sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Ruminantes e metano - uma proteção ao ambiente



RUMINANTES E METANO: NÃO CULPE OS ANIMAIS


O artigo a seguir foi publicado recentemente pela publicação semanal australiana de temas de ecologia (e outros)  GreenLeft. É um artigo que faz uma ponderada crítica à forma que a grande mídia, incluindo certos grupos de defesa ambiental, lida com o tema ruminantes x metano x efeito estufa. Aqui no blog já publiquei um longo e elucidativo artigo de 2008 sobre o mesmo tema (LINK). Nesse, o foco é o ciclo do carbono e o papel fundamental do gado, (bovino, ovinos, caprinos etc.) para justamente melhor ajustar o metano e o carbono com todo o ecossistema envolvido em pastagens naturais. A boa ciência e a informação são fundamentais para que se crie um processo de mudança positiva. Esse é um território onde o preconceito e a ignorância têm andados juntos para tornar cada vez mais árido o futuro ambiental, sendo conduzidos com simpáticos e espirituais adjetivos e concepções, o que faz com que muitos incautos acreditem e sigam nesciamente. Mais uma vez é a divulgação de informações e pesquisas que podem mudar o futuro. Vejamos então o artigo:

Título original:

Ruminants and methane: Not the fault of the animals

16 de Janeiro de 2016
  
Bovinos e ovinos são acusados ​​de contribuírem com os gases do efeito estufa, por expelir arrotos e flatos de metano, e os agricultores no futuro estarão sujeitos de serem tributados por causa disso.
No recente conjunto de tópicos de retirada pela mudança climática da Green Left Weekly [questão # 1078] se apela para uma redução drástica nos números de ovinos e bovinos. Há um anúncio de TV, pedindo às pessoas para "serem vegetarianas para salvar o planeta". Este é um brutal equívoco sobre o ciclo de carbono dos ruminantes.
Ruminantes sempre emitiram metano; não é algo novo. Enormes rebanhos de búfalo selvagem, gado, cabras, ovelhas, veados, camelos e gnus têm pastado pelos campos do mundo há milhões de anos. As pradarias americanas já suportaram um maior número de bisontes do que o gado de agora, apesar da produção intensiva de milho e de soja que o alimenta.
Bactéria metanotrófica:
Uma bactéria aeróbica com a capacidade para crescer em metano como a sua única fonte de carbono e energia
As emissões de metano dos ruminantes selvagens nunca foram um problema, porque a natureza não permite resíduos (na natureza não existe lixo, NT)- o metano é utilizado como alimento para as bactérias metanotróficas no solo e neutralizado. Ele nunca foi um problema até que as práticas agrícolas começaram a destruir estas bactérias metanotróficas, que são muito sensíveis aos fertilizantes químicos e herbicidas. Estas bactérias se reativam em um solo biologicamente manejado (Mais informações sobre essas bactérias nesse link do departamento de energia do EUA).
No entanto, o metano não é o quadro completo. Quando a contribuição do gado para o sequestro de carbono do solo é levada em conta, é fácil ver que os ruminantes não aumentam os gases de efeito estufa se forem bem administrados.
Os solos de pastagem são os maiores sequestradores de carbono - mais do que as florestas. Em primeiro lugar o metro do solo de pastagens onde há uma média de 236 toneladas de carbono, em comparação com 96 dos solos florestais temperadas e 80 das terras cultiváveis.
As pastagens precisam dos animais para se manterem saudáveis. Esses imensos gramados, quando são bem geridos com pastoreio rotativo e o adequado tempo de recuperação - como o são por manadas selvagens e por arrebanhadores, vaqueiros e pastores de cabras e um número crescente de pecuaristas – que verdadeiramente bombeiam o carbono ao solo. Se mal gerido, excessivamente estocado e crescido os pastos ficam exauridos e perdem carbono. Não são os animais que provocam o dano, mas a forma como são geridos.
As raízes de gramíneas bombeiam até 40% dos hidratos de carbono que fabricam no solo para alimentar as populações microbianas, que, por sua vez, liberam os nutrientes trancados do solo que as gramíneas podem usar.
Solo com e sem micorrizas
O mais importante destes micróbios são micorrizas (mycorrhizal fungus), que invadem as raízes da planta e, pela sua rede de micélios efetivamente ampliam a área de raízes do forrageamento das gramíneas em dez vezes, permitindo que a pastagem sobreviver nas secas. Um subproduto deste processo é a formação de húmus, a forma estável de carbono do solo.
No entanto, as micorrizas são dizimadas por nitrato e fosfato de fertilizantes, herbicidas e fungicidas e tornam-se inativas em solo sem manejo biológico.
Pesquisa da Strathfieldsaye Estate, uma fazenda que produz carne orgânica em Gippsland, mostrou que ao longo de um período de quatro anos de pastoreio planejado, os níveis de carbono no solo têm aumentado em 20-30% na sua superfície e 200% no subsolo. Este sistema, que muitos agricultores estão utilizando, está sequestrando grandes quantidades de carbono da atmosfera.
A alimentação muito gado é um assunto completamente diferente. A produção de milho, soja e grãos para alimentar o gado é destrutivo para o carbono do solo, porque a lavoura destrói a matéria orgânica do solo, os fertilizantes de nitrato que o queima, e o desmatamento, particularmente na América Latina, que é implementado para plantar estas culturas para a alimentação animal.
Há também uma grande liberação através dos fertilizantes a base de nitrato de óxido nitroso para a atmosfera. O óxido nitroso é 300 vezes mais potente como um gás de efeito estufa do que o dióxido de carbono.
O confinamento é uma atividade agrícola irresponsável não só pelas razões da destruição de carbono. É altamente ineficiente e produz carne de má qualidade. Há a demanda de pelo menos cinco quilos de proteína de grãos para se produzir um quilo de proteína de carne e 40% da colheita mundial de grãos destina-se para alimentar o gado.
O gado não é naturalmente um comedor de grãos, e sendo forçado a comer esses grãos se produzem danos aos seus órgãos internos e um convite para as doenças que têm que serem tratadas com antibióticos para manter os animais vivos.
Gado, cabras e ovelhas convertem a celulose que não podemos digerir em leite e carne que podemos consumir, e as ovelhas ainda produzem lã.
Bem gerido, eles tomam o carbono da atmosfera e os colocam no solo. Eles tornam áreas que de outra forma seriam improdutivas em ambientes férteis.
A pecuária é uma parte essencial de qualquer ecossistema - não existe um ecossistema natural de terra no mundo que seja desprovido de animais. Sob padrões orgânicos todos os agricultores precisam ter animais como parte de seu sistema produtivo, e eles deveriam mesmo ter para processar os resíduos das colheitas e ativar o solo.
Gado criado no pasto (Vernon Valley Farm)

