sábado, 26 de julho de 2014

Dr Michael Mosley pede desculpas pela sua lipidofobia

Autor de famoso livro de dieta pede desculpas



O livro "The Fast Diet", em português se chama "A dieta dos dois dias", e diz na capa: Emagreça comendo o que quiser por 5 dias da semana.
O seu autor, o médico e celebridade de TV inglês anunciou há poucos dias, que sua luta contra o consumo de gordura foi um erro.
Embora a ideia do jejum intermitente possa ser útil, mas em outro contexto de projeto alimentar, o jejum (ou pseudo-jejum) pela redução de calorias agudamente (cerca de 500 cal) por 2 dias da semana, que rapidamente ganhou adeptos em Hollywood, peca em essência porque se centra no conceito equivocado do total de calorias e não na qualidade dos alimentos. Obviamente porque o dr. Michael Mosley estava se baseando na linha tradicional de preocupações alimentares: não coma gorduras! E também não fazia o principal: não orientava as pessoas a restringir carboidratos!
Em um artigo do grupo Daily Mail, publicado online em 16 de julho ele diz:
"Leite, queijo, manteiga, creme de leite - na verdade, todas as gorduras saturadas - são ruins para você. Ou assim eu acreditava desde meus dias de estudante de medicina há quase 30 anos. 
Durante esse tempo, eu assegurei a amigos e familiares que a gordura saturada iria entupir suas artérias, tão certo como a banha no ralo da cozinha. Assim como, também, iria torná-los obesos. 
Recentemente, no entanto, fui forçado a fazer uma inversão de marcha. É hora de pedir desculpas por todos esses conselhos inúteis que divulguei a respeito da gordura."



Veja o original no LINK



quarta-feira, 23 de julho de 2014

O Pior Engano na História do Homem



O Pior Engano na História da Raça humana

Artigo de Jared Diamond
Com ilustrações de Elliot Danfield

(Fiz essa tradução há quase 10 anos, e segue atual!)  

