quinta-feira, 28 de julho de 2022

Dieta low carb e a degeneração macular


 

A DEGENERAÇÃO MACULAR E A DIETA LOW CARB

O artigo a seguir foi publicado em jornal de oftalmologia. Fala sobre uma abordagemm alimentar para um problema cada vez mais presente no nosso meio: a degeneração macular. O autor cita um estudioso em dietas de baixo carboidratos, o professor Grant Schofield, da Universidade de Auckland (Nova Zelândia), e suas ponderações a respeito da importância de estratégias alimentares para possível prevenção ou estabilização dessa enfermidade que é responsável por cerca de 50% dos casos de cegueira naquele país.

The Fat Professor: A saúde dos olhos e as dietas low carb 

Por Ryan O'Connor, para o jornal MiVision (The Ophtalmic Journal)

É amplamante divulgado que devemos aconselhar nossos pacientes diabéticos a ter uma alimentação mais saudável, que ajude a controlar o diabetes e suas complicações, entre elas os problemas ocularesMas o que exatamente é uma dieta saudável e há alguma verdade no recém proclamado conceito de que a gordura é nossa amiga, enquanto o açúcar e os carboidratos devem ser evitados?

A dieta com baixo teor de carboidratos e gordura saudável é uma abordagem de alimentação que essencialmente coloca em questão todo o paradigma de alimentos com baixo teor de gordura. É uma abordagem que está sendo recomendada pelo professor Grant Schofield, um respeitado acadêmico de saúde pública, PhD, há 20 anos.

A pesquisa e a prática do professor Schofield são impulsionadas pela valorização que coloca a "comida real" como ponto de partida para  nossa saúde e bem-estar, juntamente com o desejo de “ajudar o mundo a mudar” e ajudar as pessoas a “serem mais saudáveis quanto possam ser”.

Um dos três autores do livro instrucional What The Fat? 1 e carinhosamente conhecido como The Fat Professor, o professor Schofield está na vanguarda do desafio da generalizada fobia à gordura (aqui nesse site chamado de lipidofobia) que nos levou a comer uma dieta cheia de alimentos processados ​​​​e carregados de carboidratos.

O professor Schofield falou sobre a teoria da doença metabólica e nutrição e o olho, no evento Snow Vision Down Under de Queenstown em 2016. Com diabetes na história familiar (do autor), considero-me em risco e, naquela época, estava analisando os benefícios de uma dieta cetogênica. Desde então, mudei para um estilo de vida com baixo teor de carboidratos e alto teor de gordura (LCHF). Ouvir o professor Schofield falar pessoalmente inspirou essa escolha pessoal e me deu as ferramentas e informações para passar aos meus pacientes diabéticos e em risco para ajudá-los a melhorar suas vidas.

Os olhos contam a história

Logo depois que ouvi o professor Schofield falar, fiz contato com ele novamente. Eu queria saber mais. Eu queria fazer perguntas a ele sobre os tópicos de nutrição, cuidados de saúde holísticos e suas associações para nós como prestadores de cuidados de saúde primários.

Afinal, como optometristas, entendemos que os olhos são uma janela para o resto do corpo. Temos o privilégio de examinar o único órgão que nos permite ver o estado do sistema vascular e devemos nos lembrar de questionar os sinais e sintomas que vemos; seja a  inflamação, os desequilíbrios bacterianos, a doença do olho seco e a blefarite ou condições metabólicas como hipertensão, dislipidemia e diabetes? Quando um paciente não é saudável em seus olhos, é provável que não seja saudável em seu corpo.

O professor Schofield acredita que uma abordagem holística à saúde do paciente é importante. “O ensino atual é tão orientado para a doença e é necessária uma abordagem mais integrativa. Não podemos apenas tratar pessoas doentes; temos o dever ético de prevenir doenças e promover o bem-estar”, ele me disse.

Ele explicou que a base da doença metabólica moderna pode ser pensada como muita glicose no sangue, representado como HbA1c alta ou secreção excessiva de insulina, ou ambos, acrescentando: “A resistência à insulina é a maneira da natureza de lhe dizer que você não precisa de tantos carboidratos como você pensou que necessitava.”

Embora a doença metabólica moderna possa ser controlada com medicamentos, ele disse que prescrever dietas que estabilizam nossa glicose no sangue e evitam a secreção excessiva de insulina, mesmo na presença de glicose normal no (exame de ) sangue, pode ser igualmente eficaz. Em maior medida, pesquisas publicadas recentemente no Journal of Medical Internet Research mostraram potencialmente que, com a dieta correta, pode não haver necessidade de tantos medicamentos, se houver de algum. 2

No entanto, como as pessoas diferem em seus níveis de sensibilidade à insulina e sua capacidade de lidar com carboidratos em sua dieta, os benefícios de restringir os carboidratos na dieta também diferem entre as pessoas.

O professor Schofield recomenda que o ponto de partida, então, seja eliminar os carboidratos refinados, pois estes são o maior problema. Estes devem ser substituídos por uma dieta rica em frutas e vegetais e possivelmente legumes. Para dar um passo adiante, as frutas, verduras e legumes devem ser aquelas presentes na estação do ano.