Precisamos de mais bovinos e ovinos na Austrália, não menos. Muitas áreas de cultivo têm dispensado totalmente as ovelhas e substituindo o papel dos ovinos no manejo de plantas daninhas com agrotóxicos (herbicidas) e nitratos, os grandes destruidores de carbono do solo. Para uma agricultura sustentável, os animais devem ser trazidos de volta.
Não há absolutamente nenhuma justificativa para que os produtores de gado alimentados no pasto serem punidos pelo comércio de carbono(*), ou para que organizações ambientais peçam a redução de seus rebanhos.

[Alan Broughton é um pesquisador da agricultura biológica e professor de Strathfieldsaye Estate.]





(*) Entenda como funciona o mercado de créditos de carbono nesse link:

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

A neutralidade combalida - pesquisas, financiamentos e interesses, o que nós (não) sabemos? (parte II)





FORÇAS DESPROPORCIONAIS - QUANDO A PESQUISA E SUA DIVULGAÇÃO COMPARTILHAM REFORÇOS DESIGUAIS

O artigo a seguir foi publicado também no ano passado e trouxe um outro aspecto pouco divulgado no campo dos estudos e recomendações na área do controle de peso e estímulo à atividade física. A interferência de capital a favor de certas tendências de pesquisas e orientações para a saúde. Em artigo anterior publicado nesse blog (LINK), parece bastante improvável que a situação de sobrepeso e saúde sejam plausíveis ao mesmo tempo. E motivos para endossar esse ponto de vista, de acordo com as evidências das pesquisas continuamente divulgadas, estão muito bem consolidados. Apesar disso, há uma dissidência que procura enfraquecer essa forma de lidar com os riscos para a saúde que o sobrepeso fortemente parece promover. O viés desse ponto de vista é que sócios ocultos, dispostos a altos investimentos, podem interferir nos resultados e promoções dessas pesquisas. É o que veremos a seguir.

