Vamos conhecer um pouco mais sobre a lecitina de soja, um aditivo ubíquo, componente habitual, por exemplo dos chocolates disponíveis no mercado. Essa é a tradução de um capítulo do livro da nutricionista Kaayla T Daniel, "The Whole Soy Story".
LECITINA DE SOJA
Lama para o lucro
Lecitina é uma substância
emulsificante encontrada nas células de todos os organismos vivos. O cientista
francês Maurice Gobley descobriu a lecitina em 1805 e a denominou de lécithine
("lekithos", gema de ovo em
grego, acrescida do sufixo francês “ine”). Antes
de ser um produto reaproveitado das sobras do processamento da soja, nos anos
trinta, eram os ovos as fontes primárias da lecitina comercial. Hoje a lecitina
é o nome genérico dado a uma classe de compostos solúveis em água e gordura,
chamada de fosfolipídio. Os níveis de fosfolipídios no grão de soja variam
entre 1.48 e 3.08 por cento, sendo consideravelmente mais elevados do que os
0.5 encontrados nos óleos vegetais, mas ainda distante dos 30 por cento encontrados
na gema do ovo.1-6
SAINDO
DAS SOMBRAS
A lecitina de soja vem de uma “lama”
que sobra depois do óleo cru ter passado por um processo de "desengomagem”.
É uma sobra que contém resíduos de solventes e pesticidas e que tem uma
consistência que varia de um fluido pastoso a um plástico sólido. A cor da lecitina
varia de um bronzeado sujo para um marrom amarelado. Em função disso os
fabricantes sujeitam essa lecitina a um processo de alvejamento para dar uma
luminosa cor amarela. O processo de
extração com hexano, comumente usado pelos fabricantes de óleo de soja,
fornecem menos lecitina do que o antigo processo com etanol-benzol, mas produz
lecitina com cor melhor, odor reduzido e um sabor menos amargo. 7
O historiador William Shurtleff relatou que a expansão da prensagem da soja e das
indústrias de refino de óleo de soja na Europa após 1908 conduziu a um problema
— a liberação de quantias crescentes de uma lama fermentada, pútrida e mal
cheirosa. Por isso empresas alemãs decidiram secar e limpar esse barro, patentear
o processo e vender isso como "lecitina de soja”. Os cientistas contratados para encontrar alguma
aplicação para essa substância cozinharam mais de mil novos produtos por volta
de1939.8
Hoje
a lecitina é onipresente nos alimentos processados. Geralmente é usado como um
emulsificador que impede a separação da água e das gorduras em produtos
alimentares como a margarina, a manteiga de amendoim, o chocolate, o sorvete, os
cremes para café e as fórmulas infantis. A lecitina
também é útil para prevenir desperdícios de produtos, pois prolonga a vida útil
nas prateleiras de supermercados. Nas
cozinhas industriais serve para melhorar as misturas, acelerar a cristalização,
evitar o gotejamento, melhorando a homogeneização e a aderência. Usado em
cosméticos, a lecitina amolece a pele e ajuda os outros ingredientes a penetrar
na barreira da pele. Uma versão mais
aquosa conhecida como "lecitina não oleosa” (deoiled lecithin), reduz o
tempo exigido para fechar e limpar os “extruders” (extrusores) utilizados na
manufatura de proteína texturizada de soja e de outros produtos desse grão.9-10
Teoricamente,
a manufatura de lecitina elimina todas as proteínas da soja, o que a tornaria
hipoalergênica. Na realidade, pequenas quantias de proteína de soja sempre permanecem
na lecitina, como também no óleo de soja. Foram
identificados três componentes de proteína de soja na lecitina de soja,
inclusive o inibidor de tripsina Kunitz,
que tem sido relacionado à produção de severas reações alérgicas mesmo em
mínimas quantidades. A presença de
lecitina em tantos alimentos e produtos cosméticos representa um perigo
especial para pessoas com alergia à soja. 11'13 (Veja Capítulos 24 e
25.)
