 20 a 30 por cento com outros feijões. 6  A percentagem de proteína sobe para 70 por cento ou mais em produtos de proteína de soja processada tais como a proteína de soja concentrada e isolada onde a maior parte da gordura e dos carboidratos foram removidos.
A soja também goza de status como a mais alta qualidade de proteína vegetal, pois contém todos os aminoácidos essenciais. Embora "conter todos" não seja o mesmo que "conter uma relação completa e equilibrada" desses aminoácidos essenciais, a Organização Mundial de Saúde (OMS), os EUA através da sua agência de Administração de Alimentos e Medicamentos (Food and Drug Administration - FDA) e muitos governos atualmente aceitam um sistema de classificação que coloca a soja em pé de igualdade com a caseína e a clara de ovo como um produto de alta qualidade proteica. 7
Este reconhecimento se impôs como demonstração do poder dos lucros e da política sobre os rigores científicos.
A GUERRA DA CLASSIFICAÇÃO
Em 1919, cientistas criaram um método de avaliação da qualidade da proteína conhecido como o Índice de Eficiência Proteica (PER). O PER é baseado em como ratos se desenvolvem sob uma proteína específica, e esses resultados são então extrapolados para os humanos. O problema é que os ratos crescem mais rápido e mais peludos do que as pessoas. Estas diferenças ditam diferentes exigências de aminoácidos. Os seres humanos têm uma menor necessidade de metionina - o aminoácido limitante (os aminoácidos limitantes são aqueles que estão presentes em determinados alimentos em concentrações menores que as exigidas para o máximo de síntese protéica, EASTER (1985), NT)   na soja e de outros legumes, e essa limitação faz com que os ratos mostrem um desenvolvimento deficiente sob a soja. Assim sendo, o PER da proteína de soja fica em uma classificação de 70, em comparação com 100 para a caseína e 82 para a carne. 8
Os escores da proteína de soja melhoram discretamente, quando se usa um sistema chamado Valor Biológico (BV), que mede a quantidade de proteína ingerida em comparação com a quantidade de proteína absorvida. O BV mais elevado é o da proteína do soro de leite (WHEY) (104), seguido pelo ovo inteiro (100), clara de ovo (88), caseína (77) e a proteína de soja (74). 9 Outros sistemas em uso, tais como PER Relativo (RPER), Razão Proteica Líquida (NPR, em inglês) e Razão Proteica Líquida Relativa (RNPR, em inglês) classificam os produtos a base de proteína na mesma ordem, com a soja consistentemente mantendo uma performance medíocre. 10
Esses escores pouco enobrecedores não agradaram a indústria da soja.
AÇÃO POSITIVA
Para fazer a soja parecer mais esperta, os pesquisadores no final de 1970 trouxeram um sistema conhecido como Escore Corrigido da Digestibilidade Proteica dos Aminoácidos (PDCAAS, em inglês). Os cientistas têm elogiado o PDCAAS não por causa de sua sequência impressionantemente longa de iniciais, mas porque ele calcula as exigências humana (e não do rato) de aminoácidos, corrigida pela digestibilidade e pontua baseando-se na demanda de proteína para crianças entre dois a cinco anos de idade, o grupo humano com a maior necessidade de proteína (afora os nenês). Este sistema dá à proteína de soja uma boa classificação de 100, no topo junto com a caseína (uma proteína do leite) e a proteína da clara do ovo  e um pouco à frente da carne.11  Com esta nova classificação A + a soja parece assumir seu apelido chinês "a carne sem osso. "
O problema é que o PDCAAS foi criado de forma que nenhuma proteína possa marcar escore superior a 100, a pontuação da proteína de referência. A clara de ovo e a caseína equivalem à soja porque elas não podem pontuar mais alto. 12 Em outras palavras, os alunos C obtém as mesmas elevadas honrarias de estudantes de notas A legitimamente merecedores, um esclarecedor modelo da ação afirmativa patrocinada pela indústria.
No passado, a soja sempre ficava aquém nas análises de qualidade de proteína, devido à sua quantidade limitada de metionina. Menos conhecidos são seus outros problemas. Ghulam Sarwar, PhD, da Divisão de Pesquisa de Nutrição do Centro de Investigação Banting em Ottawa, nos adverte que a pontuação PDCAAS "claramente superestima a qualidade da proteína de fontes que também contêm fatores antinutricionais." 13
Como veremos na Parte IV (desse livro), a soja contém muitos antinutrientes. Eles incluem inibidores de tripsina, lectinas, saponinas, fitatos, todos são fatores depressores do crescimento que ocorrem naturalmente. A qualidade da proteína de soja é também comprometida pelas toxinas formadas durante o seu processamento. A soja atualmente é tratada rotineiramente com calor, agentes oxidantes (como peróxido de hidrogênio), os solventes orgânicos (tais como hexano), alcalinos e ácidos, ou combinações de tais tratamentos, para melhorar a textura, aroma e outras propriedades funcionais, para desativar os fatores naturais antinutricionais, e para preparar os produtos de proteína concentrada. Estes tratamentos resultam em biodisponibilidade mais baixa de aminoácidos e numa qualidade mais pobre da proteína. Por exemplo, os PDCAAS para a proteína isolada de soja (SPI) obtida pelo tratamento alcalino é 49 por cento do valor da proteína da soja não tratada, apesar dos gráficos vistos pelo público pareçam mais favoráveis. 14
E as coisas podem ficar ainda piores. Os métodos de testes de aminoácidos utilizados para determinar a pontuação PDCAAS não fazem distinção entre as formas Dr. Jekyll / Mr. Hyde dos aminoácidos. A alta temperatura, a pressão e os produtos químicos podem transformar as formas L-aminoácidos (levogira) utilizáveis ​​e necessárias em formas potencialmente tóxicas D-(dextrogira). Técnicas para exame que podem fazer essa crucial distinção estão disponíveis, mas não estão em uso. 15-16
Um sistema tão falho só poderia ter sido arranjado fraudulentamente pela indústria alimentar.
A Proteína de Soja na Nutrição Humana, uma coleção de artigos lidos entre 22 e 25 de  maio em 1978, em uma  conferência em Keystone, Colorado, 17 conta a reveladora história da soja. O evento foi patrocinado, em parte, por Ralston-Purina, um grande fabricante de proteína isolada de soja, e reuniu pesquisadores que tinham vindo testar novos métodos de análise da qualidade da proteína para seres humanos. Estes métodos mediam o consumo e a excreção do nitrogênio porque o nitrogênio é o elemento que existe nas proteínas, mas não nas gorduras e nos carboidratos. Como usamos as proteínas em nossos corpos, nós excretamos nitrogênio em nossa urina e fezes. Os pesquisadores medem a quantidade de nitrogênio perdido para determinar a quantidade de proteína que é utilizada e quanto é necessário recuperá-la.
Ao longo da conferência, os pesquisadores expressaram reservas sobre os projetos do novo teste, a precisão dos métodos, e a motivação que levou o seu desenvolvimento. Muitos pareciam estar lutando bravamente para encontrar alguma forma, um jeito, de fazer a proteína de soja parecer melhor, na verdade torná-la realmente uma excelência. Um dos participantes se colocou de forma mais direta e disse: "Nós estamos tentando ajudar principalmente a indústria alimentar." 18 O resultado final do sistema PDCAAS mostra que para a indústria alimentar não importa quão boa a proteína (da soja) realmente seja, o que importa é quão boa ela pareça ser.
Antes que o PDCAAS pudesse ser aceito, no entanto, a soja teve que provar sua determinação como a principal proteína na dieta humana. Para tal são necessários cobaias, não animais, mas seres humanos. Ralston Purina se prontificou em patrocinar um estudo de curto prazo na América Central, intitulado "Qualidade Nutricional da Proteína Isolada de Soja: estudos em crianças de idade pré-escolar" 19Embora tenha se prolongado por apenas duas semanas, o estudo é rotineiramente citada para justificar a adequação nutricional da proteína de soja. É precisamente resumido da seguinte forma:
"Um grupo de crianças da América Central que sofrem de desnutrição foi primeiramente estabilizado e levado para uma melhor saúde, através da alimentação com comida nativa, incluindo carne e produtos lácteos. Então estes alimentos tradicionais foram substituídos por uma bebida feita com proteína isolada de soja e açúcar para um período de duas semanas.  Todo o nitrogênio consumido e todo o nitrogênio excretado foi mensurado de um modo verdadeiramente Orwelliano (as crianças eram pesadas despidas todas as manhãs, e todos os excrementos, incluindo o vômito seriam coletados para análise) Os pesquisadores verificaram que as crianças retiveram nitrogênio e que o seu crescimento foi ‘adequado’ e declararam a experiência um sucesso.
"Se as crianças estão realmente saudáveis ​​sob tal dieta ou se podem permanecer assim por um longo período, é outra questão. Os pesquisadores observaram que as crianças vomitavam "ocasionalmente” normalmente depois de terminada uma refeição; que mais da metade sofreu períodos de diarreia moderada, que alguns tiveram infecções respiratórias de vias superiores; e que outros sofreram de erupções cutâneas e febre. Deve-se ressaltar que os pesquisadores não ousaram utilizar produtos de soja para ajudar as crianças a iniciar a recuperação inicial da desnutrição e foram obrigados a suplementar a mistura de soja + açúcar com nutrientes amplamente ausentes nos produtos de soja, reconhecidamente, as vitaminas A, D, B12, mais o ferro, o iodo e o zinco." 20
Os cientistas identificaram muitos problemas com esses estudos. As crianças retém nitrogênio em taxas mais elevadas do que o normal enquanto estiverem desnutridas e precisem recuperar um atraso em seu crescimento. Fontes de proteína de soja ou quaisquer outras utilizadas ​​em tais crianças sempre alcançarão pontuações mais altas do que seria esperado em crianças normais. Além disso, o uso de proteína sempre varia de acordo com o estado fisiológico, o nível de atividade e outros fatores. 21 Adicionalmente, as diferenças de qualidade de proteína raramente mostram-se precários quando os níveis de ingestão são inadequados porque a quantidade pode, em grande medida, compensar a qualidade. Alimentos como a soja que fornecem todos os aminoácidos (embora com uma relação aquém da ideal) vão atingir o balanço de nitrogênio positivo máximo desde que ingeridos em quantidade suficiente. O fato de que proteínas como a carne sejam satisfatórias em uma quantidade muito menor não foi conectada a essas equações. 22
