Esse é um artigo publicado pelo site THE RUSSELLS. Se trata de um excepcional detalhamento do embate, já no campo jurídico contra o médico Tim Noakes, emérito pesquisador, que se aventurou a propor uma alimentação low carb como sendo a base de um estilo dietético na África do Sul, o que colocou em alerta máximo os interesses da grande indústria alimentar daquele país. Os autores entendem que esse é um exemplo de força e coerção, para que outros profissionais em todo o mundo não se aventurem a propor esse tipo de projeto. Naturalmente as forças do poder estão totalmente infiltradas em instituições oficiais, sejam na educação, entidades de regulamentação e órgãos de governo. Há nomes pomposos que representam e ao mesmo tempo encobrem esses interesses. Aparentemente lá como aqui, a justiça é o braço forte do Rei. Obviamente a ciência de verdade não existe para garantir interesses. No entanto se os financiadores das pesquisas são os mesmos que lucram com seus resultados, quem pode chamar isso de ciência?
Artigo longo, repleto de referências, publicado online em 5 de janeiro de 2017.
Os Russells são Russ Greene e Russell Berger
Uma grande investigação que os site lipidofobia tem a felicidade de publicar.
As indústrias de alimentação X Tim Noakes: A Cruzada Final
(Abreviaturas mais comuns amplamente
usadas no artigo a seguir:
ADSA - South Africa’s Dietetics Association
(Associação sul-africana dos dietéticos)
ILSI
– International Life Sciences Institute (Instituto
Internacional de Ciências da Vida)
NSSA - Nutrition Society of South Africa (Sociedade
sul-africana de nutrição)
HPCSA - South Africa’s Council for Health
Professionals (Conselho Sul-africano dos Profissionais de Saúde)
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Dr Tim Noakes |
Um americano pode não ser capaz de
entender o que Tim Noakes significa para a África do Sul, já que não existe
equivalente ao professor Noakes nos Estados Unidos. Na África do Sul, Noakes é
um cientista e médico de renome nacional que transformou a prática do esporte
desafiando as crenças mais comumente praticadas. Mas, no entanto, a
própria universidade e colegas de Noakes, juntamente com o “establishment” médico, todos de repente se voltaram
contra ele no que ele descreve como sua "cruzada final." Tendo
demolido dogma em temas tão diversos como hidratação, motivação e fadiga,
Noakes pode ter ido longe demais. Ele se voltou contra os carboidratos.
Na superfície, a controvérsia de Tim
Noakes pode ser vista como uma simples guerra entre o cientista renegado e
alguns profissionais da nutrição sul-africanos. Essa história é algo como
isto: em fevereiro de 2014, o mundialmente famoso fisiologista do exercício e
MD twittou que
os bebês devem ser desmamados em dietas com redução de carboidrato. Porém,
Claire Julsing Strydom, a presidente da Associação de Dietética da África do
Sul, ADSA, denunciou Noakes por conduta não profissional. Noakes escolheu
lutar e defender seu conselho dietético mesmo que não pratique mais a medicina
e que poderia igualmente ter desconsiderado sua licença. E, finalmente,
após dezenas de horas de audiências, o conselho da África do Sul para
profissionais de saúde decidirá se Noakes manterá sua licença médica.
Parece que já vimos essa história mil
vezes antes. Interesses entrelaçados tentam proteger sua indústria de “outsiders” renegados
habilitados pela internet. A semelhança da indústria de táxis vs Uber, ou
ACSM vs CrossFit e seus afiliados. Para compreender mais profundamente,
você tem que fazer suas próprias investigações.
Bill Gifford publicou uma perspectiva superficial do julgamento de
Noakes na revista Outside no mês passado. Gifford assistiu a uma audição
na África do Sul, viu Claire Strydom se derramar em lágrimas e perguntou:
"Será que este é realmente o rosto da vasta conspiração pro-carb que
Noakes parece pensar que está se dispondo contra ele?" No entanto, no
campo da nutrição, as coisas raramente são como parecem. A distância
Gifford aparentemente não se incomodou nem mesmo com o nível mais básico de
pesquisa. Nós fomos atrás.
Nós já estávamos familiarizados com o
Dr. Noakes em nossa pesquisa sobre excesso de bebidas nos esportes. Noakes
escreveu o livro mais importante sobre o assunto, " Waterlogged " (Alagado).
E quando a CrossFit organizou uma conferência científica sobre o assunto, pudemos
conhecer muitos colegas de Noakes. No entanto, nunca encontramos o Dr.
Noakes pessoalmente durante esse período.
No mês passado, minha colega da
CrossFit Inc., Andréa Maria Cecil e eu voamos para a África do Sul para
entrevistar o Dr. Noakes. Após cerca de cinco horas de fala com Noakes e a
leitura de quase 300 páginas do trabalho de Marika Sboros sobre
o julgamento de Noakes, bem como as declarações da oposição, temos percebido
uma desconfortável realidade.
A indústria de alimentos está
tentando usar o Dr. Noakes, com a finalidade de dar um exemplo a qualquer
pessoa que se atreva a desafiar a sua autoridade na nutrição.
Enquanto Noakes ainda pode ganhar e
manter sua licença, seu julgamento estabelece um precedente
assustador. Qualquer pessoa que se atreve a tweetar algo que está fora de
sincronia com as organizações do “proxy” da indústria alimentar pode enfrentar
toda a força da indústria do lixo alimentar.
