É possível que bem poucas pessoas tenham imaginado que também a miopia seja um problema relacionado com a dieta. Um pesquisador, já falecido, dr Barry Groves, (médico considerado um dos precursores ativistas da dieta lowcarb) mas cujo site ainda está online publicou um interessante artigo sobre esse tema que vale a pena compartilhar no blog. Mais uma vez o s carboidratos estão envolvidos. Vejamos porque isso foi proposto a seguir:
Miopia na infância
As causas alimentares de miopia:
Alimentação rica em carboidratos - açúcares e amidos - na
infância.
Introdução à miopia
Nossos olhos foram desenvolvidos para um ambiente muito
diferente daquele em que vivemos agora. Em tempos pré-históricos seria
necessário ser capaz de perceber um predador ou outro perigo ao longo das
nossas vidas. Sem médicos ou ópticos, nossos olhos tinham que durar e serem
capazes de ver claramente. E, a julgar a partir de estudos dos povos que ainda
comem uma "dieta da idade da pedra” nos dias de hoje, seus olhos fazem um
trabalho muito bom por toda a vida. Mas muitos de nós somos atormentados desde
o nascimento até a velhice com uma variedade de defeitos de visão. Isso ocorre
porque o tipo de alimento que comemos agora tem um efeito profundo em nossos
olhos.
Miopia não é causada
pela leitura!
Você já reparou quantas crianças usam óculos estes dias?
Miopia ou vista curta, é muito comum. Tem havido um aumento dramático na miopia
nos países desenvolvidos ao longo dos últimos duzentos anos. Nos EUA, a miopia
atinge cerca de 25 a 35% das pessoas de ascendência europeia e até a metade ou
mais das populações de origem asiática. É também cada vez mais comum na
Grã-Bretanha.
Durante muitos anos, a miopia em crianças foi suposta ser
provocada pela leitura excessiva. Isto foi porque as taxas eram tipicamente
menores de 2% entre as populações com nenhum programa formal de ensino e que
não leram livros. Outra pesquisa descobriu que a miopia afligia tanto quanto uma
em cada três crianças criadas em cidades e onde eles passaram por um curso de
educação formal. Estas observações combinadas foram usadas para justificar a
conclusão de que a miopia deveria ser causada pela leitura. O uso de óculos
tornou-se sinônimo de inteligência. Em filmes de meados do século XX, as
crianças inteligentes eram sempre retratadas usando óculos.
Mas, em seguida, anomalias foram notadas: Havia lugares no
mundo onde a miopia era rara apesar de terem programas de ensino obrigatório;
crianças que fugiram da escola ou que não tiveram nenhuma educação formal em
sociedades civilizadas também tiveram altas taxas de miopia. E centrando-se na
leitura, não se explicava por que os níveis de miopia eram baixos nas
sociedades que adotaram estilos de vida ocidentais, mas dietas não ocidentais.
Exceto pelos últimos milênios desde o advento da agricultura,
todos os nossos antepassados eram caçadores-coletores. Era um estilo de vida
em que a visão com exatidão de distâncias era essencial para a sobrevivência.
[1] Na verdade, descobrimos que todas as espécies de mamíferos e de aves tendem
a ter visão de longe ou serem emétropes, o que significa que eles podem ver
qualquer objeto a mais de seis metros com clareza, sem qualquer esforço
necessário para se concentrar. Eles raramente desenvolvem miopia. Isso faz
sentido evolutivo. Se não tivéssemos mecanismos compensatórios para miopia e fôssemos
deixados com meros recursos do Paleolítico, é provável que os indivíduos míopes
não iriam sobreviver muito tempo uma vez que uma visão com clareza de distância
é necessária para escapar de predadores, localização de alimentos,
reconhecimento de outros membros da espécie e consciência dos perigos e
benefícios ambientais. Por conseguinte, qualquer gene ou genes que favorecesse
a miopia seria letal e rapidamente eliminado pela seleção natural. Assim isso
exclui um defeito genético como uma causa de miopia.