Diretrizes éticas sobre experiências com seres humanos exigem estudos limitados de curto prazo de duração, tornando-as essencialmente inúteis. O estudo da América Central durou duas semanas, embora as crianças testadas tivessem suporte prévio ao início do estudo com alimentos a base de carne e laticínios por um mês ou mais! 23 (Note-se que os pesquisadores não arriscaram a saúde de crianças dos EUA para este estudo.)
A curta duração do estudo não era incomum. Em meados dos anos 1960, uma série de estudos de balanço de nitrogênio para avaliar as proteínas vegetais durou apenas 16 dias. 24 E um estudo PDCAAS em adultos foi referido como "de longo prazo", apesar de se prolongar por apenas 11 semanas. 25 De curto prazo ou de longo prazo, tais estudos não fornecem evidências científicas sólidas de que as pessoas possam adotar com segurança a soja como sua principal fonte de proteína para a vida. Vegetarianos e outros que optam ano após ano pela soja como sua principal fonte de proteína estão involuntariamente se prestando - a si e seus filhos - a servir como cobaias em um verdadeiro estudo epidemiológico de efetivo longo prazo, mas não monitorado.
E os resultados já estão chegando, pelo menos informalmente. Médicos e nutricionistas estão ouvindo queixas e mais queixas de pele seca, cabelo sem brilho, calvície, perda de tônus ​​muscular, ganho de peso, fadiga, confusão mental, perturbações digestivas, alergias, deficiências imunológicas, disfunção de tireoide, distúrbios reprodutivos e assim por diante.
Estas queixas são totalmente previsíveis, quando se considera os aminoácidos que estão mal representados na proteína de soja.
AMINO ÁCIDO DESAFIADO: Metionina
Metionina, um amino ácido à base de enxofre, sempre aparece pouco na soja. Embora esteja presente, é muito sub-representada, devendo ser adicionado à fórmula para lactentes de soja e de alimentos para animais, à base de soja.
Sem metionina, os bebês não crescem o suficiente nem rápido o necessário.
As fórmulas a base de soja corresponde às fórmulas de leite de vaca em termos de taxas de crescimento se a metionina for adicionada. 26
Estudos em adultos são menos claros. A maioria estabelece que metionina extra não precise ser adicionada à proteína de soja, a menos que a ingestão de proteína total das pessoas seja tão baixa a ponto deles estarem sofrendo de desnutrição proteica. Necessidades mínimas de aminoácidos sulfurados parecem ser preenchidas numa quantidade de 38 gramas ou mais em uma ingestão diária de proteína (equivalente a proteína de 119 g de carne de vaca assada, 158 g de queijo cheddar ou quase cinco copos de leite integral), embora alguns os pesquisadores verificassem que muitas pessoas se beneficiam de quantidade consideravelmente maior. 27-28
Isso não é surpreendente, dado ao papel da metionina como um dos doadores mais importantes do grupo metila. Isto significa que ela é excelente doador de um único átomo de carbono com três átomos de hidrogênio ligados firmemente, uma molécula muito necessária para muitas conversões bioquímicas do corpo. Doença hepática, distúrbios cerebrais, osteoartrite, fibromialgia, fadiga crônica e depressão são apenas alguns dos distúrbios que responderam aos suplementos de metionina.
A metionina é também precursora da SAM (S-adenosil metiona) produzida pelo nosso fígado se ele for saudável o suficiente e se ele tiver suficiente metionina à sua disposição. Kilmer McCully, MD, autor de The Heart Revolution: The Extraordinary Discovery that Finally Laid the Cholesterol Myth to Rest (A revolução do coração: A extraordinária descoberta que finalmente colocou o mito do colesterol para descansar) 29 e The Homocysteine Revolution (A Revolução da Homocisteína), 30 e vencedor do Prêmio  Linus Pauling de 1998, observou que as dietas ricas em proteína de soja pode levar à síntese reduzida de SAM devida à deficiências de metionina. 31 Isso por sua vez, conduz ao aumento dos níveis de homocisteína, um amino ácido aterogênico, que se estiver elevado no sangue, indica um maior risco para doença cardíaca e derrame. Na década de 1950, os estudos com macacos Cebus (no Brasil seu representante é macaco prego, NT) mostraram que as dietas contendo proteína isolada de soja foram aterogênicas, mas alimentando esses macacos com metionina se impede a aterogênese, provavelmente por causa dos níveis plasmáticos reduzidos de homocisteína  ​resultante do aumento da síntese da SAM. 32-'33Recentemente, um estudo com professores aposentados em Baltimore revelou que um aumento na proteína dietética induz a uma homocisteína plasmática reduzida e que a diminuição de proteínas na dieta conduzia a um aumento na homocisteína do plasma. 34 Isso sugere que uma dieta rica em proteína de soja tem alta improbabilidade de ser boa para prevenir doenças do coração.
Finalmente, a metionina é crítica porque é o precursor de dois aminoácidos "condicionalmente essenciais" – a cisteína e a taurina.
CISTEÍNA
A cisteína é a forma instável de cistina, e o corpo converte um no outro, conforme necessário. Os níveis de açúcar no sangue dependem da cisteína para a produção do fator de tolerância de glicose (GTF) e insulina. A cisteína é considerada "condicionalmente essencial" porque os prematuros e os recém-nascidos a termo necessitam desse amino ácido para o equilíbrio adequado de nitrogênio e para o crescimento. A incapacidade do prematuro em fabricar cisteína e serina partir da metionina é devido ao fato da atividade da enzima cistationase ser reduzida durante o desenvolvimento fetal.35
Nutricionistas clínicos que testam o status de aminoácidos de seus clientes com exames adequados verificam muitas deficiências de metionina e cisteína/cistina, particularmente entre as pessoas em dietas ricas em soja. Um dos melhores suplementos no mercado agora é o MSM (metil-sulfonil-metano), uma forma útil de enxofre que ajuda a pessoas deficientes em metionina a curar sua pele, trato intestinal e articulações. Tudo isso sugere que várias pessoas precisam de mais metionina e outros amino ácidos que contenham enxofre, tanto quanto nosso pequeno amigo peludo - o rato. Os seres humanos que se vangloriam da pele bonita, úmida e grossa, cabelos brilhantes, invariavelmente, vivem em dietas ricas em enxofre. O enxofre foi apelidado de "mineral da beleza", pois fornece as ligações transversais que tornam a elastina e o colágeno da nossa pele forte, flexível e jovem.
A beleza fornecida pela metionina e cisteína/cistina é maior do que a intensidade da pele. Estes aminoácidos de enxofre otimizam a função do sistema imunológico e a capacidade do organismo para produzir a glutationa. A cisteína é também um dos três aminoácidos que constituem a glutationa, um dos mais importantes antioxidantes encontrados no corpo. A glutationa (gama-glutamil cisteína-glicina, ou γ-glutamilcisteinilglicina) protege as células pela desintoxicação de compostos prejudiciais, tais como peróxido de hidrogênio, radicais livres e cancerígenos, incluindo as nitrosaminas em produtos modernos de soja (ver Capítulo 11).
A glutationa é parcialmente responsável em proteger  o colesterol LDL  da oxidação e da obstrução arterial. Embora a soja tenha reputação de reduzir o colesterol, os ratos alimentados com proteína de soja que não foi fortificada com metionina mostraram um aumento do colesterol total e uma suscetibilidade aumentada para a peroxidação do colesterol LDL. Foi verificado que esses ratos têm níveis baixos de glutationa e também não cresceram, bem como o grupo de controle alimentado com caseína. 36
TAURINA
A taurina é o outro amino ácido contendo enxofre sub-representado em alimentos de soja. Como é o caso da cisteína, a formação de taurina requer enzimas ativas e das vias de metabolismo, que ainda não desenvolveram em recém-nascidos. A taurina é o segundo amino ácido mais abundante do leite humano, um amino ácido "condicionalmente essencial" que é rotineiramente adicionado às fórmulas infantis (popularmente chamados de leite em pó para nenês). 37 38
A depleção de taurina afeta aos adultos também. Edema, hipertensão, convulsões, degeneração macular, a diabetes, digestão deficiente de gordura, doença cardíaca e asma são todos ligados a deficiência de taurina. 39 A taurina também desempenha um papel na normalização do balanço de outros aminoácidos. Por exemplo, os níveis de GABA no cérebro são elevados pela taurina. GABA (abreviação de ácido gama-amino-butírico) é ao mesmo tempo um aminoácido e um neurotransmissor. O dom do GABA é a sua capacidade para conter a ansiedade. Incontáveis suplementos com GABA são muitas vezes prescritos como tranquilizantes naturais. 40
O falecido Robert Atkins, MD, descobriu que a terapia de reposição de estrogênio (TRE) bloqueava a produção de taurina, 41 um fato que coloca em questão a perspicácia de se tomar quaisquer estrógenos artificiais, o que inclui os fitoestrogênios da soja.
LISINA
Os níveis de lisina que ocorrem naturalmente na soja seriam adequados. Desafortunadamente, o moderno processamento de alta tecnologia pode degradar a lisina tão severamente que a torna marcadamente inutilizável. A lisino-alanina, um aminoácido derivado não natural produzido durante o processamento, provoca a perda da lisina biodisponível assim como da cistina e da fosfoserina. Isso reduz drasticamente a qualidade nutricional total dessa  proteína 42 e em doses suficientemente grandes, a lisino-alanina pode induzir a toxicidade renal. 43 44 Infertilidade pela perda de mobilidade do esperma, herpes simples, herpes genital e doenças cardíacas tem sido todas associadas à deficiência de lisina. 45 46