Como um médico altamente bem
sucedido, autor e professor, Noakes pode pagar cerca de US $ 150.000 em custos legais e suportar ataques
intermináveis sobre sua reputação profissional. Na verdade, ele parece, às
vezes, se divertir com a controvérsia. Mas se este é o preço de falar
contra os carboidratos processados, quem, além de Noakes (e a CrossFit) pode pagar?
Não é sobre Claire Strydom ou
Dietistas
Claire Strydom é o rosto da oposição
a Noakes, mas não sua líder. As suas são apenas uma das várias queixas
feitas ao Conselho Profissional de Saúde da África do Sul (HPCSA) contra
Noakes. A HPCSA recebeu a reclamação de Strydom pinçando entre tantas, mas
ela não teve nenhuma preferência nessa decisão. Por exemplo, Katie
Pereira da ASDA (Associação de Dietética da África do Sul) também entrou com uma queixa contra Noakes vários meses
após Strydom ter feito.
Nem mesmo são os dietistas como um
grupo quem realmente lidera a acusação contra Noakes. Com certeza, Strydom
foi presidente da Associação de Dietética na África do Sul, quando ela
apresentou sua queixa. Mas talvez mais importante, ela também é uma consultora da Kellogg’s .
Desde que o julgamento de Noakes
começou, Strydom apagou a maioria da documentação on-line do relacionamento com
a Kellogg’s. Por exemplo, seu site uma vez orgulhosamente proclamou seu
relacionamento com a Kellogg's:
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Claire Strydom |
No entanto, agora que Strydom está
sob escrutínio pelos laços com a Kellogg’s, seu site tornou-se mais
reticente. Ela afirma de forma oblíqua, "que presta consultoria para
indústrias de alimentos e farmacêuticas." Strydom não apagou toda a
evidência digital, contudo. Nós ainda podemos ver no site
KelloggsNutrition.com que a Kellogg’s tem patrocinado a empresa de Strydom, para soluções
nutricionais.
Nem Strydom está sozinha. Além de
Strydom, Linda Drummond teve para a Kellogg’s o papel de "Manager
de Nutrição e Relações Públicas " e também membro da comissão da
ADSA. Cheryl Meyer manejou as comunicações para ADSA sendo
consultora para Kellogg's. E Leanne Kiezer controlou a tesouraria e os patrocínios
para ADSA, além de seu trabalho como
"assistente em nutrição" para Kellogg’s.
A ADSA afirma , "nós não acreditamos no endosso de marcas
para as comunidades para que trabalhamos." No entanto, eles certamente
parecem fazer exatamente isso:
A parceria da Kellogg’s com a ADSA não gerou muita controvérsia na
África do Sul fora da comunidade ativista. Pelo menos, os produtos
emblemáticos da Kellogg’s incluem alguns que as pessoas comuns podem considerar
saudáveis, como Special K e All-Bran. Nem tanto com outros
parceiros da ADSA.
Mais de 1/3 da receita da ADSA vem de seus patrocinadores
corporativos, o que inclui gigantes como a Nestlé , Unilever e Huletts Sugar . Juntamente com a Sociedade de
Nutrição da África do Sul (NSSA), a ADSA hospeda um Congresso anual de
Nutrição. Seus patrocinadores o leem como um "quem é quem" da “Big
Pharma” e “Big Food”: GlaxoSmithKline, Discovery Vitality e a Associação do
Açúcar, além, é claro, da Unilever, o Nestlé
Nutrition Institute e a Kellogg's. Muitas destas parcerias estão aí pelo menos há uma década.
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Fonte: Grama Consumer Action |
Em 2014 o Congresso de Nutrição,
realizado entre 16-19 setembro, uma organização “proxy” (que representa) da Coca-Cola chamada de
Instituto Internacional de Ciências da Vida, " contribuiu para o programa da conferência, e organizou
uma sessão plenária." Alguém duvida que isso foi de graça.
Estranhamente, três
funcionários do Departamento de Saúde da África do Sul falavam
na sessão ILSI na conferência do ADSA: da Direção Nutricional, Gilbert
Tshitaudzi; o Diretor-Chefe de Promoção da Saúde e Nutrição, Lynn Moeng
Mahlangu; e o Diretor-Chefe de Doenças Não Transmissíveis, Melvyn
Freeman. Alguns destes funcionários têm falado em outros eventos do ILSI também.
ILSI no Congresso de Nutrição:
"Da esquerda para a direita: Lynn Moeng (Departamento de
Saúde); Prof. Hettie Schönfeldt (Presidente, ILSI África do Sul); Dr.
Rendani Ladzani (Universidade de Pretória); Gilbert Tshitaudzi
(Departamento de Saúde); Prof Melvyn Freeman (Departamento de Saúde)
"
Transformando a queixa de Strydom no
julgamento de Noakes
Após a reclamação de Strydom em
Fevereiro de 2014, a Comissão de Inquérito Preliminar de HPCSA se reuniu em 22 de maio de 2014. O que eles estariam por
fazer sobre esta queixa contra Noakes? Após dois dias de reunião, o comitê
não conseguiu chegar a uma decisão e optou por se reunir novamente em 10 de
setembro.
