A seguir a segunda parte do artigo sobre como o medo crônico está relacionado ao câncer através de uma intricada cadeia de eventos fisiológicos onde desponta alguns personagens conhecidos como a adrenalina, o cortisol, a glicose, o oxigênio e outros menos conhecidos mas igualmente importantes, especialmente o HIF1α. Um dos pontos mais importantes que esse artigo apontou foi o efeito de Bohr. Esse efeito fisiológico entra em choque com uma ideia muito difundida sobre a vitalidade dos tecidos e a alcalinidade. Para a melhor absorção de oxigênio os tecidos precisam em realidade estarem um pouco ácidos. Na verdade é acidez que estimula a liberação do oxigênio da hemoglobina dos glóbulos vermelhos para as demais células. Vai ser necessário reciclar essa noção altamente difundida sobre o pH e a saúde. Essa segunda parte incluiria uma parte excessivamente cheia de termos técnicos e noções complexas de biologia e fisiologia. Assim, os estudos citados dentro do artigo foram propositadamente reduzidos a pequenos resumos e enunciados. Mas quem tiver interesse o link do artigo original se encontra ao final. As referencias citadas estão no texto original (em inglês). A primeira parte do artigo está AQUI.
Medo,
Hipocapnia, Glicose no Sangue e Hipóxia
O medo crônico causa a secreção de cortisol no corpo, o que
aumenta os níveis de glicose no sangue. Os estudos de pesquisa abaixo mostram
que a glicemia alta está ligada à hipóxia nos tecidos através do efeito Bohr. O
hormônio adrenalina causa hipocapnia e diminui o fluxo sanguíneo para o
cérebro. Assim sendo: a hipóxia nos tecidos, especificamente no cérebro, é o
resultado final do medo crônico.
Abaixo um resumo dos estudos relacionados no artigo. Como
envolvem muitos termos técnicos, será apenas exposto a ideia geral de cada um
deles.
O primeiro envolve a relação entre o oxigênio e a
expressão de uma proteína muito especial chamado HIF Alfa 1 (hypoxia-inducible
fator-1 alpha) – sigla HIF1α – em português chamado de Fator
Induzido pela Hipóxia. É uma partícula que transmite informações do DNA para
transcrição de RNA. Mas o que importa entender é o seguinte: essa partícula
ativa mecanismos adaptativos quando falta oxigênio nas células. Em condições
normais não falta oxigênio nas células, então toda HIF1α
é degradada. Porém
quando falta oxigênio por qualquer motivo essa proteína estimula pelo menos
duas coisas fundamentais para sobrevivência de células e tecidos: a glicólise –
fermentação, e o estímulo ao fator de crescimento de endotélio vascular, para
auxiliar o retorno de abastecimento de sangue nesses tecidos sem oxigênio!
(Bastante parecido com aquilo que ocorre com tecidos cancerosos, não?)
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Alguns trechos dos estudos - que estão íntegros na versão original - (você pode pular para o próxima parte), basicamente os estudos a seguir exploram pesquisas que envolvem o comportamento de células frente a falta de oxigênio, a expressão de HIF1α e a glicose, especialmente em reação às células produtoras de insulina do pâncreas):
Estudo
realizado em 2010 por Heinis e Simon: quando cultivados em colágeno, as células
pancreáticas embrionárias ficaram hipóxicas e com a expressão de HIF-1α raras
células-beta ficam diferenciadas. Quando cultivadas no pâncreas em filtro
(normoxia, quantidade ideal de oxigênio), a expressão de HIF-1α é reduzida e numerosas células beta se
desenvolveram. Durante o desenvolvimento do pâncreas, os níveis de HIF-1α foram
elevados nos estágios iniciais e diminuíram com o tempo. (...) Esses
dados demonstram que a diferenciação de células beta é controlada pela pressão
de oxigênio (pO2) através de HIF-1α. (...)
Um
estudo de Cheng et al em 2010 demonstrou que o fator HIF-1α, é um fator de
transcrição que regula as respostas ao estresse celular. Embora os níveis de
proteína HIF-1α sejam rigorosamente regulados, estudos recentes sugerem que
pode ser ativado em condições ideais de oxigênio. Nós hipotetizamos que o
HIF-1α é necessária para a função e reserva de células beta normais e que a
desregulação pode contribuir para a patogênese do diabetes tipo 2 (DT2). (...)
Regazzetti
et al em 2009 mostraram que, tanto em adipócitos humanos quanto em ratos, a
hipoxia inibe a sinalização de insulina, como revela uma diminuição da
fosforilação do receptor de insulina. (...) A partir desse estudo os autores fazem a elação: a hipóxia
poderia ser imaginada como um novo mecanismo que participa na resistência à
insulina no tecido adiposo de pacientes obesos. [24]
Chen
et al, em 2006, demonstraram que baixos níveis plasmáticos de adiponectina
(hipoadiponectinemia) e elevadas concentrações circulantes do inibidor do
ativador de plasminogênio (PAI) -1 estão associados de forma causal à resistência à
insulina e à doença cardiovascular relacionada à obesidade. (...) No conjunto de dados dessa pesquisa, os dados sugerem que hipoxia e os radicais livre (ROS) diminuem a produção de
adiponectina e aumentam a expressão de PAI-1 em células de gordura através de
caminhos de sinalização distintos. Esses efeitos podem contribuir para
hipoadiponectinemia e níveis elevados de PAI-1 na obesidade, diabetes tipo 2 e
doenças cardiovasculares. [27]
Moritz
e Meier et al em 2002 mostraram que para tornarem-se independentes de insulina,
os pacientes com diabetes mellitus tipo 1 requerem transplante de pelo menos de dois doadores de pâncreas por causa da perda maciça de células beta no período
inicial pós-transplante. Muitos estudos que descrevem a introdução de novos
protocolos imunossupressores mostraram que essa perda não se deve apenas a
eventos imunológicos, mas também a fatores não imunológicos. Para testar em que
medida a hipoxia pode contribuir para a perda precoce do enxerto, analisamos a
ocorrência de eventos de morte celular (apoptose) e a expressão do HIF1α. (...)Essas
observações sugerem que a expressão gênica sob o controle de HIF-1 representa
uma potencial ferramenta terapêutica para melhorar o enxerto de ilhotas
transplantadas. [28]
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O hormônio adrenalina causa hipocapnia (redução de gás carbônico) e
diminui o fluxo sanguíneo para o cérebro também. Assim sendo a hipóxia nos
tecidos, especificamente no cérebro, é um resultado do medo crônico.