À ciência nós devemos mudanças dramáticas em nossa presunçosa auto-imagem. A astronomia nos ensinou que nossa Terra não é o centro do universo, mas somente um de seus bilhões de corpos celestes. Da biologia nós aprendemos que nós não fomos especialmente criados por Deus, mas frutos da evolução dos seres vivos junto com milhões de outras espécies. Agora a arqueologia está demolindo outra convicção sagrada:  que a história humana sobre os milhões de anos do passado teria sido uma longa jornada de progresso. Em particular, achados recentes sugerem que a adoção de agricultura, supostamente nosso passo mais decisivo em direção a uma vida melhor, foi de muitas formas uma catástrofe da qual nós nunca mais nos recuperamos. Com a agricultura veio uma brutal desigualdade social e sexual, a doença e o despotismo, que aflige nossa existência.
Inicialmente, as evidências contra esta interpretação revisionista serão percebidas pelos americanos do século vinte como irrefutáveis. Nós estamos em melhor situação  do que as pessoas da Idade Média em quase todos os aspectos, que por sua vez tiveram mais facilidades que os homens das cavernas, que por sua vez ficavam em melhor situação que os macacos. Somente contamos nossas vantagens. Nós apreciamos a grande abundância e  variedade de alimentos, as melhores ferramentas e bens materiais, um das fases de maior longevidade e saúde da história. A maioria de nós está protegida da fome e de predadores. Nós obtemos nossa energia de petróleo e máquinas, não de nosso suor. Qual neo-Luddite (movimento social inglês contrário à mecanização, do início do século XIX) entre nós trocaria essa vida pela de um camponês medieval, de um homem da caverna, ou de um macaco? 
Na maior parte de nossa história nós sustentamos a nós mesmos pela caça e pela coleta: nós caçamos animais selvagens e apanhávamos plantas silvestres. É uma vida que os filósofos tem tradicionalmente considerado como sórdida, bruta, e limitada. Uma  vez que nenhuma comida é cultivada e pouca pode ser armazenada, existe (nesta visão) nenhum momento de repouso  para a constante luta que começa novamente todos os dias em busca de alimentos silvestres, para evitar o sofrimento da fome. Nossa fuga desta miséria foi facilitada somente há 10.000 anos atrás, quando em partes diferentes do planeta as pessoas iniciaram a domesticar plantas e animais. A revolução agrícola expandiu-se até hoje e é quase universal e poucas tribos sobrevivem no modelo caçador-coletor.
Da perspectiva progressivista em que eu fui educado, perguntar "Por que quase todos os nossos antepassados caçador-coletores adotaram agricultura?" é tolo. Claro que eles adotaram isto porque agricultura é um modo eficiente de adquirir mais alimento com menos trabalho. As colheitas de plantações rendem muito mais toneladas por acre que raízes e bagas. Somente imagine um bando de selvagens, exausto de procurar por nozes ou de perseguir animais selvagens, de repente arrecadando alimentos com tranqüilidade, pela primeira vez, em um pomar carregado de frutas, ou de um campo repleto de ovelhas. Quantos milissegundos você pensa que eles levariam para apreciar as vantagens da agricultura?
Os partidários progressivistas algumas vezes chegam a ponto de creditar à agricultura o notável florescer das artes que teria acontecido ao redor dos últimos milhares de anos. Já que as colheitas podem ser armazenadas, e considerando que leva menos tempo pegar comida de um jardim do que encontrá-la na natureza, a agricultura deu a nós tempo livre que os caçador-coletores jamais tiveram. Deste modo seria a agricultura que nos habilitou a construir o Parthenon ou a compor uma sinfonia.
Apesar disso parecer indiscutível na visão progressivista, é difícil de ser provado. Como você demonstra que as vidas das pessoas de 10.000 anos atrás melhoraram quando eles abandonaram a caça e a coleta pela agricultura? Até recentemente, os arqueólogos tinham que recorrer à provas indiretas, cujos resultados (surpreendentemente) fracassaram em sustentar a visão progressivista. Esse é um exemplo de um teste indireto: Seriam os caçador-coletores do século XX realmente piores do que os fazendeiros? Espalhados pelo mundo, vários grupos de pessoas consideradas primitivas, como os bosquímanos (bushmen: homens da floresta, primitivos dos bosques) Kalahari, continuam a se sustentarem da mesma maneira. Isso significa que eles têm bastante tempo de lazer, um bom período de sono, ou trabalhem menos do que os seus vizinhos agricultores. Por exemplo, o tempo médio dedicado toda semana para obter comida é somente 12 a 19 horas para um grupo de bosquímanos, 14 horas ou menos para os nômades de Hadza da Tanzânia. Um bosquímano, quando perguntado por que ele não imitava as tribos vizinhas, adotando a agricultura, replicou: "Por que nós deveríamos, quando existem tantas nozes "mongongo" no mundo?"
Enquanto os fazendeiros se concentram em colheitas de alto teor de carboidratos  como o arroz e batatas, a mistura de plantas e animais selvagens das dietas dos sobreviventes caçador-coletores oferecem mais proteína e um melhor equilíbrio de outros nutrientes. Em um estudo, a ingesta  média diária  de alimento do bosquímano (durante um mês, quando a comida era abundante) era de 2.140 calorias e 93 gramas de proteína, consideravelmente maior que a ração diária recomendada para as pessoas de seu porte. É quase inconcebível que os bosquímanos, que comem 75 ou mais plantas silvestres, possam morrer de fome da mesma maneira que centenas de milhares de fazendeiros irlandeses e suas famílias morreram durante a escassez de batata da década de 1840.
Assim as vidas dos coletor-caçadores sobreviventes não eram tão sórdidas ou brutas, embora os fazendeiros os tivessem empurrados para alguns dos piores locais do mundo. Mas as sociedades coletoras modernas que compartilharam com as sociedades agrícolas por milhares de anos não nos informam sobre as condições prévias à revolução agrícola. A visão progressivista está realmente fazendo uma alegação sobre um distante passado: que as vidas dos povos primitivos melhoraram quando eles trocaram de coletores para a agricultura. Os arqueólogos podem datar essa troca distinguindo sobras e vestígios de plantas e animais selvagens e domesticados em monturos (coleções de lixo alimentar e excrementos) pré-históricos.