Miopia não é genética
Era possível que as discrepâncias na susceptibilidade para
miopia possam ter sido devido a diferenças genéticas, mas estudos mostraram que
quando os grupos migrados de uma vida primordial para uma existência mais
urbanizada, as taxas de miopia disparavam dentro de uma única geração. Isso é
muito rápido para ser uma mutação genética e assim parece completamente
descartada uma susceptibilidade genética. Parecia que a miopia ocorreria
somente quando novas condições ambientais associadas com a moderna civilização foram
introduzidas no estilo de vida caçador-coletor.
Isto é confirmado, se olharmos para as populações de
caçadores-coletores atuais. Novamente encontramos pouca evidência de miopia enquanto
esses povos consomem sua dieta tradicional. A partir de 3.624 olhos examinados
em um estudo de 1936, entre 20 a 65 anos de idade, de caçadores-coletores de
populações de tribos no Gabão (então francesa África Equatorial), apenas 14
foram classificados como míope. [2] Isso é apenas 0,4%. Da mesma forma baixas
taxas para miopia foram relatadas entre Angmagssalik Inuits em 1954: [3] um
exame de 1.123 olhos, encontrou apenas 13 (1,2%) sendo míope.
Mas as coisas estavam mudando. Em 1969 um grupo de cientistas
compararam os olhos dos mais velhos e mais jovens Inuits. [4] Eles encontraram
uma incrível diferença entre os dois grupos. Testando os olhos direitos de 131
adultos com mais de 41 anos de idade, os cientistas liderados pelo Dr. F A
Young descobriram apenas dois olhos míopes entre eles. Mas mais da metade - 149
de 284 - dos olhos direitos da faixa de idade entre 11 a 40 anos eram míopes.
Como a maior parte dos Inuits mais velhos tinham crescido e vivido a maior
parte de suas vidas precoces em comunidades isoladas no estilo de vida Inuit
tradicional, com pouca ou nenhuma escolaridade, enquanto que muitos dos seus
filhos e netos cresceram em Barrow e tinham escolaridade obrigatória no estilo
americano, o Dr. Young e seus colegas sugeriram que essa era a razão para a
enorme diferença nas taxas de incidência de miopia entre jovens e idosos Inuits.
Era simplesmente que os mais jovens tiveram que aprender a ler.
Mas eles estavam errados. Os Inuits têm sido estudados em
grande profundidade. Vilhjalmur Stefansson escreveu em 1919 que tanto as
mulheres como os homens ficavam envolvidos em um trabalho que poderia esforçar
os olhos de uma maneira semelhante à leitura com ocupações como costura e
fabricação de ferramentas por horas a fio em casas de neve mal iluminadas
durante o longo inverno ártico e mesmo assim não desenvolveram miopia. [5]
Ela [a miopia] é
causada por uma dieta incorreta - carboidratos
Em 1966, Dr. E. Cass sugeriu que a razão para a miopia em
jovens Inuits era que eles haviam nascido e sido criados em um ambiente
alimentar cada vez mais ocidental, onde eles comiam cereais importados, pão,
batatas e açúcar em vez de carne de peixe e foca que seus anciãos tinham comido
quando jovens. [6] E foi isso, ele sugeriu, que isso [a mudança dietética] poderia
estar associado com o rápido aumento da miopia observado nessas pessoas
aborígenes.
Em 2002, um grupo de cientistas liderados pelo professor
Loren Cordain, biólogo evolucionista da Universidade Estadual do Colorado,
publicou uma revisão da literatura. [7] Eles examinaram 229 tribos de caçadores-coletores
e confirmaram que as populações primitivas tinham baixas taxas de miopia mesmo
entre aqueles que receberam educação formal. Seria tudo relacionado a comida.
Cordain tinha claro que os cereais eram os culpados. “Nas ilhas de Vanuatu",
ele disse, "eles têm oito horas de escolaridade obrigatória por dia. No
entanto, a taxa de miopia nestas crianças é de apenas dois por cento”. A diferença entre eles e os europeus era que
os Vanuatuans comiam peixe, inhame e coco em vez de pão branco e cereais.