Dieta para Degeneração Macular

Do ponto de vista da degeneração macular relacionada à idade (DMRI), o aspecto de gordura saudável da dieta prescrita pelo professor Schofield se encaixa muito bem com as diretrizes AREDS2 (estudos de doenças do olho relacionados à idade, NT): evite óleos poliinsaturados altamente refinados, que têm a maior associação com a DMRI e sua progressão, e use gorduras e óleos tradicionais, como azeite, coco, manteiga e ghee, usados ​​antes da atual epidemia de doenças metabólicas. A dieta com baixo teor de carboidratos e (mais) gorduras saudáveis ​​também promove a ingestão de nozes, sementes e peixes gordurosos; alimentos associados a uma diminuição do risco de DMRI e também uma rica fonte de antioxidantes protetores.

No tópico dos suplementos, o professor Schofield realmente quer que consideremos quão apropriados eles são para a condição em si; no entanto, ele reconheceu a dificuldade de estabelecer uma regra geral sobre o uso de suplementos quando há evidências tão variadas por aí. “No caso da DMRI, sabemos que a luteína e a zeaxantina e outros antioxidantes são protetores, e é possível obter uma ingestão adequada deles a partir de alimentos com baixo teor de carboidratos, gorduras saudáveis, como ovos, legumes cozidos, frutas e, no caso de zinco, frutos do mar e carne, todos os dias de sua vida sem usar suplementos”, disse-me o professor Schofield. “Definitivamente, há um bom argumento para a suplementação de vitamina D no inverno, não há motivo para ceticismo. A vitamina B6 é um suplemento que pode danificar os nervos, incluindo prejudicando a visão, se usado de forma inadequada, algo nem sempre compreendido pelos prescritores."

O conceito de aumento da ingestão de gordura obviamente confronta a hipótese da dieta baixa em gordura ser benéfica ao coração e definitivamente não se alinha com a pirâmide alimentar tal como persitentemente divulgada - no entanto, também não se alinha totalmente com o novo prato proposto pela Heart Foundation’s chamado  de  'Apple' ou 'Healthy Plate' ou ' Heart', que parece ser apenas um pequeno desvio para alcançar a direção certa. “Precisaremos fazer algo drástico, como virar a pirâmide alimentar de cabeça para baixo, para que as pessoas possam entender essa perspectiva”, me disse o professor Schofield.

Opinando que a gordura foi responsabilizada porque está presente na cena do crime de doenças cardíacas na forma de colesterol/aterosclerose, ele apontou que também são os alimentos ricos em carboidratos (parte da causa dessas enfermidades) ... ou como Ben Warren, da Be Pure Clinic, diz, “carboidratos são um nutrientes não essenciais”. 3

(...)

A causa da gordura no coração

A verdadeira base do modelo de acúmulo de gordura no coração, segundo o professor Schofield, é assim; na presença de carboidratos e insulina alta, o corpo utiliza a glicose como fonte de combustível preferencialmente à gordura, assim ela é armazenada como gordura no corpo, muitas vezes em locais indesejáveis ​​como o fígado e como gordura visceral.

Quando substituímos nossos carboidratos por gorduras saudáveis, coisas notáveis ​​acontecem. Como a insulina estimula a síntese de colesterol, uma normalização da insulina - a partir de taxas de glicose no sangue mais estáveis - leva a uma normalização do colesterol. E como a insulina estimula a retenção de sais e água, uma dieta com baixo teor de carboidratos e gorduras saudáveis ​​geralmente reduz ou elimina a necessidade de medicamentos para tratar a hipertensão. Muitas vezes, as pessoas precisarão suplementar o sal em sua dieta se a ingestão de carboidratos for baixa o suficiente, como por exemplo numa dieta cetogênica.

É emocionante ver que o professor Schofield tem estimulado cada vez mais cardiologistas dispostos a testar a ideia de uma dieta com baixo teor de carboidratos e mais gorduras saudáveis ​​como parte de sua jornada para ajudar os pacientes a alcançar corações mais saudáveis.

As opiniões do professor Schofield podem ser encontradas em www.profgrant.com, onde ele publica artigos regularmente.


(Sobre o autor:)

Ryan O'Connor é optometrista da Paterson Burn na Nova Zelândia. Ele completou seu Bacharelado em Optometria pela Universidade de Auckland em 2013, seguindo um Bacharelado em Anatomia pela Universidade de Otago em 2009. Como parte de seu diploma de Ciências, ele fez trabalhos em anatomia funcional, reprodutiva e neurofisiologia aplicada, zoologia e nutrição esportiva. Um jogador de rugby dedicado, O'Connor se interessa pelo desempenho esportivo e nutrição e direciona seus esforços para o campo da visão esportiva. Isso é complementado por sua paixão por melhorar a vida de crianças pequenas como um dos principais optometristas pediátricos de Paterson Burn (na cidade de Cambridge, NZ).

