Um texto do livro "the Cholesterol Myths":
O texto a seguir é um pequeno exemplo do trabalho do médico e pesquisador Uffe Ravnskov
(a tradução é minha, num tempo que ainda não existia o tradutor do google e a internet era basicamente discada de 36k).
HIPERCOLESTEROLEMIA
FAMILIAR - NÃO É TÃO GRAVE QUANTO VOCÊ PODE PENSAR
Muitos
médicos acreditam que a maioria dos pacientes com hipercolesterolemia familiar
– HF - morre por DCC (doença cardíaca coronariana) ainda jovem. Naturalmente, eles não ainda tiveram conhecimento
do surpreendente achado do Comitê Científico Dirigente do Departamento de Saúde
Pública e Cuidado Primário em Enfermagem de Ratcliffe em Oxford, Inglaterra. Durante
vários anos, estes investigadores acompanharam mais de 500 pacientes portadores
de HF entre as idades de 20 e 74 anos e compararam a mortalidade desses pacientes
nesse período com o resto da população em geral.
No
período entre três e quatro anos, seis dentre os 214 pacientes com HF com menos
de 40 anos morreram por DCC. Isso pode não parecer particularmente preocupante,
apesar de não ser comum o óbito por DCC dessa idade, e o risco para os
pacientes com HF é quase 100 vezes maior do que no resto da população.
No
período entre quatro e cinco anos, oito dos 237 pacientes com HF entre as idades
de 40 e 59 morreram, isso significa uma ocorrência cinco vezes maior do que na
população em geral. Mas, durante num período semelhante de tempo, um único entre
75 pacientes com HF entre as idades de 60 e 74 morreu por DCC, enquanto o
número esperado era pelo menos dois.
Se
estes resultados forem típicos para a HF, você poderia dizer que entre idades
20 e 59, aproximadamente 3 por cento dos pacientes morrem por DCC e entre
idades de 60 e 74, menos de 2%, em ambos os casos durante um período de 3-4
anos. Os autores deram ênfase ao fato de que os pacientes tinham sido
encaminhados em função de uma história familiar de doença cardiovascular
prematura o que os colocaria como um público de alto risco para DCC. A
maioria dos pacientes com HF na população geral não é reconhecida e permanecem sem
tratamento. Se os pacientes em estudo significassem uma amostra
representativa de todos os pacientes com HF da população, provavelmente seus
prognósticos teriam sido melhores.
Essa
perspectiva foi recentemente confirmada por Dr. Eric Sijbrands, e co-autores, de
vários departamentos médicos em Amsterdã e Leiden, Holanda. A partir de um
grande grupo foram identificados três indivíduos com colesterol muito
alto. Uma
análise genética confirmou o diagnóstico de HF e localizando suas linhagens familiares,
eles chegaram a total de 412 indivíduos. A
mortalidade coronária e a mortalidade total desses familiares foram comparadas
com a mortalidade da população holandesa em geral.
O notável achado
foi que os indivíduos que viveram entre o século XIX e o inicio do século XX tiveram
uma taxa de mortalidade normal, de acordo com os níveis de expectativa de vida.
Na realidade, por volta do século XIX os
portadores de HF tiveram uma mortalidade mais baixa do que a população em geral.
Após 1915 a mortalidade subiu a um máximo entre 1935 e 1964, mas até
mesmo no ápice, a mortalidade era ainda duas vezes menor do que a população em geral.
Novamente, um nível muito alto de colesterol isoladamente
não conduz a um ataque de coração. Na realidade, o colesterol alto pode ser até
mesmo protetor contra outras doenças. Esta
foi a conclusão do Dr. Sijbrands e seus colegas. Como suporte, eles citaram o fato de que ratos modificados geneticamente,
com colesterol alto, são protegidos contra as infecções bacterianas mais graves.
"Doutor,
não tenha medo em função causa de meu colesterol elevado." Essas foram as
palavras de um advogado de 36 anos quando me visitou pela primeira vez para um
exame de saúde. E realmente, o colesterol dele era elevado, mais de 400 mg/dl.
O
colesterol de "meu pai era até mais alto," acrescentou. "Mas ele
felizmente viveu até morrer aos 79 de câncer. E o irmão dele
que também tinha HF e morreu a idade 83. Nenhum deles tinha reclamado de
qualquer "problema de coração”. Meu "
paciente" hoje está 53, o irmão dele tem 56 e o primo, 61. Todos
eles têm o colesterol extremamente alto, mas nenhum deles tem qualquer problema
cardíaco, e nenhum deles tomou qualquer tipo de remédio para reduzir o colesterol.
Assim,
se por acaso você for portador de HF, não é necessário ficar muito preocupado.
Você tem boas chances de viver bem até a velhice.
Referências:
Scientific
Steering Committee on behalf of the Simon Broome Register Group. Risco de doença de coração
coronária fatal em hipercolesterolemia familiar. British Medical Journal 303,
893-896, 1991;
Sijbrands EJG e outros. Mortalidade em mais de dois séculos da genealogia de hipercolesterolemia
familiar: estudo de mortalidade da árvore familiar. British Medical Journal 322, 1019-1023, 2001.