Esse texto é baseado num estudo publicado em 2019 que visa estudar a relação entre os distúrbios da insulina e uma das enfermidades mais comuns e com mais repercussões na saúde geral das pessoas, a hipertensão arterial. É uma doença que afeta cerca de um bilhão de pessoas em todo o mundo [1]. Esse estudo foi realizado no Egito, onde 26,3% dos adultos tinham pressão alta (HAS) entre 1991 a 1993, [2]. No Brasil em 2018 a prevalência da hipertensão está em 24,7 % (em 2018, segundo o ministério da saúde), porém com percentuais maiores de acordo com faixa etária e também variando de acordo com a localização (na cidade do Rio, pode chegar a 31,2%). A hipertensão é um conhecido fator de risco de doenças cardiovasculares e renais. O risco de mortalidade cardiovascular dobra a cada aumento de 20/10 mmHg na pressão arterial sistólica (PAS) e na pressão arterial diastólica (PAD) [1].
Em geral é considerado que 80
a 90% das causas da hipertensão são desconhecidas (o que chamamos de hipertensão
essencial). É denominado hipertensão secundária aquela que é originada por
outras enfermidades [3].
Hipertensão essencial: possíveis causas tradicionalmente incluem
fatores hereditários, genéticos, ambientais, danos endoteliais dos vasos
sanguíneos e aterosclerose, resistência à insulina (RI) [4] , [5] e fatores associados ao estilo de vida,
como obesidade, estresse, excesso de sódio, fumo e álcool ingestão.
O nível de insulina em jejum é um índice clínico que reflete o estado do metabolismo da glicose. A hiperinsulinemia ocorre como uma compensação pela tolerância à glicose diminuída e é uma manifestação clínica precoce da resistência à insulina (RI) [7]. Também conhecida como síndrome metabólica, a resistências insulínica é um estado metabólico anormal no qual as células do corpo perdem a sensibilidade à insulina, o que significa que sua capacidade de responder à insulina que transporta glicose da corrente sanguínea para o músculo e outras células diminui. Como resultado, o pâncreas produz grandes quantidades de insulina para manter os níveis normais de glicose no sangue para lidar com as demandas do corpo. Eventualmente, o pâncreas não consegue lidar com o aumento da glicemia, mesmo em jejum, levando ao desenvolvimento de diabetes mellitus (DM) ou diabetes tipo 2 [8]. A insulina também contribui para a regulação da pressão arterial por meio do vasorrelaxamento induzido pela estimulação da produção de óxido nítrico no endotélio [9] e regulação da homeostase do sódio aumentando a reabsorção de sódio no rim [10] .
A resistência à insulina e os níveis elevados de
insulina - hiperinsulinemia - são conhecidos por terem profunda relação com
vários quadros de preocupação médica: as anormalidades dos níveis de colesterol
e triglicerídeos (dislipidemia), transtornos cardiovasculares e obesidade. Uma
vez que essas doenças estão significativamente associadas à hipertensão, fica
naturalmente sugerido uma relação clínica entre hiperinsulinemia e hipertensão [11] , [12]. Além da hiperinsulinemia, outros fatores
que possivelmente promovem o desenvolvimento de hipertensão por meio da situação
de resistência à insulina incluem a obesidade visceral, o estresse oxidativo, a
ativação do sistema renina-angiotensina (onde vários medicamentos típicos da
hipertensão atuam) e aumento de mediadores inflamatórios. Esse conjunto de
fatores atuando em sinergia podem
induzir a hiperatividade simpática, vasoconstrição e aumento do líquido
intravascular, resultando em hipertensão arterial [13].
Um dos pontos sublinhados pelos autores do estudo é que: “Nossa descoberta de que o nível de hipertrigliceridemia está significativamente relacionado ao grupo de hipertensos está de acordo com muitos dados publicados recentemente, que provaram que hiperinsulinemia, resistência à insulna, hipertrigliceridemia e até mesmo o aumento da relação TG / HDL (dividir os triglicerídeos pela taxa de colesterol HDL, onde o ideal é ter um resultado menor que 2,0, como já vimos aqui no site em artigo anterior) podem predizer a presença de alguns fatores prognósticos de gravidade da hipertensão [39] , [40].”
Ao final os autores do estudo chegam as seguintes conclusões:
1)
O aumento da
insulina sérica desempenha um papel fundamental na fisiopatologia da
hipertensão essencial. Taxas maiores da insulina foram associadas à gravidade
da hipertensão essencial. A fisiologia alterada da insulina está altamente
relacionada ao aumento da pressão arterial.
2)
Um dos fatores
mais associados a resistência à insulina: a obesidade – verificado pelo aumento
do índice de massa corporal (IMC) está associado à gravidade da hipertensão.
3)
Os níveis de triglicerídeos
elevados podem ser empregados como marcador tanto para a gravidade da
hipertensão essencial, como da hiperinsulinemia e grau de resistência à
insulina.
E no final fazem as seguintes recomendações:
1. Procurar detectar o
mais precoce possível uma eventual elevação da insulina, o que pela experiência
clínica de consultório pode ser feito com um exame de laboratório - chamado teste
da curva de insulina (feito da mesma forma que a curva de glicose ou TTG). Pois
se forem promovias estratégias de controle de seus níveis poderemos efetivamente
prevenir a hipertensão
arterial.
2. Buscar modificações do estilo de vida que auxiliem ao controle ou redução do sobrepeso e obesidade. Sem dúvida reduzir o peso corporal, um fator de risco para hipertensão e um dos principais objetivos para seu tratamento.
3. Fazer do check up periódico onde conste a análise do perfil lipídico. As taxas elevadas de triglicerídeos e/ou uma relação excessiva com os níveis de colesterol HDL. Isso pode ser facilmente controlada com cuidados alimentares e em algumas situações com medicamentos.
4. Os autores também deixaram a recomendação comum nesse tipo de estudo: estimular a mais pesquisas sobre o papel da insulina elevada e de suas repercussões no curso e complicações de enfermidades cardíacas.
Em termos práticos podemos considerar que o hábito de uma dieta com baixo carboidratos pode ser uma das maneiras mais simples de reduzir as taxas de insulina e uma série de complicações associadas como taxas elevadas de triglicerídeos, muitas vezes associadas com o acúmulo de gordura no fígado, o sobrepeso e todas as situações de saúde já conhecidas. Esse artigo é publicado para nos lembramos que a hipertensão que é um problema comum, pode ser controlada eficientemente com uma mudança na alimentação.
A dieta low carb é talvez a estratégia mais
elementar para lhe auxiliar ao controle da hipertensão arterial. Se já há o uso
de medicamentos para pressão alta, nunca altere sua prescrição sem orientação
médica. A alimentação certamente irá auxiliar ao controle de pressão e de peso
corporal. Mas isso é um processo que precisa ser observado para que o controle de
pressão tenha sua estratégia modificada num determinado período. Mas é claro que precisa ser posto em prática
e... mantido.
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Uma dieta com baixo carboidratos (low carb) pode reduzir as taxas de insulina e assim ser uma estratégia para lhe auxiliar a reduzir ou controlar a pressão arterial. |
Consulte aqui mesmo no site lipidofobia outros artigos sobre esses assuntos.
Observações:
a) As referências estão no artigo original nesse link: AQUI
b) Esse texto é uma extração editada do artigo original, não se trata de uma tradução
c) A foto do cardápio é de link AQUI, a foto do cabeçalho é do Wikipedia