A lisina também se degrada quando proteínas são cozidas com açúcar. A reação de Maillard (primeiramente descrita pelo químico francês Louis Camille-Maillard em 1912, NT), a "reação de acastanhamento", normalmente ocorre durante a produção de cereais e grãos. Reações de Maillard podem ocorrer durante a fabricação de soja quando adoçantes sob a forma de malte de cevada, malte de arroz e outros açúcares são adicionados para disfarçar o sabor desagradável da soja. Uma vez que o organismo tem dificuldade para hidrolisar a cadeia de proteína que contém a molécula de lisina caramelizada, deficiências de lisina podem ocorrer. E esta proteína não digerida ao entrar na corrente sanguínea pode resultar em alergias e respostas imunes não desejadas. 47
CARNITINA
A falta de suficiente metionina e de lisina de alta qualidade pode conduzir a mais uma provável deficiência de carnitina. Precisamos de carnitina para alta energia, uma saudável função cardíaca e metabolismo da gordura. É tão necessária para as crianças, que pesquisadores espirituosos sugeriram o apelido de "vitamina Bb." 48 Bebês obtém abundância de carnitina através do leite materno, e algumas fórmulas são enriquecidas com carnitina. No entanto, uma vez que só se pode obter carnitina de carnes e produtos de origem animal, mães vegetarianas que amamentam quase sempre precisam de suplementos de carnitina para nutrir adequadamente seus bebês. Vegetarianos estritos (vegans), que não consomem ovos ou laticínios tendem a ser deficiente não apenas de carnitina, mas de seus precursores metionina e lisina. Pessoas com baixa função da tireoide, um problema de saúde comum entre vegetarianos que consomem soja, também precisa de carnitina extra. 49
PDCAAS SEM CLASSE
O método PDCAAS não leva em conta aminoácidos em separado. Individualmente, eles podem ser menos biodisponíveis do que as diferentes pontuações de proteína podem sugerir.50 Como Sarwar coloca, "O método PDCAAS pode levar a resultados enganosos sobre a qualidade das proteínas limitadas em mais do que um aminoácido essencial." 51 Embora a metionina seja geralmente o primeiro aminoácido limitante em produtos de soja, lisina, treonina e triptofano também afetam a real qualidade da proteína da soja. Em estudos utilizando pintos, a farinha de soja foi confirmada ser limitada, como esperado, em metionina e cisteína. Mas o concentrado de soja e a proteína isolada de proteína (SPI) são limitados em cisteína, metionina e também treonina. 52
Deficiências específicas de aminoácidos também levam a deficiências dos aminoácidos que o organismo normalmente é capaz de produzir. Por exemplo, a creatina, um aminoácido produzido a partir da metionina, glicina e arginina, pode muito bem estar em falta entre os comedores de soja. Ela é necessária para o tônus muscular, o ritmo cardíaco, e a prevenção do câncer. Treonina suplementa a serina que não é considerada essencial, mas pode ser facilmente utilizada no metabolismo da metionina e na síntese da acetilcolina e da glicina.
Na maioria dos casos a soja seria capaz fornecer quantidades adequadas de treonina, arginina e outros aminoácidos essenciais necessários para o crescimento e reparação corporal. No entanto, todos eles são alterados pelas altas temperaturas, e altas pressões, métodos modernos de processamento. O dano pode não ser tão extenso como o feita contra a lisina, mas é fatual, no entanto. Estes métodos, utilizados para eliminar proteínas anti-nutrientes  (tais como os inibidores de protease), tem também o efeito infeliz de desperdiçar proteínas necessárias. Uma proteína não pode ser desmontada sem afetar a outras. 53-57
O princípio fundamental é que a única maneira de preservar a lisina e os outros aminoácidos, e ao mesmo tempo promover a desativação de proteínas anti-nutricionais é praticar as demoradas, as antiquadas técnicas de imersão e fermentação tradicionalmente utilizadas na Ásia. Mas mesmo assim, os alimentos de soja resultarão escassos em metionina.
Twinkies (tipo de bolo recheado) versus Snickers (chocolate com nozes)
Produtores e veterinários sabe que o caminho para “bombar” o desempenho dos alimentos a base de soja é adicionar metionina. Os ratos alimentados com proteína de soja enriquecida com metionina crescem em pé de igualdade com aqueles alimentados com caseína de acordo com o escore dos padrões PDCAAS. No entanto, ambos os grupos alimentados com soja e com caseína ficam aquém no PER ou BV do ovo inteiro ou uma proteína de soro de leite de boa qualidade, pois ambos - soja e caseína não têm quantidades adequadas de amino ácidos contendo enxofre. 58 Ambos são produtos fracionados, a proteína de soja é retirada do grão de soja e a caseína é retirada a partir do leite integral. Nem tampouco serve para o corpo humano. No entanto, soja e caseína são rotineiramente comparadas em estudos que elogiam a capacidade da soja em prevenir e reverter enfermidades. Descobrir que a proteína de soja é melhor do que a caseína como preventivo de câncer não significa muito. É como projetar um estudo que compara chocolates com nozes (Snickers) contra bolinhos (Twinkies). Nenhum oferece uma opção saudável, mas os Snickers provavelmente se saem melhor, pois contém algumas nozes.
A soja não. Pelo menos ainda não. Numa tentativa recente de melhorar a qualidade da proteína de soja, os cientistas injetaram uma proteína rica em metionina de noz no DNA da soja. O novo feijão possui melhores níveis de metionina, mas a proteína de noz acrescenta outro potente alérgeno a um alimento que já está repleto desse predicado. 59 (Veja os Capítulos 24 e 25.)
Encarando o ovo
O feijão geneticamente modificado, fortificado com metionina foi mal recebida pela imprensa o suficiente para a indústria da soja começar a promover a ideia de que "a proteína de soja é o melhor do jeito que ela é." 60 A indústria agora defende a falta inerente de metionina na soja como um ativo, com base na teoria de que o enxofre encontrado nos ovos, carne e produtos de origem animal pode causar a perda de cálcio e osteoporose.
O estudo mais citado para justificar essa reivindicação envolveu 15 jovens saudáveis, divididos em três grupos. Todos os três grupos comeram alimentos que continham quantidades idênticas de sódio, potássio, cálcio, fósforo, magnésio e proteína, mas diferentes quantidades de enxofre. O primeiro grupo (menos enxofre) consumiu produtos de soja, o segundo (enxofre moderado) consumiu leite de soja, proteína texturizada, queijo e ovos, e o terceiro (mais enxofre) proteína  animal de carne e queijo. Aqueles que adquirem suas proteínas a partir dos produtos de origem animal perderam 50% mais cálcio de seus corpos em relação àqueles que tinham ingerido a proteína de soja. As pessoas do grupo dos ovos, soja e leite estavam no meio. Os investigadores concluíram que "A incapacidade para compensar a resposta pela calciúria induzida pela proteína animal [significando cálcio na urina] pode ser um fator de risco para o desenvolvimento da osteoporose." 61
O que nunca é mencionado quando este estudo emergiu - como fez Mark Messina em The Simple Soybean and Health (A simples soja e sua saúde) 62 e em Earl Mindell’s Soy Miracle (Milagre da Soja)63entre outros livros que promovem a soja é que os 15 indivíduos passaram um total de 12 dias testando cada tipo de alimentação. Esse tempo é suficiente para os seus corpos reagirem a níveis inesperadamente elevados de proteínas com enxofre, mas não o tempo suficiente para que o corpo buscasse se normalizar e lidasse com tal carga de enxofre. A homeostase do cálcio é normalmente bem regulada de modo que a perda de cálcio aumentada pela urina resulta numa absorção maior de cálcio a partir do intestino. Este processo adaptativo pode não ocorrer durante estudos de curto prazo, mas o corpo humano é muito bem capacitado para se ajustar à carga de enxofre de alimentos reais, após um adequado período de tempo.
O enxofre não é um problema, desde que os níveis de vitamina B6 estejam adequados. O piridoxal-5-fosfato (a forma mais ativa da vitamina B6) é a coenzima para a cistationina sintetase, a enzima necessária para a conversão adequada dos amino ácidos que contém enxofre. Está em falta na maioria das dietas dos americanos. A solução óbvia é de otimizar os níveis de vitamina B6, e não cortar os alimentos que contêm enxofre.
A falácia da maioria dos outros estudos que ligam os alimentos de origem animal ricos em enxofre com uma elevada excreção de cálcio é igualmente fácil de ser verificada. A maior parte dessas experiências apresentam overdoses de aminoácidos isolados: metionina, cisteína e cistina, sem fornecer níveis adequados de vitamina B6 e de ácido clorídrico adicional necessário para processar esta carga elevada de aminoácidos. Notavelmente, as pessoas e os animais alimentados com comida de verdade não experimentam os mesmos problemas, assim cortar os alimentos ricos em enxofre não é a solução para osteoporose. 64 65
Mais uma coisa sobre enxofre e soja. As deficiências ocorrem não só por causa da soja ser escassa em metionina, mas porque os inibidores da protease criam uma maior necessidade deste aminoácido. O pâncreas precisa utilizar aminoácidos contendo enxofre, quando ele precisa produzir enzimas digestivas em quantidade extra para compensar as perdas provocadas pela enzima tripsina que está sendo cooptada pelos inibidores de tripsina que acabou excretada nas fezes. Isto conduz a uma deficiência de aminoácidos, particularmente os amino ácidos que contém enxofre, que normalmente devem ser usados para o crescimento e para os processos de reparação. Os inibidores de protease também afetam outros aminoácidos necessários para a saúde e crescimento, nomeadamente a treonina e a valina, que são rotineiramente adicionadas a alimentação de ratos e de outros animais para favorecer um crescimento adequado.66 (ver capítulo 16).
Se os consumidores estão almejando alcançar algo próximo do pico de desempenho com a proteína de soja, os alimentos dessas pessoas precisarão desses mesmos aditivos.

