segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Gordura no fígado e carboidratos

A ESTEATOSE E O CONSUMO DE CARBOIDRATOS


Indiscutivelmente um dos quadros mais comuns na prática da clínica médica é descoberto através de exames de rotina como a ecografia abdominal. Muitas pessoas se surpreendem ao descobrir que tem algum grau de gordura do fígado, o que chamamos de esteatose hepática e no laudo geralmente se descreve algo como “aumento difuso da ecogenicidade hepática”.
DEFINIÇÃO:
A esteatose pode ser a fase mais precoce da doença hepática gordurosa não-alcoólica. O diagnóstico exclui obviamente a ingestão de excessiva de bebidas alcoólicas (+ de 20g de etanol/dia), e ainda enfermidades infecciosas e consequências de uso de certos químicos como certos medicamentos ou agentes tóxicos. Embora o fígado normalmente possa ter algum percentual de gordura (algo entre 5-10% do volume do órgão), define-se a esteatose pela concentração de triglicerídeos, mais precisamente quando a concentração de triglicerídeos hepáticos é superior a 55 mg/ g de fígado (5,5%) (2). 
Figura 1


GRAUS DE ESTEATOSE


  • O grau de infiltração gordurosa pode ser classificado:
  • 1)      Desde a esteatose isolada (tipo I),
  • 2)      Esteatose com algum nível de inflamação (tipo II),
  • 3)      Esteatose com lesão de hepatócito ou degeneração em balão (tipo III) e
  • 4)      Esteatose com fibrose sinusoidal e/ou corpos de Mallory (tipo IV). Chamamos de esteato-hepatite não alcoólica (em inglês a sigla: NASH), a forma grave de evolução da esteatose que é caracterizada pelos sinais de lesão inflamatória hepática com deposição de colágeno. 
ALGUMAS ESTATÍSTICAS:
Aproximadamente 10-29% dos pacientes com cirrose irão desenvolver uma hepatite (NASH) dentro de 10 anos. A esteatose é um forte marcador independente para doença cardiovascular sendo mais importante do que o grau de gordura periférica ou visceral. É importante se salientar que embora seja presumível imaginar o quadro em pessoas com sobrepeso óbvio, a prevalência dessa doença do fígado é de 15% em pacientes não-obesos. Claro que a estatística aumenta em enfermos obesos [com índice de massa corporal (IMC) = 30.0-39.9 kg/m²] e extremamente obesos (IMC ≥40.0 kg/m²) para 65% e 85%, respectivamente. Alguns estudos mostram que a esteatose pode estar presente em 34% dos adultos americanos e 15% dos adultos chineses. (4) A esteatose não poupa crianças e adolescentes como já divulgado nesse blog nesse artigo.

RESISTÊNCIA A INSULINA

Não é sem razão que alguns autores consideram a esteatose um sintoma da Diabetes tipo II em atividade. Uma das definições da diabete tipo II, também conhecida como diabetes do adulto é o fato de ser uma expressão da resistência à insulina. Em relação à esteatose a resistência à insulina é amplamente reconhecida como fator chave da doença do fígado gorduroso. Estudos recentes mostram que a severidade da esteatose é diretamente proporcional ao grau de resistência à insulina. Os mecanismos bioquímicos são complexos, mas as várias etapas do processo estão bem estabelecidas, inclusive a fase de lesão direta do hepatócito, reações inflamatórias e fibrose (hepatite). A obesidade também está associada a gravidade do quadro. A ferritina pode estar bastante elevada na esteatose (um dado de exame laboratorial que pode sugerir o processo). Alguns autores consideram que ocorra um dano mitocondrial, com formação maior de espécies reativas de oxigênio (radicais livres). A combinação de peroxidação lipídica com produção de citocinas incorre na morte do hepatócito.