Especialistas entrevistados pela BBC tiveram reações mistas
para esta opinião. Dr. Nick Astbury, vice-presidente do Royal College of Oftalmologists, disse à BBC que "É uma teoria
interessante, mas precisa de mais evidências para apoiá-la.” Embora ele tenha
admitido que as razões para a falta de visão fossem “multifatoriais” assim as
dietas ricas em amidos refinados poderiam desempenhar um papel. Já James Mertz,
um bioquímico no New England College of
Optometry em Boston, comentou: "É uma ideia muito surpreendente."
No entanto, Bill Stell, da Universidade de Calgary, no
Canadá, disse: "Não me surpreende em nada. Aqueles de nós que trabalham
com fatores de crescimento locais dentro do olho não teria nenhum problema com
isso -, na verdade, isso seria mesmo de se esperar”.
Quando as sociedades de caçadores-coletores mudaram sua
existência primitiva para um estilo de vida mais ocidental durante os séculos
XIX e XX, eles não só se alfabetizaram e começaram a ler dentro de uma ou duas
gerações, eles também alteraram o tipo de comida que eles vinham consumindo
anteriormente. As dietas de caçadores-coletores consistem tipicamente de altos
níveis de proteínas e gorduras, e baixos níveis de hidratos de carbono em
comparação com dietas ocidentais modernas. [8] Mesmo os carboidratos que estão
presentes nas dietas de caçadores-coletores são menos concentrados. Eles são
absorvidos lentamente e produzem apenas um aumento gradual e mínimo nos níveis
de glicose e insulina no sangue.
A equipe do Dr. Cordain descobriu que, embora os cereais e
açúcares refinados eram raramente ou nunca consumidos por grupos que vivem em
sua forma tradicional, esses alimentos tornaram-se rapidamente bases dietéticas
após contato com influências ocidentais. Quando estas sociedades mudaram seus
estilos de vida e introduziram grãos e outros carboidratos, eles desenvolveram
rapidamente as taxas de miopia, que seriam iguais ou superiores aquelas em
sociedades ocidentais.
Como os carboidratos
podem causar miopia
Assim como estimulam a produção de insulina, as dietas ricas
em amidos refinados, tais como açúcar e cereais também estimulam a produção de
um composto relacionado, denominado fator de crescimento semelhante a insulina
1 (IGF-1). O excesso de IGF-1 estimula o crescimento em excesso do globo ocular
durante o seu desenvolvimento. Isto afeta o desenvolvimento do olho, tornando-o
anormalmente alongado. E este é o defeito fundamental na miopia.
Tal como acontece com tantas outras condições, cientistas perspicazes
suspeitaram da dieta - e dos carboidratos processados, em particular. Professor
Jennie Brand-Miller relaciona o aumento dramático na miopia nos países
desenvolvidos na infância pelo excesso de consumo de pão. A miopia é
extremamente rara em sociedades onde a dieta não contêm carboidratos
processados. Também é perceptível que os indivíduos míopes são mais suscetíveis
a outras condições associadas com o consumo excessivo de açúcar ou amido:
doenças como diabetes e cárie dentária.
Confirmação
Que a dieta poderia ser a razão foi confirmado em 1999. A
miopia é uma característica exclusivamente humana. Era completamente
desconhecido no reino animal - até que evidências recentes vieram à tona em
cães domesticados, em um estudo com labradores [9]
Cães não leem; isso não poderia ser a razão que os
labradores tivessem miopia. Mas, enquanto os cães selvagens não recebem o
diagnóstico de miopia, eles não são alimentados por seres humanos civilizados. Os
cães domesticados são – e a diferença entre os animais selvagens e domesticados
é que os cães selvagens comem carne e o melhor amigo do homem é alimentado com
biscoitos de cão à base de trigo. É exatamente o mesmo padrão que foi
encontrado nas comparações entre o Inuit tradicional e os seus descendentes
mais jovens.