SOJA confusa: alimentos de soja VERSUS proteína de soja

Muitas pessoas usam as palavras "soja" e "proteína de soja" indistintamente, talvez porque os alimentos de soja sejam a principal fonte de proteína em suas dietas. Alimentos feitos a partir da soja integral tais como tofu, no entanto, contêm apenas 8-15 por cento de proteína, juntamente com a gordura e carboidratos. Em contraste, gorduras e carboidratos são removidos na maior parte de produtos como a proteína isolada de soja (SPI), a proteína vegetal texturizada (PVT) e o concentrado de proteína de soja (CPS). Cerca de 90 por cento da soja consumida nos Estados Unidos vêm sob a forma de proteína de soja fracionada adicionada a batidas, barras, molhos enlatados, espaguete congelado, hambúrgueres de fast food, e outros produtos. Para saber a quantidade de proteína que você está recebendo em um determinado prato de soja dada, veja a tabela abaixo:

ALIMENTOS A BASE DE SOJA
 (por 100 g)
PROTEÍNA
Miso
Natto
Farinha de soja (sem gordura)
Farinha de soja (com gordura, cru)
Farinha de soja (com gordura, assada)
Farinha de soja (baixo teor de gordura)
Leite de soja
Concentrado de proteína de soja
Proteína isolada de soja (SPI)
Molho de soja (shoyu)
Soja (cozida, fervida)
Soja (seca, torrada)
Soja (bruto)
Farelo de soja (sem gordura)
Tempeh
Tofu (firme, cru)
Tofu (cru, regular)
11,8 g
17,7 g
47,0 g
34,5 g
34,8 g
46,5 g
02,8 g
58,1 g
80,7 g
10,5 g
16,6 g
39,6 g
36,5 g
45,0 g
19,0 g
15,8 g
08,1 g
FONTE:
Composição dos Alimentos: Legumes e produtos leguminosos, USDA Human Nutrition, Information Service Agriculture Handbook, nº 8-16.



