segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Nitritos - devemos nos preocupar?


NITRITOS, NITRATOS & CARNES PROCESSADAS:

 UMA OUTRA PERSPECTIVA À LUZ DA CIÊNCIA


Em 2013, houve uma ampla divulgação de uma pesquisa da World Cancer Research Fund, relacionando o consumo de carnes processadas e câncer. Uma pesquisadora independente, do blog/site eathropology fez um interessante artigo sobre essa pesquisa. Quando é feito uma busca sobre o tema, parece que se trata de uma verdade irrefutável, não plausível de entrar em discussão.
Quando estudamos com olhos mais perspicazes vemos que não é bem assim.

Ela inicia seu artigo assim:  Carnes processadas foram declarados muito perigosas para o consumo humano por pseudo-especialistas que são incapazes de diferenciar entre estudos observacionais e ensaios clínicos, o que representa enormes riscos para o QI coletivo do público internético de leitura [1].
De fato um dos maiores obstáculos a compreensão de dados que envolvem hábitos alimentares é o árduo desafio de se vencer as limitações de estudos de observação, em comparação com estudos clínicos duplo cego randomizados (que não é realmente impermeável a erros).
Ela prossegue: O World Cancer Research Fund recentemente concluiu uma revisão detalhada de 7.000 estudos que abrangem a ligação entre dieta e câncer. Um gigantesco total de 11 (ONZE) destes estudos eram  realmente ensaios clínicos que testaram duas abordagens dietéticas diferentes ou de suplementação e suas consequências para o câncer. Dois desses 11 ensaios testaram uma intervenção dietética, ambos usando uma dieta com baixo teor de gordura em comparação com um controle sob uma dieta habitual. Os pesquisadores descobriram que, "O modelo de intervenção com redução de gordura no padrão alimentar  não reduz o risco de câncer colo-retal invasivo em qualquer de suas localizações" [2]. Em outras palavras, evitando gordura em alimentos como bacon, salsichas, costeletas de porco, e pepperoni não vai reduzir o risco de câncer de cólon; no entanto, pode reduzir o prazer da vida consideravelmente, o que, em si, é uma dor como um chute no traseiro (a expressão original da autora é mais ousada).
Após a conclusão, é evidente que a leitura dos resumos de pesquisas escritos por pessoas que não sabem a diferença entre um estudo observacional e um ensaio clínico é perigoso para o intelecto humano e para aquisição de informações precisas. Os consumidores devem parar de ler artigos “processados“ cheios de informações poluídas, e ao invés disso deveriam assistir reprises de alguma antiga comédia televisa (a sugestão da autora é Gillingan’s Island, - série dos anos 60, sobre náufragos que não conseguiam fugir de uma perdida ilha tropical).


O que são carnes processadas?

Como é sabido as carnes processadas incluem bacon, salsichas, linguiças, carnes de sanduíche, presunto, pepperoni, salame (além da carne encontrada em produtos alimentares pré-preparados e congeladas. Vamos nos deter na questão dos nitritos:
As carnes processadas são geralmente fabricados com um ingrediente conhecido como nitrato de sódio, que é muitas vezes associada ao câncer por pseudo-especialistas que não sabem como procurar coisas no PubMed. O nitrato de sódio é usado principalmente como um fixador de cor por empresas de carne para fazer as carnes embaladas terem um visual vermelho brilhante e fresco.



Nitrato de sódio tem sido fortemente relacionado com a formação de nitrasaminas causadores de câncer [sic] no corpo humano, levando a um forte aumento no risco de câncer para quem consumi-los. Isto é especialmente assustador, uma vez que, tanto quanto a ciência de verdade revela, não existe tal coisa como uma nitrasamina. Os cientistas estão muito preocupados, no entanto, a cerca das nitrosaminas, que de fato, realmente existem. Sua preocupação reflete um crescente corpo de evidências de que as pessoas que escrevem sobre nutrição na internet, na verdade, não tem ideia sobre o que eles estão ostensivamente falando.

Bem, porque a autora fala de forma tão enfática?