Referências
1. whatthefatbook.com
2. McKenzie Amy L, Hallberg Sarah J, Creighton Brent C, Brittanie M Volk, Theresa M, Abner Marcy K, Glon Roberta M, McCarter James P, Volek Jeff S, Phinney Stephen D. A Novel Intervention Incluir recomendações nutricionais individualizadas reduz o nível de hemoglobina A1c, medicamentos, 2017, uso e peso no diabetes tipo 2 JMIR Diabetes 2017 | volume 2 | iss. 1 | e5 | p.1
3. www.bepure.co.nz

Imagem obtida desse LINK

segunda-feira, 7 de março de 2022

Os riscos dos óleos vegetais usados para fritura



 
OS RISCOS DAS FRITURAS ESTÃO NO ÓLEOS VEGETAIS AQUECIDOS 

Um estudo recente vai ao encontro da preocupação sde muitas pessoas em não usar óleos vegetais para a culinária. Na Espanha uma pesquisa alerta sobre a formação de produtos tóxicos ao se usar o óleo de girassol (tido por muitos como saudável) em alimentos fritos. O uso de banha de porco para frituras ainda é um dos mais suguros métodos desse tipo de cozimento. 


Investigadores da Universidade do País Basco (UPV/EHU, Espanha) foram os primeiros a descobrir a presença de determinados aldeídos nos alimentos, que se acredita estarem relacionados com algumas doenças neurodegenerativas e alguns tipos de câncer. Esses compostos tóxicos podem ser encontrados em alguns óleos populares, como o óleo de girassol, quando aquecidos em temperatura adequada para a fritura.

Artigo original publicado em 22/02/2022

"Sabia-se que na temperatura de fritura, o óleo libera aldeídos que poluem a atmosfera e podem ser inalados, por isso decidimos pesquisar se estes permanecem no óleo depois de aquecidos, e isso acontece" informa María Dolores Guillén, professora da Departamento de Farmácia e Tecnologia de Alimentos da UPV.

A pesquisadora é coautora de um projeto que confirma a presença simultânea de vários aldeídos tóxicos do 'grupo α, β-insaturado oxigenado', como o 4-hidroxi-[E]-2nonenal. Além disso, dois foram rastreados em alimentos pela primeira vez (4-oxo-[E]-2-decenal e 4-oxo-[E]-2-undecenal).

Até agora essas substâncias só haviam sido vistas em estudos biomédicos, onde sua presença em organismos está ligada a diferentes tipos de câncer e doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson.

Os aldeídos tóxicos são resultado da degradação dos ácidos graxos do óleo e, embora alguns sejam voláteis, outros permanecem após a fritura. É por isso que eles podem ser encontrados em alimentos cozidos. Como são compostos muito reativos, podem reagir com proteínas, hormônios e enzimas do organismo e impedir seu correto funcionamento.

A pesquisa, publicada na revista Food Chemistry , envolveu o aquecimento de três tipos de óleo (oliva, girassol e linhaça) em uma fritadeira industrial a 190 ºC. Isso foi realizado por 40 horas (8 horas por dia) nos dois primeiros, e 20 horas para o óleo de linhaça. Este último não é normalmente usado para cozinhar no ocidente, mas foi escolhido devido ao seu alto teor em grupos ômega 3.

Mais aldeídos tóxicos no óleo de girassol

Após a aplicação de técnicas de cromatografia gasosa/espectrometria de massa, os resultados mostram que o óleo de girassol e de linhaça (especialmente o primeiro) são os que criam os aldeídos mais tóxicos em menos tempo. Esses óleos são ricos em gorduras poliinsaturadas (linoleico e linolênico).

De forma adversa, o azeite de oliva, que possui maior concentração de gorduras monoinsaturadas (como a oleica), gera esses compostos nocivos em menor quantidade e mais tardiamente.

Em estudos anteriores, os mesmos pesquisadores constataram que em óleos submetidos a temperaturas de fritura foram encontradas outras substâncias tóxicas, alquilbenzenos (hidrocarbonetos aromáticos). Concluíram que dos óleos estudados, o azeite é o que menos cria.

A dose faz o veneno

"Não se pretende alarmar a população, mas esse dado é o que é, e deve ser levado em consideração", destaca Guillén, que aponta a necessidade de continuar pesquisando para estabelecer limites claros quanto ao risco desses compostos. "Às vezes a dose faz o veneno", lembra o pesquisador.

Os regulamentos espanhóis que controlam a qualidade das gorduras e óleos aquecidos estabelecem um valor máximo de 25% para componentes polares (produtos de degradação provenientes da fritura). No entanto, de acordo com o novo estudo, antes que alguns dos óleos analisados ​​atinjam esse limite, eles já apresentam uma "concentração significativa" de aldeído tóxico.

O estudo contabiliza todos os aldeídos (não apenas os nocivos) que são gerados durante a fritura. Além disso, os autores apresentam um modelo que permite prever como qualquer óleo hipotético evoluirá nas mesmas condições, caso conheçam sua composição inicial de ácidos graxos.