A miopia é uma tendência moderna. Apesar dos açúcares e
cereais altamente refinados serem elementos comuns da nossa atual dieta, esses
alimentos foram consumidos raramente ou não o eram pela maioria dos cidadãos comuns
entre os séculos XVII e XVIII na Europa. A sua disponibilidade para as pessoas em
geral aumentou apenas após a revolução industrial, quando a farinha de trigo de
baixa extração (aproximadamente 65% de
aproveitamento de uma quantidade de trigo total) se tornou amplamente
disponível, com o advento dos moinhos de rolos de aço no final do século XIX.
Ao longo dos últimos dois séculos, o teor de carboidratos de
alimentos nas áreas urbanas dos países industrializados tem vindo a aumentar,
principalmente por causa do aumento do consumo de cereais e açúcares refinados.
Isto é consistente com observações de que as pessoas são mais propensas a
desenvolver miopia se elas estão acima do peso ou se tem diabetes de início no
adulto, ambas as quais envolvem elevados níveis de glicose e insulina no sangue.
A progressão da miopia tem sido demonstrada ser mais lenta em crianças cujo
consumo de proteínas é aumentado.
Tomado como um todo, portanto, a pesquisa que sugere que a
leitura foi a principal causa da miopia foi um pouco, digamos, míope. A
sabedoria convencional em nutrição conclama os efeitos para promoção da saúde de
uma dieta rica em alimentos básicos ricos em amido, como os cereais no café da
manhã. Talvez eles sejam incapazes de enxergar o efeito que estão promovendo...
References
[1]. Nesse RM, Williams GC. Why We Get Sick. Times Books, New York, USA. 1994, pp 91–106.
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[7]. Cordain L, et al. An evolutionary analysis of the etiology and pathogenesis of juvenile-onset myopia. Acta Opthalmolgica 2002; 80:125-135.
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[9]. Mutti DO, et al. Naturally occurring vitreous chamber-based myopia in the Labrador retriever. Invest Ophthalmol Vis Sci 1999; 40: 1577–1584.
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[9]. Mutti DO, et al. Naturally occurring vitreous chamber-based myopia in the Labrador retriever. Invest Ophthalmol Vis Sci 1999; 40: 1577–1584.
Excelente, como sempre, a escolha da matéria.
ResponderExcluirMuito obrigado Renato.
ExcluirDr, e o estigmatismo? Tb está relacionado? Ou é só a miopia?
ResponderExcluirObrigada por responder. Gosto muito do blog.
Grato Michele pelo contato! Bem, o astigamtismo é um problema de configuração da córnea, podemos fazer pesquisa adicional, pois a miopia tem a ver com o tamanho/formato do globo ocular por inteiro, tendo havido inbterferência nutricional na fase de crescimento. Mas como já é sabido que o olho costuma sofrer bastante com o consumo de carboidratos, talvez haja alguma relação nesse aspecto.
ExcluirDr. José Brasil, acompanho seu trabalho há tempos e sou totalmente fã. Aprendo muito mais sobre NUTRIÇÃO com você que em várias matérias de nutrição que cursei na faculdade. E vc nem é nutricionista, hahahahahaha. Acho bom quando médicos como você, Dr. José Souto e outros , estudam realmente nutrição. Acho que você há de concordar, que grande parte dos médicos dão pitacos na nutrição, mas não entendem disso a fundo e muitas vezes erram.
ResponderExcluirGrato pelo contato. Há uma impressão de que esteja havendo mais cuidado por profissionais de saúde no campo da informação em temas de nutrição. Creio que na medida que mais as pessoas em geral estejam instruídas, maior o comprometimento de médicos, nutriconistas etc. com novas ou renovadas informações! Abraço
ExcluirOlá Dr. será que se manter uma alimentação com redução de carboidratos, consegue ser reverter?
ResponderExcluirOlá Rubens! Temos que pesquisar sobre isso. Mas sempre que se estabelece lesões anatômicas a reversão é um objetivo mais difícil de ser alcançado. Abraço
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