Como se pode deduzir sobre a saúde dos fabricantes desse lixo pré-histórico, e assim diretamente testar a visão progressivista? Essa questão ficou possível de ser solucionada apenas em anos recentes, em parte pelas novas técnicas emergentes de paleopatologia, o estudo de sinais de doença nos restos mortais em indivíduos do passado.
Em algumas situações favoráveis, o paleopatologista tem quase tanto material para estudar como um patologista atual. Por exemplo, os arqueólogos nos desertos chilenos encontraram múmias bem preservadas cujas condições médicas na época da morte poderiam ser determinadas por autópsia (Discover, outubro). E as fezes de índios de um passado remoto, que viviam em cavernas, em Nevada, permanecem suficientemente bem preservadas para serem examinadas para pesquisa de vermes intestinais e outros parasitas.
Normalmente o único resíduo humano disponível para estudo são os esqueletos, mas eles permitem um número assombroso de deduções. Para começar, um esqueleto revela o sexo do seu dono, o peso, e idade aproximada. Nos poucos casos onde existem muitos esqueletos, pode se fazer tabelas  de mortalidade à semelhança daquelas utilizadas pelas companhias de seguro de vida, para calcular a expectativa de vida e o risco de morte para qualquer idade fornecida. Os paleopatologistas também podem calcular as taxas de crescimento medindo os ossos das pessoas de idades diferentes, examinando os dentes através de defeitos de esmalte (sinais de desnutrição na infância), e reconhecendo as cicatrizes que ficam nos ossos pela  anemia, tuberculose, lepra, e outras doenças.
Um exemplo objetivo do que os paleopatologistas descobriu a partir de esqueletos diz respeito à mudanças históricas na altura. Nos esqueletos da Grécia e Peru ficou demonstrado que a altura média de coletor-caçador ao redor do final da idade do gelo  era de generosos 1,79 m (5 ' 9" pés) para homens, e 1,67 m (5 ' 5" pés) para mulheres. Com a adoção de agricultura, a altura despencou, e por  volta de 3000 a. C. alcançou uma redução para 1,61 m  (5 ' 3" pés) para os homens, 1,52 m (5 ' pés) para mulheres. Nos tempos clássicos ocorreu uma lenta recuperação da altura, mas os gregos e turcos modernos ainda não recuperaram a altura média de seus antepassados distantes.
Outro exemplo de paleopatologia diz respeito ao trabalho de estudo de esqueletos de indígenas de colinas funerárias nos vales de rio de Illinois e Ohio. Nas colinas de Dickson, localizada próxima à confluência dos rios de Colher e Illinois, os arqueólogos escavaram alguns 800 esqueletos que ilustram um quadro das mudanças da saúde que aconteceram quando a cultura de caçador-coletor deu lugar para  o cultivo de milho intensivo ao redor de  1150 dC. Os estudos de George Armelagos e seus colegas de então na Universidade de Massachusetts mostra que esses primeiros fazendeiros pagaram um preço para sua forma de  sustento. Comparado ao caçador-coletor que precedeu a eles, os fazendeiros tiveram quase 50% de aumento em defeitos no esmalte indicativos de desnutrição, um aumento em quatro vezes na anemia por deficiência de ferro (comprovado por uma condição óssea denominada de hiperostosis porótica), uma triplicação em lesões nos ossos que refletiam alguma doença infecciosa em geral, e um aumento nas condições degenerativas da espinha vertebral, provavelmente refletindo muito trabalho físico desgastante. "A expectativa de vida ao  nascimento na comunidade pré-agrícola era em torno de vinte e seis anos," diz Armelagos, "mas na comunidade pós-agrícola seria de dezenove anos. Portanto esses episódios de stress nutricional e por doenças infecciosas, afetou gravemente sua habilidade de sobreviver."
Essas evidências sugerem que os índios das Colinas de Dickson, como muitos outros povos primitivos, iniciaram na agricultura não por escolha mas por necessidade de  alimentar um constante aumento no número de indivíduos de suas populações. "Eu não acredito que a maior parte dos povos coletor-caçadores iniciassem a agricultura até um determinado momento que eles se viram obrigados, necessariamente a iniciá-la, e quando eles trocaram para a agricultura eles negociaram qualidade pela quantidade," diz Mark Cohen da Universidade do Estado de Nova Iorque em Plattsburgh, co-editor com Armelagos, de um dos  livros primordiais desse campo de pesquisa: Paleopatologia nas Origens de Agricultura. "Quando eu comecei pioneiramente a tornar público esse argumento dez anos atrás, poucas pessoas concordavam comigo. Agora acabou se transformando num respeitável, embora controverso, lado desse debate."
Existem pelo menos três conjuntos de razões para explicar porque a agricultura era ruim para a saúde. Primeiro, os caçador-coletores apreciavam uma dieta variada, enquanto os primeiros fazendeiros obtinham a maior parte de sua comida a partir de um ou alguns poucos alimentos da colheita . Os fazendeiros obtinham caloria barata às custas de uma nutrição pobre. (Atualmente apenas três vegetais fornecem altas taxas de carboidratos: trigo, arroz, e milho – fornecem a maior parcela das calorias consumidas pela espécie humana, e cada qual é deficiente em certas vitaminas ou aminoácidos essenciais para a vida.) Segundos, por causa da dependência de um número limitado de alimentos fornecidos pelas colheitas, os fazendeiros corriam o risco da fome se uma colheita falhasse. Finalmente, o simples fato da agricultura encorajar as pessoas para associação em sociedades lotadas, muitas das quais começaram a estabelecer ligações comerciais com outras populosas sociedades,  proporcionou a  propagação de parasitoses e doenças infecciosas. (Alguns arqueólogos entendem que foi a aglomeração, e não a  agricultura, que promoveu essas doenças, mas isso é uma discussão do tipo ovo-e-galinha, porque a aglomeração populacional estimulou a agricultura e vice-versa.) As epidemias não poderiam ganhar relevância enquanto as populações fossem difundidas em pequenos espaços geográficos, que constantemente faziam trocas de seus acampamentos. A tuberculose e as doenças diarréicas tiveram que aguardar a sedimentação da agricultura, o sarampo e a  peste bubônica aguardaram o aparecimento das grandes cidades.
 