UMA BENÇÃO PARA A INDÚSTRIA:

A alegação do FDA de que a proteína de soja é saudável

Em novembro de 1999, o FDA aprovou uma advertência de saúde que permite aos processadores de alimentos de rotular muitos produtos de soja com a frase "as dietas pobres em gordura saturada e colesterol que incluem 25 gramas de proteína de soja por dia podem reduzir o risco de doenças do coração." 67 A indústria da soja fez esta reivindicação ir direto para suas contas bancárias. As vendas de produtos de soja atingiram taxas de crescimento de dois dígitos desde que o FDA permitiu à indústria afirmar que os produtos de soja não são apenas seguros para ingestão, também são "alimentos saudáveis."68
Os Impostos fomentam o FDA para se apresentar como "O primeiro lugar das Agências da Nação para Defesa do Consumidor", 69  e a declaração de sua missão se encerra com a frase "ajudar o público a obter a informação exata, baseada na ciência que for necessária para se  utilize medicamentos e alimentos para melhorar a sua saúde." No entanto, o tratamento dado pela agência a esta afirmação duvidosa sugere nada mais do que uma aliança profana com um grande negócio.
A petição original - apresentada pela PTI (Protein Technology International) - solicitando a alegação de saúde não era destinado às proteínas da soja, mas sim para as isoflavonas da soja, os estrógenos vegetais encontrados em abundância na soja.70 Fornecido com provas apenas fracas e conflitantes de que as isoflavonas reduzia o colesterol e cercado por uma forte evidência de toxicidade e desregulação endócrina, o FDA tinha o dever de jogar fora a petição da PTI. Em vez disso, a agência tomou a decisão sem precedentes de reescrever a petição da PTI e substituir o pedido para a proteína de soja ao invés da petição original pela proteína rica em isoflavonas da soja.71 Como o FDA está autorizado a somente emitir pareceres sobre as substâncias apresentadas pela petição, esta iniciativa violou regulações da própria agência. 72
Pior ainda, o FDA acelerou o processo de tomada de decisão, reduzindo o tempo em que os membros do público pudessem protestar para apenas 30 dias. 73 Além disso, eles desconsideraram o testemunho de eminentes cientistas da própria FDA, do Centro Nacional de Pesquisa Toxicológica, de pesquisadores do governo britânico e outros especialistas qualificados que fornecem evidências de um possível perigo dos alérgenos, dos inibidores de protease, dos fitatos e dos goitrogênicos, bem como das isoflavonas com atividade hormonal. 74 78 No final, as preocupações evidenciadas de forma meticulosa foram desprezadas em favor da fraca evidência de que a proteína de soja poderia diminuir o colesterol e em apoio à amplamente difundida, mas ainda não comprovada teoria de que para baixar o colesterol é a chave para a prevenção de doenças cardíacas.
Embora o Congresso determinasse que o FDA obtivesse "evidência científica suficiente" das propriedades de redução do colesterol antes de aprovar qualquer alegação de saúde para tal efeito, ela ficou lastreada quase que inteiramente em apenas um estudo - uma meta-análise de 1995 de James W. Anderson, PhD. 79 Meta-análises são populares com pesquisadores - e seus patrocinadores da indústria - que desejam esquadrinhar conclusões gerais. Muitos na comunidade científica têm criticado os autores de meta-análises por gerarem suposições equivocadas, concedendo estimativas inventivas e subtraindo estudos que contradizem ou diluam as conclusões almejadas.
Meta-analistas são especialmente tentados a omitir pesquisas que distorcem as conclusões desejadas pelo patrocinador do mesmo, que neste caso não era outro senão a Protein Technologies International. Na verdade, o Dr. Anderson optou por descartar oito estudos. Os vinte e nove estudos que melhor coincidiram com suas necessidades e da PTI, ofereceram alguma prova de que a substituição da proteína animal pela proteína de soja levaria a uma redução entre 7 a 20 % do colesterol entre os indivíduos hipercolesterolêmicos com níveis acima de 260 mg / dl, mas que a soja faria pouco ou nada para os indivíduos cujo colesterol era menor do que 250 mg / dl. Em palavras objetivas: a proteína de soja não é capaz de reduzir o colesterol de uma pessoa comum e pode até aumentá-lo. Enquanto isso, o consumo de 25 gramas de proteína de soja por dia, teve demonstrada sua capacidade de perturbar o sistema endócrino, com os efeitos mais imediatos sentidos na tireoide. 80 81 (veja os capítulos 26-30.)
A alegação de promover saúde que agora aparece em grandes letras em negrito nas embalagens de alimentos à base de soja não consegue advertir o incauto consumidor que os benefícios são espúrios, e que os riscos são graves e que o "protetor número um do consumidor", um órgão público, não está apenas dormindo em seu trabalho,  mas na cama com as grandes empresas.

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69.          The phrase is used repeatedly on the FDA website's www.usfda.gov. The website also includes the FDA’s Mission Statement: "The FDA is responsible for protecting the public health by assuring the safety, efficacy, and security of human and veterinary drugs, biological products, medical devices, OUI nation's food supply, cosmetics, and products that emit radiation. The FDA is also responsible for advancing the public health by helping to spread innovations that make medicines and foods more effective, safer, and more affordable, and helping the public get the accurate, science-based information they need to use medicines and foods to improve their health."
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72.          James, Valerie. Letter to Documents Management Branch (H.F.A. 305), Food and Drug Administration quoting Section 403. James reminds the FDA that it is "not authorized to regulate on anything other than the petition to the agency. That is, it cannot 'substitute' a variation on the claim and make a proposed (or actual) ruling on this substituted purpose." September 16, 1999.
73.          James.
74.          Sheehan, Daniel M. Doerge, Daniel R. Letter to Dockets Management Branch (HFA305) February 18, 1999.
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(Esse é capítulo 13 - "SOY PROTEIN - A COOP INSIDE" - do livro “THE WHOLE SOY STORY” - O lado negro do  alimento saudável favorito dos americanos - de Kaayla T. Daniel, PhD, CCN. EDITORA New Trend Publishing Inc., NY., 2007)

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Adoçantes e flora intestinal - mudanças para pior


Como os adoçantes podem piorar as coisas ao invés de auxiliar?


Na publicação anterior (LINK) postei um artigo sobre a questão do risco de doença metabólica associado ao consumo de bebidas adoçadas artificialmente. Esse é um tema delicado. Em 2004 um documentário sobre eventuais graves problemas ligado ao consumo do aspartame veio ao público: "Sweet Misery - A Poisoned World". Se trata de um filme que fala da história dessa substância até chegar ao consumo massivo. Algumas das questões mais sublinhadas nesse documentário são relacionadas a aspectos tóxicos, especialmente no sistema nervoso. 
Um dos primeiros adoçantes de uso popular surge em 1878 - a sacarina. Mas sua popularização nada tem a ver com a diabetes. Tem a ver com a racionamento do açúcar no início do século XX, que pelo foi pelo menos na Inglaterra até 1920. Um estudo, que mais tarde veio a ser bastante contestado, sobre a relação entre câncer com uso de sacarina, em 1977, quase baniu o emprego dessa substância, 
Em termos médicos, os adoçantes foram mais difundidos como alternativas edulcorantes para diabéticos. Mas nos anos 90, houve uma mudança importante no consumo alimentar; os alimentos adoçados artificialmente viriam a ser uma opção para consumo de produtos alimentares com finalidades mais atraentes: controle de obesidade e evitação do vilanizado açúcar.
Isso fez com as prateleiras de produtos para enfermos - no caso diabéticos, se transformassem em prateleiras para toda a população em geral. Num momento onde a crescente onda de obesidade cada vez mais se expandia.
Mas agora, mais do que nunca o uso de adoçantes está sob questionamento, mesmo pesquisadores de Harvard estão nessa preocupação como esse artigo LINK .
Do ponto de vista do controle de peso, e mesmo controle da diabete tipo II, o fracasso dos adoçantes pode nem ter a ver com suas questões químicas, mas sim por um erro de premissas, pois já há informação suficiente, para entendermos esses aspectos sobre a compreensão do tipo de fonte calórica, e não de sua quantidade bruta. Mesmo a Associação Médica Americana, em editorial já aceita isso, como publicado AQUI.
Claro, sob os preceitos da Comida de Verdade: não há espaço para alimentos "light", "diet" ou desnatados ("low fat"). Nada disso existe na natureza! Sua difusão está alinhado com outros alimentos substitutivos que foram colocados na mesa das pessoas, da metade do século XX em diante, um contato diário com produtos jamais consumidos anteriormente pela espécie humana como por exemplo a gordura vegetal hidrogenada. Descobrir-se lentamente que isso não auxilia à saúde, pelo contrário,  não pode causar surpresa! 
No artigo a seguir vemos então um aspecto novo e fundamental. Como os adoçantes atuam no corpo a favor de transtornos metabólicos nos seres humanos.
José C B Peixoto

Bactérias podem induzir mudanças metabólicas após exposição a adoçantes artificiais


Adoçantes artificiais - produtos promovidos como auxiliares para a perda de peso e prevenção de diabetes - em realidade podem acelerar o desenvolvimento de intolerância à glicose e doença metabólica, e eles fazem isso de uma maneira surpreendente: mudando a composição e a função da microbiota intestinal - a substancial população de bactérias residentes nos intestinos. Estes resultados são  frutos de experimentos em camundongos e humanos, e que foram publicados em 17 de setembro na Nature. Dr. Eran Elinav do Departamento de Imunologia da Ciência do Instituto Weizmann, que liderou esta pesquisa em conjunto com o Prof. Eran Segal, do Departamento de Ciência da Computação e Matemática Aplicada, diz que o uso generalizado de adoçantes artificiais em bebidas e alimentos, entre outras coisas , pode estar contribuindo para a epidemia de obesidade e diabetes que está varrendo boa parte do mundo.