Para ajudar a clarear as suas mentes,
a comissão HPCSA solicitou um relatório secreto de Este Vorster,
ex-presidente da referida proxy da Coca-Cola, o Instituto Internacional de
Ciências da Vida na África do Sul. Em seu relatório secreto , Vorster mencionou uma nova meta-análise
que supostamente refutava a posição dietética de Noakes (Noakes só teria a
oportunidade de ver o relatório quando um funcionário da HPCSA o enviou para
seus advogados por engano).
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A ex-presidente ILSI Este Vorster |
O jornal PLOS One tinha publicado a
nova meta-análise citada por Vorster, Carboidratos versus dietas balanceadas iso-energéticas para redução de
peso e risco cardiovascular: uma revisão sistemática e meta-análise ,
em 9 de Julho de 2014. Esta meta-análise ficou conhecido como a Naude Review, em Referência a autoria
principal: Celeste Naude. Mais sobre a Revisão Naude adiante.
De volta ao relatório
Vorster. Uma questão pendente era como Strydom poderia provar que a
posição de Noakes era uma ameaça à vida e não baseada em evidências. Assim, Vorster respondeu , dizendo que não tinha necessidade de apoiar
esta posição com "evidência experimental." Em vez disso, Vorster
insistiu, "que as referências das orientações dietéticas baseadas em
alimentos pediátricos Sul Africanos seriam suficiente."
Vorster concluiu que Noakes "ou não está familiarizado com
ou não confia nas atuais orientações dietéticas da África do Sul." E,
portanto, Vorster alegou que, Noakes "não é qualificado para aconselhar
sobre questões alimentares." Então Vorster dispistou sua própria autoria dessas
orientações com inapropriadas citações em sua seção de literatura. As
diretrizes publicadas orientam que essas (referências) devem ser citadas como
"Vorster HH, Badham JB, Venter CS ..." De outra maneira, o relatório
do Vorster citou o autor dos suas orientações como "Anon".
Com base no relatório de Vorster, a HPCSA
responsabilizou Noakes em 10 de setembro, 2014, alegando que Noakes é culpado de,
"... comportamento ou conduta não profissional
que, tendo em conta a sua profissão, na medida em que durante o período entre
Janeiro de 2014 e Fevereiro de 2014 você agiu de uma forma que não está em
conformidade com as normas e padrões de sua profissão em que você forneceu conselhos
não convencionais sobre amamentação de bebês em redes sociais (tweet / s)
".
Se a HPCSA cobrou de Noakes pelo
fornecimento de "aconselhamento não convencional" sobre nutrição,
então o que constituía a aconselhamento convencional? Na África do Sul, a
principal autoridade é a Food-Based Dietary Guidelines do país, de autoria de
ninguém menos que ela, Este Vorster.
Assim, Vorster convenceu a HPCSA a
acusar Noakes da alegada ofensa de discordar dela.
Mas o que torna Vorster uma
autoridade real em dietas de baixo teor de carboidratos, mesmo na África do
Sul? Ela nunca atuou como um nutricionista e admite nunca ter estudado sobre as dietas de baixo
carboidrato.
Diretrizes Alimentares da África do
Sul, by Big Soda e Big Sugar
Big Soda e Big Sugar (as grandes
empresas de refrigerante e do açúcar) colaboraram para desenvolver as
diretrizes dietéticas da África do Sul. De 1997 a 2001, Este Vorster serviu como o presidente do Instituto Internacional de
Ciências da Vida, da África do Sul. O vice-presidente da Coca-Cola Alex Malaspina fundou o ILSI
em 1978. O ILSI estabeleceu-se como a mais poderosa organização de defesa da
indústria de alimentos, do tabaco e junk food.
É difícil dizer onde Coca-Cola
termina e o ILSI começa. O vice-presidente da Coca-Cola Rhona
Applebaum serviu como Presidente do ILSI até o final de 2015. O ILSI
chefiou a interferência da indústria sobre as
políticas de tabaco da Organização Mundial da Saúde , os esforços contra doenças crônicas do CDC , e, mais
recentemente, as orientações dietéticas que limitam a ingestão de açúcar .
Além de seu relacionamento com o ILSI,
Vorster manteve laços com a Associação de Açúcar Sul-Africano, que financiou a sua pesquisa (Daqui em diante vamos nos
referir a esta organização como a Associação de Açúcar). Vorster continua a servir no Painel Científico da Associação de
Açúcar. A Organização Mundial da Saúde determinou que o papel Associação de Açúcar de Vorster
"poderia ser considerado como um conflito de interesses" e, portanto,
recomendou que ela "se abstivesse de participar nos debates específicos e o
processo de tomada de decisões para o desenvolvimento de recomendações e
orientações sobre os açúcares". No entanto, em África do Sul, ela goza de reinado
livre sobre açúcares, e qualquer outro tópico relacionado com os “junk food”.