INFLUÊNCIA DO CONSUMO DE CARBOIDRATOS, E O PAPEL DA FRUTOSE
Considerando o rápido aumento na prevalência da esteatose hepática, vários estudos suportam o conceito que exista um importante papel de fatores ambientais, especificamente pela alimentação. Foi relatado que o consumo excessivo do xarope de milho (ou xarope de milho rico em frutose, HFCS – em inglês, ou simplesmente chamado de xarope de glicose nos rótulos) em refrigerantes e alimentos pré-prontos está relacionado ao aumento da prevalência de obesidade e esteatose hepática associada. Os carboidratos ingeridos são um grande estímulo para um evento bioquímico, a lipogênese de novo (LDN) hepática, e mais propensos a contribuir diretamente para a esteatose do que a ingestão de gordura alimentar.
É amplamente aceito que a obesidade está associada com a inflamação crônica de baixo grau. Esta inflamação crônica é um dos pontos de relação entre obesidade e resistência à insulina. A resistência à insulina desempenha um papel central na patogênese da doença hepática gordurosa não alcoólica. Isso é resultado de uma complexa cascata de eventos bioquímicos, como já citado, que envolvem personagens mais ou menos conhecidos como a TNF-alfa, os transportadores de glicose (GLUTs), os substratos receptores de insulina (IRS-1 e IRS-2) entre vários outros. Uma das consequências é uma depleção das lojas de ATP (energia) na mitocôndria da célula do fígado, deixando suscetível a múltiplas injúrias.
O incremento do consumo de bebidas adoçadas com açúcar e de alimentos pré-prontos está relacionado com o risco de síndrome metabólica. O xarope de milho (HFCS) estimula a lipogênese de novo e, finalmente, o desenvolvimento de doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA).
A frutose é um intermediário no metabolismo da glicose. Mas, ela difere em várias formas da glicose. A frutose é fracamente absorvida a partir do trato gastrointestinal por um mecanismo diferente da glicose ( Figura 2 ). A maioria das células têm apenas pequenas quantidades do transportador GLUT-5 (transportador de glucose de tipo 5), o qual transporta frutose para as células. A glicose é transportada para as células pelo GLUT-4, um sistema de transporte dependente de insulina. A frutose é quase totalmente processada pelo fígado. O metabolismo hepático da frutose estimula a lipogênese. Estes eventos são independentes do emprego da insulina e pela etapa de regulação pela fosfofrutoquinase. A alta ingestão de frutose está associada ao aumento de triglicerídeos no plasma por um aumento da regulação da lipogênese de novo do fígado (LDN hepática) e secreção de triglicerídeos, e uma diminuição do clearance das VLDL-TG (lipoproteínas de densidade muito baixa com triglicérides). A fosforilação da frutose no fígado consome ATP, consequentemente, o acúmulo de ADP serve como substrato para a formação de ácido úrico. Estes eventos facilitam o dano oxidativo hepático e a peroxidação lipídica.


EFEITO POSITIVO DE DIETAS LOW CARB
Há uma série de referências sobre os potenciais benefícios de modificações alimentares dentro do espectro de baixo carboidratos na alimentação para o controle da esteatose. Na revisão de Linda York e outros autores (1) é feita uma distinção entre dietas com restrição de carboidratos com redução ou não de total de calorias. É mostrado que ambas têm ação positiva sobre vários parâmetros de controle metabólico. Isso indiscutivelmente favorece a redução do sobrepeso, um aspecto amplamente relacionado à esteatose. Um estudo da Universidade do Texas mostrou que entre dois grupos, um com restrição de carboidratos (tanto quanto 20g/dia) e outro grupo com restrição de calorias, o grupo com a dieta lowcarb perdia gordura hepática mais rápido (3). Uma das recomendações mais amplamente citadas para controle da esteatose e todas as suas consequências é a redução do peso. No contexto das abordagens mais eficientes tanto para redução de peso, como a redução de triglicerídeos e controle de parâmetros da diabetes, a alimentação com redução de carboidratos é especialmente eficaz e há várias referências disponíveis.
Acrescente-se a isso a necessidade do cuidado na ingestão da frutose, especialmente a forma de xarope de frutose (HFCS). Recentemente, estudos em animais mostraram que o consumo excessivo de HFCS-55 aumenta a expressão hepáticas dos genes da Glut5 e níveis de TNF-alfa, e da endotoxemia derivada do intestino, do estresse do retículo endoplasmático, peroxidação lipídica hepática e atividade apoptótica. Os efeitos pró-inflamatórios e lipogênicos de frutose parecem ser devido à depleção transitória de ATP. A frutose também pode aumentar os níveis de ácido úrico intracelular e no soro.
(Um outro artigo do blog informa a quantidade segura de frutose em frutas para pessoas que necessitam de um controle da quantidade a ser ingerida NESSE LINK)
De qualquer maneira um dos aspectos mais importantes é que um processo potencialmente dramático para a saúde, que pode ter um resultado muito grave na disfunção de um órgão chave do organismo, pode ser muito beneficiado com a mudança em hábitos alimentares, e dispensando o emprego de qualquer tipo de medicação específica.