Durante anos, os pesquisadores têm ficado confusos com o fato de que adoçantes artificiais não calóricos não parecem ajudar na perda de peso, com alguns estudos sugerindo que eles podem até ter um efeito oposto. O estudante de pós graduação Jotham Suez no laboratório do Dr. Elinav, liderou o estudo, em colaboração com outros alunos de pós, Tal Korem e David Zeevi no laboratório do professor Segal e membros do laboratório Gili Zilberman-Shapira para revelar que os adoçantes artificiais, mesmo não contendo açúcar, tem um efeito direto sobre a capacidade do organismo de utilizar glicose. A intolerância à glicose - geralmente compreendida como decorrência do corpo não poder lidar com grandes quantidades de açúcar na alimentação - é o primeiro passo no caminho para a síndrome metabólica e diabetes do adulto.
Os cientistas deram água edulcorada com os três adoçantes artificiais mais comumente usados, para camundongos, em quantidades equivalentes às permitidas nos EUA pela agência Food and Drug Administration (FDA). Estes ratinhos desenvolveram intolerância à glicose, em comparação com os ratos que bebiam água, ou mesmo a água com açúcar. Repetindo a experiência com diferentes tipos de ratos e diferentes doses dos adoçantes artificiais foi reproduzido os mesmos resultados - estas substâncias foram de alguma forma indutoras da intolerância à glicose.
Em seguida, os pesquisadores investigaram a hipótese de que a microbiota intestinal (flora intestinal) estaria envolvida neste fenômeno. Eles hipotetizaram que as bactérias podem promover isso ao reagir a novas substâncias - como os adoçantes artificiais, que o próprio corpo pode não reconhecer como "alimento". Com efeito, os adoçantes artificiais, não são absorvidos no trato gastrointestinal, mas nessa passagem eles encontram trilhões das bactérias da flora intestinal.
Os pesquisadores trataram ratos com antibióticos para erradicar muitas de suas bactérias intestinais; isto resultou numa inversão completa dos efeitos dos adoçantes artificiais no metabolismo da glicose. Em seguida, eles transferiram a microbiota dos ratos que consumiram adoçantes artificiais para ratos estéreis - "livres dos germes" - resultando em uma transmissão completa da intolerância à glicose nos ratos receptores. Isto, isoladamente, já foi a prova conclusiva de que mudanças nas bactérias do intestino (na flora intestinal) são diretamente responsáveis pelos efeitos nocivos no metabolismo do seu hospedeiro. O mesmo grupo verificou que a incubação da microbiota fora do corpo, adicionada à edulcorantes artificiais, foi suficiente para induzir a intolerância à glicose nos ratinhos estéreis (sem a flora). A caracterização detalhada da microbiota nesses camundongos revelou profundas mudanças em suas populações bacterianas, incluindo novas funções microbianas que são reconhecidas para inferir uma propensão à obesidade, diabetes e complicações destes problemas em ambos: ratos e seres humanos.
Será que o microbioma humano funciona da mesma forma? Dr. Elinav e Prof. Segal tiveram um meio de testar isso também. Como primeiro passo, eles analisaram os dados recolhidos a partir de seu projeto: Personalized Nutrition Project (www.personalnutrition.org), o maior estudo humano em dados de análise para a relação entre nutrição e microbioma. Aqui, eles descobriram uma associação significativa entre o consumo - auto-relatado - de adoçantes artificiais, configurações pessoais de bactérias do intestino, e a propensão para a intolerância à glicose. Em seguida, eles realizaram um experimento controlado, pedindo a um grupo de voluntários que geralmente não comem ou bebem alimentos adoçados artificialmente, para efetivamente consumi-los por uma semana, e, em seguida, submetê-los a exames de seus níveis de glicose e das composições da flora intestinal.
Os resultados mostraram que muitos - mas não todos - dos voluntários tinha começado a desenvolver intolerância à glicose depois de apenas uma semana de consumo de adoçantes artificiais. A composição de sua microbiota intestinal explicou a diferença: os pesquisadores descobriram duas populações diferentes de bactérias do intestino humano - aquela que induziu a intolerância à glicose quando exposta aos adoçantes, e outra que não teve nenhum efeito nesse sentido. O dr. Elinav acredita que certas bactérias nos intestinos das pessoas que desenvolveram intolerância à glicose reagiram aos adoçantes químicos através da secreção de substâncias que, em seguida, provocam uma resposta inflamatória similar à overdose de açúcar, promovendo mudanças na capacidade do organismo de utilizar açúcar.
O prof. Segal afirma: "Os resultados do nosso estudo destacam a importância da medicina e nutrição personalizadas para a manutenção de nossa saúde geral. Acreditamos que uma análise integrada da ‘big data’ (banco de dados) individualizada de nosso genoma, microbioma e hábitos alimentares podem transformar a nossa capacidade de entender como alimentos e suplementos nutricionais afetam a saúde de uma pessoa e seu risco para doença".

De acordo com Dr. Elinav, "Nosso relacionamento com o nosso próprio mix individual de bactérias do intestino é um grande fator para determinação de como os alimentos que comemos nos afeta. É especialmente intrigante a ligação entre o uso de adoçantes artificiais - através das bactérias de nossos intestinos - com a tendência de desenvolver os mesmos distúrbios que foram projetados para prevenir, o que exige reavaliação do enorme e não supervisionado consumo atual destas mesmas substâncias“. 


Artigo original AQUI

Story Source:
The above story is based on materials provided by Weizmann Institute of Science.Note: Materials may be edited for content and length.

Journal Reference:
  1. Jotham Suez, Tal Korem, David Zeevi, Gili Zilberman-Schapira, Christoph A. Thaiss, Ori Maza, David Israeli, Niv Zmora, Shlomit Gilad, Adina Weinberger, Yael Kuperman, Alon Harmelin, Ilana Kolodkin-Gal, Hagit Shapiro, Zamir Halpern, Eran Segal, Eran Elinav. Artificial sweeteners induce glucose intolerance by altering the gut microbiotaNature, 2014; DOI: 10.1038/nature13793
Sweet Misery - pode ser visto aqui

sábado, 22 de novembro de 2014

Refrigerantes dietéticos e risco de diabetes




Refrigerantes dietéticos aumentam
os riscos para a diabete tanto quanto os não-dietéticos

 
Um novo estudo na França sugere que as mulheres que bebem grandes quantidades de refrigerante diet tem maior risco para a diabetes tipo 2. Esses mesmos estudos também reforçam a associação já documentada entre a ingestão regular de bebidas adoçadas com açúcar e enfermidade, o relatório de Guy Fagherazzi com colaboradores, do Centro de Investigação em Epidemiologia e Saúde da População, de Villejuif, França, em um estudo publicado online em 30 de janeiro pelo American Journal of Clinical Nutrition.
Pesquisas anteriores sobre a relação entre refrigerantes light/diet (bebidas adoçadas artificialmente) e a diabetes tipo 2 tinham produzido resultados contraditórios, e mesmo que  esse estudo não implique necessariamente em nexo causal, existem alguns mecanismos biologicamente plausíveis, é o que sugerem os pesquisadores.
Considerando que os refrigerantes diet são "referenciados - e comercializados - como mais saudáveis ​​do que bebidas adoçadas com açúcar", os resultados exigem uma investigação mais aprofundada, dizem eles. Enquanto isso, os autores sugerem que a "um princípio de precaução pode ser aplicado para a promoção de bebidas adoçadas artificialmente []".