Enquanto Vorster presidida o ILSI da África
do Sul, ela também desenvolveu e foi co-autora das primeiras
orientações dietéticas África do Sul. A influência da indústria de
alimentos sobre essas diretrizes é quase infinita. A Associação de Açúcar
financiou o workshop inicial que produziu as diretrizes. O ILSI pagou delegados
dessas orientações para voar para o Zimbabué para "partilhar a experiência
Sul-Africana com onze outros países africanos." Penny Love presidiu
o grupo de trabalho que desenvolveu as diretrizes. A sra. Love consultou para
a Associação de Açúcar durante ou logo após este período de tempo, incluindo a
organização de "simpósios" sobre "açúcar e saúde." A chefe
da Sugar Association de assuntos públicos Carol Browne serviu no grupo de
trabalho também.
Vorster e seu colega no ILSI Michael Gibney publicaram as primeiras diretrizes
alimentares da África do Sul em 2001 no Journal of
Clinical Nutrition da África do Sul. A publicação incluiu um artigo
intitulado "DESENVOLVIMENTO DE ORIENTAÇÕES ALIMENTARES DIETÉTICAS PARA A
ÁFRICA DO SUL - O PROCESSO". Carol Browne foi coautora, declarando sua
afiliação profissional como "South African Sugar Association, Public
Affairs".
A frase "conflito de
interesses" não é encontrada em nenhum dos materiais publicados associados
às diretrizes de 2001 da África do Sul. No entanto, é onipresente na
manifestação. A página 17 afirma que "os alimentos ricos em ...
açúcares ... evitam doenças crônicas por vários efeitos e mecanismos". A
página seguinte propõe que "a ingestão moderada de açúcar e alimentos
ricos em açúcar também pode fornecer uma dieta saborosa e nutritiva". A
página 21 alega, que "a sacarose e outros açúcares não foram diretamente
implicados" em causar diabetes.
Em nenhum lugar as diretrizes de 2001
recomendam limitar a ingestão de açúcar. Em vez disso, advertem os
sul-africanos a "comer gorduras com moderação." Ao fazer isso, imitam
a bem trilhada estratégia da indústria de transferir a
culpa a partir do açúcar para a gordura, como Anahad O'Connor tem documentado
no New York Times.
Os "imperativos gêmeos" por
trás das diretrizes dietéticas da África do Sul
As diretrizes de 2001 foram tão transparentemente
influenciadas pela Big Sugar que até mesmo os especialistas da indústria
reconheceram o problema. Como o ILSI da África do Sul tem na administradora Nelia Steyn, um lugar representante e defensor da criação nutricional da África
do Sul, explicou,
"Os membros do Grupo de Trabalho sobre
Orientações Alimentares Baseados em Alimentos vieram de uma vasta gama de
organizações; muitos participantes ativos eram da indústria de alimentos,
embora alguns tiveram um papel duplo, em que também representou a sua
associação profissional . Desde o início, a Associação
Sul-Africana do Açúcar desempenhou um papel e também patrocinou workshops.
"
Steyn conclui que
as orientações alimentares da África do Sul foram desenvolvidas de acordo com
" imperativos gemelares: A
formulação de políticas de saúde pública adequadas e à proteção dos interesses
comerciais de açúcar" Este momento de sinceridade é especialmente
notável dada a sua origem, Nelia Steyn. A Associação de Açúcar financiou a sua investigação e, igualmente, ela é uma
administradora do ILSI da África do Sul.
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Nelia Steyn apresentou-se no Instituto Internacional de Ciências da Vida da Coca-Cola. Fonte |
O Departamento de Saúde da África do
Sul aceitou apenas provisoriamente as orientações para 2001, mas o departamento
insistiu que fosse editada para
incluir diretrizes para o consumo de açúcar. Está se dizendo que os
oficiais de saúde do governo tiveram que recorrer a esta demanda quando os
nutricionistas e os dieticistas superiores do país tinham aparentemente nada a dizer
sobre o tópico da limitação do açúcar.
O governo adotou oficialmente
primeiras diretrizes do país em 2003 . Até então, eles advertiram, para "comer
e beber alimentos e bebidas que contêm açúcar com moderação e evitar entre as
refeições."
Então, em 2012, a África do Sul
lançou uma segunda edição das diretrizes dietéticas baseadas nos alimentos. Foi pior.
Enquanto Vorster continuou envolvida,
desta vez como autora principal, a seção "suporte técnico" sobre o
açúcar foi escrito por Nelia Steyn e Temple Norman. A Associação do Açúcar financiou
cada uma delas. Elas reconheceram implicitamente que as diretrizes
anteriores não conseguiram retardar a propagação do açúcar, observando, "O consumo de açúcar adicionado parece estar
aumentando constantemente em toda a população sul-africana".
No entanto, as novas diretrizes foram
mais suaves para o açúcar. Eles removeram o cuidado de não comer açúcar
entre as refeições. Em vez disso, eles simplesmente recomendaram usar
"açúcar e alimentos e bebidas ricas em açúcar com moderação". Os
autores sabiam que esta formulação não travaria efetivamente o aumento na
África do Sul do consumo de açúcar.
A seção de "suporte
técnico" para as diretrizes de ingestão de gordura também sofreu da
dissonância cognitiva. Ele alertou que as crianças e outros da África do
Sul já estavam comendo no limite inferior da ingestão de gordura
recomendada. E, portanto, os autores advertiram que comer gorduras com
moderação poderia "representar um risco, especialmente quando recomendado
para crianças, crianças e comunidades com um baixo consumo de gordura."