Principais artigos de referência:

(


sábado, 13 de agosto de 2016

Microbioma humano pode ser menos populoso


O NÚMERO DE BACTÉRIAS DO MICROBIOMA HUMANO PODE SER MENOR

Cientistas a caça do mito de que nossos corpos têm mais bactérias do que células humanas


Décadas dessa suposição sobre a microbiota revisitada.

Artigo publicado na Nature em 08 de janeiro de 2016


Diz-se frequentemente que as bactérias e outros micróbios em nosso corpo superam nossas próprias células em cerca de dez para um. Isso é um mito que deve ser deixado de lado, dizem pesquisadores de Israel e do Canadá. A relação entre os micróbios residentes e células humanas mais provável é que seja um-para-um, eles calcularam.

O 'homem de referência' (aquele que tem 70 kg, 20-30 anos de idade e 1,70 metros de altura) contém em média cerca de 30 trilhões de células humanas e 39 trilhões de bactérias, diz Ron Milo e Ron Sender no Instituto Weizmann de Ciência, em Rehovot, Israel, e Shai Fuchs no Hospital for Sick Children em Toronto, Canadá.

Esses números são aproximados - uma outra pessoa pode ter metade desse número ou duas vezes mais bactérias, por exemplo - mas muito longe da proporção de 10: 1 comumente assumida.

"Os números são semelhantes o suficiente para que cada evento de defecação possa inverter a relação para favorecer as células humanas sobre as bactérias", eles cuidadosamente concluem  em um manuscrito enviado para o bioRxiv (serviço de arquivos e distribuição de estudos em biologia).

O mito 10:1 persistiu a partir de uma estimativa de 1972 do microbiologista Thomas Luckey, que foi "elegantemente executado, mas, provavelmente, nunca pretenedeu ser amplamente citado nessas últimas décadas", dizem os autores do artigo. Em 2014, o biólogo molecular Judah Rosner dos Institutos Nacionais de Saúde, em Bethesda, expressou suas dúvidas sobre a alegação 10:1, notando que havia muito poucas estimativas qualificadas para o número de células humanas e microbianas no corpo.

Milo, Sender e Fuchs decidiram re-estimar o número revendo uma ampla gama de dados experimentais recentes na literatura, incluindo análises de DNA para calcular o número de células e de imagem por ressonância magnética para calcular o volume dos órgãos. A grande maioria das células humanas são células vermelhas do sangue, de acordo com a observasçãso (ver "contagem de células humanas ').

Contagem de células humanas
26,3 trilhões são do sangue
O maior peso é dos músculos 

Fator fecal

A superestimativa em particular na obra de Luckey diz respeito à proporção de bactérias em nossos intestinos, é o que afirmam Milo e seus colegas. Luckey estimou que os intestinos contém cerca de 1014 bactérias, assumindo que havia 10¹¹ bactérias em um  grama de fezes, e dimensionando para o volume de um litro do tubo digestivo, que se estende desde a boca até o ânus.

Mas a maioria das bactérias residem apenas no cólon (que tem um volume de 0,4 litros), Milo e colegas salientam - e as medições sugerem que há menos bactérias em amostras de fezes do que Luckey pensava.

Juntando esses tipos de cálculos, os pesquisadores produziram uma razão entre a população microbiana e as células humanas em um homem médio de 1,3: 1, com uma grande incerteza. Milo se recusou a comentar sobre o artigo, porque está em revisão em uma revista científica.

"É bom que todos nós agora temos uma estimativa melhor de referência", diz Peer Bork, um analista de informática em biologia do Laboratório Europeu de Biologia Molecular em Heidelberg, Alemanha, que trabalha em outros microbiomas complexos e humanos. "Mas eu não acho que isso vai realmente ter qualquer significado biológico."


Artigo original: LINK
© 2016 Macmillan Publishers Limited, parte da Springer Nature. Todos os direitos reservados.