Ocorre que em janeiro de 2004, uma publicação do JCN – The Journal of Clinical Investigation – publica uma interessante revisão sobre os nitritos, numa abordagem não usual: Nitrite in saliva increases gastric mucosal blood flow and mucus thickness (Nitrito na saliva aumenta o fluxo de sangue e a espessura da muco do estômago)LINK
O artigo começa com o seguinte resumo:

"O nitrato salivar de fontes alimentares ou endógenas é reduzido a nitrito por bactérias orais. No estômago ácido, o nitrito é ainda mais reduzida para NO (óxido nítrico) e compostos relacionados, que possuem potencial atividade biológica. Foi utilizado um modelo in vivo em ratos como um bio-ensaio para testar os efeitos da saliva humana sobre o fluxo de sangue na mucosa gástrica e na espessura do muco. Foram medidos o fluxo sanguíneo e a espessura da mucosa após a administração tópica de saliva humana em HCl (ácido clorídrico – o ácido do estômago). A saliva foi coletada ou após o jejum (reduzida em nitrito) ou após a ingestão de nitrato de sódio (rica em nitrito). Em experiências adicionais, a saliva foi trocada por nitrito de sódio, em diferentes doses. O fluxo de sangue da mucosa foi aumentado após a aplicação luminal de saliva rica em nitrito, enquanto a saliva de jejum não produziu efeitos. Além disso, a espessura do muco aumentou em resposta à saliva rico em nitritos. Os efeitos da saliva rica em nitrito foram semelhantes aos de nitrito de sódio aplicado topicamente. Efeitos mediados por nitrito foram associados com a geração de NO e S-nitrosotióis. Além disso, o pré-tratamento com um inibidor de guanilil- ciclase inibiu de forma marcante os efeitos mediados pelo nitrito sobre o fluxo sanguíneo. Conclui-se que a saliva humana contendo nitrito oferece aumento do fluxo de sangue na mucosa gástrica e na espessura do muco em ratos. Estes efeitos são provavelmente mediados pela geração não enzimática de NO através da ativação da guanilato-ciclase. Isso apoia um papel gastro-protetor da saliva que contém nitrato/nitrito."

Ainda o mesmo artigo discute o seguinte:


"Houve ampla discussão sobre os riscos de saúde relacionados com a quantidade de nitrato em nossa dieta. Quando o nitrato alimentar encontra com a saliva ele é rapidamente reduzido para nitrito na boca ... (por ação de bactérias presentes na cavidade oral). A saliva contendo grandes quantidades de nitrito é acidificada no estômago normal, o que aumenta a geração de N-nitrosaminas, que são cancerígenos poderosos em situação experimental. Mais recentemente, tem sido sugerido que o óxido nítrico no estômago pode também ser cancerígeno. 
(Porém) um grande número de estudos foram realizados para examinar a relação entre a ingestão de nitrato e câncer gástrico nos seres humanos e animais. De um modo geral verificou-se que não há nenhuma relação, quer uma relação direta ou uma relação inversa, de tal modo que uma elevada ingestão de nitrato está associada com uma taxa mais baixa de câncer. Recentemente, foram realizados estudos que sugerem não apenas que o nitrato é inofensivo, mas, na realidade, pode até mesmo ser benéfico. Em realidade, o nitrito acidificado pode ser uma parte importante da defesa de hospedeiros do estômago contra patógenos deglutidos. Os resultados aqui apresentados ainda apoiam a interpretação de que o nitrato da dieta é gastro-protetor. Eles também sugerem que a microflora oral, em vez de ser potencialmente prejudicial, está vivendo em uma verdadeira relação de simbiose com seu hospedeiro. O hospedeiro fornece nitrato, que é um nutriente importante para muitas bactérias anaeróbias. Em contrapartida, as bactérias ajudam o hospedeiro, gerando o substrato (nitrito) necessário para a geração de óxido nítrico no estômago "[3].

É bom pesquisar e ver as várias facetas dos estudos para entendê-los melhor.
Particularmente creio que há de fato um problema com as carnes processadas utilizadas no nosso dia-a-dia: o uso de açúcar, soja e outros condimentos altamente discutíveis, sendo bastante distintos da forma de produção tradicional (o bacon tem mais de 3500 anos de história). Mas no que diz respeito aos nitritos - que seria o alvo mais preocupante adotado pela ciência média - parece que podemos ficar, realmente, bem menos estressados.


Fontes
  1. http://hollyleehealth.com/2013/04/02/processed-meats-declared-too-dangerous-for-human-consumption/
  2. http://www.wcrf.org/PDFs/Colorectal-cancer-CUP-report-2010.pdf
  3. http://www.jci.org/articles/view/19019




(As referências se encontram na próprio artigo)

Artigo inspirador: LINK de Adele Hite.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Não conte calorias para reduzir seu peso



QUER PERDER PESO ? 