Diante deste risco para a saúde
infantil e infantil, os autores propuseram uma nova recomendação alternativa:
"Comer e usar o tipo certo de gorduras e óleos com moderação".
No entanto, de alguma forma, suas
diretrizes finais rejeitaram esse conselho mais moderado e mantiveram a
recomendação anterior quase exatamente na mesma: "Use as gorduras com
moderação". Os autores não tentaram explicar sua decisão, que contradiz os
dados e a mensagem geral do seu trabalho. Como eles forneceram
"suporte técnico" às diretrizes de gordura consideradas arriscadas
para a saúde infantil?
Se as pessoas comem uma maior parte
de sua dieta em gorduras, eles deverão comer menos alguma outra
coisa. Muito provavelmente, um aumento percentual de gordura vem à custa dos
carboidratos. E com Vorster como principal autor das diretrizes, menos
carboidratos deveria ter sido uma proposta inaceitável.
Sem deixar de mencionar que a ADSA solicitou o
envolvimento da indústria nas orientações de 2012. ADSA escolheu Sue Cloran especificamente,
a fim de representar os interesses da indústria de alimentos na elaboração das
recomendações. Cloran é uma Gerente Sênior de Nutrição Marketing da
Kellogg’s, bem como membro de necessidades nutricionais da Força Tarefa ILSI na
Europa.
As Testemunhas Peritas da Indústria
Alimentar
Agora que Vorster convencera a HPCSA
a acusar Noakes de conduta não profissional, as audiências começaram. Em novembro 2015 , depois de alguns engasgos, a HPCSA,
convocou os peritos contra Noakes: Este Vorster, Ali Dhansay, Salomé Kruger e
Willie Pienaar. Nós cobrimos a longa história de Vorster com a Big Sugar e
Big Soda acima. Não pode surpreendê-lo aprender que Dhansay e Kruger são bem
conectados aos Junk Foods também.
Em 2013, Dhansay serviu como presidente da proxy da Coca-Cola a ILSI da África
do Sul. Ele é atua atualmente como presidente da NSSA e "Diretor da
Unidade de Investigação Intervenção Nutricional" no "Medical Research
Council" nacional, que é semelhante ao Institutos Nacionais de Saúde dos
EUA. Assim, o homem encarregado da pesquisa de intervenção nutricional
para o governo sul-africano também presidiu um infame grupo proxy da Big Soda e
Big Food.
Note-se que através de sua
presidência a ILSI, Dhansay trabalhou em cooperação com representantes da
Coca-Cola, a empresa de doces Mars, a empresa farmacêutica Bayer e da Nestlé. Observe
também que em seu papel na ILSI, Dhansay apresentou-se como um representante do
Conselho de Investigação Médica da África do Sul (aos leitores americanos:
seria negligente assumir seu país está imune à mesma
patologia).
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O pediatra testemunha pericial contra Noakes, Ali Dhansay, é o recente ex-presidente de uma proxy da Coca-Cola. Fonte |
Quanto ao terceiro perito contra Noakes,
Salomé Kruger, ela tem uma longa história com a pesquisa financiada pela Big Sugar. Um
estudo financiado pela Sugar Association dela alegou que "o sedentarismo",
e não o consumo excessivo de comida, era o "principal determinante da
obesidade em mulheres negras na província do Noroeste." Isto pode soar
familiar para quem já ouviu falar da Global Energy Balance Network da Coca-Cola.
O ILSI cria uma força-tarefa de
nutrição para a África do Sul
Em 13 de maio de 2014, o ILSI realizou
seu próprio encontro sobre nutrição na África do Sul. Talvez não por
coincidência, esta reunião ocorreu exatamente nove dias antes da HPCSA se reunir
para decidir se iriam condenar Noakes. A reunião de Maio do ILSI estabeleceu um Grupo de Trabalho de Nutrição (NTF) para o
país.
Esta foi a primeira força-tarefa do
ILSI, sempre dedicada especificamente à nutrição na África do Sul. E a
primeira atividade do NTF foi sua apresentação no Congresso de Nutrição da ADSA
de 2014, como discutido anteriormente. Não foi por acaso que a
apresentação do ILSI incluiu três funcionários de saúde do governo
sul-africano. O ILSI teve como objetivo construir "parcerias de
colaboração entre a academia, governo e indústria", como exibido abaixo:
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Uma parceria público privada envolvendo a academia |
A NTF determinou que seu primeiro
esforço acadêmico seria “um projeto em potencial para um estudo integral da
dieta para a África do Sul”. Dois anos mais tarde, o ILSI da África do Sul
lançou a sua Primeira
publicação acadêmica sobre nutrição desde a criação do
NTF: Avaliação da
Ingestão Dietética de escolares na África do Sul: 15 anos após o primeiro
estudo nacional.
Os autores financiados pelo ILSI
deste novo estudo declararam "nenhum
conflito de interesse", apesar de reconhecer que o ILSI produziu e financiou
inteiramente a sua investigação, e apesar do fato de que a Associação de Açúcar
tinha financiado cada um deles no passado ( 1 , 2 , 3 ).
Então, se uma proxy da Coca-Cola
financiou sua pesquisa, como os autores poderiam alegar estarem livres de
conflitos de interesse? Bem, os autores afirmaram que o ILSI,
"Não teve nenhum papel na concepção do
estudo; no recolhimento, análise ou interpretação de dados; na
redação do manuscrito, e na decisão de publicar os resultados".
