segunda-feira, 21 de setembro de 2020

A insulina e a pressão arterial

 


Como e porque uma dieta lowcarb pode lhe auxiliar a controlar a pressão
 
A hipertensão essencial e a insulina elevada

Esse texto é baseado num estudo publicado em 2019 que visa estudar a relação entre os distúrbios da insulina e uma das enfermidades mais comuns e com mais repercussões na saúde geral das pessoas, a hipertensão arterial. É uma doença que afeta cerca de um bilhão de pessoas em todo o mundo [1]. Esse estudo foi realizado no Egito, onde 26,3% dos adultos tinham pressão alta (HAS) entre 1991 a 1993, [2].  No Brasil em 2018 a prevalência da hipertensão está em 24,7 % (em 2018, segundo o ministério da saúde), porém com percentuais maiores de acordo com faixa etária e também variando de acordo com a localização (na cidade do Rio, pode chegar a 31,2%).  A hipertensão é um conhecido fator de risco de doenças cardiovasculares e renais. O risco de mortalidade cardiovascular dobra a cada aumento de 20/10 mmHg na pressão arterial sistólica (PAS) e na pressão arterial diastólica (PAD) [1]


Em geral é considerado que 80 a 90% das causas da hipertensão são desconhecidas (o que chamamos de hipertensão essencial). É denominado hipertensão secundária aquela que é originada por outras enfermidades [3]

Hipertensão essencial: possíveis causas tradicionalmente incluem fatores hereditários, genéticos, ambientais, danos endoteliais dos vasos sanguíneos e aterosclerose, resistência à insulina (RI) [4] , [5] e fatores associados ao estilo de vida, como obesidade, estresse, excesso de sódio, fumo e álcool ingestão. 
Hipertensão secundária: possíveis causas incluem doenças renais, doenças endócrinas, doenças cardiovasculares, medicamentos e situações específicas e transitórias como a eclampsia da gravidez [6] .


O nível de insulina em jejum é um índice clínico que reflete o estado do metabolismo da glicose. A hiperinsulinemia ocorre como uma compensação pela tolerância à glicose diminuída e é uma manifestação clínica precoce da resistência à insulina (RI) [7]. Também conhecida como síndrome metabólica, a resistências insulínica é um estado metabólico anormal no qual as células do corpo perdem a sensibilidade à insulina, o que significa que sua capacidade de responder à insulina que transporta glicose da corrente sanguínea para o músculo e outras células diminui. Como resultado, o pâncreas produz grandes quantidades de insulina para manter os níveis normais de glicose no sangue para lidar com as demandas do corpo. Eventualmente, o pâncreas não consegue lidar com o aumento da glicemia, mesmo em jejum, levando ao desenvolvimento de diabetes mellitus (DM) ou diabetes tipo 2 [8]. A insulina também contribui para a regulação da pressão arterial por meio do vasorrelaxamento induzido pela estimulação da produção de óxido nítrico no endotélio [9] e regulação da homeostase do sódio aumentando a reabsorção de sódio no rim [10] .


A resistência à insulina e os níveis elevados de insulina - hiperinsulinemia - são conhecidos por terem profunda relação com vários quadros de preocupação médica: as anormalidades dos níveis de colesterol e triglicerídeos (dislipidemia), transtornos cardiovasculares e obesidade. Uma vez que essas doenças estão significativamente associadas à hipertensão, fica naturalmente sugerido uma relação clínica entre hiperinsulinemia e hipertensão [11] , [12]. Além da hiperinsulinemia, outros fatores que possivelmente promovem o desenvolvimento de hipertensão por meio da situação de resistência à insulina incluem a obesidade visceral, o estresse oxidativo, a ativação do sistema renina-angiotensina (onde vários medicamentos típicos da hipertensão atuam) e aumento de mediadores inflamatórios. Esse conjunto de  fatores atuando em sinergia podem induzir a hiperatividade simpática, vasoconstrição e aumento do líquido intravascular, resultando em hipertensão arterial [13].