Além de desnutrição, da fome, e das doenças  epidêmicas, a agricultura foi fundamental para originar outra maldição da humanidade: as divisões de classes. Os caçador-coletores tinham pouco ou nenhum armazenamento de  comida, como também não tinham fontes concentradas de alimentos, como um pomar ou um rebanho de bovinos: eles  viviam do consumo de plantas e animais selvagens que eles procuravam a cada novo dia. Desse modo, não poderia haver nenhum rei, nenhuma classe de parasitas sociais que acumulassem gordura dos alimentos fornecidos pelos demais. Apenas uma população agrícola pode manter uma elite de membros saudáveis, não-produtores vivendo em cima de massas populacionais pobres e enfermas. Os esqueletos  das tumbas gregas em  Micena,  1500 AC.,  sugere que essa realeza apreciava uma dieta muito melhor que a dos demais cidadãos, uma vez que os esqueletos reais eram dois ou três polegadas mais altas e tinham dentes melhores (em média, uma em vez de seis cavidades ou dentes perdidos). No meio das múmias chilenas, 1000 DC., a elite não seria distinguida apenas pelos ornamentos e pelos clipes de ouro de seus cabelos, mas também por uma taxa mais baixa (quatro vezes menor) de lesões ósseas causadas por doenças.
Os contrastes semelhantes em nutrição e saúde persistem em uma escala global hoje. Para os  povos de países ricos, como dos EEUU,  soa ridículo exaltar as virtudes da caça e  da coleta. Mas americanos são um  elite, dependente  de óleo e minerais que freqüentemente devem ser importados de países com baixas taxas de saúde e nutrição. Se alguém pudesse escolher entre estar um lavrador da Etiópia ou um  bosquímano  coletor de Kalahari, qual você imagina ser a escolha melhor?
 A agricultura pode ter promovido, também a desigualdade entre os sexos.   Liberadas da necessidade de  transportar seus bebês durante uma existência nômade, e  sob a  pressão de produzir mais mãos para o cultivo nos campos, as mulheres camponesas tenderiam a ter gravidezes mais freqüentes que  as mulheres caçador-coletoras – com conseqüente prejuízo em sua saúde. Entre as múmias chilenas, por exemplo, mais mulheres que homens  apresentavam lesões ósseas por doença infecciosa.As mulheres nas sociedades agrícolas eram transformadas em bestas de carga. Na Nova Guiné, em suas  comunidades  agrícolas, eu, atualmente, com freqüência vejo mulheres que cambaleiam debaixo de cargas de legumes e lenha enquanto os homens caminham de mãos vazias. Uma vez, durante um estudo de campo de pássaros, eu ofereci pagamento para alguns aldeãos levar suprimentos de uma pista de vôo até meu acampamento na montanha. A carga mais pesada era uma bolsa de 110 libras (aprox.: 50 kg) de arroz, que eu atribuí a um  grupo de  quatro homens fazerem tal carregamento. Quando eu alcancei os aldeãos, descobri que os homens estavam levando cargas leves, enquanto uma pequena mulher, pesando menos que a  carga de arroz, estava curvada debaixo da mesma, sustentando seu peso  com uma corda ao redor de suas têmporas!
Em relação ao argumento de  que a agricultura ensejou o florescer da arte, ao  nos prover mais tempo para o  lazer, os modernos caçador-coletores tem pelo menos tanto tempo livre  quanto os fazendeiros. A ênfase dedicada ao tempo de lazer, como um aspecto crítico, me parece equivocadamente compreendida. Os gorilas  tem tido amplo tempo livre para construírem seu próprio Parthenon,  quando quisessem. Enquanto os avanços tecnológicos pós-agrícolas permitiram o surgimento de novas formas de arte com mais facilidades para sua  preservação, grandes pinturas e esculturas já estavam sendo produzidas pelos caçador-coletores há  15.000 anos atrás, e continuam ainda sendo produzidos tão recentemente quanto nesse último século por tais povos, como os esquimós e os índios do Noroeste do Pacífico.
Deste modo, com o advento de agricultura a elite ficou em melhor situação, mas a maioria das pessoas ficou nas piores situações de existência. Em vez de se associar à linha partidária progressivista, de que nós escolhemos a agricultura porque ela é melhor para  nós, deveríamos nos perguntar como fomos aprisionados por ela, apesar de suas armadilhas.
Uma resposta se resume  ao provérbio "Poderia ser melhor." A agricultura poderia sustentar muitas mais pessoas do que a caça, embora com uma qualidade mais pobre de vida. (As densidades de população de caçador-coletores são raramente mais de uma pessoa por dez milhas quadradas, enquanto que entre os agricultores as densidades chegam a  100 vezes essa taxa.) Em parte, isto é devido ao fato de um campo estar completamente plantado com produtos comestíveis,  permitindo alimentar muito mais bocas do que uma floresta com plantas comestíveis dispersas. Em parte, também, porque os nômades têm que manter suas proles espaçadas em intervalos de quatro anos, uma vez uma mãe deve manter seus filhos até que seja velho o suficiente para acompanhar os adultos. Como  mulheres  agricultoras não têm tal fardo, elas podem, e freqüentemente cuidam de  uma nova criança a cada dois anos.Como as densidades das populações dos povos caçador-coletores lentamente subiram no final das idades de gelo, os grupos tinham que escolher entre alimentar mais bocas assumindo os primeiros passos em direção a agricultura, ou então  encontrando caminhos para limitar crescimento. Alguns desses grupos escolheram essa nova solução, pois foram incapazes de prever os perigos da agricultura, sendo seduzidos pela abundância passageira que eles aproveitaram até que o crescimento da população ultrapassou a produção de alimentos. Tais grupos se miscigenaram, se espalharam por outros territórios, ou até mesmo mataram os grupos que escolheram permanecer como caçador-coletores, porque cem agricultores mal nutridos podem ainda vencer um caçador saudável. Não foram os caçador-coletores que abandonaram seu estilo de vida, mas aqueles que seriam sensatos o suficiente para não abandonar esse estilo de vida, seriam obrigados a abandonarem qualquer extensão de terra, exceto aquelas que os fazendeiros não  desejassem..
Neste momento é instrutivo ressaltar uma acusação que é comumente dirigida à arqueologia, adjetivando-a de luxuriosa, por estar preocupada com o passado distante, sem oferecer lições para o presente. Os arqueólogos, estudando a consolidação da agricultura, reconstruíram uma fase crucial da história humana, etapa que nós cometemos o pior engano dessa história. Forçados a escolher entre limitar a população ou aumentar a produção de alimentos, nós escolhemos a segunda opção e fomos levados à mais fome, à guerra, e à tirania.
O caçador-coletor praticou o mais bem sucedido e mais prolongado estilo de vida da história da raça humana. Em contraste, nós estamos ainda lutando com a bagunça que a agricultura nos ofereceu, e é ainda obscuro se nós poderemos resolver tais conseqüências. Suponha que um arqueólogo que visitou o espaço sideral estivesse tentando explicar a história humana para outros colegas do espaço. Ele poderia ilustrar os resultados de suas escavações  através de  um relógio de 24 horas, onde cada hora representa 100.000 anos de intervalo de tempo. Se a história da raça humana começou à meia-noite, então nós  seríamos agora quase o final do nosso primeiro dia. Nós vivemos como caçador-coletor por quase todo esse dia, da meia-noite ao amanhecer, do meio-dia ao pôr-do-sol. Finalmente, às 23h:54m nós adotamos a agricultura. Nossa segunda meia-noite se aproxima: o mal estado de milhões de camponeses famintos e doentes alcançará a todos os demais? Ou nós, de alguma maneira alcançaremos as bençãos sedutoras que nós imaginamos advir da luminosa fachada da agricultura, e que até agora tem nos iludido?