O paradoxo da obesidade: porque a Coca-Cola está promovendo a teoria de que ficar obeso não prejudica sua saúde

Título original: “The obesity paradox: Why Coke is promoting a theory that being fat won’t hurt your health”

Autor: Julia Belluz

Ao longo dos últimos anos, uma ideia pouco convencional foi ganhando força na literatura científica: a de que talvez, a nossa busca pela magreza seja um grande e gordo desperdício de tempo.

Essa ideia é conhecida como o "paradoxo da obesidade", e ela é baseada em alguns estudos que classificam pessoas com excesso de peso, ou mesmo moderadamente obesas, parecendo ter melhores resultados de saúde e mortalidade do que comparadas com indivíduos normais ou magros. Essa pesquisa sugere que esses quilos extras podem ter efeitos protetores sobre a saúde, especialmente quando se trata de certas doenças crônicas como a diabetes, doenças renais e pressão arterial elevada.

Essa teoria tem sido controversa; criticada por especialistas que apontam que os estudos sobre o fenômeno tendem a usar instantâneos de peso das pessoas em um ponto no tempo, em vez de levar em conta os seus históricos de saúde completos. Isto significa, por exemplo, que alguém que acabou de perder dezenas de quilos depois de uma vida de obesidade seria classificada como tendo um peso "normal", o que perverte os resultados da pesquisa. Os críticos do paradoxo da obesidade também dizem que qualquer benefício de carregar gordura extra é pequeno em comparação com os danos bem documentados.
Ainda assim, apesar do fato de que a ciência do "paradoxo da obesidade" seja muito incerta, ela tem um influente campeão: a Coca-Cola. O maior fabricante mundial de bebidas açucaradas tem promovido o paradoxo investindo somas vultuosas com os seus proponentes através de palestras e honorários de consultoria, e financiamento de pesquisadores que suportam essa ideia.

Esta não é a primeira vez que a Coca-Cola entra nos debates sobre obesidade. Em agosto, uma investigação do New York Times descobriu que a empresa tinha, discretamente, realizado financiamento de organizações e pesquisadores que imputam à obesidade o pouco exercício físico, em vez dos excessos de calorias que poderia levar as pessoas a olhar com desconfiança para os refrigerantes. Grande parte do dinheiro da Coca-Cola passou por uma organização sem fins lucrativos chamada de Rede Global de Balanço Energético (Global Energy Balance Network, GEBN), que até recentemente não tinha divulgado seus vínculos com a Coca-Cola.

Em setembro, seguindo essa história, a Coca-Cola publicou uma lista de investigadores e profissionais de saúde para quem tivera pago US $ 2,1 milhões ao longo dos últimos cinco anos. A empresa disse que essas pessoas regularmente "colaboram e consultam" com a empresa. A Coca-Cola também publicou uma lista de instituições de pesquisa e organizações que receberam US $ 118.600.000 para investigação científica, bem como para apoiar parcerias de saúde e bem-estar.

Foram Incluídas nestas listas os principais pesquisadores do “paradoxo da obesidade” nos Estados Unidos.

Os pesquisadores sustentaram que o financiamento não influenciou seus trabalhos científicos. Mas outros cientistas temem que a influência da Coca-Cola seja capaz de afetar quais os lados deste debate que vão vingar.

"O problema aqui é que não há evidência convincente de que o paradoxo da obesidade seja um achado biológico real em tudo, mas apenas uma ciência desleixada", disse Andrew Stokes, um professor da Universidade de Boston, que estuda o paradoxo da obesidade, mas não recebe financiamento da indústria. É claro, os críticos do paradoxo não têm o apoio de Coca-Cola por trás deles. Então, Stokes disse: "para as evidências que se opõe a ela não é dado um peso adequado."

O "paradoxo da obesidade" tem sido fortemente criticado por outros pesquisadores

O "paradoxo da obesidade" começou a surgir há mais de uma década. Em um dos primeiros estudos, publicado em 2003, os pesquisadores ficaram intrigados com o fato de que pacientes mais pesados ​​que sofriam de insuficiência cardíaca pareciam ter melhores resultados em saúde do quando comparados àqueles mais magros. A partir daí uma teoria nasceu. Talvez ter peso extra pode ser bom para você!

Mas Stokes, juntamente com outros pesquisadores, têm encontrado uma grande falha nos estudos sobre o paradoxo da obesidade: eles só examinam o peso das pessoas em um momento do tempo. Isto é como investigar alguém que tenha fumado durante toda a sua vida, mas tivesse abandonado o cigarro na semana passada, e em seguida, classificá-lo como um "não-fumante" sem incluir quaisquer dados sobre seus hábitos de longo prazo. Isso, diz Stokes, pode dar um viés tendencioso aos resultados desses estudos.