PARE DE CONTAR CALORIAS!


Mais um artigo que saiu em um jornal de grande circulação - Huffpost Helth Living - fala sobre a diferença a favor das dietas low carb (e ricas em gordura) são vantajosas para a saúde  e o controle de peso.


Está na cara, tudo parece tão fácil: Calorias são calorias, não importa a comida. E se você quer perder peso, tudo que você tem a fazer é simplesmente "gastar" mais calorias do que você consome, seja com mais exercício ou com menos comida.

Mas quem já tentou perder peso desta forma sabe que não é nada fácil. E controle de peso a longo prazo parece absolutamente impossível para a maioria, considerando o número de desistentes entre aqueles que não conseguem manter os quilos a menos ao longo dos anos.

O problema, diz o pesquisador cardio vascular James DiNicolantonio do Hospital São Lucas, é a ideia (da contagem) das calorias - como fosse uma ferramenta para perda de peso.

"Todos os países do mundo estão tendo problemas com a obesidade, e até agora nada deu certo ", disse DiNicolantonio."Mas é importante notar que não estamos morrendo de obesidade, nós estamos morrendo da doença metabólica crônica. "

Coisas como doenças cardíacas, diabetes e derrame (AVC) contribuem para cerca de 800,00 mortes anuais apenas nos EUA - e agora os pesquisadores estão esperando isolar os alimentos que são metabolicamente disruptivos, ao invés de ricos em calorias, na esperança de reduzir as taxas de tais doenças.
Em um estudo de revisão publicado no Journal Public Health Nutrition, DiNicolantonio  argumenta que enxergar o corpo humano como um mero pêndulo de calorias - manter um equilíbrio  nas calorias que entram e saem (ingestão/gasto) - faz-se ignorar os efeitos metabólicos muito claramente negativos que certos ingredientes, como carboidratos simples (massas e pão branco, por exemplo) e açúcares adicionados (a alimentos industrializados) tem sobre o corpo.

Na revisão, DiNicolantonio argumenta que os carboidratos rapidamente absorvíveis - coisas como o açúcar, xarope de milho, batata, arroz branco, cereais e qualquer coisa feita com farinha branca - resulta em ganho de peso, porque eles promovem picos de açúcar no sangue, o que faz os níveis de insulina subir. Subsequentemente isto induz a uma queda súbita do açúcar no sangue, o que leva a pessoa a desejar ainda mais carboidratos. Ele chama isso de "enlace reforçador para o consumo excessivo (reinforcing loop for overconsumption)", que, a longo prazo, poderia desativar leptina (hormônio que nos faz sentir satisfeito), resultando em ainda mais excessos.

Esta via metabólica tem sido investigada e descrita em trabalhos prévios por cientistas como Dr. Robert Lustig da University of California, San Francisco - pesquisador do açúcar, que descreve o açúcar como um "veneno" e Dr. Peter Havel da University of California, Davis, que está investigando a ligação entre frutose e síndrome metabólica.

"Assim como não se culpa uma criança que está crescendo (aumentando em tamanho) quando eles estão atravessando a puberdade -- uma vez que seus hormônios estão fazendo isso acontecer - hormônios também podem causar o armazenamento de gordura, e podem promover a fome, "DiNicolantonio explicou em uma entrevista por telefone para o The Huffington Post.

"Uma vez que você conhece a bioquímica, você percebe que ele não é sua culpa, e não é
falta de força de vontade. Estes alimentos têm alterado sua bioquímica para fazer você sentir literalmente faminto. "

Concentrando-se nas calorias também se pode criar um preconceito contra muitos alimentos saudáveis, particularmente alimentos ricos em gordura. A gordura dietética é mais calórica do que carboidratos ou proteínas, por isso alimentos low calorie são muitas vezes pobres em gordura. Isso leva as pessoas a substituir alimentos gordurosos saudáveis como nozes por alimentos de baixa caloria, com baixo teor de gordura como chips de batatas assadas que não são tão nutritivos
ou saciadores.

Além disso, se estimar com precisão a ingestão de calorias e seu gasto é extremamente difícil,
mesmo para a pessoa mais bem informada e dedicada com as mais recentes equipamentos.