Título original em inglês: 
“The worst mistake in the history of human race”
(by Jared Diamond, University of California at Los Angeles (UCLA) Medical School)
Publicado na revista: Discovery magazine, em Maio de 1987, páginas 64-66.

Texto original em inglês pode ser obtido no site:

Data dessa tradução: 18 de Janeiro de 2006
Tradutor: José Carlos Brasil Peixoto

(A data da edição original é essa mesmo: maio de 87!)

sábado, 19 de julho de 2014

Editorial do JAMA dá suporte a dieta LOW CARB

FICAMOS OBESOS PORQUE COMEMOS DEMAIS OU COMEMOS DEMAIS PORQUE ESTAMOS ENGORDANDO?


Um editorial do JAMA (Jornal da Associação Médica Americana) de maio desse ano, pode contribuir em muito para um olhar mais próximo da perspectiva “LowCarb”.
O título era Aumento da Obesidade: Consequência ou Causa de Comer Demais?
O artigo inicia lembrando de um editorial de 90 anos atrás que questionava a perspectiva prevalente da obesidade, que se alicerçava na equação de ingestão x gasto de energia: [Although logic suggests that body fat] may be decreased by altering the balance sheet through diminished intake,or increased output, or both(...)
Assim por quase um século tem se gasto bilhões de dólares em pesquisa para descobrir-se os fatores biológicos que interferem no peso... e o resultado final não fugia do primordial: coma menos e gaste mais...
Mas há algo novo: comer demais cronicamente pode ser uma manifestação mais do que uma causa de obesidade crescente.
Tentar reduzir o peso sem atentar para os fatores biológicos para esse processo, incluindo aspectos qualitativos da alimentação certamente tem resultado em fracasso.
Um dos axis mais difundidos em nutrição diz respeito controle de peso dentro dos limites da relação energia ingerida x energia dispendida. Entretanto há evidências de que o organismo tem mecanismos reguladores adaptativos para antagonizar a perda de peso. Na verdade menos de 10% das pessoas nos EUA que buscam perder peso pela redução de calorias ingeridas e aumento do gasto energético tem algum sucesso.
O corpo humano tem um contínuo requerimento energético. Assim os maiores combustíveis metabólicos:  glicose, cetonas e ácidos graxos não esterificados são rigidamente controlados (para manter um total plasmático entre 4 a 6 kcal/l). Reduções agudas nesses elementos podem levar a fome intensa.
Perturbações na insulina tem potencial de modificar a concentração de combustíveis metabólicos e na regulação do peso corporal. Assim em estados de aumento da ação insulínica (insulinoma ou excessos de uso da insulina em diabetes II) resulta em aumento de peso, e redução de sua ação resulta em perda de peso (diabetes tipo I).

O editorial dá importância a aspectos metabólicos que podem preceder à polifagia (comer demais). Há modelos experimentais que promovem obesidade sem interferir em ingestão de alimentos (envolve questões sofisticadas como a ablação de receptor de insulina dos músculos entre outras). Mas é de mais importância as mudanças na composição dietética, em animais geneticamente normais que podem ficar obesos SEM aumento na quantidade de ENERGIA (calorias ingeridas).
Ratos alimentados com dietas com alto índice glicêmico x baixo índice glicêmico desenvolvem HIPERINSULINEMIA, aumento na expressão da ácido graxo sintase (FAS) no tecido adiposo e mais incorporação de glicose em anormalidade metabólicas que predispõe a excessivo depósito de gordura. Quando esses ratos com alto índice glicêmico tem restrição alimentar para prevenir ganho de peso, comparados aos com baixo índice glicêmico eles CONTINUAM AUMENTANDO DE PESO e pioram seus fatores e risco para doença cardiovascular!
A combinação de aumento de obesidade apesar da redução da ingestão energética, não consegue se encaixar na perspectiva habitual da obesidade!