Assim, podemos ter a certeza de que
um proxy de Coca-Cola que financia totalmente a pesquisa não teve qualquer
influência sobre o produto final. Ou podemos?
Outras pesquisas do ILSI também
reivindicaram total independência da influência do ILSI. Por exemplo,
Candice Choi da Associated Press relatou em um esforço em nutrição do ILSI da América do Norte
- financiado em Dezembro de 2016. O seu objetivo era desacreditar várias
diretrizes nacionais que tentaram desencorajar o consumo excessivo de açúcar.
A peça do ILSI North America também
afirmou que seus autores "escreveram o protocolo e conduziram o estudo
independentemente do (próprio) ILSI". Isso era 100% falso. A repórter
da Associated Press, Choi descobriu e-mails indicando que o ILSI
"solicitou revisões" dos autores. Se o ILSI está lhe dizendo
como revisar, seu estudo não é independente do ILSI. E assim, os Anais de
Medicina Interna tiveram de alterar o estudo financiado pelo ILSI para refletir as revelações de
Choi. Os AIM ainda não divulgaram o financiamento direto da Coca-Cola que
um autor recebeu.
Se a pesquisa financiada pelo ILSI
norte-americano fez afirmações falsas sobre o envolvimento do ILSI e escondeu
conflitos de interesse relacionados à Coca-Cola, qual a razão que temos para
acreditar que a pesquisa do ILSI na África do Sul é diferente?
Consultor da Big Soda e Big Sugar
para o julgamento de Noakes: Marjanne Senekal
Com certeza, o período de tempo entre
o julgamento de Noakes e a iniciativa de nutrição do ILSI poderia ter sido um
mero acidente. Ambos foram lançados no mesmo período de 10 dias em maio de
2014, mas essa concorrência não significava necessariamente que há qualquer
relação entre eles. Ou seja, exceto pelo fato de que a mesma mulher desempenhou
um papel de liderança no NTF da ILSI e no julgamento de Noakes. Marjanne
Senekal co-autora do
estudo ILSI de 2016 sobre ingestão alimentar, o primeiro produzido desde que o ILSI
estabeleceu sua NTF.
Senekal, que também foi financiada pela Associação de Açúcar, coautora do acima
mencionado Naude Review . Esta revisão desempenhou um papel
crítico na motivação do julgamento de Noakes, graças ao relatório de Este
Vorster à HPCSA. Ele alegava mostrar que níveis variados de ingestão de
carboidratos fazia "pouca ou nenhuma diferença na perda de peso e nas mudanças
nos fatores de risco cardiovascular".
Os autores tomaram algumas decisões
excêntricas antes de chegar a essa conclusão. Por um lado, eles não
divulgaram seus conflitos de interesse, e de alguma forma o PLOS One os deixou escapar
assim. Esta decisão é particularmente notável à luz do fato de a própria
PLOS One publicou algumas das
evidências mais marcantes demonstrando que a indústria
financiou pesquisas tendenciosas.
Tivessem os autores divulgados seus
conflitos, poderia ter sido reconhecido, que pelo menos, dois deles foram pagos
pela Associação de Açúcar, e um foi financiado pela Novartis.
A autora principal, Celeste
Naude falou no "Simpósio Açúcar e Saúde Simpósio" da
Sugar Association do ano anterior, e a Associação de Açúcar financiou sua pesquisa publicada em 2015.
Nelia Steyn, de confiança do ILSI
foi relatada na imprensa como tendo sido "envolvida"
na revisão, mas seu nome não aparece em nenhum lugar do artigo
publicado. É mais um exemplo de influência escondida do ILSI?
Curiosamente, os autores da Naude
Review classificam as
dietas de baixo carboidrato como qualquer coisa com menos de 45 por cento de
carboidratos. E eles descrevem até dietas com até 65 por cento de
carboidratos como "equilibradas". É razoável descrever uma dieta como
"equilibrada" quando quase dois terços de suas calorias vêm dos
carboidratos? E dado que Noakes recomenda que 5 por cento ou menos da
dieta viesse dos hidratos de carbono para os resistentes à insulina, a Naude Review
tem praticamente nenhuma relevância para a posição de Noakes, quer para apoiá-lo
ou desacreditá-lo.
Além disso, Noakes considera que o
benefício principal de dietas de baixo teor de carboidratos é a sua capacidade
de suprimir o apetite. Controlando a ingestão calórica total, a Naude
Review negou assim este alegado benefício removendo toda a diferença possível
no apetite entre grupos com quantidades inferiores e mais elevadas de hidratos
de carbono.
Noakes e Dr. Zoë Harcombe publicaram uma crítica da Naude Review em dezembro de 2016. Eles
mostraram que Naude et al. não seguiram seus próprios padrões relatados na
seleção de estudos para revisão. A resposta veio dois anos mais tarde, no
entanto. Não só a defectiva Naude Review ajudou Vorster a convencer a
HPCSA a processar Noakes, mas facilitou uma campanha de relações públicas em
larga escala para desacreditar Noakes e sua recomendação alimentar.