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Depressão e alegria vem dos mesmos genes


Os mesmos genes que o fazem deprimido podem também fazer você feliz

por Jordan E. Rosenfeld

O brilho radiante da felicidade e as nuvens de depressão podem parecer existir em suas próprias distintas estratosferas dentro do espectro emocional. Mas, em um novo estudo publicado na  Molecular Psychiatry , os pesquisadores da Universidade de Oxford e da Universidade do Texas em Austin propõem que estes dois diferentes estados podem, na verdade, compartilhar os mesmos fundamentos genéticos - o que potencialmente encerra o debate "nature versus nurture" (debate genética x ambiente) de uma vez por todos.
Certos genes nos tornar mais " sensíveis " a estímulos, levando com a mesma facilidade a crises de depressão ou de positividade -sugerindo "uma complexa interação" entre os nossos genes e nosso ambiente, diz a pesquisadora que conduziu o estudo, Elaine Fox, professora de neurociência afetiva em Oxford e autora de o livro Rainy Brain, Sunny Brain. Então, tentando culpar a nossa educação ou o nosso DNA para a nossa saúde mental é "um pouco como perguntar o que é mais importante para um retângulo - o comprimento ou a largura", diz ela.
 Com o tempo, hábitos mentais mais saudáveis  desenvolvem essa tendencia para o bem-estar e felicidade.
Fox diz que sua pesquisa com o colega Christopher Beevers revela que  "um evento específico da vida em combinação com o desenvolvimento de vieses cognitivos específicos, por sua vez leva a hábitos negativos da mente levando as pessoas se inclinarem mais para a depressão [ou] a ansiedade." E os eventos  que nos orientam para qualquer rumo não precisam ser muito dramáticos. 
Nedalee Thomas, uma empresária da Califórnia, diz que experimentou "duas graves obscuras depressões" no final dos seus vinte e início dos trinta e poucos anos, ambos tão intensos que se tornava uma luta até para se vestir. Uma de suas depressões foi desencadeada por "um comentário desagradável num dia de Ação de Graças", enquanto a outra foi resolvida depois de uma viagem para compras. "Encontrar um belo casaco de veludo marrom por um preço que eu podia pagar ... foi como sair da escuridão para a luz", diz Thomas. "Ele simplesmente me virou."
Fox diz que preconceitos positivos podem ser construídos em resposta a eventos específicos da vida e a construção genética. "Com o passar do tempo, ​​hábitos mentais mais saudáveis desenvolvem esse inclinação para o bem-estar e a felicidade." 
Zoe Schaeffer, editora de revista e escritora na Pennyslvania, diz que para ela não é estranho "baixas muito baixas, tanto como também elevações de humor muito intensamente belas, e eu não quero dizer que seja mania ou comportamento desproporcional -  simplesmente uma alegria profunda". Ela acredita nas bases genéticas da sua depressão e tentou inúmeras coisas para a depressão ao longo dos anos, variando de medicação para a prática de gratitude, de ioga, mas está consciente, como uma pessoa  que se auto-identifica com "altamente sensível", e que seu ambiente e certas situações possa ajudar a mudá-la para fora da depressão, também.

Fox diz que a escala psicométrica atual para a depressão, o  Escore de Risco Poligênico  (PRS), é indevidamente ponderado para o negativo, avaliando os genes que contribuem para o seu risco de tornar-se deprimido, mas não para as emoções positivas. "Quando estudos analisaram como as pessoas respondem a ambientes muito positivos e de apoio, encontramos aqueles com altos níveis no mesmo PRS que também têm uma melhor resposta a estes ambientes positivos", diz ela. Assim, os genes subjacentes a ambas as condições emocionais "estão trabalhando 'para o melhor e para o pior' estado", diz ela.
A pesquisa de Fox com Beevers sugere que o PRS deve ser substituído por uma "Pontuação Poligênica de Sensibilidade" (PPS), "pois isso reflete melhor o fato de que esses genes parecem conferir uma maior sensibilidade para o meio ambiente." Ela acredita que se o ambiente é positivo e de apoio, aqueles com alta sensibilidade serão capazes de "agarrar as oportunidades mais facilmente do que aqueles que são menos sensíveis."
Agora que a vida de Thomas é mais equilibrada, ela criou seus filhos, em um casamento feliz, e após a menopausa, por isso não sendo assediada por flutuações de humor das variações hormonais, ela não se encontrou de novo sob as trincheiras da depressão como ela costumava quando era mais jovem, embora ela tenha a experiência de tristeza e períodos de baixa, mas algo que ela diz pode gerir. Schaeffer descobriu que ela pode acessar a sua felicidade de forma mais eficaz  "quando está diretamente presente com uma experiência física: jardinagem; cozinhando; estando com os animais; usando o meu corpo em vários esportes ao ar livre ", diz ela.
A última esperança para esta pesquisa, diz Fox, "seria a de desenvolver tratamentos altamente personalizados com base no nível de sensibilidade genética das pessoas." Talvez no futuro, se você ficar com uma pontuação baixa no sistema de pontos do PPS, você vai ser um candidato para um tipo de treinamento cognitivo que iria ajudá-lo a sintonizar melhor o seu ambiente para seu próprio benefício emocional, não importando o seu código genético, ela afirma.