Assim pode-se comparar dois modelos de compreensão da obesidade como mostra o quadro  acima. Observe-se que no modelo tradicional os alimentos de alta densidade energética eram imputados como responsáveis da obesidade, no modelo alternativo (ou mais realístico) se sublinha uma questão qualitativa: a quantidade em carboidratos!

UM FOCO NA COMPOSIÇÃO DA DIETA, NÃO NO TOTAL DE CALORIAS PODE FACILITAR A PERDA DE PESO

Na análise publicada nesse editorial do JAMA se conjectura que um problema no metabolismo anabólico pode preceder e promover a polifagia, é de se supor que a proposta dietética convencional para controle de obesidade pode COMPROMETER o tratamento sintomático e ficar destinada ao FRACASSO no longo prazo para a maioria das pessoas em um ambiente onde há disponibilidade alimentar ilimitada. E ainda podem EXACERBAR disfunções metabólicas subjacentes. O alvo mais correto recai na redução da secreção da insulina em dietas de baixo índice glicêmico ou dietas de baixo carboidratos (low carb). Com suporte a essa perspectiva: a energia dispendida é 325 kcal/dia maior para dietas isocalóricas LCHF (60% gordura) versus convencional (20% gordura), conforme um estudo de manutenção de controle de perda de peso.
Ao final o editorial vislumbra que a polifagia pode ser secundária a uma disfunção metabólica induzida pela alimentação  proposta a partir dos anos 70: redução em gordura alimentar e aumento em carboidratos, associada a outras questões ambientais. A fome aumenta e o gasto energético diminui em resposta a redução de glicose (aumento da insulina) e outros combustíveis circulantes, com um aumento do tecido adiposo ao recolher e armazenar as calorias disponibilizadas.
Sim comer demais pode ser consequência da obesidade, e a qualidade das calorias ingeridas mais importante do que a quantidade.

A dieta low carb se provou melhor!

Baseado no editorial do JAMA de 16 de maio de  2014




quarta-feira, 25 de junho de 2014

Documentario CARBLOADED




Novo documentário a vista!

Um novo documentário sobre os problemas da alimentação baseada em carboidratos está para ser lançado. Tem a participação de vários pesquisadores importantes entre eles Mark Sisson e Gary Taubes. O trailer já está disponível. Se soma a outros documentários importantes sobre o tema da nutrição, como o Sweet Misery (sobre aspartame), $tatin Nation (sobre o colesterol) ou Nutrition and Behavior (sobre questões alimentares e comportamento, do dr. Russell Blaylock).
Não sei ainda como será distribuído, mas já estou na espera, pois parece que vai ser bem consistente!

Esse é o link do site de informações sobre o filme:  Carbloaded

Link de endereço do filme com legendas (blog Paleodiario)
http://www.paleodiario.com/2014/12/carb-loaded-legendado.html
Já disponível!


sábado, 14 de junho de 2014

Um Fígado Gordo - Esteatose - A nova epidemia



A NOVA EPIDEMIA: O FÍGADO GORDO!