"O paradoxo desaparece," Stokes diz em sua pesquisa, "quando analisamos históricos de peso corporal e separamos as pessoas que perderam peso das de categoria normal de peso, e ainda restringimos essa mostra a pessoas que nunca fumaram - não só o paradoxo desaparece, como também descobrimos que o sobrepeso e a obesidade tornam-se muito significativos em relação ao risco de morte ".

Em outras palavras, se você classificar os dados corretamente, a evidência é clara: a obesidade tem todos os tipos de efeitos negativos à saúde. Não há nenhum paradoxo aqui.

Pode haver outras causas da relação em forma de J no gráfico entre obesidade e mortalidade, mostrando um aumento do risco de morte entre pessoas mais pesadas e mais magras também. Frank Sacks, um pesquisador na Harvard School of Public Health, disse que isso poderia ser explicado pelo fato de que os homens e as mulheres magras têm "outras co-morbidades, outros problemas, e maus hábitos."

Muitos fumantes se enquadram nessa categoria, por exemplo, e têm havido estudos entre os idosos e, mais uma vez, em pacientes com insuficiência cardíaca que mostram que as pessoas realmente magras podem sofrer determinados problemas de saúde. “Só que eles perderam peso porque estão doentes", diz Sacks. "A perda de peso é o resultado da doença." Em outras palavras, sim, eles estão mais emagrecidos, sim, eles têm uma taxa de morbidade mais elevada, mas não é em função do seu baixo peso que eles têm maior risco de morte - é por sua doença.

Outra pesquisa recente aparece para derrubar o paradoxo. No ano passado, Stokes publicou um estudo que examina mais de 10 anos de dados sobre adultos americanos entre as idades de 50 e 84, acompanhando a longo prazo as histórias de peso desses indivíduos. Isto tornou possível colocar as pessoas que estavam com "peso normal" em dois grupos distintos: os que haviam mantido um peso normal ao longo das suas vidas, e aqueles que estavam com peso normal no momento do estudo, mas tinham experimentado uma redução de peso.

Stokes descobriu que as pessoas que sempre mantiveram um peso normal tinham um risco extremamente baixo de morte, mas que o outro grupo que estava com o peso normal - mas que antes eram obesas - tinham uma taxa de mortalidade muito mais alta. Depois de redefinir a categoria de peso normal para incluir apenas os indivíduos de peso estável, ele encontrou associações mais fortes entre excesso de peso e mortalidade.

Em outro estudo recentemente publicado na revista Obesity, Stokes e um colega da Universidade da Pensilvânia examinaram dados de mais de 30.000 participantes do Inquérito Nacional de Saúde e Nutrição (National Health and Nutrition Examination Survey) entre 1988 e 2011, e encontrou a mesma coisa: Quando controlado por história de peso (e, separadamente, tabagismo), o paradoxo da obesidade se desfazia.

Agora, definitivamente, isto não vai desmascarar o paradoxo da obesidade. Mais evidências poderiam surgir mais tarde. "Não podemos descartar que pode haver vantagens para a saúde associada com o excesso de peso e obesidade", diz Stokes, que só recebe financiamento do National Institutes of Health. "Mas os nossos dados sugerem que os benefícios são pequenos em comparação com os danos associados com o excesso de peso ou obesidade."

Ainda assim, o paradoxo da obesidade tem seus defensores – isso inclui a Coca-Cola

Carl Lavie
Há alguns pesquisadores que continuam a perseguir a ideia de que o peso extra pode ter alguns efeitos benéficos à saúde. O cardiologista de New Orleans Carl Lavie é sem dúvida a voz mais proeminente no debate sobre paradoxo da obesidade, tendo popularizado a ideia em seu livro de 2014:  The Obesity Paradox: When Thinner Means Sicker and Heavier Means Healthier. (O paradoxo da obesidade: quando ser mais magro quer dizer mais doente e mais gordo quer dizer mais saudável). Ele escreveu os trabalhos que são considerados mais influentes sobre o paradoxo da obesidade, e apareceu em inúmeros artigos de notícias populares exaltando a ideia.