LINK do original: AQUI

Gravuras de uso FREE AQUI

terça-feira, 1 de março de 2022

Cereias matinais - uma estratégia contra impulsos sexuais

O artigo a seguir é de Michele Debczak, do site Mentalfloss. Se trata de uma tradução livre, com um adendo especial, que ilustra com mais clareza a extravagante associação entre o consumo de cereias matinais e o controle da (expressão da) sexualidade, especialmente das crianças e adolescentes.  A motivação de uma crescente onda higienista do final do século XIX, fortemente influenciada por princípios religiosos e filosóficos que associavam o consumo de carne a libido. Parece que nesse momento da história médica a sexualidade seria fortemente vinculada às doenças psiquicas e várias outras. O higienismo talvez tivesse uma fonte eugênica - ligada a um princípio de pureza. Eventualmente seria uma ideia que diferenciava pessoas mais nobres e limpas como mais dignas. E a doença como consequencia do pecado. Talvez até a pobreza, a cor da pele, e posições políticas pudessem estar associadas à falta dessa pureza. Porém, com certeza, a expressão sexual era impura nessa época (como em outras também). Seu controle era muito necessário. Assim surge a necessidade de alimentos ANAFRODISÍACOS (o oposto de afrodisíacos, é claro). E um persongem emerge: o doutor John Kellog. 


Masturbação e Mascotes: A Estranha História do Cereal

POR MICHELE DEBCZAK


No século 19, a masturbação era uma crise de saúde pública. Pelo menos, era assim que alguns fundamentalistas cristãos viam isso. Os cruzados  anti-masturbação atribuíam o auto-prazer para uma lista de doenças, incluindo cegueira, infertilidade, epilepsia, insanidade e uma predileção por comidas picantes. Essa última alegação realmente veio de um cruzado anti-masturbação em particular: um médico americano chamado John Harvey Kellogg.

John Harvey Kellog, nascido em 26 de fevereiro de 1853


Kellogg tinha muitas ideias sobre a relação entre dieta e masturbação. Ele pensava que o desejo de se auto-estimular, ou auto-polução, como ele chamava, estava relacionado ao consumo de carnes e alimentos condimentados. Para tratar o problema, juntamente com uma série de outros possíveis problemas de saúde, ele recomendou uma dieta branda composta por nozes e grãos de cereais. Ele até inventou algumas receitas que se encaixam em sua filosofia de saúde. Como superintendente do Sanatório de Battle Creek, um retiro de bem-estar moderno em Michigan, ele servia aos hóspedes biscoitos triturados feitos de trigo, milho e aveia. Ele apelidou a mistura de “granola”. Um avanço inusitado no café da manhã? Discutível. Alguns anos antes, um guru de dietas diferentes chamado James Caleb Jackson estava fazendo um lanche semelhante chamado “granula" (i.é. granulados). Kellogg havia “inovado” principalmente o produto, mudando o U em "granula" para um O (“granola”, como conhecemos hoje), o que também o ajudou a evitar processos judiciais . 



A maior contribuição da Kellogg para a indústria alimentícia deve ser familiar para qualquer um que tenha percorrido com atenção o corredor de cereais num supermercado típico. Em colaboração com seu irmão Will, contador do Battle Creek Sanitarium, John criou o cereal matinal que veio a ser conhecido como flocos de milho, transformando grãos de milho em flocos e torrando-os no forno. William assumiu a liderança na venda do produto para consumidores fora do sanatório, e estava muito menos interessado em seus supostos poderes de parar o "sexo solo" do que seu irmão (o John). Os flocos de milho da Kellogg’s nunca foram anunciados como o equivalente comestível de um banho frio, e é enganoso (* mas veja nota a seguir) afirmar que eles foram inventados para acabar com o onanismo. Mas com as súplicas de John para se limitar à “dieta mais simples, pura e pouco estimulante” como forma de evitar a excitação – especialmente defendendo uma dieta com muitos grãos e leite – é justo dizer que o movimento anti-masturbação é legítimo, mesmo se tangencial, parte dos primórdios do cereal.


(*) Uma nota sobre a questão sexual da origem do trabalho de Kellog:


John Harvey Kellog, membro da igreja Adventista do Sétimo Dia (importante fomentadora de escolas de medicina e nutrição) era extremamente preocupado com as “mazelas" que a sexualidade produzia nas pessoas, especialmente em jovens. Na figura associada ao Corn Flakes original havia efetivamente uma advertência: “Auxilia a prevenir a masturbação”. Nesse panfleto o bem intencionado John Kellog repudiava a sexualidade, sugerindo a circuncisão, sem anestesia, para que a eventual dor fosse associada a uma punição. Para as meninas poderia ser sugerido a aplicação e ácido carbólico na região do clitoris. Mas sua amputação poderia ser necessária em caso de ninfomania. Sem dúvida as motivações do Dr Kellog eram muito gentis. 

Não podemos esquecer que a própria fundadora do movimento vegetariano higienista mais influente também achava a sexualidade um problema extremo (que também era representante da igreja Adventista do Sétimo Dia, Ellen Gould White, visto no artigo AQUI). 

No início os irmãos Kellogs tinham fundado uma empresa com o nome de Sanitas Food Company. Seus produtos alimentares tinham um único propósito: substituir o tradicional desjejum americano que era baseado, historicamente, em carne e café. John entusiasmava os homens a reduzir esses alimentos para pararem a pratica de sexo (praticar) e masturbação!  