No mesmo momento que a Revista Time tem como capa o fim da guerra contra a gordura, (veja o comentário do dr Souto sobre o tema)
o New York Times publicava um extenso artigo sobre um outro tema relacionado com nutrição e metabolismo: a crescente epidemia de esteatose: a gordura no fígado.
Se trata de uma situação que se observa cada vez em pacientes de consultório que fazem sua primeira ecografia abdominal perto dos 40 anos. Sendo que muitas dessas pessoas têm ferritina elevada - homens principalmente, uma vez que não menstruam, e/ou apresentam taxas elevadas de ácido úrico, e/ou têm altas taxas de triglicerideos, alguns efetivamente com algum grau de sobrepeso. Mas que geralmente não se reconhecem  enfermos! 
Há pouco tempo isso era incomum. Infelizmente cheguei a ouvir que isso seria um "artefato de imagem" promovida pelos novos equipamentos mais modernos e mais precisos. Mas agora sabemos que se trata de algo muito mais grave. Parece que era algo para o qual não estávamos preparados para lidar. Por isso o artigo do NY Times sublinha: esse problema nem mesmo tinha nome há pouco tempo tempo atrás, umas três décadas. Agora temos o Fígado Gorduroso Não Alcoólico. O drama é que 10 % das crianças e 20 % dos adultos americanos já apresentam essa condição! O que a transforma na mais comum das enfermidades crônicas do fígado!
Não tendo tratamento medicamentoso específico, está rapidamente se transformando na mais comum das causas de transplante desse órgão nos Estados Unidos!
De acordo com o artigo: "A maioria dos pacientes têm uma forma menos grave da doença, sem sintomas evidentes. Mas ter um fígado gorduroso não alcoólico é um forte fator de risco para o desenvolvimento de doenças cardíacas e diabetes tipo 2. E em 10 a 20 por cento dos pacientes, a gordura que se infiltra no fígado leva a inflamação e cicatrizes que podem lentamente enfraquecer o órgão, preparando o palco para cirrose, câncer de fígado e finalmente a insuficiência hepática. Estudos mostram que de 2 a 3 por cento dos adultos americanos, ou, pelo menos, cinco milhões de pessoas, têm esta forma mais progressiva da doença, conhecida como esteatohepatite não-alcoólica ou NASH (abreviatura em inglês).”
Ainda de acordo com o artigo: "… em Los Angeles, a doença hepática é diagnosticada em uma de cada duas crianças hispânicas obesas, e é uma das principais causas de morte prematura em adultos hispânicos."
Para adultos o crescimento das taxas de esteatose está ligada à obesidade, mas para crianças isso parece pior, pois as taxas de esteatose aumentam mais rápido do que a própria obesidade.
Foi verificado que crianças com essa condição tem um aumento maior em taxas de triglicerídeos quando consomem açúcar do que aquelas que não tem o problema.  
Um pesquisador citado na matéria diz que o corte do consumo de bebidas açucaradas parece trazer grande melhora nos pacientes. 
Infelizmente o artigo coloca as coisas na equação de que pode ser uma consequência indireta pela redução do peso. Creio que não faz diferença se é direto ou indireto. Porque não ser mais contundente e se comprometer no estímulo à redução no consumo de todas as bebidas açucaradas, o que inclui refrigerantes, sucos de frutas e chás doces!
O texto cita várias vezes a questão da resistência à insulina, embora nem todos os pacientes pareçam apresentar ter o problema, do sobrepeso, mas pessoas de descendência asiática não precisam do sobrepeso para desenvolver esse problema e do sedentarismo
Particularmente estou muito convencido de que a esteatose é uma marca do quadro que chamamos de síndrome metabólica, e que suas múltiplas causas convergem para o recente incremento no consumo de carboidratos e alimentos processados,  
Christopher Masterjohn, pesquisador da Weston A Price adiciona a questão de termos retirado das refeições habituais alimentos tradicionais ricos em colina com os ovos e o bife de fígado. 
A primeira publicação que ligava o fígado gordo com a obesidade é de 1952. mas a conexão entre diabete e esteatose já era conhecida desde o século XVIII, no caso para pacientes com diabete tipo I. O termo NASH foi primeiramente publicado em 1980, por Jurden Ludwig e colaboradores da Clinica Mayo. Desde essa época várias pesquisas subsequentes foram relacionando a esteatose com sensibilidade reduzida à insulina, obesidade, diabetes. Muitos estudos em animais não reproduziram perfeitamente a questão em humanos provavelmente porque estabeleciam relações diretas de causa e efeito, e essa condição para humanos é fruto de uma teia bem mais complexa de interferentes.
De qualquer forma, parece ser importante em qualquer procedimento de check up se fazer uma ecografia abdominal total. Exames de sangue com resultados normais para enzimas do fígado não informam precocemente essa situação.

E aposte em reduzir carboidratos! Seu fígado vai agradecer!

Artigos de referência:


    




domingo, 1 de junho de 2014

As gorduras e a inflamação

Gorduras e imunidade


Quando se fala em saúde cardiovascular sempre vem a tona a questão das gorduras - sejam elas alimentares ou da composição corporal. Muitas vezes as pessoas ainda ficam surpresas quando é proposto uma definição mais exata do papel de personagens muito citados como a gordura saturada, ácidos grados ômega-6 (n-6), ômega-3 (n-3), triglicerídeos etc., na compreensão de processos imunológicos e inflamatórios. As vezes parece que nem sabemos o que está sendo informado quando vemos um exame ordinário como o perfil lipídico do sangue.

“A mudança radical na dieta humana, com predomínio franco dos ácidos graxos poliinsaturados n-6 (ômega-6) relativamente à dieta de nosso antepassados, será muito provavelmente, uma das razões para o aumento da doença cardiovascular verificado nos países ocidentais.” Essa é uma das conclusões de um artigo sobre o tema. Só que esse artigo é de 2002! 
Vou falar sobre essa interessante publicação que venho guardando há muitos anos e que agora parece fazer mais sentido para as pessoas bem informadas. Seu título é: “Lipídios e Imunidade”. É bastante técnico e repleto de nomes complicados, pois o autor está preocupado em situar o leitor no enredo da trama biológica com a maior precisão possível. Ainda assim, é sem dúvida uma pequena e fundamental referência para se entender a relação dos lipídios com o processo inflamatório, ofertando ainda a possibilidade de um olhar mais perspicaz para os tradicionais exames de colesterol e triglicerídeos. 