Mais importante, os nossos corpos simplesmente não se deixam enganar. Se fizer mais exercício, o seu corpo responde pedindo-lhe para comer mais alimentos. Se você comer menos, seu corpo vai responder retendo a energia que você poderia usar. E a menos que você goste de ir para a cama
faminto, algo - ou exercício ou comer menos - vai acontecer. DiNicolantonio descreveu isso como um acoplamento biológico da ingestão de calorias e gasto calórico, (original: biological coupling of calorie intake and calorie expenditure) e os pesquisadores teorizam que pode ser uma das razões pelo qual as pessoas lutam para manter a perda de peso a longo prazo.

DiNicolantonio não endossa qualquer dieta especial, mas a mensagem a partir da revisão
foi simples e direta: Se você quer perder peso, "não se concentre nas calorias", aconselhou
DiNicolantonio. "Alimentos com um maior teor de gordura e mais calorias geralmente vai promover mais saciedade, e você vai comer menos. "

No início deste ano, em um estudo não relacionado, mas influente, a professora de nutrição Lydia Bazzano da Universidade Tulane realizou um estudo controlado randomizado com um ano de duração com dois grupos de dietas (LINKl): aqueles que reduziram os carboidratos e aqueles que reduziram a gordura. Ela descobriu que na dieta low-carb foi reduzido oito libras (cerca de 3,6 kg) a mais do que o grupo de baixo teor de gordura.

As seguidores low-carbs também diminuíram significativamente o risco estimado em 10 anos para
doença cardíaca coronária, enquanto o grupo de baixo teor de gordura não obteve tal recompensa. Os participantes do estudo não contaram calorias, e seus resultados são muito corroborados pelo trabalho de DiNicolantonio.

Bazzano elogiou a nova avaliação por apontar que diferentes alimentos afetam o corpo de forma diferente, de forma mais profunda do que se entende em relação a quantidade de calorias.

"Reconhecer que nem todas as fontes de calorias têm efeitos equivalentes no corpo é crucial, e a teoria 'uma caloria é uma caloria' realmente impede isso", escreveu em um email enviado por Bazzano para HuffPost. "Esses macro-nutrientes, carboidratos, gorduras e proteínas, utilizam diferentes vias metabólicas em nossos corpos e produzem diferentes sentimentos, estimulam diferentes hormônios e mensageiros celulares, produzindo resultados diferentes em termos de peso e risco de doenças."

A obsessão das últimas décadas por alimentos com redução de calorias (e, consequentemente, com redução de gordura) tem beneficiado empresas que produzem alimentos com baixo teor de gordura, mas com adição de açúcar e sal para tornar tais produtos mais saborosos, Bazzano continuou.

"Os itens alimentares que são 100 por cento carboidratos rapidamente absorvíveis poderiam adicionar a expressão "baixo teor de gordura " em seus rótulos e, assim, serem percebidos como "saudáveis" e potencialmente auxiliares na perda de peso, uma vez que esses itens não contém essa fonte concentrada de calorias: gordura", disse Bazzano.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a global figures for 2008, o último relatório disponível, mais de 1.4 bilhões de adultos estão com sobrepeso. Em 2013, 42 milhões de pré-escolares ao redor do mundo estariam com sobrepeso, e crianças com sobrepeso têm mais chances de serem obesas na vida adulta, do que crianças com peso normal.



LINK ORIGINAL: em 25/11/2014.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

O leite A - uma reflexão


O Leite A
 (Chutando o Balde)
                                                                                                                                                                                                                              José Luiz Moreira Garcia (*) 