“LEC IS IN” – A CRIAÇÃO DA COMIDA MARAVILHOSA
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Kaayla T Daniel |
Desde 1920, escritores de saúde
têm elevado a lecitina à categoria de alimento maravilhoso, milagroso, capaz de
combater a aterosclerose, a esclerose múltipla, a cirrose do fígado, os cálculos
de vesícula, a psoríase, o eczema, a esclerodermia, a ansiedade, os tremores, e
o envelhecimento cerebral. Estas alusões são baseadas no fato de que o corpo
humano usa fosfolipídeos para
construir as membranas celulares, fortes e flexíveis, e para facilitar a transmissão
nervosa. A. A. Horvath, Ph.D., um dos
primeiros defensores das propriedades saudáveis da soja, recomendou a lecitina
como um componente de "tônicos para os nervos”, ou para ajudar os
alcoólatras a reduzir os efeitos de intoxicação e abstinência. Em 1934, pesquisadores chineses publicaram um
artigo intitulado de: “Uma cura confortável e espontânea para a dependência do
ópio por meio da Lecitina" em um jornal de língua inglesa.14
A lecitina
capturou a imaginação popular durante os anos sessenta e setenta quando os
autores de best-sellers em livros de saúde, Adelle Davis, Linda Clark e Mary
Ann Crenshaw exaltaram a lecitina em seus vários livros, incluindo: Let's Get Well; Secrets of Health and
Beauty;(Permita-se ficar bem: segredos da saúde e beleza) e The Natural Way to
Super Beauty: Featuring the Amazing Lecithin, Apple Cider Vinegar, B-6 and Kelp Diet (O método natural da super
beleza: estrelando a fantástica lecitina, o vinagre de maçã, B-6, e a dieta
Kelp).15-17
A lecitina não se tornou uma
estrela do circuito dos alimentos saudáveis sem querer. Suas pesquisas
iniciaram no inicio dos anos 30, quando a produção de lecitina ficou
comercialmente viável. Em 1939, A Companhia
Americana de Lecitina (American Lecithin
Company) começou a patrocinar pesquisas e publicou, em 1944, seu mais
promissor panfleto de 23 páginas intitulado: “Soybean Lecithin” (Lecitina de
soja). Essa companhia, não por acaso, introduziu um biscoito saudável com
lecitina conhecido como o “Lexo wafer” e
um suplemento a base de germe de lecitina de trigo chamado “Granulestin." No meio dos anos 70, Natterman, uma companhia alemã
de comércio de lecitina, contratou vários cientistas em várias clínicas de
saúde para experimentar a lecitina e escrever artigos científicos sobre o
produto. Nesse “livro técnico” os cientistas cunharam o termo "fosfolipídios
essenciais”, um termo impreciso, uma vez que um organismo saudável pode
produzir seus próprios fosfolipídios a partir de fósforo e lipídios. 18
Em setembro de 2001, a lecitina
adquiriu um grande estímulo quando o FDA Americano, autorizou os produtos que
contêm mais do que rastros de lecitina adicionar aos seus rótulos "fonte
boa de colina”. Os produtores de lecitina de soja ficaram com a perspectiva de
a associação de um produto com promoção de saúde elevaria a demanda da lecitina
e os preços aumentariam. Ovos, leite e produtos de soja são as fontes
dietéticas principais de colina, de acordo com uma recente pesquisa
administrada pela Universidade da Carolina do Norte, em Chapel Hills e na Duck University.
19-21
TEM
MAIS – A FOSFATIDILCOLINA (FC)
Como muitos produtos de lecitina vendido
em revendas de alimentos saudáveis contêm menos de 30% de colina, muitos
profissionais de saúde preferem usar o fosfatidilcolina (FC) mais potente ou
seu até mesmo gliceril-fosforil-colina (GFC), uma droga derivada ainda mais
poderosa. Clínicos estão recomendando ambos
os produtos para prevenir e reverter demência, melhorar as funções cognitivas,
aumento a liberação do hormônio do crescimento humano (hGH), e tratar desordens
cerebrais como as seqüelas de derrame. O FC e GFC podem ajudar a construir
as membranas das células nervosas, facilitar a transmissão elétrica no cérebro,
manter as proteínas das membranas no seu lugar, e produzir um neurotransmissor -
a acetilcolina.22-24 Entretanto, os estudos com a lecitina de soja, a
FC, e o envelhecimento cerebral tem se mostrado inconsistentes e contraditórios
desde os anos 20. De modo geral, a lecitina
é considerada como segura, com exceção das pessoas que são altamente alérgicas à
soja. O médico Robert Atkins alertava seus pacientes para não ingerir grandes doses
de suplementos com lecitina sem uma quantia extra de vitamina C para os
protegerem das nitrosaminas formadas pelo metabolismo da colina.25
Trimetilamina e dimetilamina, que são metabolizadas por bactérias intestinais a
partir da colina, são precursores importantes da N-nitrosodimetilamina, um
carcinógeno potente para uma variedade de espécies animais 26-27,
FOSFATIDILSERINA
(FS)
A fosfatidilserina (FS) — um
outro fosfolipídio popular que melhora a função
cerebral e a acuidade mental sempre vem de óleo de soja. A maioria dos
estudos científicos que provam sua eficácia, entretanto, vem de fontes bovinas,
que também contêm DHA como parte de sua estrutura. 28-31 Óleos vegetais nunca contêm DHA pronta. Realmente, a estrutura completa do ácido graxo FS derivado
da soja é diferente nesses aspecto do FS derivado de bovinos. Esse último é
rico nos ácidos esteárico e oléico,
enquanto a FS da soja é rica em ácidos linoléico e palmítico 32. Para
complicar um pouco mais esse tema, a FS formada naturalmente no corpo humano apresenta
37.5 % ácido de esteárico e 24.2 % de ácido araquidônico 33 Contudo
a FS derivada da soja dá a impressão de auxiliar muitas pessoas 34-36,
principalmente após o susto da Vaca Louca, pois a FS derivada de bovinos não
deverá aparecer nas prateleiras dos mercados tão cedo.