 
Um consumo maior de refrigerante dietético mais do que dobra o risco para a Diabetes

 
Os dados vêm de um grande estudo prospectivo de 66.118 mulheres na França que investigava as ligações entre dieta e câncer. Houve 1.369 novos casos de diabetes tipo 2 diagnosticados durante o período de acompanhamento entre 1993 a 2007.
Com base no relato pessoal do consumo de alimentos, a ingestão média de refrigerantes regulares foi de 328 ml / semana, enquanto para refrigerantes diet foi maior, de 568 ml / semana.
O risco de diabetes tipo 2 foi elevada entre as mulheres nos maiores quartis (os 25% da população avaliada com consumo maior, NT) para ambas bebidas adoçadas com açúcar (> 359 ml / semana) e de bebidas adoçadas artificialmente (> 603 ml / semana), em comparação com as mulheres que não consumiam essas bebidas, com razões de risco de 1,34 e 2,21, respectivamente, após ajuste (estatístico) multivariado para uma grande variedade de co-variáveis ​​(outros que não fosse o índice de massa corporal [IMC]).
Fortes tendências positivas no risco de diabetes tipo 2, foram observadas em todos os quartis de consumo para ambos os tipos de bebidas (P = 0,0088 e P <0,0001, respectivamente). O ajuste para o IMC pouco alterou os resultados, embora as associações permanecessem significantes para ambas as bebidas açucaradas ou adoçadas artificialmente.
Os autores também realizaram análise de sensibilidade para testar a hipótese de que as pessoas que tem risco para o diabetes tipo 2, em virtude da obesidade podem preferencialmente beber bebidas adoçadas artificialmente, mas os resultados sugerem que esse mecanismo de "causalidade reversa " é "improvável", eles salientam .
"Nossos resultados - de acordo com uma recente declaração científica conjunta da AHA (Associação Americana de Cardiologia) e ADA (Associação Americana de Odontologia) - sugerem fortemente a necessidade de realização de ensaios clínicos randomizados que avaliam as consequências metabólicas dos componentes [das bebidas adoçadas artificialmente], como os adoçantes artificiais, para provar um nexo de causalidade entre [o consumo de bebidas adoçadas artificialmente] e a diabetes tipo 2 ", é que concluem os autores.

 
(*) Os autores não declararam relações financeiras relevantes.

 
Am J Clin Nutr. Publicado online em 30 de janeiro de 2013. Resumo

 
Link original: AQUI  publicado em 15 de fevereiro de 2013 (necessário inscrição)

 
Artigo MEDSCAPE

Traduzido em 15/02/2013

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Um livro fundamental - o colapso da agricultura!


Li o livro "Colapso" há quase dez anos. Boa parte das convicções sobre nutrição que tenho hoje em dia se baseiam em estudos de antropologia. Esse, sem dúvida, é um livro ímpar. Sugiro sua leitura para todos! É uma viagem no tempo e na história do homem pós agrícola. Uma história de Colapsos...


  

 C O L A P S O 


Como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso? Essa é proposta de Jared Diamond em seu brilhante livro – Colapso – da editora Record. É um livro de quase 700 páginas, repleto de informações de caráter técnico, histórico, antropológico e geográfico, mas que são oferecidas ao leitor num ritmo de uma excepcional e apaixonante narrativa, que prende da primeira à última página.
O autor é um ambientalista, e ele se identifica como tal no início de sua obra. A sua tese foi construída, graças ao emprego de modernas técnicas de investigação em arqueologia, originando uma fascinante perspectiva de como grandes sociedades do passado chegaram ao colapso total, após séculos de exuberância, por terem promovido graves equívocos no manejo com o seu meio ambiente.
De início ele já aponta para um fato relevante: os povos do passado não eram maus administradores ignorantes, tampouco eram ambientalistas que saberiam resolver problemas, que até hoje não conseguimos resolver. Não haveria um dolo premeditado. O final de suas sociedades se deu, por fatores muitos semelhantes àqueles que levarão nossa sociedade ao seu fim.
A linha mestra do colapso passa necessariamente pelo dano ao meio ambiente. Esse dano pode ser de várias formas. A mais óbvia é o uso excessivo dos insumos da natureza numa velocidade maior que ela possa devolver aos seus usuários. Muitas vezes isso ocorreu por erros de leitura do homem com o seu meio ambiente. Algumas vezes esse erro pode ter sido provocado por uma avaliação traiçoeiramente positiva das qualidades de um determinado ecossistema. Isso pode ter levado algumas sociedades a se estabelecerem em locais que se exauriram rápido demais, devido a uma utilização inapropriada da agricultura, por exemplo. Outras trataram o solo de forma equivocada, o que favoreceu a erosões do solo, que inviabilizou a produção alimentar.
Muitos locais do planeta ficaram inviabilizados para a vida pela ação negativa do envenenamento da terra e das águas por práticas devastadoras de extração de minerais ou pela pesca com explosivos.
Mas, uma das maneiras mais impressionantes que levaram algumas sociedades a não serem nada além do que ruínas de sítios arqueológicos da atualidade foi o fato delas levarem ao extermínio seus recursos naturais. Os povos da ilha da Páscoa cortaram até a última árvore nativa antes do seu fim! O que teria levado uma sociedade capaz de produzir fantásticas obras de construção serem capazes ao mesmo tempo de provocarem um final tão patético? Um povo que chegou provavelmente a milhões de indivíduos em seu apogeu, e que ergueu monumentos de mais de 200 toneladas, com altura de até 20 metros, sem guindastes, levou ao esgotamento total as  potencialidades de seu meio ambiente, e por isso sucumbiu pela fome e miséria. E essa tragédia pode ter ocorrido após quase 800 anos de sucesso pela mera necessidade de ostentar poder!
Em outra parte do planeta, os sítios arqueológicos dos vikings da Groenlândia nórdica, mostram o extermínio de europeus que subsistiram vários séculos num local reconhecidamente inóspito. No entanto nessa mesma ilha, vivem até hoje povos Inuits (esquimós, originários da América do Norte). Os europeus presos a um conjunto de crenças que lhes foi fatal morreram de fome e de frio. Foram traídos por aspectos climáticos. Não tiveram capacidade (ou humildade) de aprender com povos pagãos, como esses Inuits, a subsistir! Não abriram mão de suas crenças alimentares, religiosas e de arranjo social! Cometeram o grosseiro erro de se julgarem capazes de manipular o ecossistema à sua sabedoria! Não ficou ninguém para relatar aos outros povos nórdicos o que deu errado. A portentosa fazenda de Gardar (um dos maiores sítios arqueológicos das antigas colônias vikings), deve ter visto seus moradores, os mais ricos dessas colônias, usufruir a vantagem final de quem tem poder. Os mais ricos foram os últimos a, também, morrerem de fome.
Há vários outros exemplos modernos e muito próximos de nossa realidade tratados nesse livro. Dá para entender um pouco melhor a questão do Haiti, de Ruanda, da Austrália, entre outras. O autor examina, sem o preconceito de um ambientalista, o papel de grandes empresas, e fornece um generoso inventário das possibilidades de uma atitude negativa na relação do homem e suas sociedades com o meio ambiente.
Colapso é uma obra farta de ilustrações vigorosas, apoiadas por métodos de pesquisa que tornam robustas as linhas de raciocínio de um autor perspicaz e que nos dá elementos de reflexão que visam nos oportunizar a confecção de posturas que podem nos iluminar um futuro com esperança. Não é um livro apocalíptico. É mais uma chance de aprendermos com o que já fizemos no passado, e com o que continuamos a fazer no presente.
Possivelmente estamos fazendo muito mais coisas ruins do que boas com a natureza. Esse caminho só poderá levar a um tipo de futuro. Esperamos não ter passado do ponto de equilíbrio, e que ainda se abra uma luz de compaixão com nossos netos, para oferecer a quem nos sucede um planeta minimamente viável. Ou será que queremos ter a mesma “honra” dos vikings de Gardar?