Dessa forma, pode ser que de fato os cereais matinais como concebidos pelo gentil dr Kellog, tinha como fator inspirador reduzir o desejo sexual e reduzir a masturbação. Talvez como mote de marketing isso não tenha sido amplamente percebido pelo público. É de se imaginar que talvez isso não fosse muito agradável de ser um tema de debate público...

Não devemos esquecer que não era hábito comer cereais no desejum ou em um café da manhã em nenhum lugar do mundo por séculos. 

E as carências primordiais dos cereais matinais obrigaram seus fabricantes a fortificá-los com vitaminas e sais minerais. Porque originalmente não substituíam as necessidades nutricionais que os genuinos alimentos tradicionais ofereciam sem qualquer adição artificial.

E, a propósito, o dr John Kellog também era eugenista. (Por favor ligue os pontos!)

—————————————————————-

CHARLES W. POST E A VENDA DE CEREAIS

Das tendências de saúde à evolução do marketing, podemos aprender muito sobre a cultura americana com a história do cereal matinal. Mas antes de cavarmos nossas colheres, vamos esclarecer nossa terminologia. Merriam-Webster define cereais como grãos comestíveis e amiláceos e as plantas que os produzem, como trigo, aveia e cevada. Cereal também é um termo geral para alimentos processados feitos de grãos de cereais.

O cereal é fortemente promovido hoje, com uma relação publicidade-vendas quatro a seis vezes maior do que a maioria das outras categorias de alimentos. Esse padrão pode ser rastreado até o início da história dos cereais. No final do século 19, o Sanatório de Battle Creek serviu um convidado chamado Charles W. Post, que rapidamente tomou nota da operação bem-sucedida dos Kelloggs. Post era vendedor e viu potencial para que os produtos servidos no Sanitarium ocupassem a mesa do café da manhã. Em 1897, ele desenvolveu Grape-Nuts, um cereal de biscoito esfarelado (que, para o deleite dos comediantes observadores, não continha nem  uvas tampouco nozes).

O que Post realmente trouxe para o jogo dos cereais matinais foi o conhecimento de marketing. Antes do século 20, a publicidade era frequentemente associada ao (snake-oil, ou produto para saúde falacioso, vendido como panaceia ou cura de doenças de tratamento não estabelecido) – tinha uma reputação decadente. Isso não deteve o vendedor. Post imprimiu panfletos alegando que Grape-Nuts poderia curar apendicite e até mesmo que apenas oito colheres de chá do produto dariam força suficiente para pedalar 50 milhas. Usar anúncios chamativos com alegações de saúde ilusórias para vender comida foi uma jogada arriscada, mas valeu a pena. Em 1903, a estratégia de marketing de Post o tornou milionário .

Post não inventou o cereal matinal, mas fez dele uma indústria competitiva. Após o sucesso de Grape-Nuts, William Kellogg emulou o modelo de Post. Ele ignorou a resistência de seu irmão à publicidade e lançou uma campanha incentivando as pessoas a "pisque na mercearia e veja o que você consegue". (Original: "in 1907 Kellogg's promoted their cornflakes with something called the Wink Day campaign. Women we're encouraged to "wink at your grocer and see what you get", what they got was a free box of cereal.”) Aparentemente funcionou: a Kellogg's vendeu 1 milhão de caixas em um ano. O sucesso da Grape-Nuts e da Kellogg's Corn Flakes atraiu mais empreendedores para Battle Creek. Em 1911, havia 108 marcas de flocos de milho, com 60 deles vindos diretamente de Battle Creek.

A CRIAÇÃO DE MASCOTES

Com tantos cereais competindo por clientes, as marcas precisavam de uma maneira de se destacar. Foi aí que surgiram os mascotes. Um dos primeiros cereais a usar um personagem de desenho animado para transportar mercadorias foi um cereal à base de trigo chamado Force. Seu mascote — o elegante Sunny Jim de cartola — foi um sucesso nos anúncios de revistas e jornais. Sua popularidade ajudou a tornar os mascotes um padrão nas caixas de cereais.

Nem todo mascote foi tão bem recebido quanto Sunny Jim. Depois de ganhar o "bilhete premiado" com Grape-Nuts, Charles Post introduziu seus próprios flocos de milho no mercado, chamados Elijah's Manna (ou maná de Elias). A embalagem mostrava o profeta Elias recebendo comida de um corvo, uma escolha de design que não caiu bem com alguns cristãos. A Grã-Bretanha chegou a proibir todas as importações do item. Post tentou se defender, dizendo: “Talvez ninguém deva comer bolo de comida de anjo, saborear a cerveja de Adam, viver em St. Paul, nem trabalhar para a Bethlehem Steel […] boas pessoas da Bíblia.” Seu argumento não pareceu conquistar muitos críticos, no entanto.

Algumas empresas de cereais perceberam que não precisavam criar personagens do zero para vender seus produtos. Um dos primeiros programas a apresentar publicidade embutida para cereais foi um programa de rádio chamado Skippy . No meio de um episódio, o personagem-título parava o que estava fazendo para lançar Wheaties aos ouvintes. Este também foi o primeiro exemplo de uma marca de cereais direcionada diretamente aos consumidores jovens. O anúncio foi um sucesso, e logo outros personagens queridos estavam vendendo cereais em seus programas de rádio.