Hipóxia,
inflamação e câncer
A diferença fundamental mais importante entre as células
normais e as células cancerígenas é como elas produzem energia. As células
normais usam o sofisticado processo de respiração para transformar
eficientemente gordura, carboidratos ou proteínas em altas quantidades de
energia. Este processo requer oxigênio e quebra os alimentos completamente em
dióxido de carbono e água. As células cancerosas usam um processo primitivo
denominado de fermentação para transformar de forma ineficiente a glicose vinda
principalmente de carboidratos ou o amino ácido glutamina das proteínas, em
pequenas quantidades de energia.
Os achados mais importantes dessas pesquisas são que as
gorduras não podem ser fermentadas. Este processo não requer oxigênio, e apenas
parcialmente degrada as moléculas de alimentos em ácido lático e amônia, que
são produtos de resíduos tóxicos. As células normais às vezes têm que mudar
para o processo de fermentação se estiverem experimentando temporariamente uma
falta de oxigênio.
No entanto, nenhuma célula em seu estado de equilíbrio
jamais escolheria usar a fermentação quando houver oxigênio suficiente. Não
produz quase tanta energia e cria subprodutos tóxicos. Resumidamente, a
fermentação é primitiva e desperdiçadora. As células cancerosas usam a
fermentação mesmo quando há bastante oxigênio ao redor, o que é a explicação do
efeito Warburg, considerado a assinatura metabólica das células cancerígenas.
Se uma célula transforma glicose em ácido lático quando existe oxigênio
disponível, essa seria uma célula cancerígena. [29] A hipoxia, bem como a
inflamação nos tecidos e em células normais, aumentam as quantidades de espécies reativas de oxigênio (ROS) nas
células, que é a principal causa de câncer. [30]
DISCUSSÃO
De todos os aspectos descritos anteriormente nos materiais e
métodos, temos que o medo crônico faz com que as glândulas supra-renais liberar o hormônio
adrenalina, que por sua vez aumenta as quantidades de cortisol. O hormônio cortisol causa inflamação aumentando os níveis de glicose no sangue e
suprimindo a resposta do sistema imunológico. [Michopoulos V. et al, 2016] A
adrenalina, por outro lado, causa hipocapnia e hiperventilação, que através do
efeito Bohr causa hipoxia, o que leva a maiores quantidades de espécies reativas de oxigênio (ROS) nos
tecidos. A adrenalina também diminui o fluxo sanguíneo para o encéfalo, o que
diminui as quantidades de oxigênio no cérebro. [22-28]
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Figura (2) O impacto do cortisol e adrenalina na causalidade do câncer |
Medo e evolução
Do ponto de vista da psicologia evolutiva, diferentes medos
podem ser adaptações diferentes que foram úteis em nosso passado evolutivo.
Eles podem ter se desenvolvido durante diferentes períodos de tempo. Alguns medos,
como o medo das alturas, podem ser comuns a todos os mamíferos e desenvolvidos
durante o período mesozoico. Outros medos, como o medo das cobras, podem ser
comuns a todos os símios e desenvolvidos durante o período de tempo do
cenozóico. Outros, como o medo de ratos e insetos, podem ser únicos para os
seres humanos e desenvolvidos durante os períodos de tempo paleolítico e
neolítico (quando os ratos e os insetos se tornam portadores importantes de
doenças infecciosas e prejudiciais para plantações e armazenamento de alimentos). O
medo é elevado somente se o risco e a gravidade observados forem altos, e é
baixo se o risco ou a gravidade for reduzido. [20,21]
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Figura (3) Efeitos colaterais do medo crônico |
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Figura (4) A razão da incidência do câncer a partir do medo crônico |
CONCLUSÃO
A principal causa de câncer é o aumento das quantidades de ROS e inflamação dentro das células eucariontes humanas saudáveis, que através
do efeito borboleta resulta em dano e mensagens erradas do DNA para as
mitocôndrias e causa o desligamento das mesmas. [S. Zaminpira, S. Niknamian, EC
Cancer, 2017] O medo provoca o aumento das quantidades dos hormônios:
adrenalina e cortisol das glândulas suprarrenais. O cortisol suprime o sistema
imunológico, provoca inflamação e aumenta o nível de glicose no sangue. A
adrenalina causa hipocapnia, diminui o fluxo sanguíneo para o cérebro e suprime
a função do sistema digestivo. Hipocapnia e glicemia elevada no sangue resultam
na hipóxia nos tecidos através do efeito Bohr. [Regazzetti et al. 2009] baseado
na Teoria de Otto Warburg, a hipóxia crônica está relacionada à causa do câncer
em células saudáveis. [Warburg O., 1969] O fluxo sanguíneo baixo para o cérebro
causa hipóxia nos tecidos cerebrais também.
Em conclusão, o medo crônico resulta na incidência de
câncer em seres humanos através do aumento das quantidades de ROS, inflamação e
hipóxia nos tecidos especialmente no cérebro e no sistema digestivo.
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