Um dos pontos sublinhados pelos autores do estudo é que: “Nossa descoberta de que o nível de hipertrigliceridemia está significativamente relacionado ao grupo de hipertensos está de acordo com muitos dados publicados recentemente, que provaram que hiperinsulinemia, resistência à insulna, hipertrigliceridemia e até mesmo o aumento da relação TG / HDL  (dividir os triglicerídeos pela taxa de colesterol HDL, onde o ideal é ter um resultado menor que 2,0, como já vimos aqui no site em artigo anterior) podem predizer a presença de alguns fatores prognósticos de gravidade da hipertensão [39] , [40].”  


Ao final os autores do estudo chegam as seguintes conclusões:


1)     O aumento da insulina sérica desempenha um papel fundamental na fisiopatologia da hipertensão essencial. Taxas maiores da insulina foram associadas à gravidade da hipertensão essencial. A fisiologia alterada da insulina está altamente relacionada ao aumento da pressão arterial.
2)     Um dos fatores mais associados a resistência à insulina: a obesidade – verificado pelo aumento do índice de massa corporal (IMC) está associado à gravidade da hipertensão. 
3)     Os níveis de triglicerídeos elevados podem ser empregados como marcador tanto para a gravidade da hipertensão essencial, como da hiperinsulinemia e grau de resistência à insulina.


E no final fazem as seguintes recomendações:

1.     Procurar detectar o mais precoce possível uma eventual elevação da insulina, o que pela experiência clínica de consultório pode ser feito com um exame de laboratório - chamado teste da curva de insulina (feito da mesma forma que a curva de glicose ou TTG). Pois se forem promovias estratégias de controle de seus níveis poderemos efetivamente prevenir a hipertensão arterial.

2.     Buscar modificações do estilo de vida que auxiliem ao controle ou redução do sobrepeso e obesidade. Sem dúvida reduzir o peso corporal, um fator de risco para hipertensão e um dos principais objetivos para seu tratamento.


3.     Fazer do check up periódico onde conste a análise do perfil lipídico. As taxas elevadas de triglicerídeos e/ou uma relação excessiva com os níveis de colesterol HDL. Isso pode ser facilmente controlada com cuidados alimentares e em algumas situações com medicamentos.

4. Os autores também deixaram a recomendação comum nesse tipo de estudo: estimular a mais pesquisas sobre o papel da insulina elevada e de suas repercussões no curso e complicações de enfermidades cardíacas.


Em termos práticos podemos considerar que o hábito de uma dieta com baixo carboidratos pode ser uma das maneiras mais simples de reduzir as taxas de insulina e uma série de complicações associadas como taxas elevadas de triglicerídeos, muitas vezes associadas com o acúmulo de gordura no fígado, o sobrepeso e todas as situações de saúde já conhecidas. Esse artigo é publicado para nos lembramos que a hipertensão que é um problema comum, pode ser controlada eficientemente com uma mudança na alimentação.

A dieta low carb é talvez a estratégia mais elementar para lhe auxiliar ao controle da hipertensão arterial. Se já há o uso de medicamentos para pressão alta, nunca altere sua prescrição sem orientação médica. A alimentação certamente irá auxiliar ao controle de pressão e de peso corporal. Mas isso é um processo que precisa ser observado para que o controle de pressão tenha sua estratégia modificada num determinado período.  Mas é claro que precisa ser posto em prática e... mantido.

Uma dieta com baixo carboidratos (low carb) pode reduzir as taxas de insulina e assim ser uma estratégia para lhe auxiliar a reduzir ou controlar a pressão arterial. 


Consulte aqui mesmo no site lipidofobia outros artigos sobre esses assuntos.

José Carlos Brasil Peixoto, médico 

Observações:

a) As referências estão no artigo original nesse link: AQUI

b) Esse texto é uma extração editada do artigo original, não se trata de uma tradução

c) A foto do cardápio é de link AQUI, a foto do cabeçalho é do Wikipedia