       Não é novidade para ninguém que o leite de vaca esteja causando alergia às pessoas. Não estou falando de intolerância a lactose (o açúcar do leite) por falta de lactase (a enzima que digere a lactose), pois esse é um fator mais ligado a herança genética, mas sim de alergia propriamente dita, ou seja, uma reação imunológica gerada pelo nosso corpo a proteínas do leite.
Para explicar esse fenômeno o que não faltam são "profetas de plantão" geralmente oriundos das escolas e vertentes de pensamento naturebas com explicações do tipo: " o homem é o único animal no mundo que toma leite na idade adulta". Essa frase dita e repetida "ad nauseum" por "gurus" nutricionais e até mesmo por alguns médicos desavisados, soa bastante verossímil.
Essa explicação aparentemente correta sempre desafiou a minha modesta inteligência. Me explico: Como descendente direto de ibéricos sou geneticamente equipado para desconfiar de tudo e de todos. O " Hay gobierno ? Soy contra" está intimamente amalgamado no meu DNA.           
Decidi estudar o leite de vaca na evolução da espécie humana. Decidi também estudar a veracidade da afirmação natureba. Logo de cara descobri que o homem é o único animal de toma leite na idade adulta por ser dotado de livre arbítrio.
           Descobri que até pássaros tomam o leite de vaca, passando por cachorro, gato, e o que mais for e até mesmo o próprio gado, se o leite, a eles, for oferecido. Hipótese cada vez mais remota com o preço do leite nos patamares atuais.
         A razão do bezerro/a não tomar leite de vaca após uma  certa idade, é que a um determinado ponto a vaca, sabiamente, dá um “basta!” não mais permitindo ao seu rebento esse privilégio para que o mesmo por si próprio passe a se alimentar de capim, o alimento preferencial para o qual o gado bovino está geneticamente aparelhado para garantir a sua subsistência . Nesse momento a vaca sabiamente passa a hostilizar a própria cria, pois irá necessitar de toda a sua energia para gerar a próxima cria. É apenas mais uma faceta da natureza sábia.
           Descobri, igualmente, que o homem toma leite de vacas há mais de 10.000 anos e que nunca teve problemas de alergia nos últimos 9.900 anos. Descobri também, que o leite de vaca foi fundamental para o desenvolvimento da própria espécie humana, tirando dos homens parte do trabalho diário de obter alimentos, quer pela caça quer pela coleta de alimentos.
           O que estaria acontecendo hoje em dia, então ?
     A resposta pode estar em uma descoberta recente por parte da ciência. Os pesquisadores descobriram que todas as fêmeas, incluindo a mulher, cabra, égua, camela, etc... produzem , no leite, uma proteína denominada Beta caseina A2, mas que, a aproximados 10.000 anos atrás, algumas vacas sofreram uma mutação genética e passaram a produzir também uma proteína denominada Beta Caseina A1. A única diferença entre as duas proteínas é apenas um amino acido na 67ª posição entre 203 amino ácidos que compõem as duas proteínas. A Beta Caseina A1 possui uma histidina enquanto que a Beta Caseina A2 tem uma prolina na 67ª posição.
           Entra uma histidina no lugar de uma prolina, e como a natureza é caprichosa, essa aparente pequena diferença faz com que a proteína seja clivada ( quebrada ) nessa posição dando origem a um peptídeo (parte de proteína) denominado "Beta Caso Morfina A7" por ter uma estrutura química semelhante a morfina.
            É criado no estomago, por meio da digestão ácida, um opiáceo.
         Segundo vários autores, as Beta Caseinas A1 e seu peptídeo, principalmente um denominado Beta Caso Morfina 7 estariam implicadas em uma serie de reações alérgicas.
           Estudos europeus demonstraram estar esse peptídeo associado a casos de autismo, morte súbita e diabetes tipo-1 em crianças e problemas coronarianos, problemas neurológicos e colesterol elevado em adultos.
      Esse fato fez com que os pesquisadores estudassem todas as raças bovinas e descobrissem quais as que produziam uma maior quantidade de leite A1 e A2.
           Uma pesquisa genética de nossos patrícios da USP de São Carlos demonstrou que todas as raças zebuínas ainda  produzem leite A2 na sua quase totalidade ( números bem próximos a 100%), não tendo sido afetadas por aquela mutação genética. Ponto para os criadores de Gado Gir Leiteiro. Além das características já conhecidas de rusticidade e resistência a parasitos externos aparece agora mais essa vantagem, o leite do Gir é não alergênico.
           Nas raças taurinas (européias) apenas a raça Guernsey, que já foi a raça leiteira mais criada no Brasil e infelizmente se extinguiu devido a vários fatores e que agora está aumentando a nível mundial, produz exclusivamente o Leite A2, ficando a raça Jersey em segundo lugar com 75% de leite A2 e 25% de leite A1 alergênico e a raça holandesa com 50% de leite A1 e 50% de leite A2.