Post, por sua vez, encontrou um mascote menos controverso. Ele cedeu e mudou o nome do Elijah's Manna para o inofensivo Post Toasties e removeu a figura bíblica da caixa. Ele eventualmente colaborou com Walt Disney para apresentar Mickey Mouse como mascote do Post. Dizem que o Post pagou um milhão de dólares pela oportunidade... na década de 1930, durante o auge da Grande Depressão. Um bando de acordos de licenciamento semelhantes financiou o primeiro longa-metragem da Disney, Branca de Neve e os Sete Anões.

Esse é apenas um exemplo de empresas de cereais treinando seus mascotes antes de acertar. Cinco anos depois de estrear Rice Krispies em 1928, a Kellogg's adicionou um gnomo de desenho animado à caixa chamado SnapCrackle e Pop (que nosso verificador de fatos apontou não ter “relacionamento familiar canônico” com Snap) só apareceram em anúncios impressos, não se juntando ao Snap no pacote até 1941.  

As primeiras promoções introduziram outros personagens no extenso verso do Rice Krispies como Soggy and Toughy. Mas ao contrário do trio mais famoso, acabaram não vingando.

A batalha entre crocância e encharcamento é um tema recorrente em anúncios de cereais. Na década de 1960, a Quaker Oats (aveia Quaker) desenvolveu o personagem Cap'n Crunch em resposta a um relatório de que as crianças odiavam cereais encharcados. A essa altura, o marketing era uma parte tão crucial da venda de cereais que a Quaker surgiu com o mascote antes de descobrir qual seria o sabor do Cap'n Crunch. O nome completo de Cap'n Crunch, aliás, é Horatio Magellan Crunch .

John Kellogg foi inflexível sobre manter o açúcar fora dos flocos de milho, então provavelmente é melhor que ele não estivesse por perto para ver Frosted Flakes (a marca referencia da Kallog’s no Brasil = Sucrilhos Kellog’s) da Kellogg's em 1952Tony the Tiger ( o tigre do sucrilhos) é a face desse produto desde o seu lançamento, mas ainda mais icônico do que o rosto do personagem é sua voz. (Thurl Ravenscroft, que dublou Tony por mais de 50 anos , também cantou "You're a Mean One, Mr. Grinch" em How the Grinch Stole Christmas. )

Alguns mascotes de cereais enfrentaram uma estrada mais esburacada. Cerca de uma década depois de lançar Lucky Charms em 1964, a General Mills silenciosamente substituiu Lucky the Leprechaun por Waldo the Wizard em mercados selecionados. Eles temiam que o duende ladrão pudesse parecer muito abrasivo e esperavam que o bruxo amigável fosse mais atraente para as crianças. No final, Waldo recebeu um cartão vermelho e Lucky retornou ao seu lugar de direito como o fornecedor de corações, estrelas, ferraduras, trevos e/ou luas azuis.

ESTREIA DE CEREAL NA TV

Quando a televisão substituiu o rádio como principal meio de entretenimento doméstico, as marcas de cereais não perderam tempo em explorá-lo. Eles usaram a mesma estratégia de marketing no programa, só que agora eram Howdy Doody e Roy Rogers fazendo as vendas em vez de Skippy. Foi também quando os mascotes de cereais ganharam vida em comerciais. Ao contrário dos anúncios de rádio, os anúncios de TV colocam o produto real na frente dos olhos dos consumidores. Isso significava que as empresas de cereais tinham interesse em fazer com que o meio parecesse o melhor possível. Muitos deles investiram dinheiro na tecnologia inicial da televisão, que ajudou a financiar desenvolvimentos como imagens coloridas. A partir de então, as marcas com mascotes coloridos – e cereais coloridos – levaram vantagem.

Na década de 1980, as empresas encontraram uma nova maneira de usar propriedades pré-existentes para vender produtos. De repente, parecia que cada personagem da cultura pop estava grudado em sua própria caixa de cereal. Os destaques da era dos cereais inovadores incluem o cereal Gremlins, o cereal Mr. T e o C-3PO's. Onde estrear um cereal original poderia custar às empresas US$ 40 milhões em marketing no primeiro ano, o lançamento de um cereal baseado em uma propriedade existente com reconhecimento embutido custava mais de US$ 10 a US$ 12 milhões.Até mesmo um cereal Cabbage Patch Kids vendeu bem, inicialmente. A desvantagem era que os compradores só estavam interessados nesses produtos por um ano ou dois antes que as vendas caíssem. A única exceção foi o cereal Ghostbusters de Ralston Purina, que vendeu bem por impressionantes cinco anos seguidos.

AÇÚCAR ADICIONADO

Muitos dos cereais de hoje não se encaixam na visão de John Kellogg de um café da manhã sem graça e ostensivamente saudável. O açúcar adicionado começou a aparecer nas listas de ingredientes logo após o cereal ser comercializado pela primeira vez para as crianças, mas em vez de se afastar do rótulo de alimentos saudáveis, as empresas encontraram uma maneira de terem seu próprio Cookie Crisp e se aproveitar também. Eles produziram anúncios alegando que o açúcar nos cereais dava às crianças a energia de que precisavam para começar o dia.