Sobre a inflamação

A personagem master responsável pelos aspectos cardinais da inflamação: vermelhidão (rubor), inchaço (edema), calor e dor é a PGE2 - a prostaglandina E2. É um membro de um grupo maior chamado de Prostanóides. Todos os prostanóides são derivados da ação de uma enzima sobre os ácidos graxos, essas enzimas são as ciclooxigenases, ou mais simplesmente as COX. Existem duas formas COXs: a COX-1 e COX-2 (talvez uma terceira, no sistema nervoso central a COX-3).
Quando tomamos alguns medicamentos bem populares eles atuam nesse sistema de enzimas. Os antiinflamatórios mais comuns atuam bloqueando ambas as enzimas, como o diclofenaco e o ibuprofeno. Um grupo mais recente dos antiinflamatórios atuaria somente na COX-2, mas como se  verificou riscos graves, dois deles já foram retirados do mercado: o refecoxibe (Vioxx) e o valdecoxibe (Bextra) - restando basicamente o celecoxibe (Celebra). 
As prostaglandinas fazem parte dos eicosanóides.
Um outro grupo de eicosanoides são os leucotrienos, mas a enzima responsável é outra: a lipooxigenase (LO). 
O substrato de ação de ambas as enzimas COX e LO são os ácidos graxos, do grupo dos ácidos graxos poliinsaturados. O mais importante é ácido araquidônico, sendo o mais prevalente o de origem alimentar: o ácido linoleico, de 18 carbonos e duas ligações duplas, muito conhecido como Ômega-6 (n-6).
As células responsáveis pela resposta inflamatória são as células brancas: os leucócitos, e uma variedade de estímulos extra-celulares as induz a produzir prostaglandinas. Isso vai incluir outros personagens mais ou menos conhecidos como: 

1) O hormônio feminino estradiol;
2) Um fator de controle da pressão: a angiotensina II, que produz constrição de vasos e retenção de sódio, portanto sendo um fator de hipertensão;
3) Um fator mediador da inflamação que favorece a permeabilidade e dilatação local de vasos, a bradicinina;
4) Outros fatores indutores de inflamação, e
5) Os próprios eicosanóides (ou seja a produção de prostaglandinas induz a mais produção).

Perfil lipídico e inflamação crônica

A inflamação crônica é um fator importante para a doença cardiovascular. E a inflamação dá origem a uma mudança no perfil dos lipídios do sangue. Assim quando se avalia aqueles exames de lipídios em exames de rotina, o que se persegue saber é: o status pró inflamatório está ativado? 
Uma das alterações mais constantes que mostra inflamação crônica é o aumento de uma porção de lipo-proteínas que aparecem junto do colesterol: a VLDL. (normalmente aparece quando é solicitado especificamente, colesterol e frações ou perfil lipídio completo, geralmente o valor de referência é menor que 30).
Uma outra questão importante diz respeito ã fração HDL. Em modelos animais se verifica que a redução do colesterol HDL é uma resposta a quadros inflamatórios. Em seres humanos o C-HDL está reduzido nos portadores de doenças crônicas.
Por outro lado a redução do HDL pode ser responsável por mais oxidação da fração LDL do colesterol, já que as partículas HDL contém enzimas que protegem as LDL daquele processo.
A LDL oxidada é reconhecido fator de doença cardio-vascular.
Os triglicerídeos também costumam estar elevados em processos inflamatórios. 

Interferência alimentar

Esses processos fisiológicos devem ter sido concebidos para aprimorar respostas de defesa do hospedeiro, e mostram  a estreita relação dos lipídios com o processo inflamatório e naturalmente com os lipídios dietéticos. 
Um dos modelos de gordura antiinflamatória é o óleo de peixe. Tem alto teor de ácidos graxos de 20 e 22 carbonos.  Sob ação das enzima COX e LO, o resultado é a formação de produtos com fraca ação inflamatória.  
Outro aspecto citado pelo autor é o ácido graxo do tipo ômega-3 (18 carbonos) - o ácido alfa linolênico, precursor dos ácidos graxos citados antes, o que leva a formação de uma cascata bioquímica que resulta em derivados com menor potencial inflamatório.
Isso traz a vantagem de aumentar a concentração de substâncias que estão presentes nas membranas de células brancas, que modulam todo o processo da inflamação.
Estudos em antropologia nutricional tem mostrado que a alimentação humana tem reduzido os ácidos graxos de ômega-3, onde a tradicional proporção de 2:1 entre n-6 e n-3 ficou altamente desproporcional em 20-30:1. Vegetais cultivados e animais alimentados com cereais são pobres em ômega-3. Os ácidos n-6 são percursos diretos do ácido araquidônico, e isso certamente está influenciando para um aumento em doenças cardiovasculares e auto-imunes.   

Assim, quando recebemos um resultado de laboratório como os lipídios do sangue, e compreendemos seu significado, não parece mais sensato se buscar simplesmente, por exemplo se reduzir uma taxa de colesterol com remédios. Devemos, em realidade, interpretar o processo subjacente e introduzir condutas pertinentes a esse significado: reduzir a inflamação em andamento! Limitar o consumo de gorduras de má qualidade, como aquelas ricas em ômega-6 (óleos vegetais em geral, gordura vegetal hidrogenada e margarina), reduzir o estímulo a formação de triglicerídeos (reduzindo o consumo de carboidratos, como vários estudos já documentaram) são alguns exemplos de medidas que podem nos aproximar desse fundamental objetivo para restabelecer a saúde.


Essa, então, é uma súmula do excelente artigo de José Manuel dos Santos Pereira de Moura (Lípidos e imunidade), produzido em 2002. Quem quiser baixar o artigo original esse é o LINK.

Referência: Revista da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, Vol. 10, N.1, 2003