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domingo, 7 de agosto de 2016

O significado dos exames de curva de insulina




A IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO DAS TAXAS DE INSULINA

JOSEPH KRAFT: 
PORque a HIPERINSULINEMIA importa

Publicado em 16 de agosto de 2013 · 
Autor: Prof. Grant Schofield



Dr. Joseph Kraft MD, patologista e autor de "A Epidemia de Diabetes e Você" e um anônimo pioneiro nas taxas de insulina e o diagnóstico precoce de diabetes
A ciência tem uma história de ignorar alguns dos trabalhos mais importantes e surpreendentes por um longo tempo, mas em algum momento, compreende seus significados e acaba celebrando. Agora é hora de comemorar o trabalho do Dr. Joseph Kraft MD, um patologista atualmente nos seus noventa anos. O Dr Kraft é o autor de "A Epidemia de Diabetes e Você", que ainda está disponível, pelo menos em cópia impressa. Ele define o que ele chama de "Diabetes in situ", (termo) que é emprestado pela sua experiência em patologia do câncer. Ele tem escrito vários bons trabalhos, nenhum dos quais acabou sendo largamente citado. Um bom resumo, livre, de seu trabalho está disponível aqui . Kraft realizou mais de 14.000 testes de tolerância à glicose oral ao longo de algumas décadas. Normalmente, medimos a resposta da glicose com uma bebida de glicose. Esta resposta pode nos dizer o grau em que nós metabolizamos e eliminamos a glicose do nosso sangue. É muito importante para o diagnóstico de diabetes e outras questões metabólicas. Entretanto os testes de Kraft são diferentes. Ele é muito mais profundo do que o normal. Em primeiro lugar, em vez de monitorar a glicose durante 2 horas pós teste, ele a monitora por pelo menos 5 horas. Em segundo lugar, ele também mede a insulina, além da glicose, através da realização desse exame. De seus resultados desses exames e outros da literatura, bem como de suas observações de patologia e de autópsias diretas, ele concluiu que:
1.       Nós podemos ser capazes de diagnosticar diabetes muito, muito mais cedo do que nós temos feito;
2.      Os níveis anormais de insulina (alto) são direta e indiretamente prejudiciais para o sistema vascular e, portanto, quase todos os órgãos do corpo;
3.      Esta alta (taxa de) insulina (hiperinsulinemia) é uma condição que por si mesma é realmente o mecanismo causal por trás da maioria das doenças metabólicas e crônicas que verificamos atualmente.
Ele chama a resposta anormal de insulina, com taxas normais de glicose "Diabetes In Situ ". O que é Diabetes In Situ? Aqui está a questão - você vai ao seu médico. Você começa uma série de testes para ver o quão bem você está funcionando metabolicamente. Esta é uma série muito importante de exames, porque o funcionamento metabólico é o que vai determinar quase todos as nossas [indicadoras de] quantidade e qualidade de vida. Eu iria tão longe a ponto de, pelo menos, levantar a hipótese (há provas suficientes) de que os problemas no metabolismo dos carboidratos estão implicados em praticamente todas as doenças crônicas da cabeça aos pés, e da maioria dos órgãos internos. Isso inclui a doença de Alzheimer e a demência vascular, a doença vascular periférica e tudo mais, da obesidade comum a diabetes e a doença hepática gordurosa [esteatose] até a doença cardiovascular ... e a lista continua. O problema é que o seu médico vai olhar para os marcadores metabólicos que são, ou falhos como preditores, ou na maior parte são marcadores de disfunção em estágio final (tarde demais). Coisas como a glicose elevada no sangue, pressão arterial elevada, obstruções vasculares (arteriosclerose), etc. Se o seu médico está realmente interessado em sua saúde e suspeita que você não está fazendo as coisas certas, eles podem pedir um teste oral de tolerância à glicose. Dr. Kraft nos mostra que existem cinco padrões típicos de resposta da insulina à glicose, que caracterizam um estado de doença. Como mencionado anteriormente, estes [resultados] são realmente o que devemos considerar na identificação precoce de problemas metabólicos. Infelizmente, o teste de tolerância à glicose é raramente executado no tempo suficiente, nem mesmo a insulina (a chave para isso) tem sido medida simultaneamente. Na verdade, na Nova Zelândia, a medição de insulina só pode ser encomendada e abrangida pelo sistema de hospital público por um punhado de endocrinologistas especializados. A insulina não é considerada como útil para o diagnóstico de doença crônica em fase precoce. Isso é realmente uma vergonha porque o Dr. Kraft mostrou que é definidamente útil. Vejamos cinco padrões do dr. Kraft ...  