Russell Blaylock, M.D., autor de “Excitotoxins, the taste that kills” (Excitotoxinas
– o sabor que mata), acredita que a FS pode nos proteger da toxicidade do glutamato.37
Ironicamente, muitas pessoas estão consumindo esse dispendioso suplemento
derivado de soja para desfazer um dano que pode ser causado, pelo menos em
parte, pela proteína da própria soja, de baixo custo, e presente nos produtos
alimentícios processados.
SOJA,
SOJA EM TODOS LUGARES, GOTAS DE LAMA PARA COMER
Tente achar uma barra de chocolate,
sorvete ou outro alimento pronto no supermercado ou armazém de alimentos saudáveis
que não contenha pequenas quantias de lecitina de soja. Isso é um desafio para as pessoas que são alérgicas
à soja. Embora não devesse ser esperado que a lecitina contenha alguma fração da
proteína de soja potencialmente alergizante, sempre há a possibilidade de que
um pouco da mesma possa remanescer. Para um portador de alergia, essa mínima
porção pode ser a causa de um quadro que vai desde um distúrbio gastro-intestinal
até mesmo um grave choque anafilático (veja capítulos 24 e 25). Para todas as
demais pessoas uma pequena quantidade de lecitina derivada do barro residual da
industrialização do óleo de soja não é, realmente, um grande problema. Há muitos aditivos alimentares bem piores nos
alimentos processadas, tais como a proteína de soja, o óleo de soja, as isoflavonas
da soja e os esteróides da soja.
Minha história de soja
Alérgico a lecitina de soja
Minha mãe trocou minha alimentação para uma fórmula infantil quando ela
descobriu que estava grávida de minha irmã, menos de um ano após meu nascimento.
Ela percebeu que eu tinha cólicas e gases,
mas nunca imaginava uma razão alérgica. Na escola secundária eu me tornei uma vegetariana.
Meus gases eram horríveis, e eu procurei
um nutricionista que disse eu estava ”engolindo ar”. Após eu reconhecer minha
alergia à soja e deixar de consumir produtos de soja, eu aprendi que o óleo ou a
lecitina de soja é que me geravam os gases. O chocolate, com lecitina de soja, me produzia até mesmo diarréia, enquanto
que o chocolate livre de soja não o fazia. Você pode comprovar a diferença —chocolates
feitos de modo tradicional não dão aquela sensação sebosa. Eles são mais caros,
mas vale a pena conseguir comer chocolate.
S.L.,
Easton, MD,
Lisofosfatidiletanolamina (LPE)
A Agência de Proteção Ambiental
(EPA) aprovou a lisofosfatidiletanolamina (LPE), outra substancia tipo
fosfaditil extraída da soja para uso comercial, para o amadurecimento de frutas
e prolongador da meia-vida. A produção industrial
utiliza agora LPE — chamada de cefalina —
para tratar uvas, morangos, amoras, cranberries,
maçãs, tomates e flores cortadas.
Quando aplicado às frutas maduras
— na puberdade, por assim dizer — a LPE promove o amadurecimento. Quando
aplicado na fruta colhida ou em flores já cortadas, que já estão maduras ou
florescentes, porém, reduzirá a senescência, inibindo algumas das enzimas
envolvidas no “desarranjo das membranas”. Isto
pode estender dramaticamente a vida útil. 38 Se essa substância também poderia manter um corpo
humano com aspecto mais vigoroso para as visitas em um funeral, é um tema que
não foi ainda investigado...
Minha história da soja
Lecitina e bócio
Aproximadamente há 16 meses atrás eu senti um grande nódulo amendoado
em minha tiróide. Era bastante perceptível para
mim enquanto eu olhava no espelho e também ao engolir. Durante vários anos eu tomei suplementos, mas somente
no último ano eu adicionei lecitina de soja. A ecografia recomendada pelo
endocrinologista revelou um bócio multinodular, com alguns nódulos maiores. Esses foram biopsiados e diagnosticados como neoplasia
folicular. Uma vez que as células foliculares em uma punção aspirativa não pode
ser diferenciadas como benignas ou
malignas, foi indicado que fosse feita a retirada de todo o lóbulo da tireóide.
Depois de falar com um amigo que possuía
uma loja de suplementos alimentares, eu decidi parar como uso da lecitina de soja, uma vez que isso era o único
suplemento eu tinha adicionado no último ano e as evidências pareciam questionar
a segurança da soja. Agora, passados, 16 meses, meu nódulo é
significativamente menor, fato que o médico oncologista disse que não ocorreria.
R.E., Holstein, IA
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Obs.: A Gravura do cabeçalho é do blog: LINK de Anna V.
Outras gravuras busca google
Tradução de José Carlos B Peixoto de novembro/2005