(COLAPSO – Como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso, de Jared Diamond, editora Record, 2005, 685 págs.  – tradução do original em inglês: “Collapse”)

José Carlos Brasil Peixoto - 20/01/06




Uma análise sobre a indústria farmacêutica - O livro da dra Marcia Angell


Um exame cruel:
Desnudando os laboratórios farmacêuticos

“A medicina acadêmica (americana) está a venda?” - pergunta Márcia Angell, ex-editora chefe do New England Journal of Medicine. A resposta que obteve: “A medicina acadêmica está à venda? Não! O dono atual está muito feliz com ela!”
Esse tipo de informação está em debate no indispensável livro “A verdade sobre os laboratórios farmacêuticos” da editora Record.
A enorme desconfiança que os fabricantes de medicamentos vem recebendo do público consumidor nos Estados Unidos parece ser mais do que justificável. A leitura desse detalhado exame, realizado por uma das pessoas mais influentes da opinião pública americana, pode se assemelhar em certos momentos à leitura de um livro de terror e suspense, e seria ótimo se fosse apenas isso, afinal de contas os relatos e observações dizem respeito aos medicamentos que milhares de milhões de pessoas utilizam, acreditando na boa fé de que os fabricam, mesmo que os preços amassem os orçamentos pessoais, ou inviabilizem as políticas públicas de fornecimento de medicamentos gratuitos à população. Aliás, esse termo - gratuito - jamais poderia constar como adjetivo na divulgação de programas de fornecimentos de medicação (e vacinas), pois, tudo que chega a população é excepcionalmente bem pago por todos os contribuintes do país, mesmo aqueles que compram esses medicamentos nas farmácias, (que não são poucas na paisagem urbana atual, o que nos levar a confirmar a idéia de que é altíssima a rentabilidade de auxiliar as pessoas a se manterem medicadas).
Dra Marcia Angell
A Dra. Angell traça um percurso bastante abrangente sobre a avaliação dos laboratórios e suas considerações são muito consistentes, pois utiliza dados sob a perspectiva de uma “insider” do sistema.
Naturalmente a formação do preço é alvo de ampla prospecção. Nós poderíamos compreender os altos custos dos medicamentos novos e úteis pela complexa máquina que supostamente envolve a pesquisa de novas substâncias. Porém isso esbarra na incrível revelação de que a maioria das pesquisas é realizada por Institutos Nacionais de Saúde (NIHs), subsidiados por dinheiro do governo americano, logo dos próprios contribuintes. Dessa forma a esmagadora maioria dos investimentos consumidos pela parte nobre da produção de um medicamento – P&D: Pesquisa e Desenvolvimento – é bancada pelo futuro consumidor. As gigantescas cifras envolvidas nos gastos da indústria farmacêutica são dependidas em... marketing! A agressividade no marketing é mais pesquisada pelos grandes laboratórios do que qualquer outra coisa. A onda absurda de propagandas diretas ou estilizadas na mídia é uma das expressões mais óbvias disso. Mas há também muito dinheiro envolvido na disseminação das “pretensas” amostras grátis em consultórios médicos e hospitais. É óbvio que a gratuidade das amostras será regiamente compensada pelo preço final ao consumidor.
O exame da autora sobre a atitude amplamente aceita dos laboratórios bancarem simpósios científicos e até mesmo financiarem os Programas de Educação Continuada, além de ofertarem todo o tipo de brinde e presentes aos médicos, nos deixa com a desagradável impressão de a palavra corrupção seria um adjetivo quase gentil para esse tipo de procedimento.
Afinal todos os laboratórios farmacêuticos são corporações financeiras que têm como objetivo número um o lucro. Mesmo que isso possa parecer antipático para os crédulos de que exista bondade e comiseração nas altas esferas do capitalismo, os dados mostrados nesse impressionante livro não vão dar margem a muita gentileza com empresas do porte da Bayer, Ely Lilly, Johnson entre outras poucas, que formam um ostensivo cartel.
A FDA (órgão de administração de medicamentos e alimentos americana), vista por muitos no Brasil como entidade de respeito e veneração não passa de uma instituição reduzida a validar o desejo insaciável desses laboratórios de se manterem numa curiosa faixa de exclusividade e monopólio das pesquisas em saúde. Acreditar na imparcialidade e capacidade do FDA é tão ingênuo quanto a crença que tínhamos que o DDT era inofensivo para o ser humano, que a iniciativa de colocar flúor na água potável seria a idéia de dentistas, ou de que jamais alguém poderia colocar soda cáustica no leite das crianças.
O comércio dos medicamentos nos EUA é uma rede de interesses tão intricados e bem defendidos nos meios políticos americanos que não há como crer em idoneidade como   predicado positivo dessa indústria. São bilhões de dólares envolvidos! E o jogo político é levado ao extremo na defesa desses valores!
A maquiagem dos medicamentos é um outro dado muito curioso levantado pela autora. Isso acontece pela existência de uma curiosa lei de patentes em vigor naquele país. A história do Claritin® e doDesalex® é desoladora, (são a rigor a mesma substância, mas o segundo é derivado do primeiro, processo que o corpo humano efetivamente executa), os preços mais elevados do segundo não são explicáveis pelo eventual gasto em pesquisa e desenvolvimento. Mas mais inacreditável é a história do AZT, o famoso remédio para combater a AIDS. Como sabemos é uma doença que ganhou notoriedade nos anos 80 (1983), e seria justificável imaginar que medicamentos para uma doença grave como essa pudesse ter preços elevados pelo custo de sua pesquisa. Mas não seria o caso do AZT, que foi sintetizado em 1963, muitos anos antes, e além do mais por uma instituição federal a Michigan Câncer Foundation. Os preços elevados têm mais a ver com a aplicabilidade desse medicamento (originalmente projetado para tratamento de câncer, além de ser útil para quadros virais como o herpes) em uma doença que ganhou evidência, do que com a eventualmente trabalhosa descoberta de uma Nova Entidade Molecular. Nesse caso certamente nada de novo foi criado. Nesse e em muitos, muitos outros mais.
Isso faz parte da luta incansável de se criar outros usos para medicamentos muito conhecidos ou de uso muito restrito. Isso possivelmente explique o uso de medicamentos velhos em situações novas e de alta lucratividade, por uma necessidade inusitada. Por exemplo, o uso de remédios anticonvulsivantes no novo grupo de difícil descrição como os remédios estabilizadores de humor! (como: Depakene®, Topamax® ou Lomatrigina®). Ou o retorno de um antiinflamatório démodé como o ibuprofeno (Alivium®), subitamente levado à primeira escolha no tratamento de febre em crianças, apesar da noção mais criteriosa de não se medicar às cegas quadros não bem definidos, como uma febre súbita sem outros sintomas. Todos sabem que antiinflamatórios podem obscurecer a expressão clínica de uma enfermidade em  suas primeiras manifestações. Mas o marketing foi muito eficiente e esse remédio é muito vendido. O uso da fluoxetina na enigmática sintomatologia da fase pré-menstrual sofisticadamente denominada de Transtorno Disfórico Pré-menstrual, sob forma de pílulas coloridas, mas com um nome diferente do conhecido Prozac®, é outro exemplo de maquiação (nos EEUU o produto com o nome Serafem® é a substância fluoxetina em pílulas de cor diferente do Prozac®, e por estar com cor e nome diferente ficou com nova indicação!), mas isso pode ser uma estratégia muito mais comum do que gostaríamos que fosse..
Desalentador, também,  é averiguar que nos últimos anos pouquíssimos remédios realmente novos foram oferecidos à população, e a ampla maioria desse pequeno contingente não saiu de dentro dos poderosos laboratórios farmacêuticos industriais.
Da compra pesada de influência política e legal à produção de pesquisas ridículas que comparam novos produtos com placebos e não com seus antepassados de eficiência já comprovada, passando pela criação de uma noção fortemente sofismável de que os novos remédios são melhores que os antigos (para o problema da hipertensão parece certamente que não são), além da criação de diagnósticos novos e amplamente imprecisos, e da alteração da percepção popular das necessidades terapêuticas (afinal para quem está dirigida o marketing de venda de produtos como o Viagra®senão que para pessoas jovens que em tese não seriam os naturais candidatos ao seu consumo), as informações de Márcia Angell podem parecer um pesado excesso de realidade.
Mas sua leitura é fundamental. Muitas vezes pode ser rude com o leitor. Mas o consumidor tem que conhecer as premissas que construíram a cultura medicamentosa dos tempos modernos.  E os profissionais de saúde não devem abrir mão do seu direito de construir uma sociedade que precisa de fato de uma pesquisa científica independente e genuína, longe dos perversos e constantes conflitos de interesses que construíram o onipresente capitalismo científico - lamacento e redundante, mas soberano nas prescrições medicamentosas caras, perigosas e desnecessárias dos receituários que a maioria da população vem recebendo.

      
Livro: A verdade sobre os laboratórios farmacêuticos – como somos enganados e o que podemos fazer a respeito – Marcia Angell, editora Record, edição de 2007, 319 páginas. Tradução do inglês: “The truth about the drug companies”.

José Carlos Brasil Peixoto – 021107