Aqui está o que consideramos uma resposta de insulina normal a um “bolus de glicose” em um teste de tolerância oral à glicose. Kraft chama isso de "Padrão 1". 
Padrão 1: Os picos de insulina após uma carga de glicose 75 ou 100 g após 30 a 60 minutos entre 50-70 unidades. Valores ficarão praticamente de volta à linha de base após 2 horas, e certamente depois de 3 horas. Isto é o que nós consideramos como uma resposta normal de insulina para uma carga de glicose. Também é provável que os carboidratos de liberação lenta (baixa índice glicêmico - IG)) como o feijão possa provocar uma área ainda menor sob a curva com a mesma carga total de carbos (CHO).
Padrão 2 (abaixo) é o primeiro sinal de resistência à insulina, mas as coisas provavelmente vão parecer sem problemas se você simplesmente olhar para as respostas da glicose. Vemos um tempo semelhante no pico, mas um valor muito maior. A insulina não voltou a encontrar a linha de base até 4 horas ou mais após a carga inicial. A área sob a curva da insulina é muito grande. A tensão total nas células beta pancreáticas é elevada simplesmente devido à procura global de insulina. Muitos (a maioria) das pessoas com esse padrão apresentam curvas normais de glicose e para essas é dito que elas estão fazendo "tudo certo".
Padrão 3 (abaixo) é um pico atrasado e elevado. Isto é indicativo de alguma função das células beta, mas com alguma perda funcional. Em essência, estamos vendo o início do esgotamento das células betas. As pessoas podem, eventualmente, introduzir a glicose em suas células, mas elas gastam um longo período de tempo para produzir suficiente insulina.
Padrão 4  (abaixo) é o mesmo que o padrão do 3, com exceção do nível em jejum de insulina é muito maior.
Padrão 5 (abaixo) é a incapacidade das células beta. Em outras palavras, existe pouca ou nenhuma capacidade para mover a glucose para o interior das células, pois o pâncreas não pode produzir insulina. Os pacientes necessitarão de insulina exógena injetada nesse ponto para obter o mesmo resultado. Curiosamente, a Kraft também mostra que às vezes as pessoas com dietas reduzidas em carboidratos (low-carb) podem mostrar esse padrão temporariamente. Mas não é que elas sejam incapazes de produzir insulina, é apenas mais provável que elas podem levar a glicose para as células (por exemplo, no cérebro) sem (necessidade de) insulina em primeira instância. Essas pessoas retornam ao padrão 1 depois de um período em uma dieta mais elevado de carbos. Eu acho que isso também é consistente com a constatação de que as pessoas em dietas LCHF normalmente têm um diagnóstico temporária de resistência periférica à insulina, que é resolvido após uma grande refeição com carbos. É provável que o corpo se adapte para desviar preferencialmente a glicose disponível no cérebro em primeiro lugar. Então o Padrão 5 com uma dieta baixa em carboidratos é OK, comparável a mesma fisiologia como Padrão 1, mas adaptado para o low carb.
Levar para casa mensagens, implicações para a prática, e perguntas
·         Dr Kraft estava nisso há décadas - que se deve medir glicose e insulina, concomitantemente, durante um período prolongado no teste de tolerância à glicose para identificar as pessoas que estão em risco precocemente.
·         Esta detecção precoce é ética e necessária.
·         Ao invés disso as melhores práticas atuais desviam as pessoas do diagnóstico de resistentes à insulina até que eles apresentem marcadores de doença em estágio final. Só então é que vamos levá-los a sério.
·         Por que não temos levado o excelente trabalho do Dr. Kraft mais a sério?
Recebi uma carta do Dr. Kraft recentemente. Ele descreve o que é a abordagem geral e as ideias de seus resultados após vários milhares de testes de tolerância oral à glicose (TOTG) ao longo de várias décadas. 
Site do conteúdo original:




terça-feira, 2 de agosto de 2016

Varizes e alimentação



A seguir mais uma abordagem sobre um tema comum mas que nem sempre pensamos na alimentação como fator de intervenção. Diz respeito ao consumo de ômega-6 (cujas fontes são óleos vegetais industrializados, GVH - gordura vegetal hidrogenada e margarinas) e a insuficiência venosa (varizes). O artigo é do interessante blog de Tucker Goodrich - Yelling-Stop (também ativista low-carb).