A campanha foi eficaz e as tendências de saúde na América do século 20 reforçaram a reputação saudável do cereal. Em 1967 , os nutricionistas de Harvard, Dr. Fredrick Stare e Mark Hegsted, publicaram dois estudos ligando a gordura e o colesterol na dieta a doenças cardíacas e minimizando o papel do açúcar. Essa abordagem da saúde foi ecoada por especialistas nas décadas que se seguiram. Quando o USDA introduziu sua pirâmide alimentar em 1992 , tinha fontes de proteína como carne, peixe e nozes a um nível antes do topo, e com carboidratos como pão, macarrão e cereais formando a base muito maior.

Mas os estudos de Harvard que apoiam uma dieta com baixo teor de gordura podem ter uma agenda oculta. Um estudo de 2016 revelou que a pesquisa foi iniciada e financiada pela Sugar Research Foundation, um grupo comercial que tenta reforçar a imagem do açúcar junto aos consumidores preocupados com a saúde. Desde então, numerosos estudos enfatizaram o valor nutricional de certas gorduras e os riscos do excesso de açúcar, e a pirâmide alimentar que tecnicamente endossava de seis a 11 porções de cereais por dia foi abandonada pelo governo.

Uma história que começou, de certa forma, com alegações sem fundamentação científica, sobre os benefícios de uma dieta branda sofreu mutações, em algum lugar ao longo do caminho, para alegações infundadas sobre os benefícios dos carboidratos refinados carregados de açúcar. Você ainda pode querer comer cereal por seu sabor, ou nostalgia, ou porque um personagem de desenho animado lhe disse para fazer isso. Mas você provavelmente deve aceitar as alegações de saúde do cereal matinal com uma dose saudável de sal. 

Link do texto original: AQUI

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

Detox é um fato ou uma fábula?


O artigo a seguir é uma traduçao livre com inserção de conteudo pertinente à ideia central do texto. O artigo original é do site sciencebasedmedicine.org. Se trata de um espaço que faz um escrutínio de temas médicos variados baseados na analise da medicina baseada em evidências. O tema a seguir deve ser sensível para muitos leitores. Mas a análise do autor Scott Gavura, um bacharel em ciências de farmácia é muito aguda e demolidora. Vamos ver qual sua perspectiva, a luz das evidências científicas, do conceito detox. Como veremos, o conceito popularizado do processo "detox" não parece ter qualquer relação com rudimentares entendimentos de fisologia e bioquímica. Infelizmente.


Detox é uma farsa

Scott Gavur - em 02/01/2022

“Detox” é o caso de um termo médico legítimo que tem sido transformado em estratégia de marketing – tendo sido projetado para tratar uma condição inexistente. No cenário da medicina real, desintoxicação significa tratamentos para níveis perigosos de drogas, álcool ou venenos, como metais pesados. Os tratamentos de desintoxicação são procedimentos médicos que não são selecionados casualmente de um menu de tratamentos alternativos de saúde ou escolhidos diretamente da prateleira de uma farmácia. A desintoxicação real é fornecida em hospitais quando há circunstâncias de risco de vida. Mas existem as “toxinas” que os provedores de saúde alternativos afirmam eliminar. Essa forma de desintoxicação é simplesmente a cooptação de um termo real para dar legitimidade a produtos e serviços inúteis, uma vez que confunde os consumidores fazendo-os pensar que são baseados em ciência. 

Uma das ideias amplamente divulgadas sobre “desintoxicação” é que ele age como uma espécie de limpador para seus órgãos. O marketing de desintoxicação descreve seu fígado e rim como agindo como filtros, onde as toxinas são fisicamente capturadas e retidas. Argumenta-se que esses órgãos devem ser limpos periodicamente, como se você lavasse uma esponja ou trocasse o filtro de ar do seu carro. Mas a realidade é que nem o rim tampouco o fígado funcionam dessa maneira. O fígado realiza uma série de reações químicas, usando enzimas, para converter substâncias tóxicas em substâncias que podem ser eliminadas pela bile ou pelos rins. O fígado é autolimpante – as toxinas não se acumulam nele e, a menos que você tenha doença hepática documentada, geralmente funciona (muito) bem. O rim excreta produtos residuais na urina – caso contrário, a substância permanece no sangue. Argumentar que qualquer órgão precisa de uma “limpeza” simplesmente demonstra uma falta de compreensão básica de  bioquímica. Seus órgãos ficarão bem sem qualquer suplemento, smoothie ou dieta da moda. Apenas deixe-os em paz. (Ou seja não há necessidade de qualquer aditivo para promover ou melhorar aquilo que seus órgãos tem feito, e bem, há milhões de anos.)




Não há como qualquer alimento funcionar como detox, não importa se é uma quinoa orgânica, um amado óleo de sementes de linhaça, ou suco verde bem elaborado. Na verdade qualquer um desses itens pode mais é  “intoxicar" seu organismo, na medica que exige que seu fígado, seus rins e seu intestino promovam a expulsão dos resíduos promovidos por tais "imaculados" alimentos.

Mas e as toxinas?