A principal mensagem de Lavie é que teríamos exagerado a importância da epidemia de obesidade, como ele mesmo disse concisamente em um vídeo promovendo seu livro, "Body fat is not always the devil."(O sobrepeso não é sempre o culpado)

Lavie, no entanto, admite que seus críticos oferecem algo a ser considerado - e apela por novas pesquisas na área. "Stokes está certo quando diz que a maioria dos estudos não leva em conta a perda de peso não intencional antes da participação no estudo, o que estaria associado a um prognóstico ruim," ele me disse por e-mail. "Ainda há um trabalho substancial necessário para explicar o paradoxo da obesidade e, atualmente, exceto para aqueles em subnutrição que geralmente têm um pior prognóstico, não estou recomendando a qualquer pessoa para aumentar o peso, embora possa ser de valor para quem estiver melhorando sua aptidão física e força muscular."

Enquanto muitos pesquisadores continuam céticos de suas ideias, a Coca-Cola parece estar a seu lado. A empresa pagou para o trabalho de consultoria de Lavie, bem como viagens e honorários para palestras sobre o paradoxo da obesidade. Também financiou para ele webinars sobre o assunto. E mesmo que Lavie mencione a sua relação com a Coca-Cola em seus trabalhos científicos, essa divulgação não aparece no seu site - paradoxo da obesidade - nem é mencionada em muitos artigos de notícias em que ele é citado.

Lavie não está sozinho. Outros importantes pesquisadores (pró) "paradoxo da obesidade" nos EUA - como cientistas do exercício Steven Blair e Timothy Church - têm relações científicas com a Coca Cola, recebendo irrestritos milhões de dólares em bolsas de estudo e de pesquisa.

Blair foi um dos principais focos da investigação da Times, já que ele é o vice-presidente da GEBN. Church, por sua vez, está ligado ao laboratório de pesquisa Pennington da Universidade Estadual de Louisiana, o centro que recebeu o maior financiamento de pesquisa da Coca ao longo dos últimos cinco anos (US $ 6,7 milhões). Ele tem sido autor dos estudos financiados pela Coca-Cola publicados por esse centro, sugerindo que os exercícios – e não os alimentos e bebidas açucaradas - são os maiores contribuintes para a obesidade. (Este ponto de vista, também não é compartilhado por muitos pesquisadores de saúde e obesidade. Há provas contundentes que sugerem que o exercício tem apenas um pequeno impacto sobre o peso quando comparado com a ingestão de calorias.)

Em um e-mail de outubro de 2015, Lavie disse ao entrevistador (dessa reportagem) que a Coca-Cola não teve influência na sua agenda de pesquisa. Que ele chegou a sua opinião sobre o paradoxo da obesidade independentemente do gigante dos refrigerantes, e ele disse, que a Coca-Cola não tem financiado diretamente sua pesquisa sobre o paradoxo da obesidade, mas somente as palestras relacionadas e o trabalho de consultoria. Lavie também diz que há dinheiro de outras fontes para pesquisa além da Coca-Cola, "de modo que a Coca-Cola não tem controle sobre a condução dos estudos ou seus dados."

Ainda assim, o fato de que a Coca-Cola financia sua opinião significa que seus pontos de vista podem ganhar uma audiência maior. O financiamento também levanta questões sobre quais pesquisadores são escolhidos para apoio pela Coca-Cola e porquê são apoiados, e se a indústria secretamente influencia a direção de sua pesquisa.

Há evidências sugestivas de que a Coca-Cola tem a capacidade de influenciar a ciência nesta área. Em uma das maiores análises, até hoje realizada, sobre os dados da ciência das bebidas açucaradas, os pesquisadores descobriram que os estudos que relatam um conflito financeiro de interesse eram muito mais propensos a concluir que os efeitos do refrigerante no ganho de peso e obesidade não eram claros. Por outro lado, estudos que não tiveram nenhum conflito relatado apontam que os refrigerantes são um fator de risco potencial.

"Uma vez que a Coca-Cola tem um interesse bem estabelecido na promoção da atividade física como a melhor maneira de prevenir a obesidade - não o que você vai comer ou beber - é compreensível que a empresa iria financiar um pesquisador que compartilha essa opinião", disse Marion Nestle, professor da Universidade de nova York, que estudou a influência da Coca-Cola em seu mais recente livro, “Soda Politics” (A Política do Refrigerante).

"Não é que os investigadores financiados pela indústria são comprados", acrescentou. "É que a influência do financiamento da indústria alimentar é inconsciente, não intencional, e não reconhecido."


Publicado pela Vox Science and Health
Em outubro de 2015

Tradução revisada por Marília Portella de Andrade