VEIAS VARICOSAS E ÁCIDO LINOLÉICO



(...) fui para uma corrida com um colega que passou por uma cirurgia realmente ruim de varizes. Ele revelou isso em uma conversa onde eu sugeri que ele estava treinando muito duro (ele disse que sua zona HR 2(alvo de frequência cardíaca) seria 140-160, com base em uma freqüência cardíaca máxima de 220: a velha, fórmula desmascarada). Não é necessário dizer que ele estava em grande esforço. Eu costumava seguir a mesma abordagem, então eu sei o que se sente.

Eu sugeri que ele se beneficiaria se lesse o trabalho de Maffetone, e ele disse que conhecia Maffetone, mas estava seguindo o conselho de seu médico. Ele pareceu desdenhar. (Link do trabalho dr Phil Maffetone, médico, treinador de atividade física)

(Oh Senhor, por favor, ajude todos aqueles que seguem o conselho do seu médico. Ninguém merece...)(uma ironia, NT)

Então, fiquei curioso sobre a causalidade das varizes. Eles estão altamente correlacionadas com a doença cardio-vascular em geral, afinal de contas, e bem que poderia compartilhar da mesma causa, uma vez que os sintomas são superficialmente semelhantes.

Tornou-se esmagadoramente claro para mim que metabólitos oxidativos do ácido linoleico (OxLAMs), que são produzidos no corpo pela mitocôndria, e muitas vezes são altamente tóxicos, devem ser a causa provável.

"HODEs (ou ácido 13-Hidroxioctadecadienoico) são produtos estáveis de ​​oxidação do ácido linoleico. (LA; C18: 2, omega-6) LA é o ácido graxo mais abundante nas placas ateroscleróticas, sendo sete vezes mais abundante do que o ácido araquidônico (AA). Lipídeos oxidados se acumulam em sítios de lesão tecidual, incluindo a placa aterosclerótica. Foi reconhecido há mais de 50 anos atrás, que ácidos graxos oxidados ficam acumulados em lipoproteínas de baixa densidade (LDL) com o passar da idade, particularmente em indivíduos suscetíveis a aterosclerose [Jira et al., 1998]. Os "Hodes" foram 20 vezes mais abundante no LDL de doentes com aterosclerose, quando comparados com os controles [Jira et al., 1998]. A estrutura de 9-HODE e 13-HODE, são mostrados na Figura 1, juntamente com LA e o ácido graxo ômega-3, o ácido α-linolênico (ALA; C18: 3, omega-3). Embora as estruturas destes ácidos graxos sejam diferentes apenas sutilmente, há evidências de que os Hodes têm propriedades biológicas distintas. A acumulação de Hodes nas lesões ateroscleróticas humanas foi descrita há quase duas décadas [Kuhn et al., 1992], quando foi demonstrado que eram  componentes de ambos, o éster de colesterol e as frações de fosfolipídeos. LA representa 40-45% dos ácidos graxos poli-insaturados (PUFA) na placa, e 30% dos PUFA na placa são oxidados. Os Hodes são os produtos de oxidação mais abundantes na placa, e que estão presentes em todas as lesões avançadas, embora a quantidade varia de paciente para paciente [Waddington et ai. 2003, 2001]. "



Eu não encontrei qualquer estudo controlado por acaso ainda, (embora isso esteja próximo...):

"O estudo da dieta cardíaca Lyon foi um dos ensaios de intervenção mais bem sucedidos de todos os tempos. O grupo experimental aumentou a sua ingestão de peixe, aves, vegetais em raiz, vegetais verdes, pão e frutas, enquanto diminuíam a ingestão de carne vermelha e gordura do leite. A principal diferença entre este estudo e outros estudos de intervenção é que os participantes foram incentivados a comer uma margarina rica em ômega-3 ALA. Em resumo:, os participantes diminuíam o seu consumo total de PUFAs, com a diminuição da ingestão de ômega-6 e aumento da ingestão de ALA e de ômega-3 de cadeia longa. Após uma média de 27 meses, a mortalidade total foi em70% menor no grupo de intervenção do que no grupo controle que comia uma dieta típica! "

O ácido linoleico (LA) é a principal gordura poliinsaturada ômega-6 na dieta americana moderna. OxLAMs são produzidos no corpo pelo excesso de LA, e podem ser reduzidos através de uma diminuição de LA a partir da dieta, e fazer isso parece ter (em um pequeno estudo) uma taxa de sucesso de 100% na redução de, pelo menos, um dos aspectos mais importantes da Síndrome Metabólica, o flagelo de saúde primários do nosso tempo.