Há uma razão pela qual podemos ser sugados pelo marketing da desintoxicação – parecemos programados para acreditar que precisamos disso, talvez relacionado à nossa suscetibilidade a ideias de magia simpática. Os rituais de purificação remontam aos primeiros tempos da história registrada. A ideia de que de alguma forma estamos nos envenenando e precisamos expiar nossos pecados parece fazer parte da natureza humana, o que pode explicar por que ainda faz parte da maioria das religiões do mundo . No entanto, não é com miasmas ou pecados que estamos tão preocupados hoje. À medida que nosso conhecimento da biologia crescia, esses medos se manifestavam como “ autointoxicação“, para ser tratado com enemas colônicos e purgativos. Limpe as entranhas, dizia a teoria, e você pode curar qualquer doença. A ciência, porém, descartou a autointoxicação por volta de 1900, à medida que adquirimos uma melhor compreensão da anatomia, fisiologia e da verdadeira causa da doença. No entanto, o termo persiste hoje – mas agora é um slogan de marketing. A versão atual da autointoxicação argumenta que nosso ambiente está cada vez mais tóxico e está nos deixando doentes. Produtos químicos feitos pelo homem estão absolutos em nosso ambiente, então o raciocínio é que isso deve estar nos tornado doentes. Dependendo para quem você pergunta, alguma combinação de aditivos alimentares, sal, carne, flúor, medicamentos prescritos, poluição atmosférica, ingredientes de vacinas, ogms, ou não “comer limpo” (ou qualquer outra teoria factível) estão causando um acúmulo de “toxinas” em o corpo. Então, qual é a “toxina” exata que está causando danos vagos (prováveis), mas assumidos como reais?

Kits e tratamentos “detox" nunca nomeiam as toxinas que eles removem, porque nunca foi demonstrado cientificamente que realmente removem (quaisquer) toxinas.


A farsa dos agentes alcalinizantes

A ideia de que a acidez do nosso corpo precisa de monitoramento e ajuste é regularmente promovida por profissionais de saúde “alternativos”. Existe a crença persistente de que qualquer coisa que torne o corpo “ácido” é ruim e qualquer coisa básica ou “alcalina” é boa. Mas tudo isso é bobagem, projetado para confundi-lo sobre bioquímica básica. A escala de pH é uma medida da acidez de um líquido . Um pH de 7 é neutro. Qualquer coisa inferior é chamada de ácida, qualquer coisa superior é básica ou alcalina. O pH é uma escala logarítmica – ou seja, uma diferença de 1 pH é uma diferença de 10x.


 

O pH do nosso sangue é 7,4 – ligeiramente alcalino ou básico. As enzimas que facilitam as reações químicas nas células funcionam apenas em uma faixa estreita de pH. Qualquer mudança significativa significa morte quase certa. Uma série de tampões e mecanismos de compensação impedem que o pH em nosso sangue se mova para longe de 7,4. Como o sangue circula constantemente por todo o corpo, ele pode compensar quaisquer mudanças no pH em qualquer um de nossos órgãos (por exemplo, nossos músculos durante exercícios intensos). O dióxido de carbono (CO 2 ) é o ácido mais prevalente em nosso corpo e é um produto da atividade celular. O sangue transporta o CO 2 e o elimina nos pulmões (por isso o sangue venoso é ligeiramente menos básico que o sangue arterial, aproximadamente 7,38). Os pulmões realmente fornecem a maior fonte de eliminação da acidez de nosso corpo.

Quer controlar o pH do seu corpo? 
Basta respirar!

Tudo o que comemos é decomposto pelo ácido estomacal. O pH do nosso estômago é cerca de 1,5 ou 2,0 – super ácido, devido à produção de HCL (ácido clorídrico). Mas todo o conteúdo que é ejetado do nosso estômago para os nossos intestinos é imediatamente neutralizado por líquidos digestivos e enzimas. Como resultado final tudo o que comemos ou bebemos e digerimos acabará no pH alcalino dos nossos intestinos. Nada do que você come ou bebe terá um efeito significativo no pH do organismo, uma vez que chegam ao seu intestino para serem absorvidos. E as alegações de que “a acidez é a raiz de todas as doenças” não têm base – e refletem uma falta de compreensão da fisiologia e bioquímica básicas. Se a desintoxicação a que estás se engajando pretende “restaurar” seu equilíbrio ácido-base, ou busca torná-lo mais “alcalino” – é um sinal claro de uma farsa.

No ciclo vital a produção de subprodutos ácidos como o gás carbônico e o ácido lático, abundantemente produzido por uma corrida, por exemplo, é parte inerente a sobrevivência. Combater a acidez, como um evento bioquímico implícito à biologia normal do corpo humano é tão útil com ficar secando gelo. Mas no fundo sabemos que a acidez que queremos combater não é química de verdade. É um símbolo, uma figura de linguagem. Sempre que transformamos símbolos em fatos nos tornamos fundamentalistas, o que impede de entendermos de fato o que nos faz sofrer, e de como poderemos chegar de fato à saúde, física e mental. 

Artigo original LINK aqui

As imagens são free do site unsplash 

Detox: What “They” Don’t Want You To Know

Obs.: artigo com tradução livre e inserções de conteúdo relacionado
José Carlos Brasil Peixoto (médico)