O dia em que a Naude Review foi
publicada em julho de 2014, as organizações de saúde financiadas pelas Junk Food da África do Sul entraram em
ação. A estratégia era simples: usar a revisão Naude para desacreditar Noakes e sua dieta low-carb, ou
"Banting". O press release da Naude Review (comunicado à imprensa) recomendou entrar em contato com
representantes da Heart and Stroke Foundation da África do Sul, ADSA, NSSA, e o
próprio HPCSA. A Associação de Açúcar informou , com aparente alegria, "que descobertas
desmascararam as alegações de que dietas pobres em carboidratos resultam em
mais perda de peso."
Na imprensa, da Heart and Stroke
Foundation, a CEO Vash Munghal-Singh concluiu: "Com base na evidência atual não podemos
recomendar uma dieta baixa em hidratos de carbono para o público." Singh
tem servido no Conselho de Curadores do ILSI da África do Sul
por anos. A Unilever, a maior fabricante de sorvete do mundo, é um apoio financeiro membro do ILSI da África do
Sul. Talvez não seja uma coincidência, então, que a Unilever também é
um Patrocinador de Ouro da Singh’s Heart and Stroke Foundation (fundação para cardiopatia e
derrame de Singh).
Estes conflitos de interesses
desenfreados, entretanto, não retardaram a campanha para desacreditar Noakes. Singh
e seus colegas raramente, ou nunca, revelaram seus interesses financeiros pela
indústria de Junk Food quando eles publicamente opinavam sobre nutrição.
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Vash Mungal-Singh, falando em um evento do Instituto Internacional de Ciências da vida (ISLI) |
A campanha anti-Noakes continuou em
ritmo acelerado. O mês seguinte à Naude Review, Senekal e seus colegas da
Universidade da Cidade do Cabo, enviaram uma carta ao editor do Cape Times
atacando "as implicações para a dieta e saúde de Noakes. "
Senekal et al. ligou a dieta de Noakes ao "risco aumentado para a
doença de coração, o diabetes mellitus, os problemas de rins, a constipação,
determinados cânceres e excessivas reservas de ferro em alguns indivíduos no
longo prazo." Não citaram uma única fonte para dar suportar a estas
reivindicações.
A carta de Senekal também afirmou ser
assinada pelo professor de cardiologia da UCT, Lionel Opie. No entanto,
Opie enviou para a Universidade e para Tim Noakes para dizer
que ele nunca assinou tal carta e repudia seu conteúdo.
Senekal projetou claramente a carta
anti-Noakes para ter impacto máximo. Ela e os seus colegas enviaram-na ao
Ministro da Saúde, ao Presidente do Parlamento e ao Comité Sul-Africano de
Decanos Médicos, entre outros. Quando lhe perguntei sobre essa carta,
Noakes respondeu: "Minha própria universidade me humilhou
publicamente".
A carta acusava Noakes de violar os princípios
da "liberdade acadêmica" e da "livre investigação". Estes
são valores surpreendentes para Senekal defender. Ela não sentiu a picada
de ironia no ano seguinte, quando se juntou à equipe que processava Noakes por
seu tweet?
Na audiência de outubro de 2016 no
julgamento de Noakes, Senekal havia sido nomeada consultora oficial da equipe
jurídica da HPCSA que processava Noakes. Ela apareceu proeminente nas
audiências, pairando sobre os advogados que examinaram Noakes. O papel de
Senekal de processar Noakes é totalmente independente de seu trabalho sobre
nutrição para o ILSI?
O ILSI e a Sugar Association financiaram
Marjanne Senekal na consultoria para os advogados da HPCSA contra Noakes.
O Papel Clandestino do ILSI na
Campanha Contra Tim Noakes
Resumindo: um ex-presidente do ILSI
da África do Sul convenceu a HPCSA a acusar Noakes, outro ex-presidente do ILSI
da África do Sul testemunhou como perito contra ele, e um pesquisador
financiado pelo ILSI forneceu consulta a equipe jurídica que o
processou. E, no entanto, não uma notícia única onde se conectasse o ILSI ao julgamento de Noakes.
A capa da Outside Magazine com Noakes é notavelmente pouco
curiosa no que diz respeito ao envolvimento da indústria. Claire Strydom é
consultora do cereal da Kellogg’s, e ela apresentou a queixa durante seu
mandato como presidente da Associação de Dietética na África do Sul, mas nunca se
saberia disso por meio do artigo da Outside. E
o artigo cita Louise Burke, sem mencionar seu trabalho para o Gatorade Sports Science Institute. Cita
o professor da Universidade de Cape Town, Jacques Rousseau, mas não menciona
que ele é o filho de Jacques Rossouw, um dos mais proeminentes rivais de Noakes .
Nem o repórter do LA Times, Robyn Dixon mencionou esses fatos. Ela
também cita Rousseau e não divulga seu conflito de interesses. Além disso,
Dixon escreve que os partidários de Noakes "afirmam que a Big Food - as
indústrias de processamento de alimentos, açúcar e grãos – no fundo é quem estão
à espreita ". No entanto, ela não relata uma única evidência apoiando esta
afirmação agora bem documentada.
O livre discurso pela comida:
Sobreviverá?