Levou um certo tempo, um par de horas, mas aqui estamos:

"A geração de espécies reativas de oxigênio por paredes venosas suficientes, insuficientes e varicosas"

Vou cortar alguns pontos relevantes:

"Apesar das inúmeras teorias, a etiologia e patogênese das varizes primárias permanecem obscuras. A etiologia das doenças venosas crônicas (DVCs), conhecida como insuficiência venosa crônica (IVC) está relacionada com aprisionamento de leucócitos. Isso envolve o aprisionamento de células brancas nas paredes dos vasos seguido por sua ativação e a translocação para fora do vaso. A libertação de espécies de oxigênio reativas (ROS) a partir de células brancas presas tem sido documentada. A superóxido-dismutase (SOD) inibe diretamente a geração de radicais livres e os compostos são produzidos durante a oxidação pelas ROS, como o malonildialdeido (MDA). O objetivo deste estudo foi determinar o envolvimento de radicais livres na etiologia das alterações venosas. "

Bem lá vamos nós. MDA, juntamente com 4-HNE e acroleína (e toda uma série de outros) são OxLAMs. Vou me opor à afirmação de que OxLAMs são gerados por ROS, pois é claro que eles são gerados de forma independente.

"Os níveis de marcadores de estresse oxidativo fortemente correlacionados com lesões observadas pelo ultrassom em veias insuficientes e varicosas. Em ambos foi observada uma maior concentração de MDA, que é um sinal de peroxidação lipídica. Mecanismo de antioxidação, a atividade SOD e poder antioxidante total (total antioxidative power), expresso em FRAP foram inversamente proporcionais à concentração de MDA. Em veias insuficientes e varicosas ambas as atividades FRAP e SOD foram significativamente mais baixas do que nas veias normais. A gravidade das alterações clínicas foi inversamente dependente da eficiência de limpeza de ROS, o que demonstra adicionalmente a participação de radicais livres na patogênese das doenças cardiovasculares ".

Então a gente tem:

"Estes resultados confirmam que a pacientes que sofrem de insuficiência venosa crônica estão constantemente sob o stress oxidativo. Seu TAS (status antioxidante total) é reduzido e o nível de peroxidação lipídica (medido como concentração de MDA) aumentado ....
"... A interação entre leucócitos e endotélio (o que resulta em metabolitos tóxicos, por exemplo, MDA; Rojas e Phillips, 1999).. É promovida pelo fluxo venoso lento (Danielsson et al, 2003). Mahmound et al (2002) encontrou forte peroxidação lipídica (aumento da concentração de MDA) em torno de válvulas venosas insuficientes (em comparação às veias normais não inflamadas). Este fenômeno também foi confirmado em nossa pesquisa. Da mesma maneira Tryankina et al. (2003) chamou a atenção para diminuição da quantidade de antioxidantes no plasma e aumento da peroxidação lipídica em pacientes com varizes, em comparação com indivíduos saudáveis. Tudo isso mostra o quanto um forte estresse oxidativo pode diminuir os mecanismos de defesa de pacientes com IVC (Wlaschek et al., 2005). "

Isto também sugere que o mecanismo por trás das veias varicosas é idêntico àqueles atrás da aterosclerose.

O LA não é diretamente tóxico, mas ele se transforma em veneno no corpo. O consumo excessivo de LA deve ser evitado como a peste.

P. S. Bem, eu perdi isso:

"Em primeiro lugar, todos os parâmetros que foram pesquisados: atividade da enzima antioxidante, TAS e FRAP nos leva a conclusão de que a principal razão por trás da IVC é a disfunção do sistema antioxidante."

Isso está errado. É sobrecarga do sistema antioxidante. Reduzir essa carga, resolve a doença.

"Também simples modificação do regime alimentar dos pacientes e no estilo de vida podem ter efeitos benéficos."

Eles estão certos sobre isso, mas eles não especificam o que fazer. Se você está lidando com uma sobrecarga de metabólitos oxidativos do ácido linoleico, e o ácido linoléico entra no corpo apenas através da dieta, a resposta deve ser clara ...


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