        Como em todas as descobertas científicas que colocam em cheque o sistema estabelecido essas descobertas também estão sendo e irão ser combatidas como sempre foram pelos cientistas de aluguel, mídia de aluguel e finalmente por políticos/legisladores de aluguel vendidos aos interesses econômicos contrariados. A título de ilustração vejam o que está acontecendo com a idéia que propõe a utilização de sacolas de supermercados feitas com material biodegradável e vejam os argumentos usados pela industria de plástico poluente para a manutenção da sua sobrevivência.
            Uma outra hipótese nos chama a atenção para o manejo e a alimentação das vacas leiteiras nos últimos 60 a 70 anos. A bem da verdade é bom que se diga que as vacas leiteiras evoluíram comendo capim. São seres pastejadores herbívoros. Deveriam, portanto, se alimentar preferencialmente de capim. Certo ?
           ...................Errado!.
       As vacas leiteiras, hoje em dia,  comem quase tudo menos capim. Vejam por exemplo alguns exemplos de componentes da dieta exótica das vacas leiteiras nos últimos 70 anos:                                                                                                                                               
- Esterco de galinha (proibido mas ainda utilizado na clandestinidade no Brasil)
- Caroço de Algodão                                                                                                           
- Polpa de Laranja ( sub-produto industrial)
- Farelo de Soja
- Uréia, Sulfato de Amônio ( derivados de petróleo)          
- Farinha de Carne ( hoje proibida)                                                         
- Farinha de Penas ( hoje proibida)
           Finalmente após todo esse cardápio indigesto vocês não poderiam ficar surpresos se eu lhes contasse que 80% de todo o Bicarbonato de Sódio produzido nos EUA sejam utilizados na alimentação de vacas de leite.
           Haja Bicarbonato de Sódio !!!!
O homem descobriu um atalho para a pobreza dos nossos solos e ao invés de fertilizar os solos prefere dar aos animais diretamente os sais que na verdade deveriam ser usados como adubos de solo.
Se as duas hipóteses estiverem corretas qual seria a vaca que teoricamente produziria o leite mais  alergênico ?
Exatamente!  A vaca holandesa que produz mais proteína A1 alimentada com a dieta exótica que é utilizada nas fazendas-fábricas que são preconizadas pelo status-quo técnico-científico do chamado agro-negócio, que insiste em tentar reduzir  todas as tarefas biológicas a meros produtores de moeda corrente sem levar em consideração as necessidades fisiológicas de cada espécie animal, isto é , uma dieta altamente acidificante e geradora de problemas já bastante conhecidos de todos os criadores de gado leiteiro, a saber, laminite, indigestão, empanzinamento, abomaso desalojado, baixa longevidade ( vida curta), etc...
Também, não poderiam ficar surpresos se eu lhes disse-se que a média de lactações de uma vaca nos Estados Unidos, a Meca do conhecimento científico e onde todos os técnicos e cientistas brasileiros se espelham, é de apenas 1,8 lactações ou até menos. Não é para menos.
Mas, afinal, quem se importa?
O Status Quo acadêmico-científico nos diz o que é certo e o que é errado e o que conta no fim do dia é produzir mais leite não importando as conseqüências.
Entretanto, vamos admitir por um átimo de tempo que ambas hipóteses poderão estar corretas. A Nova Zelândia já se adiantou a registrar o nome "A2 Milk" e está certificando laticínios ou fazendas que trabalhem exclusivamente com Leite A2 determinado por meio de exame de DNA dos animais do rebanho e normas de manejo que contemplem o livre acesso dos animais ao pasto, luz solar e ar livre dos animais em lactação.
        No mundo todo consumidores conscientes estão demandando alimentos cada vez mais produzidos de forma ecologicamente correta e leite produzido em fazendas-fábricas de gado holandês criado em confinamento (também ironicamente chamado de Free-stall) recebendo dieta exótica e acidificante que produz leite alergênico não é propriamente o que se pode chamar de ecológico e nem de correto ou até mesmo de salutar.
           Asneira ! Non-Sense ! Irão protestar o sistema e as autoridades constituídas.
           O tempo dirá quem está realmente com a razão.
           Da minha parte eu posso lhes garantir que estou trabalhando para ter o meu leite de vacas Guernsey, Jersey e Gir ou giradas que comam preferencialmente pasto ou feno produzidos em solos remineralizados com altos teores de fósforo, cálcio, magnésio e potássio e com teores expressivos de ferro, manganês, zinco, cobre, boro, cobalto e molibdênio e com uma microbiologia ativa para garantir um bom suprimento de húmus que irá se contrapor as secas e estiagens, cada vez mais freqüentes, e gerar plantas mais sadias e nutritivas.
           Talvez um dia, quem sabe, algum consumidor mais exigente irá dar valor ao meu produto. Antes tarde do que nunca !

(*) O Autor é formado em Agronomia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e
tem Mestrado em Bioquímica e Fisiologia de Plantas pela Michigan State University.
Também é criador de Gado Guernsey e Jersey no Sul de Minas.
(Esse artigo me foi enviado há alguns anos e me parece muito pertinente para reflexão...
E tem Permitida sua divulgação na íntegra.)