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Falar pode ter um custo. Pintura de Jacques Louis David - A morte de Sócrates, 1787 |
Ao se encontrar com Noakes, ele não
mostra o dogmatismo de que foi acusado. Duvido que ele prescrevesse uma
dieta cetogênica para a maioria dos CrossFitters, por exemplo. Ele
imediatamente reconheceu que os participantes de esportes de alta intensidade,
intermitentes se beneficiariam com moderada ingestão de carboidratos, o que ele
definiu como aquela com até 200 gramas por dia.
A abordagem de baixo carboidrato de
Noakes é a melhor para a população em geral? É uma dieta mais moderada em
carboidratos, como a The Zona Diet,
imprópria para pessoas comuns? Eles perderiam mais peso e melhorariam a
sensibilidade à insulina com uma dieta com 5% de carboidratos? Deveriam ser
as dietas de baixo teor de carboidratos ser o padrão para os seres humanos?
Um estudo do ano passado no American
Journal of Clinical Nutrition descobriu que
uma dieta low-carb "alcançam grandes melhorias no perfil lipídico, na
estabilidade de glicose no sangue, e a redução na necessidade de medicação de
diabetes" em relação a uma dieta com 53% de carboidratos. Ambas as
abordagens "conseguiram uma perda de peso substancial e reduziram a HbA1c
e a glicose em jejum".
E assim, a totalidade da pesquisa
acadêmica ainda não respondeu definitivamente a essas perguntas, em parte
graças à confusão que a indústria de Junk Food tem causado. O debate dieta
aumenta, mas isso é uma coisa boa. O debate é um pré-requisito necessário
para a ciência, e para a sociedade livre em geral. Todas as publicações revisadas por pares no mundo
não se enquadrariam na ciência real se a dissidência é proibida. As
eleições populares não constituem democracia sem a liberdade de expressão.
Será que o debate aberto persistirá,
no entanto, se a indústria de Junk Food e seus representantes continuarem a
assediar legalmente seus oponentes? Além de Noakes, nutricionistas tentaram tirar do ar o paleo blogger Steven Pinsey da
Carolina do Norte. E cirurgião australiano Dr. Gary Fettke está atualmente
sob investigação depois que um nutricionista o denunciou por
seus conselhos para uma nutrição pobre em carboidratos.
O HPCSA vai divulgar a sua decisão
final sobre Noakes em 21 de abril de 2017. Noakes está cautelosamente
otimista. Parece improvável que a HPCSA declare que seu tweet de 2014
constituiu uma relação médico-paciente. A própria Strydom admitiu que o
tweet de Noakes não se qualificava como tal relacionamento. O caso contra
Noakes desmorona sem esse elemento crucial. Noakes ainda pensa que é
possível que seus 900 slides e mais de 30 horas de testemunho convencerão a
África do Sul a descartar suas diretrizes dietéticas corruptas promovidas pela
indústria. Possivelmente.
A decisão de abril também pode ter
implicações dramáticas para a indústria sul-africana de Junk Food. Noakes
é um dos adversários mais proeminentes do país ao açúcar, bem no momento em que
o ministro das Finanças do país tem proposto um imposto para bebidas açucaradas o que pode
" colocar em colapso " a indústria de açúcar do
país. Phil Gutsche, presidente da Coca-Cola Beverages da África, descreveu
o imposto proposto como " assassino ". Os sul-africanos consomem três vezes mais produtos da Coca-Cola do que a
média global, mas a empresa local da Coca-Cola diz que o imposto vai reduzir os
seus lucros em mais da metade. O imposto está previsto para entrar em
vigor em abril de 2017. Para combatê-lo, a Coca-Cola tem empregado sua
estratégia normal do financiamento secreto de pesquisas favoráveis à indústria.
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Coca-Cola está secretamente financiando pesquisa na África do Sul para fazer lobby contra um imposto dos refrigerantes. Fonte |
Os dias de um proxy da Coca-Cola e da
Associação do Açúcar que controlam a política sul-africana de saúde certamente
parecem estar contados. No entanto, mesmo se Noakes ganhar, os
representantes dos Junk Foods já estabeleceram um precedente perigoso para a
liberdade de expressão. Os cientistas e médicos mais altamente
qualificados devem agora pensar duas vezes antes de falarem sobre
carboidratos. Eles podem realmente suportar uma investigação, enormes honorários
legais e serem alvos de campanhas de press release? É provável que a
indústria só aumente sua agressividade uma vez que ela enfrente ameaças
crescentes de impostos e regulação.
O Complexo Industrial-Governo-Acadêmico
Após Noakes reunr-se com Greg
Glassman e outros funcionários da CrossFit no mês passado, ele teve uma epifania sobre as forças agregadas contra ele:
"Um complexo
industrial-governamental-acadêmico (IGA) está protegendo os interesses
comerciais da crescente indústria médica da diabetes"
Pode parecer uma teoria da
conspiração, mas pode-se descartar a avaliação de Noakes à luz dos
fatos? Afinal de contas, um "complexo industrial-governamental-acadêmico"
não está longe das autodeclaradas "parcerias colaborativas entre a
academia, o governo e a indústria" pelo ILSI.
Para alguns, o julgamento de Noakes
pode parecer uma voz de repressão fascista pela promoção de produtos tóxicos,
mas para a Coca-Cola e seus proxies, é apenas um bom negócio.
Observação: proxy tem o significado de “representante” no
artigo
LINK do original: